sexta-feira, 29 de abril de 2016

O terceiro companheiro - faltando a porta

Como ja comentei, uma das vantagens de desenvolver um projeto sem planos nem pressa e' poder deixar a madeira 'falar', e' dizer, nao havendo uma forma predefinida nada impede alteracoes e/ou adicoes a qualquer momento. Eu tinha considerado a carcaca do terceiro companheiro como pronta mas, enquanto secava o oleo de tungue aplicado no preacabamento, examinando o movel como estava e suas imagens no computador veio-me a nitida sensacao faltava algo, um componente que lhe acentuasse a horizontalidade.




Sem aprofundar os morosos meandros com que se ocupou o separador de orelhas, a conclusao foi construir um topo horizontal, algo relativamente simples mas que, pelo menos aos meus olhos, complementou, 'fechou' vivamente a forma justamente acentuando, como eu desejava, sua horizontalidade.



Com isso e a complementacao do preacabamento com uma segunda demao de oleo de tungue — exceto no interior que recebeu apenas cera — agora sim acho que posso dar a construcao da carcaca do armarinho como concluida.




Hora de comecar a construcao da porta.

Para tanto as madeiras necessarias ja receberam o aparelhamento basico e, na imagem abaixo, podem ser vistas `a esquerda da carcaca completa, prensadas no jawhorse e com um par de grampos enquanto descarregam suas eventuais tensoes internas.


O que vai sair... estou curioso.

Vamos ver.


terça-feira, 26 de abril de 2016

O terceiro companheiro - concluindo a carcaca

Como mencionado na postagem anterior, eu resolvi neste movel executar uma construcao um pouco mais elaborada comparativamente aos dois anteriores.

Assim, na hora de colocar o fundo optei por empregar uma junta de dilatacao para possibilitar o inevitavel movimento das finas chapas sempre dispostas a rachar mas, ao inves de deixar tal junta aparente, colei em um dos lados uma tira fina de cedro rosa medida para cobrir inteiramente a junta pelo lado interno.























As duas partes do fundo foram entao posicionadas nos seus devidos lugares, os excessos removidos e os bordos ajustados com plainas e lixas. Uma prateleira foi cortada, dimensionada e posicionada (com um pequeno exagero nos suportes, hehe) e entao o fundo foi fixado com pequenos pregos, incluindo dois finos parafusos para sujeitar a prateleira pelo fundo, chegando-se no estagio mostrado na imagem acima.

A seguir foram colados ao redor no topo do armarinho tres sarrafinhos de jequitiba e, ao fundo, um outro sarrafinho de pinho — que sera instrumental na fixacao do movel `a parede quando for a hora e que, por isso, recebeu um par de parafusos para reforcar sua fixacao.

Seca a cola por uma noite, foram colados engrossamentos nas quatro laterais com tiras modeladas em marfim-mara, com isso praticamente concluindo a montagem da carcaca.



Seca a colagem, era chegada a hora de (ARGH!) lixar.

So que para tao irritante, chata, macante, aborrecida atividade me perdoarao meus sete fieis leitores. Mas eu preciso de tempo, tanto para submeter-me ao sacrificio, como para me recuperar...


sábado, 23 de abril de 2016

O terceiro companheiro - inciando

Comecei o ultimo dos moveis que irao compor o triptico sobre o balcao das cavilhas.

Decidi faze-lo um pouco diferente dos demais, na cor e no design — por nenhuma razao especifica mais do que ver como vai ficar...



Iniciei por montar em caixeta a carcaca basica empregando malhetes em cauda-de-andorinha, e entao colei uns reforcos na base, cortados em pinho — o que se ve na foto `a esquerda.

Na foto da direita, as madeira que ja estao aparelhadas ficaram no lado esquerdo: um resto de louro freijo do Exibidinho e, empilhadas de cima para baixo, pequenas pranchas de marfim-mara, jequitiba e caixeta. No centro, ja cortados e dimensionados, os componentes da base em jequitiba e marfim-mara. E, `a direita sob a carcaca, desdobre de um par de finas pranchas de caixeta que serao empregadas no fundo do movel.



