segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Evitando encanoamentos (breadboard & drawbore offset)

Com as portas do terceiro armarios montadas, dimensionadas, lixadas, dobradicadas e com a primeira demao de oleo de tungue secando, a coisa vai chegando na reta final...

Nada de muito chamativo na construcao das portas; afinal e' apenas construir um painel colando chapas, nao e' mesmo? Mas como eu gosto de inventar, impliquei de fazer as portas totalmente diferentes uma da outra, em design e em tamanho, como imagino possa-se notar na imagem ahi abaixo...



Afora essa invencionice, cujo resultado voces poderao julgar em uma proxima postagem no seguimento deste projeto, para evitar encanoamentos nas pranchas nao muito espessas (2 cm) da porta `a direita na foto resolvi aplicar uma solucao que inclusive ja havia empregado anteriormente: um breadboard.

Nao conheco palavra equivalente em portugues; a palavra em ingles se traduz como taboa de pao mas, especificamente em marcenaria, se refere ao uso, especialmente em tampos de mesa, de uma prancha estreita com veios transversais encaixada com espiga e fura nas extremidades de uma taboa, ou painel, para prevenir encanoamentos.

Iniciei o breadboard marcando as furas com graminho e entao as abrindo utilizando bedame, conforme a tecnica que aprendi com Mr. Paul Sellers, utilizando uma fita adesiva no bedame para marcar a profundidade.

(Como sempre, clique as imagens para ve-las em maior resolucao.)
A fura marcada no breadboard, pronto para iniciar os cortes

A fura sendo cortada; repare a fita adesiva no bedame

A fura completada

Com as furas prontas nos breadboards, iniciei o corte das espigas nas extremidades do painel fazendo um rebaixo (rebate?) empregando uma plaina dedicada (rabbet plane). Poderia ter utilizado a serra de bancada, com ou sem laminas dado, ou tupia, ou..., mas considerada a dimensao e o peso das portas, a plaina manual me parece o jeito mais pratico e mais facil.

O rebate sendo cortado com a plaina e conferido com esquadro

O rebate cortado em ambos os lados da porta

A seguir, marquei o posicionamento das saliencias na fura e serrei o que deu com serra manual (ryoba). Os cortes do meio poderia ter feito com uma tico-tico manual, se fosse adepto de sempre priorizar ferramentas manuais, mas achei mais rapido, mais preciso e mais facil utilizar uma multicortadora. Cortes feitos, utilizei um formao de parear para chanfrear os bordos para facilitar o encaixe.


Fixacao com drawbore offset

 Acertado o encaixe, marquei (setas vermelhas) nos breadboards a posicao onde fazer os furos para executar a fixacao com a tecnica de drawbore offset. (Outro termo tecnico de marceneria em ingles cuja traducao, se existe, desconheco.) Como os veios da madeira dos breadboards sao transversais aos dos da porta, nao se pode usar cola para fixar pois a madeira vai trabalhar em direcoes opostas na area da emenda, e a tecnica de drawbore offset me parece a mais eficiente para efetuar a fixacao: Trata-se essencialmente de pinar a emenda com cavilhas, com o detalhe de os furos nas espigas serem cortados um pouco mais proximos da borda da emenda do que os das furas para tensionar a emenda, como mostra a foto `a esquerda. Adicionalmente, os furos na espiga nas saliencias mais laterais sao levemente alargados para permitir a madeira possa-se expandir e contrair sem ameacar a emenda. E nao precisa colar mas, porque nao custa nada, eu apliquei um pouco de cola apenas na saliencia do meio.

Nas setas, a marcacao dos furos na fura

O furo e' aberto na fura desencaixada
Pode ser passante, mas optei por deixar o fundo cego


Com a emenda em encaixe seco, usa-se a propria broca que abriu
o furo na fura para marcar o centro na espiga
Entao marca-se um novo centro na espiga deslocado para mais proximo da borda (seta)

Abrindo um furo na espiga pelo novo centro marcado,
ao montar a emenda percebe-se o desencontro (setas) dos furos
A cavilha ao entrar (com marteladas) 'puxa' o breadbord contra a borda


O breadboard pinado no lugar
Quando as portas estiverem no lugar, o movel pronto, eu volto a incomodar voces...

domingo, 22 de novembro de 2015

Corpo do terceiro armario, pronto




 Faltando apenas construir e colocar-lhe as portas, o corpo do terceiro armario feito para substituir meu closet infestado esta pronto e acabado...


