sábado, 30 de julho de 2011

Coisas que nao temos — Dado Set

Ha um sem-numero de recursos e acessorios disponiveis para oficinas de marceneiros hobistas no mundo desenvolvido que simplesmente nao existem aqui por pindorama. Exemplo gritante, o que inumeros marceneiros dA Matriz apontam como o mais util acessorio que ha para a serra circular de mesa, o dado set...

Abrindo um parentese, registre-se a cultura inglesa desde sempre dedicou muito mais atencao `as lides com madeira do que a maioria das demais culturas europeias (embora os franceses muito provavelmente nao aceitem essa afirmacao, hehe). Certamente bem mais do que os portugueses — e isso se reflete ate na lingua: Em portugues, desconheco (mas adoraria ser corrigido) palavra(s) especifica(s) para designar um rasgo com perfil "U" na madeira. Ja em ingles ha tres palavras, definindo nao apenas um rasgo em "U" mas tambem de que forma tal rasgo e' cortado.

Groove
Se o rasgo for aberto acompanhando a direcao dos veios da madeira, recebe a denominacao de groove.


Se no entanto o rasgo, independente da direcao dos veios, for aberto em um extremo da tabua, sera chamado rabbet.

E se for aberto nao no extremo da tabua e transversalmente `a direcao dos veios da madeira, entao o rasgo chamar-se-a dado.
Dado
O dado set e' um acessorio para serra de mesa que permite se abram rasgos em "U", nao apenas dados, mas igualmente rabbets e grooves. A implementacao e' feita em fundamentalmente duas configuracoes. Na primeira, um disco especial monta-se angulado em relacao ao eixo (eventualmente utilizando arruelas para ocasionar essa angulacao em um disco comum) e, assim, quando em operacao fica 'bamboleando', e nisso amplia a largura do rasgo. Por razoes de seguranca, tanto para o operador como para o equipamento, esse metodo praticamente nao se utiliza mais, tendo sido substituido pela segunda configuracao, a montagem de varios discos de corte, lado a lado no eixo da serra, uma tecnica nao apenas muito mais segura mas que permite estabelecer a largura do rasgo com precisao melhor que milimetrica (sendo evidentemente a profundidade do corte estabelecida pela altura da lamina).

Ha incontaveis modelos e variantes fabricados e disponibilizados mundo afora, em diferentes formas, implementacoes e tamanhos:



As vantagens que tornam esses acessorios tao populares onde disponiveis sao claras. Embora certamente haja varias outras formas de se abrir os mesmos rasgos que se pode abrir com um dado set — utilizando plainas manuais, serra, formoes, tupias, etc. — e' pouco provavel se consiga a mesma facilidade, precisao e, principalmente, rapidez. Ate por isso seu uso e' tao disseminado que ao se assitir videos de marcenaria na Teia e' praticamente certo que cedo ou tarde (bem mais provavelmente cedo, hehe) va-se ver algum projeto empregando um desses produtos.

Abaixo, adiciono um video (adivinhem em que lingua...) demonstrando como se monta um desses sets na serra, seu uso, e alguns comentarios sobre como opera-lo com seguranca:


Por fim, alem de reiterar lamentavelmente nao conseguimos encontrar esses potencialmente utilissimos acessorios em nossas lojas, cabe apontar uns problemas relacionados ao seu uso.

Obviamente, um set desses representa um peso maior, bem maior, do que uma simples lamina, o que se traduz em um consideravel esforco adicional para o motor da serra. Tanto e' assim que os fabricantes recomendam que em serras de ate 1HP (equipadas para discos de 10" de diametro) se utilize apenas sets com 6" de diametro; nas de ate 2HP se utilize sets com ate 8" de diametro, deixando os sets com 10" ou mais de diametro reservados para serras 'profissionais' com mais de 3HP de potencia e com eixos de 1", ao inves dos 5/8" habituais em serras para hobistas.

