quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Serra de fita - jig para desdobro

Apos algumas experiencias utilizando minha nova serra de fita para desdobrar basicamente 'no olho' algumas pranchas, pensei seria interessante utilizar um jig para facilitar, melhorar e talvez padronizar o processo...

Deixando — como diria aquele famoso personagem — de lado os entretantos, o resultado final foi esse ahi na foto `a esquerda: para apoiar a prancha a ser cortada, `a esquerda, fixo `a guia da serra um pilar em eucalipto rosa onde encaixados dois rolamentos e, do outro lado da lamina, `a direita, para determinar a espessura do corte um jig igualmente com um rolamento encaixado (setas verdes).

O conjunto e' ajustavel de forma a permitir configurar os tres rolamentos para ficarem coplanares, imediatamente em frente aos dentes da serra.

Obviamente, e' recomendavel os rolamentos do pilar estejam em esquadro com o tampo da serra, como pode ser aferido da foto abaixo:


As duas fotos seguintes foram tomadas imediatamente antes do primeiro teste pratico: cortar uma lamina fina de uma pranchinha de louro gaucho:


E entao, o resultado da operacao:























Considerando a lamina empregada nao e' projetada para desdobros, o desempenho do jig pareceu-me bastante aceitavel. Agora e' conseguir uma lamina adequada e ver se consigo obter algumas laminas realmente finas, hehehe...

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Bancada de marceneiro - IV (Alegorias e aderecos)

Condensando as informacoes apresentadas nos topicos anteriores sobre o tema, e' talvez possivel encaminhar-se algumas consideracoes...

Assim, pela otica especifica da marcenaria, parece-me o ideal em uma ampla oficina, sem restricoes de espaco, seria termos dois tipos de bancada:



bancada de trabalho propriamente, caracterizada por solidez; tampo pesado, grosso, longo e relativamente estreito, pes grossos firmemente estruturados formando um todo monolitico onde se possa fixar em qualquer angulo e/ou posicao as pecas a serem trabalhadas, capaz de resistir imovel e sem danos a todos os pesados esforcos de aparelhar e moldar essas pecas; e

a mesa de montagem, uma construcao mais leve caracterizada por amplo tampo, onde efetuar-se colagens, acabamentos, lixamento, montagens, etc.


Afora obviamente respeitar nivel e prumo, em comum ambos os tipos de bancada idealmente devem ter os seus pes dianteiros rentes ao topo, sem ressaltos ou rebaixos (de forma a poder referenciar em esquadro tampo e frente), ter seus tampos bem planos e, ainda idealmente, nao devem ter quaisquer obstrucoes sob o tampo, de forma a facilitar as mais variadas formas de fixacao possam ser empregadas para imobilizar na posicao desejada as pecas em trabalho quando necessario.

Adicionalmente, ambos os tipos de bancada devem disponibilizar tanto quanto possivel mecanismos, permanentes ou acessorios, para facilitar a fixacao das pecas em trabalho: grampos, crochets, valetes, dogs, batentes, etc. E, claro, morsas.

Infelizmente, sabemos todos, muito raramente conseguimos sequer nos aproximar de condicoes ideais. Limitacoes de fundo$, limitacoes de materias-primas, limitacoes de espaco, ..., limitacoes sao a realidade do nosso dia-a-dia, e oficinas, ferramentas, bancadas ideais acabam sendo alegorias com que se sonhar mas, na real, impraticaveis de se adquirir ou construir.

Abordagens abundam na Teia quanto a maneiras e modos de se tentar minimizar as limitacoes e aproximar-se da alegoria.