Nao havendo nada de mais especial ou chamativo no processo construtivo em si, sendo em essencia o movel nada mais que uma caixa com divisorias, resolvi aproveitar essa postagem para salientar dois aspectos mais gerais que, considerando algumas perguntas que andei recebendo, talvez possam interessar algum de meus sete fieis leitores.

Primeiro, uma caracteristica da madeira do cedro-rosa. Em funcao de fenomeno fisico ligado `a dispersao da luz refletida pelos veios ( que produz uma iridescencia cujo nome tecnico e' chatoyancy, em frances), conforme o angulo com que se observa esse lenho altera sua cor e sua 'luminosidade', resultando um efeito tridimensional altamente atraente. Que tentei ilustrar (sem muito sucesso, e' verdade) na serie de imagens abaixo, tomadas uma apos a outra enquanto me deslocava e com isso alterava o angulo do ponto de vista. (Como sempre, clique nas imagens para ve-las em maior resolucao).







Como e' obvio, quanto mais convolutos, revessos, revoltos forem os veios, mais chamativo, mais acentuadamente se manifestara tal efeito.




O outro ponto e' quanto `a aplicacao da goma-laca, um de meus acabamentos prediletos. E' bem sabido, do pincel `a pistola ha inumeras diferentes tecnicas de aplicar-se essa laca. A que por larga margem, para o meu gosto, oferece a melhor praticidade e muito bons resultados e' a aplicacao com  um trapo que nao solte pelos. Bem molhado, quase escorrendo, nas primeiras demaos e progressivamente mais enxuto nas seguintes, aplicado com movimentos circulares, e' como eu faco. Tres ou quatro demaos com intervalos de 20-30 minutos entre elas, deixar secar por par de horas, aplicar bem levemente um lixa fina, grana 320 a 600 conforme desajado acabamento mais ou menos brilhante, deixar secar uma outra hora e repetir o processo tantas vezes quanto apetecer.

Nunca aplicar com tempo muito umido: a umidade 'branqueia' a goma-laca e ahi e' um PROBLEMAO!


 
Ha quem diga que se deve usar luvas para proteger as maos ao empregar-se essa tecnica. Eu nao vejo por que.

A goma-laca em si e' inerte, o que ha de inofensivo, tanto que e' utilizada para revestimento de medicamentos e alimentos (por exemlo, M&M®, mentos® e por ahi afora), e o solvente e' alcool etilico.

E nao me incomoda nada ficar com a mao coberta de laca. Nao sai com agua, e' verdade, mas no final do dia, antes do banho, um pano com alcool remove o grosso. O que fica, se ficar, sai com o tempo, hehe.

sábado, 14 de novembro de 2015

Completada a carcaca do terceiro armario

Aproveitando algumas folgas que o velho Pedro decidiu nos conceder, e empregando ao maximo sobras de material proveniente de outros projetos, montei topo e base para o terceiro armario, cortei e coloquei fundo com paineis de compensando, deixando a estrutura preparada para ser pendurada utilizando encaixe em faca, ou frances.

Vista de frente, em 3/4
Vista de fundo, as setas apontando os apoios para a suspensao,
a seta vermelha o segmento que sera fixado na parede





Na imagem `a direita, detalhes do sistema de suspensao, em pinus. O "X" verde marcando o segmento que ficara fixo `a parede, a seta vermelha mostrando o leve chanfro na parte inferior deste segmento, para permitir um bom ajustamento, sem frestas, com o painel do fundo.

O movel recebeu uma demao de Jimo Cupim e duas demaos de Antimofo da Allchem em todo o interior e no exterior do topo e da base (as areas com compensado) para previnir a possibilidade de os fungos voltarem a crescer, e chegamos no estagio da imagem abaixo:


Proxima etapa, quando possivel, as divisorias internas...


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Laterais para o terceiro armario

(Como sempre, clique nas imagens para ve-las em maior resolucao.)

Com a remocao do antigo e infestado closet do meu quarto, as roupas encontraram abrigo nos dois armarios cuja construcao foi relatada nas ultimas postagens aqui desse batcanal, mas um sem-numero de badulaques restaram 'desabrigados', digamos assim. Com o que, decidi construir mesmo um terceiro armario para acomodar tais tralhas.

Dispondo de umas pranchinhas de cedro-rosa que sobraram do segundo armario, resolvi utiliza-las na confeccao das laterais do novo movel, como paineis inseridos em molduras de tauari... Algo, imaginei, simples e rapido de fazer.

Na parte da simplicidade eu tinha alguma razao. Quanto `a rapidez, o velho Pedro definitivamente nao concordou... mas divago! De qualquer maneira, iniciei por cortar e aparelhar as pecas.