Alem de possivel sobrecarga no motor, nos rolamentos e na transmissao da serra, esse equipamento muito provavelmente representara uma sobrecarga consideravel no bolso do usuario! Os baratinhos, nA Matriz, arrancam ao redor de U$ 100, os melhorzinhos ultrapassam U$ 400, os profissionais nao sei. Nem quero saber. O que sei e' que isso se traduziria (com otimismo) por um custo entre R$ 800 a R$ 3.000 para importar diretamente os 'baratinhos' e — considerada a ganancia usual do nosso comercio — alguma coisa entre tres a quatro vezes isso se disponiveis, legalmente, com garantia, credito e tudo e tal, em balcao. O que, imagino, explica sua extrema raridade por aqui...

Nao esqueca: quando tiver um tempinho, visite-nos no forum Madeira!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Segurando a peteca

Diz-se que o patrono do Rio Grande e' o velho Pedro. Imagino se nao fosse!

Aparentemente ter despejado por aqui ha uns dez dias um tal volume d'agua que configurou a terceira maior precipitacao do planeta no periodo (cosa poca, uns 300mm!) nao foi suficiente para acalmar a implicancia do patrono e, parece, vamos ter a dose repetida.

Um dos efeitos colaterais dessa umidade toda — comparativamente insignificante, sob certas oticas — e' que tive de proteger os tampos de ferro das minhas maquinas contra a ferrugem e o resultado e' que estao para todos os efeitos desativadas. Mas sim, e' verdade, nao poder dispor das maquinas mais importantes nao significa que nao se possa brincar de marceneiro. Alias semana passada, impulsionado por um desafio em desenvolvimento no forum Madeira!, inclusive confeccionei um estojo para ilustrar um processo construtivo fast and dirty, como dizem os Grandes Irmaos:

E hoje entao, para nao deixar a peteca cair — e tambem porque vinha muito sutil e apropriadamente sendo cobrado eu andava demolindo o cabo dos meus formoes ao usar martelo para bater-lhes — aproveitei a inspecao do maquinario para construir um malho. Na verdade um prototipo de malho, porque utilizei cedrinho e pinus, madeiras nao bem apropriadas para a funcao. O modelo definitivo que pretendo seja de ipe e grapia eu nao quis iniciar porque a trabalheira sera certamente bem maior com essas madeiras duras e eu queria me certificar quanto ao que e como daria para fazer antes de desperdicar tempo e boa madeira...

De todo modo foi interessante, divertido e instrutivo construir a ferramenta com serras, plainas e formoes, todos manuais. E o resultado, se nao e' nada para por numa vitrine, certamente ficou aceitavel e, o mais importante, funciona a contento, mesmo se provavelmente nao va durar muito...


.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Filmes de marcenaria na Teia

Ja falei antes aqui no blog sobre os populares programas de marcenaria na televisao dA Matriz, da sucessao do New Yankee Workshop, protagonizado pelo Norm Abram, pelo Rough Cut, protagonizado pelo T-Chis..., digo, Tommy Mac. Sucessao com perdas, eu diria, pois embora a producao no novo show nitidamente tenha procurado manter o formato do antigo — iniciando com uma peregrinacao a um lugar notavel que de alguma forma inspirou o projeto a ser desenvolvido, e entao o desenrolar da construcao baseada em um prototipo, com planos, materiais, medidas e desenhos detalhados disponiveis para aquisicao no site — o fato e' que o T-Ch..., digo, Tommy Mac, embora talvez possa ser um marceneiro mais competente, mais detalhista, ate mais habil que o velho Norm Abram, certamente nao tem o dominio de cena do antecessor, fala depressa demais, exagera o sotaque da Nova Inglaterra, e frequentemente pula etapas importantes, atropela, se embaralha no processo construtivo da peca para privilegiar um detalhe menor, fazer uma firula, soltar uma piada infame...


Ma vontade minha?

Acho que nao, mas enfim... Julguem voces: nao e' preciso ser especialista em mecanismos de buscas na Teia para encontrar os videos, tanto as 20 temporadas completas do NYW, como a primeira do RC.


Mas por falar em videos disponiveis na Teia, e que nem precisam de busca nenhuma para se encontrar, eu gostaria de recomendar tres, ou melhor, quatro canais de videos do YouTube onde voces seis, meus leitores interessados em marcenaria possam — espero! — se deleitar. (E sim, sim, infelizmente os videos sao todos em ingles mas mais das vezes as imagens sao suficientemente informativas para valer a pena assistir...)