Um primeiro exemplo, a canadense Lee Valley disponibiliza planos de construcao de uma bancada para apartamentos. Essa ahi da foto `a esquerda e que pode ser vista em maiores detalhes no video, infelizmente em ingles, linkado abaixo:

 https://www.youtube.com/watch?v=lPIvrLO8fWU

Em outra veia, Mr. Christopher Schwarz, guru de bancadas nA Matriz, publicou recentemente em um de seus blogs links para um arquivo em SketchUp e planos em PDF de uma bancada que construiu em dois dias com madeiras baratas, pinus (norteamericano) de carpintaria.
Barata, simples de construir, desmontavel, desocupando espaco quando nao em uso e transportavel. Eis os links:

Video: http://vimeo.com/104208541
SketchUp: https://3dwarehouse.sketchup.com/model.html?id=u634cfe58-55ff-42a6-9f24-9367ecbcf696
PDF: https://lostartpress.files.wordpress.com/2014/09/kd-nicholson-bench-lost-art-press.pdf

Sao dois, entre literalmente milhares de exemplos disponiveis na Teia, de diferentes tipos de concessoes feitas para acomodar a alegoria `as  necessidades da realidade. Claro, ha sempre um preco a pagar, perde-se isso para viabilizar-se aquilo. Apenas para utilizar o exemplo da bancada de apartamento, enquanto a colocacao de gavetas sob o tampo permite obter-se espaco onde guardar coisas, reduz-se a capacidade/facilidade de fixacao de pecas `a bancada, por um lado, e por outro lado, pecas fixadas `a bancada podem impedir o acesso `as gavetas.

-- oOo --

Mas entao, para nao finalizar esse topico ficando em cima do muro das inumeras possibilidades, sob uma otica pessoal, portanto totalmente sujeita a chuvas, trovoadas, cataclismos:

Em termos praticos, se eu hoje me surprendesse com a necessidade de colocar uma bancada de trabalho em minha oficina eu faria primeiro, com o material que tivesse disponivel ou disponibilizavel, o tampo. Grosso, pesado, estreito, se pensasse em uma bancada, mais leve e tao amplo quanto praticavel, se para uma mesa de montagem; tao plano quanto possivel, faces e lados em esquadro tao perfeito quanto pudesse.

Ahi colocava sobre cavaletes na altura que melhor me parecesse o tampo feito, cavaletes tao solidos quanto desejado/possivel, e comecava a usar a bancada, quando necessario fixando as pecas a ela usando grampos, fazendo furos para dogs e/ou valetes, etc., adicionando uma morsa? O uso iria apontando as necessidades do que adicionar, ou remover, ou modificar, ou evitar, se colocar pes fixos, e que tipo de pes, de que altura e de que forma coloca-los, quais acessorios, quais aderecos implementar para facilitar o uso da bancada, do jeito que eu uso...

Pouco provavel resultasse algo de se exibir, mas gosto de imaginar seria algo certamente funcional, e bem funcional.

domingo, 7 de setembro de 2014

Serra de fita - Primeiro uso

 Para testar na pratica a minha nova serra de fita, evidentemente pensei em desenvolver um projeto que envolvesse desdobrar umas pranchas e, como estava precisando fazer uma caixa, o que fazer ficou obvio...

(Como sempre, clique nas imagens para ve-las ampliadas.)

Iniciei por cortar de uma ponta de prancha de louro gaucho, com nos e rachaduras, uma porcao aproveitavel e entao desdobrei essa porcao em quatro taboinhas para fazer os lados da caixa — tudo evidentemente utilizando a serra fita nova.



Como a lamina nao era especifica para desdobro e o operador ainda nao muito manso na lide, as taboinhas nao surprendentemente sairam com nitidas marcas de serra, como se pode ver ahi `a esquerda (embora comparando as superficies serradas tambem se possa ver um certo progresso na tecnica, hehe).


De todo modo as taboinhas foram encaminhadas ao desengrosso e, apos algumas passadas sempre rasas para evitar arrepios chegou-se ao resultado `a direita. Devo confessar a espessura final ficou um tiquinho menor do que era a minha intencao inicial mas mesmo assim, como se vera, foi possivel um resultado final aceitavel, eu acho.