As madeiras serradas

A 'saida' do desengrosso ao final do aparalhamento

As pecas devidamente aparelhadas, e os quase 100 litros de maravalha produzidos no processo


O processo todo — desde serrar as pecas ate totalmente aparelha-las, os seis lados quadrados e devidamente dimensionados, utilizando serra de bancada, serra de esquadria, desempenadeira e desengrosso — levou par de dias e produziu quase 100 litros de maravalha, como mostrado acima. O que ilustra, penso eu, minha preferencia por empregar uma tecnica mista de ferramentas eletricas e manuais quando brinco de marceneiro: se seguisse a cartilha ultimamente mais e mais apregoada de utilizar apenas ferramentas manuais, provavelmente obteria um resultado tao bom ou possivelmente ate melhor, mais preciso; mas imagino ao inves de par de dias levaria par de semanas na lide. Provavelmente seja por essa prolongada demanda de tempo que a gente veja na Rede o pessoal  la dA Matriz ortodoxamente afeito a uso exclusivo de ferramentas manuais produzindo quase que exclusivamente projetos de pequenas dimensoes... Mas, outra vez, divago!


Com as pecas aparelhadas o passo seguinte foi plainar, com plaina manual, a quase imperceptivel concavidade nas faces a ser coladas das pranchinhas de cedro-rosa para obter o efeito de spring board (com as faces a ser coladas ficando levemente concavas resulta uma pressao muito maior nas extremidades do que no centro da colagem; e e' nas extremidades que os paineis descolam). Na imagem `a esquerda, o produto descartavel das tais plainagens.

As pranchinhas devidamente preparadas ganharam uns biscoitos para melhor nutrir a colagem e, posta a cola, foram para os grampos.







Como as pranchas na colagem ocuparam todos os tampos de bancada disponiveis, incluindo o da serra de bancada, tive de aguardar a secagem e desocupacao da area de trabalho para atacar a etapa seguinte: cortar na serra de bancada utilizando dado blades os malhetes (espiga e fura integrais e totalmente passantes nas extremidades, o que os Grandes Irmaos chamam bridal joint) para as juncoes da moldura com as vigotas de tauari.

As espigas foram cortadas com a mesma espessura das furas, de forma que foi necessario um ajuste finissimo com plainas manuais nas espigas para conseguir se encaixassem sem qualquer folga. Na verdade, o encaixe ficou tao justo, mas tao justo que foi necessaria alguma 'persuasao' com um malho para ajusta-lo, como imagino possa ser percebido na imagem `a direita.

As molduras montadas secas, os paineis colados e umas divisorias de imbuia para prencher o centro do painel.
E o 'persuasor', hehehe...

O passo seguinte foi, utilizando a configuracao mostrada na imagem `a esquerda na serra de bancada, produzir um leve rebaixo (rebate) nas extremidades de uma das faces dos paineis, para encaixa-los nos rasgos que iriam ser cortados nas molduras.


Antes de abrir os rasgos nas vigotas da moldura no entanto, foi necessario moldar e abrir rasgos, outra vez com dado blade, nas divisorias de imbuia. Isso, para poder encaixar o conjunto painel/divisoria/painel no 'buraco' da moldura de forma a acertar o posicionamento, como se ve na imagem abaixo...




Posicionamento e medidas acertadas, os rasgos foram cortados nas molduras utilizando a tupia de mesa e. finalmente, depois de consumidos inacreditaveis onze dias nas idas e vindas do processo, todas as pecas estavam devidamente usinadas:


Obviamente, o passo seguinte seria efetuar a montagem seca. Mas, como imagino possivel ver-se pelo estado do chao no alto da foto acima, estava chovendo e eu, irritado com a interminavel molhaceira, achei de pular a etapa e ir direto para a colagem...

As laterais montadas, nos grampos, colando
As laterais recem saidas dos grampos


... Nao devia!
Certamente nao devia ter pulado a etapa.

Na confusao toda da usinagem final esqueci um ajuste e uma medida deu errado, claro. E, claro, coisa que so descobri depois de ja aplicada a cola. Ante a opcao de desmontar tudo e ter de, para remover a cola, lavar todos os encaixes na corrida, e tudo, e tal, resolvi colar mesmo com o erro. Vai dar para corrigir e deixar imperceptivel.

Mas mais uma licao (re)aprendida. O preguicoso trabalha dobrado, o apressado come cru.
Agora, acho que nao esqueco mais. Ou... Sei la, hehehe.

As laterais, terminadas