O primeiro, claro, o canal de Mr. Matthias Wandel, o engenheiro marceneiro canadense, com seus jigs, adaptacoes, criacoes engenhosas e admiraveis. Disponivel a partir de http://www.youtube.com/user/Matthiaswandel#g/u . Imperdivel!



Depois, o Woodworking for Mere Mortals que trata exatamente disso, marcenaria para meros mortais, construcoes simples de fazer sem utilizar altos equipamentos, apresentando usualmente um projeto novo a cada sexta-feira, conduzido pelo irriquieto e irreverente Stevin Marin, tudo acessivel desde http://www.youtube.com/user/stevinmarin#g/u .


Falar em Stevin Marin, a criatura e' tao fora da caixinha que tem um outro canal, o Mere Minutes: WWMM onde, ao inves de apresentar o desenvolvimento de um projeto, conta o que vai acontecendo no intervalo entre as sextas-feiras, fragamentos do dia-a-dia, nao necessariamente ligados `a marcenaria, mas usualmente bastante divertidos. Esta em http://www.youtube.com/user/steveinmarin#g/u .

E ahi, por ultimo o menor, mas nem por isso o menos interessante deles: The Teen Woodworker, canal de Mr. Alexis Harris, um rapazote ingles de 15 anos que faz chover na sua micromarcenaria encaixotada em um cubiculo espremido contra a casa. Muita enfase em tornearia, mas o guri e' metido, bota a mao em tudo, de encaixes cortados `a mao ate construcao de uma forja domestica. Acesso em http://www.youtube.com/profile?feature=iv&user=TeenWoodworker&annotation_id=annotation_781110#g/u .

Ahi esta... Ou, melhor, ahi estao.

Videos para ver por semanas a fio e, pelo menos no meu sempre desconsideravel entender, muita coisa interessante para aprender, ou no minimo recapitular. E o preco, o preco e' imbativel!

.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nivelando bancos, cadeiras, armarios, mesas, etc.

Um inconveniente comum ao se construir moveis com quatro pes e', ao apoiar-se o projeto recem terminado no chao, ele ficar desnivelado e/ou em falso, com um dos pes no ar, usualmente alternando-se com o pe oposto na diagonal conforme se aplica o peso, ou ainda mal apoiado, sem que toda a area dos pes faca contato com solo. A tecnica usual de tentar acertar o problema — removendo com a serra, ou plaina, um pouco de cada um dos tres pes mais altos — gerou a famosa piada de como transformar um alto banco de bar em um tamborete raso, hehe, ou alguma coisa obviamente errada, como o que se ve na foto.


E' claro que embora ate possa ocorrer, uma desventura dessa dimensao sera sempre excepcional, mas o uso da tatica de tentativa e erro nesses casos e' sempre cansativa e mais propensa a erros do que a conseguir um exato  posicionamento dos pes, os quatro firmemente apoiados no chao e o movel perfeitamente nivelado.

Muito mais simples, alem de muito mais facil, utilizar um metodo que garanta sempre, e de primeira, sem tentativas, o resultado perfeito. Inclusive no caso do chao ser irregular ou fora de nivel, a proposito...

A maneira mais simples e eficiente que eu ja tive oportunidade de ver ou ler para obter-se sempre e rapidamente um resultado preciso, nas palavras de um velho mestre que conheci, "embaraca pela simplicidade". Assim, o'...

Pegue o movel bamboleante, uma cadeira digamos, e leve ate o lugar onde devera ficar, ou ate um piso sabidamente nivelado, como for o caso. Utilizando calcos de pedacos de papel, madeirinhas, panos, cunhas, o que seja, assegure-se a cadeira esta perfeitamente nivelada.

Quando estiver bem nivelada e firmemente assentada ao piso em todos os pes sem nenhum bamboleamento, pegue uma tabuinha fina, so um tiquinho mais grossa do que a maior folga (entre o chao e o pe mais curto), encoste ao lado dos pes, um por um, em toda a volta, e utilizando a parte de cima da tabuinha como regua, risque em toda a volta dos quatro pes.