Depois das faces aplainadas, as taboinhas foram devidamente dimensionadas e marcadas para cortar-se os encaixes. Inicialmente pensei em fazer ensambladuras do tipo caixa, mas acabei optando por cortar na mao caudas-de-andorinha porque afinal esse e' um encaixe onde nunca se esta suficientemente treinado.


Na imagem `a direita, os lados com os encaixes cortados e em montagem seca sobre minha bancada de dois parafusos.


Feita a seguir a colagem dos lados com auxilio de grampos, tornei a utilizar a serra de fita para cortar um outro pedaco do resto de prancha de louro gaucho, este contendo nos, manchas e rachaduras, e — desdobrando entao pela primeira vez uma prancha de mais de 16cm na serra de fita, sucesso, sucesso! — cortei as taboinhas que seriam tampo e fundo da caixa.

Passadas as pecas no desengrosso e seca a colagem dos lados, tampo e fundo foram colados diretamente sobre e sob os lados, direto, sem qualquer encaixe. Como a superficie de colagem era muito pequena e a relacao dos veios bem desfavoravel, evidente que uma simples colagem nao resistiria muito. A solucao que adotei foi mais uma vez empregar palitos de dente como cavilhas.


Seca a colagem e a massa de cola com po de lixa utilizada para disfarcar as rachaduras, os excessos do fundo, do tampo e dos malhetes dos lados foram serrados e lixados com lixadeira de cinta e entao toda a caixa foi lixada e os bordos arredondados com a lixadeira roto-orbital com grana 60, seguindo-se lixamento de acabamento com a lixadeira orbital ate grana 220.


Nesse ponto, aplicacao de cupinicida e chegou-se nisso:


Seco o veneno, a caixa foi para a serra circular de bancada para separar a tampa. Feito isso, coloquei dobradicas e um puxador de gaveta velho como alca e parti para o acabamento.

Por fora, uma demao de oleo de tungue e, apos seco, umas 8-10 demaos finas de goma-laca e entao cera; por dentro, veneno e, quando seco, cera.


Faltando ainda colocar uns fechos que me faltaram, gracas mais do que qualquer coisa `a beleza do louro gaucho achei a caixa acabada ficou parecendo uma daquelas caixa de joias...

Pois entao? Para que serve uma caixa de joias se nao para guardar joias, nao e' mesmo?

Assim, muito apropriadamente coloquei uma joia no seu interior.

Como se ve ahi na imagem abaixo:




quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Serra de fita - A maquina

Como relatado na postagem imediatamente anterior, ao voltar de viagem fui inspecionar a serra que havia recebido e constatei tratava-se com certeza quase absoluta de uma peca 'de vitrine' e encontrava-se coberta de po...

Embora certamente eu tivesse, querendo, embasamento suficiente para justificar retornar a maquina para a loja, cancelando o negocio ou demandando uma maquina realmente nova, resolvi examina-la em detalhes como sempre faco com todas as minhas maquinas. Removi o po com sopro, escova e pano seco nas areas pintadas. Nas areas lubrificadas, rolamentos, engrenagens, onde o po e o lubrificante haviam formado uma patina, desmontei quando necessario, utilizei solventes e oleos ate deixar tudo limpo e em condicoes de uso. Um par de porcas desaparecidas e um mostrador de plastico quebrado, fora isso tudo em ordem. Remontei, colei o mostradorzinho, repus as porcas, lubrifiquei, examinei todas as funcoes, efetuei as devidas regulagens, re-testei tudo manualmente e entao fiz as conexoes eletricas do motor trifasico e pus para funcionar.

Nenhum problema que nao pudesse ser resolvido com ajustes corriqueiros. Testei uns cortes altos, uns 20cm em pinho utilizando a lamina de 13mm que veio com ela, funcionou a contento, tudo bem, tudo certo.

Obviamente, ahi era hora de decir: ficar, ou devolver? Optei por ficar.

Primeiro, pelo equivalente de dar um boi para nao entrar em uma briga. Afinal, a serra funcionou perfeitamente depois da 'revisao'. (E o que, de fato, eu estaria ganhando com a troca, alem de incomodacoes?)