Optei por montar a base inspirada no estilo dos moveis dos irmaos Greene, com um encaixe tipo caixa unico em cada lado. Para tanto, apos dimensionar cuidadosamente as pecas resolvi empregar no corte dos encaixes, macho e femea, meu jig para cortar espigas na serra de bancada, com a ajuda do dado blade set.

Como o dado blade nao alcancou altura suficiente para a profundidade dos cortes, foi necessario termina-los manualmente, empregando serra manual e formao para formar os malhetes.

Acertados os encaixes, as pecas receberam arredondamento em todas as arestas (exceto uma, a que faz contato com a soleira da porta) empregando uma tupia na mao. Como varios desses arredondamentos envolveram corte em fibras de topo, inevitavelmente houve alguma queima.




As marcas de queimadura foram removidas com a ajuda de uma lima, os cantos nos encaixes foram acentuados e as pecas receberam entao lixamento geral  com grana 220 aplicado com lixadeira orbital oscilante.


Que e' onde estamos...


sábado, 16 de abril de 2016

Exibidinho - todo montado

(Clique nas imagens para ve-las em maior resolucao.) 



Com a facilidade e rapidez inerentes ao metodo de construcao empregando parafusos nas emendas estruturais, construi a gaveta e a porta para o Exibidinho. Na gaveta, frente e fundos foram aparafusados `as laterais direto, e o fundo foi entao simplesmente pregado com pregos finos. Na porta, a moldura e a travessa transversal central foram montadas empregando pocket screws utilizando um jig da Mastercraft; a travessa longitudinal central recebeu rebaixos para encaixar-se na moldura e foi entao fixa com parafusos passantes.



No entanto, sendo esta a primeira vez que executo a construcao de um movel empregando apenas parafusos nas emendas estruturais, esqueci de levar em consideracao um aspecto importante que so fui perceber ao abrir, na tupia de mesa, os rebaixos para a futura colocacao de vidros: Nao dei distancia suficiente na furacao para os pocket screws, o que so percebi quando saltaram fagulhas.

Foi necessario entao utilizar um disco de corte na microrretifica para cortar a cabeca dos parafusos onde necessario e entao aplicar um retoque com uma massa de cola e po de madeira para cobrir as falhas, como e' o caso apontado pela seta na imagem `a direita.

Mas ainda um outro detalhe me passou desapercebido: na extremidade de uma das laterais da porta havia uma rachadura. E quando o bit da tupia chegou naquela area, a porcao rachada foi simplesmente arrancada e jogada longe.



Eu ate poderia ter usada um outro pedaco de louro freijo e feito uma nova lateral. Mas resolvi optar por mais uma vez efetuar uma tapeacao com massa de madeira e cola — uma feia, macica e gritante "manobra do gato" como testemunha para toda a vida do movel a lembrar-me que sempre paga a pena, e muito, ser meticuloso na analise das madeiras a ser incluidas nas pecas em construcao.

(Talvez valha o comentario, em todos os moveis que faco para meu uso eu adoto essa conduta de, ao inves de substituir as pecas que sao afetadas por um de meus incontaveis erros, procurar sempre que possivel efetuar alguma forma de reparo, e prefiro sempre deixar tais reparos bem evidentes — exceto, claro, quando resultam monstruosidades, hehe. Cada um, e todos, sao licoes aprendidas. E revisitadas cada vez que as vejo...)

Mas entao, confeccionadas a porta e a gaveta ficou faltando apenas cortar a frente da gaveta e conseguir os vidros... Lixei e a seguir apliquei preacabamento em tudo — cupinicida seguido por duas demaos de oleo de tungue — e levei o armarinho ate a vidracaria para cortar os vidros sem correr riscos de errar nas medidas (uma das tantas surpresas com que, nao raro, meu pirulitado separador de orelhas adora me surpreender).

Na volta, cortei e dei preacabamento na frente para a gaveta, cortei e fiz os furinhos para os pregos nos baguetes para fixar os vidros no lugar, e iniciei os acabamentos com repetidas demaos de goma-laca.