Serrando entao os pes certinho nas linhas marcadas voce tera tudo certo, altura e angulo perfeitos.

O que talvez fique mais facil de entender vendo esse video (imagine em que lingua...):

http://www.thomasjmacdonald.com/rough-cut-woodworking/media/video.php?vid=5927043f7

Aproveitando que a postagem foi curtinha, um convite se voce gosta de bater papo sobre marcenaria:
venha nos visitar no forum em xilofilos.com .


.

domingo, 17 de julho de 2011

Fura & Espiga - com ajuda de maquinas - III

Alem de, como vimos, se poder utilizar as capacidades inerentes de uma tupia invertida em bancada para cortar-se EFEs, ha a possibilidade de construir-se gabaritos, ou jigs, especificamente projetados para essa finalidade. Uma atividade, alias, nao apenas possivel como frequentemente, muito frequentemente praticada — o que e' facilmente demonstrado pela utilizacao dos mecanismos de busca da Teia. Se pesquisarmos por videos com a string "tenon and mortise jig" no YouTube retornam 102 videos, no Google, 133; simplificando a string, por exemplo para "mortise jig" apenas, tanto no YouTube como no Google se obtem mais de 400.000 retornos! Se ao inves de videos pesquisarmos por artigos, ja estaremos na casa dos milhoes de retornos.

Fica claro, e' muita areia para o meu caminhaozinho querer comentar sobre metodos, meios, tipos, variantes, o que seja, nesse oceano de informacoes. Fica entao apenas a indicacao para os interessados, e quem quiser faca suas proprias filtragens no diluvio...

Leigh FMT Pro Jig
Existem no entanto (nA Matriz) alguns modelos industrializados de jigs para EFEs (ou, como eles abreviam, FMTs - Frame Mortise and Tenon). Ha tres que vejo anunciados com relativa frequencia nos sites de venda de material de marcenaria de la.

O primeiro, o modelo PRO, topo de linha da Leigh, vendido la por uns 900 dolares, capaz de multiplas setagens e ajustes e produzindo excelentes resultados (o que afinal seria de esperar nessa faixa de preco), como pode-se ver nesse video:



Leigh FMT Super Jig
Tambem da Leigh, irmao menor do PRO, e' o modelo SUPER, menos refinado, nao tao bem nem tao sutilmente acabado, mas — consta — ainda capaz de excelencia no acabamento e precisao dos encaixes que pode produzir. E custando a metade do preco do irmao maior.



Menos popular, menos refinado e por U$375 na media o mais barato do trio, e' o Mortise and Tenon Jig da Trend, ainda considerado nas revisoes oferecidas por seus proprietarios um equipamento altamente capaz e efetivo (um video mostrando seu funcionamento esta disponivel em
http://www.youtube.com/watch?v=OT3i6CNEjUo :

Trend Mortise and Tenon Jig

Infelizmente para o nosso gosto mas talvez felizmente para o nosso bolso esses equipamentos nao estao disponiveis no mercado de pindorama tanto quanto eu saiba. E, convenhamos, custam caro. Muito, muito caro.

Certamente o preco carissimo e' uma, talvez a mais proeminente, das muitas razoes que fazem com que gabaritos de furacao de EFEs sejam multidao, como mencionei mais acima. Mas se la comentava da inviabilidade de sequer tentar abordar a imensa vastidao de construtos criados por incontaveis marceneiros Internet a fora, nao podia deixar de mencionar as criacoes do Engenheiro da Marcenaria, um verdadeiro genio na criacao de engenhocas uteis e funcionais para uso e deleite de quem as deseje construir, o ilustrissimo Matthias Wandel.