Depois porque, como pode ser visto comparando as fotos `a esquerda (o modelo atualmente vendido pela Starrett) e `a direita (a minha unidade), a serra velha de 2012 e numero de serie 00022 tem la sua singularidade, seus atrativos historicos, digamos assim, hehe.

Coloquei-lhe uma base com rodizios e esta incorporada ao meu parque de diversoes...

-- oOo --


Como pelo menos por enquanto essa e' uma maquina pouco divulgada por aqui, pensei talvez fosse util apresentar algumas de suas caracteristicas para quem tiver interesse em adquir uma, ou simplesmente curiosidade.





Fora frescuras que nem vou abordar, a maquina vem com um motor trifasico de 2HP e dispoe de duas velocidades, trocadas alternando polias na porta inferior. A lamina tem 2,75 metros, as rodas sao de aluminio, muito bem balanceadas, e os pneus de latex. Mesa de ferro fundido, guia com visores com lentes (um, e' o que veio quebrado) para a escala, e um graminho metalico mas meia-boca, como aparentemente e' o padrao para esse tipo de maquinas. A largura dos dois rasgos e' infelizmente fora do padrao, mas felizmente igual aos da Makita, o que permite utilizar em ambas os mesmos jigs e acessorios.

Embaixo, ha um compartimento metalico sobre o qual se apoia o corpo da maquina, suficientemente amplo para acomodar laminas e acessorios, exceto a guia.

Ha guias, com tres rolamentos ajustaveis que tocam a lamina de face, obviamente acima e abaixo da area de corte, a de cima com altura regulavel.

Interruptor de seguranca, tem de ser aberto do jeito certo para ligar a maquina, desliga com um tapinha.




Pela parte de tras da maquina acessa-se na porcao superior, de cima para baixo, no topo a regulagem do tensionador da lamina, depois a alavanca de alivio da pressao para trocas rapidas e para distensionar a lamina quando nao em uso, ahi o parafuso de inclinacao da roda superior para acertar a centragem da lamina na roda e o parafuso que fixa, regulavel pela manivela na lateral, a altura da guia superior da lamina.

Abaixo, sob a mesa, as regulagens da inclinacao da mesa (ate 45°) e do rolamento posterior inferior de apoio da lamina.

Formando um triangulo, os parafusos de fixacao da roda inferior; na lateral a manivela que regula a tensao da correia do motor, e entao o motor trifasico ao lado da tomada de aspiracao da serragem.



Uma novidade interessante sao duas janelas, uma na face inferior esquerda da porta superior, a outra na lateral superior direita da maquina.

A da porta, mostrada ali na foto `a esquerda, permite visualizar-se da posicao de operacao se a roda esta em movimento ou nao, e igualmente uma seta aponta o grau de tensao aplicada `a lamina.

A da foto `a direita, localizada na lateral, mostra o posicionamento da lamina no pneu, permitindo regular-se o centramento da lamina com a maquina em funcionamento mas com as portas fechadas. (Como esta se tornando o padrao, com qualquer das portas abertas a maquina nao liga.)

De acordo com as especificacoes no site da Starrett, a maquina comporta serras de 6 a 16mm de largura. De acordo com o site da fabrica chinesa — por interessante coincidencia a mesma da minha serra circular de bancada, vejam voces — pode-se ir ate 19mm.

Ja a coloquei em uso efetuando desdobres em toda a altura permitida, e a performance e' bem boa.

E era isso...


