terça-feira, 9 de setembro de 2014

Bancada de marceneiro - IV (Alegorias e aderecos)

Condensando as informacoes apresentadas nos topicos anteriores sobre o tema, e' talvez possivel encaminhar-se algumas consideracoes...

Assim, pela otica especifica da marcenaria, parece-me o ideal em uma ampla oficina, sem restricoes de espaco, seria termos dois tipos de bancada:



bancada de trabalho propriamente, caracterizada por solidez; tampo pesado, grosso, longo e relativamente estreito, pes grossos firmemente estruturados formando um todo monolitico onde se possa fixar em qualquer angulo e/ou posicao as pecas a serem trabalhadas, capaz de resistir imovel e sem danos a todos os pesados esforcos de aparelhar e moldar essas pecas; e

a mesa de montagem, uma construcao mais leve caracterizada por amplo tampo, onde efetuar-se colagens, acabamentos, lixamento, montagens, etc.


Afora obviamente respeitar nivel e prumo, em comum ambos os tipos de bancada idealmente devem ter os seus pes dianteiros rentes ao topo, sem ressaltos ou rebaixos (de forma a poder referenciar em esquadro tampo e frente), ter seus tampos bem planos e, ainda idealmente, nao devem ter quaisquer obstrucoes sob o tampo, de forma a facilitar as mais variadas formas de fixacao possam ser empregadas para imobilizar na posicao desejada as pecas em trabalho quando necessario.

Adicionalmente, ambos os tipos de bancada devem disponibilizar tanto quanto possivel mecanismos, permanentes ou acessorios, para facilitar a fixacao das pecas em trabalho: grampos, crochets, valetes, dogs, batentes, etc. E, claro, morsas.

Infelizmente, sabemos todos, muito raramente conseguimos sequer nos aproximar de condicoes ideais. Limitacoes de fundo$, limitacoes de materias-primas, limitacoes de espaco, ..., limitacoes sao a realidade do nosso dia-a-dia, e oficinas, ferramentas, bancadas ideais acabam sendo alegorias com que se sonhar mas, na real, impraticaveis de se adquirir ou construir.

Abordagens abundam na Teia quanto a maneiras e modos de se tentar minimizar as limitacoes e aproximar-se da alegoria.


Um primeiro exemplo, a canadense Lee Valley disponibiliza planos de construcao de uma bancada para apartamentos. Essa ahi da foto `a esquerda e que pode ser vista em maiores detalhes no video, infelizmente em ingles, linkado abaixo:

 https://www.youtube.com/watch?v=lPIvrLO8fWU

Em outra veia, Mr. Christopher Schwarz, guru de bancadas nA Matriz, publicou recentemente em um de seus blogs links para um arquivo em SketchUp e planos em PDF de uma bancada que construiu em dois dias com madeiras baratas, pinus (norteamericano) de carpintaria.
Barata, simples de construir, desmontavel, desocupando espaco quando nao em uso e transportavel. Eis os links:

Video: http://vimeo.com/104208541
SketchUp: https://3dwarehouse.sketchup.com/model.html?id=u634cfe58-55ff-42a6-9f24-9367ecbcf696
PDF: https://lostartpress.files.wordpress.com/2014/09/kd-nicholson-bench-lost-art-press.pdf

Sao dois, entre literalmente milhares de exemplos disponiveis na Teia, de diferentes tipos de concessoes feitas para acomodar a alegoria `as  necessidades da realidade. Claro, ha sempre um preco a pagar, perde-se isso para viabilizar-se aquilo. Apenas para utilizar o exemplo da bancada de apartamento, enquanto a colocacao de gavetas sob o tampo permite obter-se espaco onde guardar coisas, reduz-se a capacidade/facilidade de fixacao de pecas `a bancada, por um lado, e por outro lado, pecas fixadas `a bancada podem impedir o acesso `as gavetas.

-- oOo --

Mas entao, para nao finalizar esse topico ficando em cima do muro das inumeras possibilidades, sob uma otica pessoal, portanto totalmente sujeita a chuvas, trovoadas, cataclismos:

Em termos praticos, se eu hoje me surprendesse com a necessidade de colocar uma bancada de trabalho em minha oficina eu faria primeiro, com o material que tivesse disponivel ou disponibilizavel, o tampo. Grosso, pesado, estreito, se pensasse em uma bancada, mais leve e tao amplo quanto praticavel, se para uma mesa de montagem; tao plano quanto possivel, faces e lados em esquadro tao perfeito quanto pudesse.

Ahi colocava sobre cavaletes na altura que melhor me parecesse o tampo feito, cavaletes tao solidos quanto desejado/possivel, e comecava a usar a bancada, quando necessario fixando as pecas a ela usando grampos, fazendo furos para dogs e/ou valetes, etc., adicionando uma morsa? O uso iria apontando as necessidades do que adicionar, ou remover, ou modificar, ou evitar, se colocar pes fixos, e que tipo de pes, de que altura e de que forma coloca-los, quais acessorios, quais aderecos implementar para facilitar o uso da bancada, do jeito que eu uso...

Pouco provavel resultasse algo de se exibir, mas gosto de imaginar seria algo certamente funcional, e bem funcional.

8 comentários:

  1. ola...sou de SP...estou procurando CURDO DE MARCENARIA/HOBBY , teria alguma DICA?...GRATO !

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    1. Lamento, mirokisan, mas eu nem sequer sei o que seria um curdo de marcenaria, o que dira onde achar um...

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  2. acompanhando ... a perspectiva de elaborar um tampo robusto e colocá-lo sobre cavaletes vai ao encontro do que tenho pensado. A partir daí, conforme a experiência adquirida será possível identificar necessidades e recursos a implementar.
    Talvez até seja possível exibi-la, hehe

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  3. O senhor já fez canecas de madeira, mas madeira pura sem alumínio ou ferro por dentro?
    Walkiria

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    1. Ja fiz copos e tacas inteiramente de madeira, mas canecas especificamente nao, Walkiria.

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    2. Bom dia, Paulo! Vi que na sua postagem você faz referência ao "pinus norte-americano de carpintaria" . Você saberia dizer qual as diferenças desse pinus em relação ao nosso? Imagino que devem existir algumas em relação ao tratamento mais adequado, secagem etc. Mas, em relação às características básicas, dureza, resistência... será que existem muitas?

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    3. Bem resumidamente, nosso pinus (P. elliottii e P. taeda), embora originario da norteamerica, em funcao das condicoes climaticas mais propicias daqui cresce bem mais e bem mais rapido do que la. Todavia esse crescimento mais acelerado resulta em um lenho menos denso e menos duro. Entao, respondendo `a sua pergunta, Alan, existem sim marcadas diferencas entre nosso pinus e os deles no que concerne a resistencia estrutural, dureza, densidade, aparencia, etc.

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    4. Obrigado pela resposta, Paulo! Tive essa curiosidade porque, assim como você, tenho uma certa implicância com os consensos e guardo na memória um armário de pinus que tive no meu quarto na infância, lá por volta de 1986, 87, que achava muito bonito, com uma textura muito agradável ao toque e que cumpriu perfeitamente o seu papel.A única alteração foi que com o tempo foi ficando um pouco mais amarelado. Vendo alguns interiores de moradias norte-americanas em filmes, fotos, achei semelhanças com as lembranças que tenho desse armário.e comecei a alimentar a ideia de (tentar) construir algumas peças com essa madeira.

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