Em sua oficina domestica no Canada, Mr. Wandel construiu uma maquina de cortar espigas e uma maquina de furar caixas, ambas empregando um motor de tupia e disponibilizou os detalhadissimos planos de como construi-las aos interessados: onze dolares canadenses pela cortadora de espigas, quatorze dolares canadenses pela abridora de furas, ou 20 dolares canadenses por ambos os conjuntos de planos. Nao satisfeito, partiu para construir sua Pantorouter, uma maquina bem mais polivalente que as anteriormente  mencionadas e capaz entre varias outras coisas de cortar espigas e furas com precisao e perfeito ajuste. O valor dos planos de construcao desse engenho, disponiveis por download direto, e' dezesseis dolares canadenses e, para quem nao conhece poder ter uma ideia de o que a encrenca e' capaz de produzir, vai o video:



Obviamente, existem ainda as maquinas industriais, mas nao me parece seja o tipo de equipamento para ser usado por um marceneiro em casa. Uma possivel excecao poderia ser a Entalhadeira de Corrente da Makita que utiliza uma cortadeira de corrente, semelhante `as utilizadas pelas moto-serras, tanto para abrir furas como para cortar espigas com precisao e, em maos treinadas, pode oferecer uma velocidade de producao bem maior do que se pode obter com tupias mesmo com os melhores jigs. Seu inconveniente e' o preco, na faixa de R$4.000,00, e o fato de que nao sao nada faceis de se encontrar `a venda...

Entalhadeira de Corrente da Makita






quinta-feira, 14 de julho de 2011

Fura & Espiga - com ajuda de maquinas - II

Cortar-se espigas e furas com auxilio da tupia de mergulho e' uma atividade bastante usual em marcenarias domesticas e artesanais. A primeira consideracao a se fazer na utilizacao dessas ferramentas para efetuar-se os cortes e' evidentemente quais fresas empregar, e a resposta e' simples: excecoes excepcionais a parte, usa-se sempre fresas retas.

 Para cortar-se furas em geral da-se preferencia `as fresas de laminas helicoidais ascendentes,
Fresa reta
 helicoidal
ascendente
Fresa reta de
laminas retas
por sua facilidade de penetracao aumentada em funcao de sua faculdade de remover os cavacos. Ja para cortar espigas prefere-se usualmente as fresas de laminas retas por apresentarem um melhor 'temperamento', nao oferecendo tracao durante a execucao do corte.

Duas observacoes a salientar-se, ja nessa altura: primeiro, em qualquer operacao com bits retos a profundidade do corte NUNCA devera ser superior ao diametro da fresa, ou seja, a operacao devera sempre ser efetuada em tantas etapas quanto necessarias, sempre respeitando a regra de nao afundar o corte alem do diametro da fresa a cada passo e, segundo, evidentemente o comprimento da fresa devera ser suficiente para a profundidade do corte desejado. Lembre-se, nunca exteriorize a fresa para fora da pinca da tupia buscando alongar seu comprimento alem do limite permitido pelo fabricante; as consequencias podem ser nefastas, muito nefastas. SEGURANCA SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR!

Determinadas as laminas, o proximo passa sera acertar a profundidade do corte. Isso, claro, sera setado no ajuste da propria tupia de mergulho, marcando-se da forma indicada para cada modelo a profundidade total desejada e, sendo o caso, regulando-se os passos intermediarios para evitar-se uma profundidade excessiva no corte.

Ahi, e' partir para o corte...
Mas como fazer para acertar a maquina de forma a se obter o posicionamento do corte com precisao, ja que precisao e' fundamental em uma EFE? Bem, ha inumeras maneiras. Na verdade praticamente cada marceneiro tem a SUA propria maneira...

Por razoes que veremos um pouco mais adiante, a regra quando se cortam EFEs com tupia e' obter-se caixas com cantos arredondados e mechas de cantos retos, o que se significa que ao final do processo e' ainda necessario, ou se avivar os cantos das furas, ou arredondar-se as arestas das espigas. Para contornar esse problema e facilitar a execucao do processo tem-se tornado cada dia mais comum a utilizacao de EFEs com mechas soltas (em ingles, loose tenons). Um exemplo dessa modalidade — utilizando-se para posicionar corretamente os cortes um metodo nao-especifico, ou seja, o rasgo da mesa da tupia, um jig e batentes — e' demonstrado nesse video abaixo (em ingles, eu sei, eu sei...), onde o progressivo aprofundamento do corte e' determinado por acionamento eletrico de um elevador — o que e' um requinte certamente confortavel mas longe de indispensavel, posto que o processo poderia ser executado exatamente da mesma forma apenas com interrupcoes para aprofundamento manual do corte a cada passo...