Serra de fita - Uma novela

Ha tempos vinha cobicando uma serra de fita com uma altura de corte maior dos que os 16cm da minha Makita LB1200. (Cheguei inclusive a examinar algumas usadas das antigas, com amplos volantes e farta altura, mas seu peso e tamanho infelizmente as fizeram inviaveis para meu limitado espaco e indispensavel mobilidade: exceto a desempenadeira e a serra circular de bancada, fixas ao piso, tudo o mais na minha 'oficina' e' necessariamente movel, as posicoes sendo configuradas conforme o andamento de cada projeto — o que certamente e' uma chatura, mas e' isso ou simplesmente nao conseguiria me mover com a minima ergonomia.) Conclui que para conseguir acomodar funcionalmente a tralha e atender minha demanda por mais altura no corte necessitaria uma serra com volantes de 14" (ou 355mm). Ahi, claro, entrou em acao o Principio da Implicancia Natural das Coisas (PINC) e embora eu procurasse nao consegui encontrar disponivel sequer uma dessas, usada, que me agradasse...

Surfando pela Teia pude verificar que na China varias fabricas estavam produzindo um novo modelo de serra de fita de 14", desenvolvido para atender o padrao da CE (Comunidade Europeia). Esse ilustrado ahi nas fotos ao lado.

O preco, como usual, extremamente tentador: U$300-500 FOB. Infelizmente, tambem como usual, peso e volume representam um frete muitissimo dispendioso, e o pedido minimo de 5 unidades nao facilita nada. Mas entao, ainda em navegacoes pela Teia encontro no site da Starrett do Brasil esse exato modelo com a designacao S2520-H2. O preco da maquina posta aqui nos nossos balcoes, no entanto, me arrepiou.


Mas como a necessidade de maior altura de corte permanecia, resignei-me e fui fazendo uma poupanca para adquirir o "incomodo". Quando eventualmente consegui capitalizar o fantabulastico preco cobrado em pindorama pela maquina fabricada na China e revendida aqui com etiqueta de industria dA Matriz, obviamente o PINC entrou em acao e, por meses, nao consegui encontrar a serra disponivel.

Mas eis que entao um belo dia ela surge disponivel, a pronta entrega, no site da JNakao. Faco o login na velha conta e efetuo a compra, antes que se evapore. Confiro o extrato do cartao e estavam feitos, credito para a loja, debito na minha conta. Beleza.

Mas voces acham que o PINC ia-me abandonar assim tao facil?
Na, na, ni, na, nao!...

(Um parenteses:
Anos atras, fazendo minha primeira compra na JNakao, apos o cartao de credito ser debitado fui surpendido por um email demandando enviasse documentos, alegadamente para minha seguranca. Respondi que nao me desejava submeter a tal gincana burocratoadministrativa e que se os tais documentos eram de fato considerados indispensaveis, que fosse cancelada a compra. Para minha surpresa, recebo um telefonema do Julinho, o proprietario da JNakao, que tentou me explicar o porque da demanda de tais documentos, e tal. Resumindo a relativamente longa e amistosa conversacao, eu disse que continuava me recusando a entrar na gincana, e ele que nao poderia abrir excecao. A transacao foi cancelada — embora eu necessitasse ter de abrir uma ocorrencia junto `a administradora do cartao para ter meu credito estornado.
Meio mordido, para comprovar a inutilidade do tal procedimento de seguranca acabei enviando para o endereco de email do Julinho um dos tais documentos exigidos — uma conta valendo como certificado de residencia. So que editei (no capricho!) a fotocopia e a conta enviada tinha o meu nome, mas o endereco era o da propria JNakao em Sampa, hehe.
Nao houve resposta, mas quando tempo depois fui fazer uma compra ela foi aprovada e aprovada permaneceu em algumas outras compras que fiz.)

Mas entao, feita a compra da serra de fita e recebido o email automatico de confirmacao, no dia seguinte recebo um mail dizendo que... como era minha primeira compra no site eu tinha que enviar documentos, e tudo. Respondi que nao, absolutamente nao era minha primeira compra e nao, nao tinha enviado documento algum antes e nao iria enviar agora e, sendo o caso, que se cancelasse a compra. O que resultou, no dia seguinte, em um email de retorno da gerencia da loja, confirmando que tinham encontrado meus pedidos anteriores que tinham desaparecido do site em funcao de um 'upgrade', e que nao precisaria enviar documento algum e que tudo bem.