Obviamente, na falta do jig adaptavel ao rasgo se poderia — com os mesmos resultados, igual precisao e possivelmente ate maior facilidade operacional — utilizar uma guia alta na mesa onde apoiar a peca e colocar-se os batentes.

Ou, mais facilmente ainda, se poderia utilizar uma mesa com a tupia posicionada horizontalmente, com a peca posicionada deitada ao inves de de ponta, como neste outro video (do mesmo marceneiro, mas agora uma clara propaganda para a MLCS):


Nesse video — alem de alguma baboseira, hehe — pode-se ver nao apenas como cortar furas, mas igualmente espigas e, de quebra, por que razao usualmente se obtem "ombros quadrados" e "furas redondas" quando se faz cortes com tupia empregando-se esses metodos de posicionamento das pecas.

A esses metodos mais generalistas do uso da tupia, utilizando recursos da propria mesa, se contrapoem os jigs especificos, dedicados para EFEs, industriais e artesanais. Tema para uma proxima postagem...

.

domingo, 10 de julho de 2011

Fura & Espiga - com ajuda de maquinas - I

Como mencionado na postagem anterior, a utilizacao de maquinas para cortar as caixas e mechas pode nao so agilizar o processo como melhorar a precisao dos encaixes, especialmente quando nao dominamos bem as tecnicas manuais. O quanto de maquinas, e quais maquinas se adicionara ao processo e' obviamente uma questao de gosto individual ou exigencia do servico.

Um primeiro passo possivel no sentido da plena automatizacao do processo de cortar EFEs (emendas em fura e espiga) seria, por exemplo, utilizar-se furadeiras para facilitar a abertura das furas, e serras mecanicas para cortar as espigas.

Na construcao das EFEs que empreguei no banco mencionado em postagens anteriores, eu utilizei o recurso de primeiro furar as caixas com broca e entao terminar o dimensionamento com formoes:
Furas marcadas, prontas para o corte

Abertura das caixas com broca Forstner, na furadeira de bancada

Prontas para dimensionamento final com formao

Caixas dimensionadas

Esta, claro, e' apenas uma das tantas possiveis variantes de empregar-se furadeira e broca na facilitacao do corte das furas.

Na evolucao dessa tecnica, foram desenvolvidas ferramentas especiais — o 'casamento' de um formao quadrado oco com uma broca em seu interior, feitos para abrir furos quadrados — que se podem adaptar, tanto a jigs projetados para uso acoplado a furadeiras de bancada, quanto podem ser utilizados em maquinas dedicadas projetadas especialmente para abertura de furas, as chamadas mortisers, e que permitem a abertura de furas ja perfeitamente dimensionadas.

Formao para furo quadrado

Jig para adaptar-se em furadeira de bancada

Mortiser - maquina dedicada para abertura de furas (mortises)

Ja no que concerne `as espigas pode-se empregar, tanto a serra de mesa, como a serra de fita, na facilitacao do processo. Como por exemplo demonstrado nesse video:


How to Cut a Tenon -- powered by ehow

Alem de tudo isso, ha tambem a abordagem de confeccionar-se furas e espigas utilizando tupias, com e sem jigs.

Tema para uma proxima postagem...

.

sábado, 9 de julho de 2011

Fura & Espiga

Possivelmente o mais firme encaixe possivel em madeira, a emenda por fura e espiga, ou caixa e mecha, ou varios outros nomes que tenha — e em ingles chamada mortise and tenon, uma informacao sempre interessante para ampliar resultados em mecanismos de busca na Rede — e' conhecida desde tempos imemoriais, sempre foi e ainda e' usada com muitissima frequencia quando se deseja uma emenda realmente capaz de suportar altos esforcos.

Ate por me faltar cafe no bule, nao vou sequer tentar abordar os detalhes tecnicos, fisicos, mecanicos, da emenda; qual o melhor dimensionamento para este caso, qual o ideal para aquele outro, quando cortar a emenda reta, quando inclina-la, quando torna-la multipla... O tema por certo se prolongaria em um tratado, e muito provavelmente poria em fuga a escassa meia duzia de leitores que misericordiosamente nao me deixam ficar falando sozinho e ainda persistem na leitura dessas mal digitadas linhas. A ideia entao e' uma abordagem, inescapavelmente superficial, de alguns dos tantos metodos disponiveis aos marceneiros domesticos para conseguirem efetuar com eficiencia aceitavel essa utilissima emenda...

Graminho classico
Independente do metodo que se proponha empregar para efetuar-se os malhetes, a coisa ha de comecar por marcar-se as dimensoes e localizacao dos cortes nas pecas. Uma das caracteristicas funcionais fundamentais da EFE (emenda em fura e espiga) e' que o encaixe tem de ser justo, exato, sem folgas nem espremido, o que se traduz que a marcacao dos cortes tera de ser o mais exata possivel. Embora a marcacao possa evidentemente ser feita com instrumentos usuais de medida, como regua e esquadro, o fato e' que usualmente essas emendas necessitam ser repetidas varias vezes, mesmo em unico movel — por exemplo, um projeto padrao de mesa usualmente empregara 8 EFEs iguais — e ainda mais repeticoes se forem multiplos os moveis. E ahi, como sempre que o caso e' de procedimentos repetitivos, o melhor e' fazer um gabarito, um jig. EFEs sao tao antigas, o processo tantas vezes repetido, que o gabarito para tracar seu posicionamente e' um instrumento classico, um icone da marcenaria: o graminho. (Tudo bem, eu sei que graminho nao serve so para marcar EFEs, de fato tem mil e uma utilidades, mas ele e' certamento O instrumento para isso.) A vantagem de utilizar-se graminho(s) para marcacao de EFEs e' a vantagem fundamental de todo jig: permite realizar com facilidade, rapidez e precisao uma atividade repetitiva tantas vezes quanto necessario.

Uma vez entao, utilizando-se graminho ou o que seja, o posicionamento da emenda tenha sido feito nas pecas a emendar, temos de cortar os malhetes. Para tanto, ha inumeras tecnicas. A maneira mais facil de faze-lo e' sem duvidas utilizando uma usinadora computadorizada — uma CNC, para os intimos. Como e' muitissimo pouco provavel quem tenha em casa uma CNC esteja perdendo tempo lendo esse blog vamos pular essa etapa, e pular tao longe a cairmos no outro extremo da escala: as tecnicas puramente manuais de cortar-se EFEs.

Ha varias, diversas, inumeras maneiras de cortar EFEs `a mao. A mais classica... Mas nao! Ao inves de mil palavras, melhor um video para demonstrar como e' feito (com perdao pelo idioma ingles, mas bons videos de marcenaria em portugues so se nos fizermos: sao mais raros que diamantes!):


Evidentemente, isso ahi que parece facil na mao de um mestre experiente, nas nossas nao e' bem assim. E' preciso tempo, e' preciso treino ate a coisa ficar facil.

Mas sempre se pode dar uma facilitada. Da para introduzir umas maquinas, e agilizar o processo, incrementar a precisao inclusive.

O que poderemos abordar a seguir, aqui nesse batcanal, sabe-se la em que bathorario...

.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Enfim, a obra pronta

Ahi esta... Depois de um tempo realmente prolongado, afinal aprontei o tal do banco. Abaixo, imagens do dito cujo apos a primeira demao de oleo de tungue, ainda umido...



Nao esquecendo que, clicando nas fotos, abrem-se versoes com maior resolucao...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ainda o banco

Depois de varias marchas e contramarchas, o banco a que me referi na postagem anterior AINDA nao esta pronto. Com certeza uma demora ridicula para um projeto relativamente simples, mas a ideia e' mesmo um progresso lento para disponibilizar detalhes de cada passo...

Mas se anda devagar, nao quer dizer que esta parado. De fato houve progressos e a coisa ja comeca ate mesmo a ter cara de banco:

(clicando a imagem, abre-se outra em maior resolucao)

Se algum de voces seis, meus leitores, tiver interesse em esmiucar os detalhes, ver o passo-a-passo, nao custa repetir: e' dar um pulinho em http://xilofilos.com/viewtopic.php?f=32&t=106.

Visitacoes serao muito bem recebidas, hehe.