Respondi que tudo bem mas, como ia ter de sair em viagem, o prazo de entrega teria de ser cumprido, o que nao deveria ser problema posto a mercadoria anunciada como "pronta entrega". O gerente entao tentou me telefonar, mas meu telefone cadastrado (da Oi) estava, como esta, mudo desde maio... Mas isso e' outra novela. A ideia era que o gerente gostaria de me enviar uma serra "nova da fabrica" mas que, "pela urgencia", iria entao enviar a que tinham a pronta entrega.

Senti o pepino, claro. Mas resolvi correr o risco; afinal sempre poderia cancelar a compra se nao ficasse satisfeito com a maquina que me entregassem. Bueno, depois de algumas interacoes com a transportadora, um mero par de horas antes do meu horario de partida para a viagem a transportadora chegou para entregar a mercadoria. Veio sem embalagem alguma, embrulhada em plastico bolha e sem sequer palet na base, apenas umas taboas de MDF aparafusadas. Fiz uma conferencia rapida da encrenca depois de 'desembrulhar', anotei os problemas que encontrei no verso das notas fiscais, minha e da transportadora, e fui para a estrada...

Quando voltei, fui olhar a coisa com calma e carinho.

Ficou obvio imediatamente a maquina nunca tinha sido usada para cortar madeira, mas que com certeza quase absoluta estivera em exposicao e tinha sido utilizada para testes e/ou demonstracoes de ajustes, regulagens, etc. E que era um modelo velho: como pode ser visto ahi na imagem `a esquerda no circulo amarelo, o ano de fabricacao foi... 2012!

Alem disso, a maquina estava tapada de po. Nao, serragem nenhuma, mas muito, muito po, por tudo. Nos rolamentos, engrenagens, locais de lubrificacao, o po estava compactado com o lubrificante, quase como uma tinta. Em um ou outro ponto da mesa de ferro fundido, ferrugem. Mas bem superficial, saindo sem deixar marcas com uma esfregada de esponja de aco com WD-40. Nos batentes de aluminio dos rolamentos, marcas de aperto...

Abrindo a porta do alojamento inferior, como imagino se possa constatar na imagem `a direita fica claro o descolorimento da tinta exposta `a luz em relacao `a que ficou protegida pela porta fechada.

Na lamina da fita, igualmente algumas poucas manchas de ferrugem. Adicionalmente, enquanto as ferramentas (chaves allen e de boca) vieram em duplicado junto com alguns gabaritos de espessura em embalagem da Starrett, o manual de instrucoes veio errado, o do modelo S2530.


Em suma, uma maquina ha longo tempo em exposicao entregue como nova. Nao judiada, certamente, mas com igual certeza mexida e lidada... E, embora tendo nisso consumido dois dias, foi despachada a galope, sem cuidados.

-- oOo --

Nunca tratei em pessoa com a JNakao mas, pelos testemunhos que posso ler online, a impressao que tenho e' de uma loja bem amigavel com seus clientes. Na minha experiencia pessoal no entanto, na area de comercio eletronico a coisa e' meio desastrosa: o site e' confuso, incompleto, repleto de equivocos, e nada amigavel a pesquisas. E, ainda na minha experiencia, as transacoes eletronicas sempre foram, mm, trepidantes, conturbadas.

Uma pena...

-- oOo --

De todo modo, como a serra estava ali, resolvi dar-lhe uma geral ate para conhece-la melhor.

O que vou comentar em seguida, em outra postagem, porque essa novela ja ficou comprida demais.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Bancada de marceneiro - III (Qual?)

Imagino a imensa maioria dos marceneiros, se pudesse, gostaria de ter uma bancada baseada nas especificacoes de monsieur Roubo — como essa ahi da foto `a esquerda e que foi o tema da postagem imediatamente anterior aqui neste batcanal.

Sera que por isso se poderia afirmar que uma bancada Roubo seria a ideal para todo e qualquer marceneiro? Certamente, nao! M. Roubo desenvolveu o projeto de sua muito excelente bancada no sec. XVIII, procurando atender as demandas dos artifices do sec. XVIII. E' bem verdade seu projeto resultou tao bom que mesmo hoje, quem trabalha profissionalmente madeiras macicas empregando ferramentas manuais dificilmente encontrara algo comparavel em termos de bancada, mas e' sabido que — feliz ou infelizmente, as opinioes como sempre variam — moveis como os do sec. XVIII feitos `a mao em madeira macica, no mundo contemporaneo constituem nao mais que um pequeno nicho.

Como o mercado de marcenaria nos nossos dias abrange um vasto espectro de materiais e enorme variedade de tecnicas e tecnologias, nao e' acaso haja tamanha variedade de tipos, formatos, modelos, submodelos, um tal escambal de bancadas que nao raro escolher qual melhor se adequaria ao nosso uso, ao nosso espaco e — fundamental! — ao nosso bolso parece impossivel.

Minha impressao, o primeiro criterio de escolha para adquirir ou construir uma bancada de marceneiro deve ser... o tampo.(Devo salientar que essa opiniao, e as que seguem, sao absolutamente pessoais, ou seja, sujeitas a chuvas e trovoadas, sem qualquer pretensao de ser o certo, ou a verdade mas simplesmente minhas impressoes, oriundas de minha assumidamente limitada experiencia e algumas poucas leituras.)





Quanto ao material, o tampo ha de ser plano e rijo, nao sofrer deformacoes transitorias ou permanentes, nem danos com o tipo de trabalho que ira receber. Tipo, nao faz sentido um tampo de madeira se o servico sera soldagem, nao faz sentido um tampo de pedra para marchetaria, nao faz sentido um tampo fino e leve quando se vai aplicar marretadas, nao faz sentido uma prancha grossa e pesada para simples montagens de paineis precortados, nao faz sen... Por ahi.

As dimensoes do tampo igualmente serao funcao do tipo de trabalho. Para montagem de moveis feitos a partir de paineis, por exemplo, a area da superficie ha de ser ampla, muito mais uma mesa relativamente leve do que uma pesada bancada. Por outro lado, se a ideia e' aparelhar, serrar, plainar, modelar madeira macica, o importante e' rigidez, firmeza, um tampo espesso e pesado, feito para levar porrada e nem sentir.

E, claro, fundamental no dimensionamento do tampo o espaco disponivel; afinal e' preciso se movimentar em torno `a bancada, de preferencia podendo acessar todos os seus lados. Embora possa-se muito bem colocar uma bancada de tal modo que so a frente seja acessivel, lados e fundo contra paredes, e ainda assim usa-la satisfatoria e adequadamente, como e' possivel em um amplo espaco usar-se apenas uma pequenina bancada apenas para certos procedimentos e utilizar-se o proprio chao quando necessario mais espaco. Cada um e' que sabe como equacionar.

Importante e' equacionar: escolher materiais e dimensoes considerando onde, e o tipo de trabalho que se propoe executar, e projetar, construir ou adquirir uma bancada o mais compativel possivel.

Quanto aos pes, obviamente o primeiro requisito e' que fornecam uma base o mais estavel possivel onde apoiar-se o tampo. Evidentemente, conforme o projeto os pes poderao igualmente ter outras utilidades, como oferecer uma referencia de esquadro, basica ou exata conforme o designio do construtor, servir de ponto de fixacao para componentes integrais do projeto, etc. Aqui tambem, obviamente, e' importante traduzir o tipo de servico que se pretenda executar em caracteristicas que se deseja a bancada ofereca.

Ahi, tendo tampo e pes constituindo uma bancada compativel com o tipo de demanda a que vamos submete-la nas nossas lides, ha de se pensar nos acessorios que lhe podemos acrescentar para facilitar essas lides.

Algo a ver, em uma proxima postagem...