Descontado o tempo necessario para secagem dos acabamentos (e tapeacao de erros), imagino a construcao de todo o movel, se feito com planos e assim desejado, poderia sem maiores problemas ter sido toda executada em um so dia.

Quando dei a aplicacao de goma-laca por terminada, apliquei uma demao de cera domestica (carnauba, abelha e parafina em terebintina), coloquei uma dobradica piano para a porta. abrindo para a esquerda, acertei a gaveta e pus os vidros, fixos com os baguetes. Utilizei como de habito imas de neodimio para fecho na porta, coloquei puxadores na porta e na gaveta, retoques no acabamento onde necessario, limpeza geral com enfase nos vidros e... o Exibidinho estava pronto para a parede.




Indiscutivelmente a grande vantagem em utilizar parafusos nas emendas estruturais e' a imensa facilidade e grande rapidez que o metodo oferece. Igualmente sem discussao ha limitacoes e desvantagens no emprego do metodo, como evidenciado em uma pletora de publicacoes praticamente unanimes na Rede desaconselhando, quando nao condenando veementemente, o uso de fixadores mecanicos como parafusos em qualquer movel. Isso se traduz inclusive na apreciacao estetica dos moveis, nao sendo incomum a mera visao de um parafuso implicar em desgosto profundo de tantos criticos/apreciadores.

Propositadamente, nao apenas o Exibidinho foi construido todo com parafusos, como procurei deixa-los com maxima evidencia e visibilidade. Mantendo o 'estilo' do ambiente onde se inseriu, o design e' simples, praticamente sem decoracoes, a atracao ficando por conta das madeiras. Para meu gosto ficou bem apreciavel, nao me pareceu os parafusos em nada o tenham desmerecido visualmente. Estruturalmente o movel e' rigido e solido, mesmo transportado para la e para ca, incluindo uma viagem de carro solto sobre o banco, nao apresentou qualquer afrouxamento. E, claro, a qualquer momento pode ser desmontado, totalmente ou em parte, para corrigir qualquer problema que surja — incluindo, conforme seja o caso, troca dos parafusos por outros mais longos e/ou de maior diametro, ou cavilhas, ou aplicacao de cola, etc., etc.

Na verdade, a maior desvantagem que vi em construir so com parafusos foi exatamente sua maior vantagem: e' muito facil, muito rapido. Tira muito da graca do brinquedo, hehehe.


Bueno, o balcao das cavilhas ja ganhou dois companheiros e ficou, nitido, o espaco para um terceiro...


Imagino esta na hora de comecar a bolar o que vai caber ali...


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Exibidinho - carcaca pronta


Pois e'... Demorei um pouco pesando pros e contras, mas o apelo do ineditismo, fazer algo que nunca fiz, acabou sendo o maior peso na balanca e optei por fazer mesmo a estrutura do Exibidinho montada com parafusos.

A primeira e mais saliente constatacao na experiencia foi o esperado: a enorme facilidade e grande rapidez com que se pode fazer a montagem. Facil, facil. Muito facil. Rapido. Muito rapido.  Em dia e meio estao faltando os vidros, a gaveta e a porta, mas a carcaca esta toda completa, incluindo a espera para encaixe em faca, e todo o preacabamento — o lixamento todo, mais cupinicida e duas demaos de oleo de tungue — foi inteiramente aplicado. O que tomou mais tempo foi aguardar as secagens.

Houve, claro, inumeros solucos e algumas pedras por contornar. O mais chamativo foi o fato de o fundo desenvolver uma curvatura que, para ser aplanada, demandou aquela fileira de parafusos que se ve na foto acima `a direita. Obviamente deixar aquela linha de parafusos como esta e' certeza de problema quando a madeira trabalhar, como inevitavelmente ira trabalhar; o coeficiente de dilatacao da catuaba no fundo sera certamente diferente do coeficiente da prateleira (uma colagem de pinho, jequitiba e cedro-rosa) e alguma coisa vai rachar, mais provavelmente a prateleira menos massiva. Minha ideia e', quando for pendurar o movel pronto, remover quatro, talvez seis daqueles parafusos. E esse e' apenas o mais saliente dos problemas que podem ocorrer e que aguardo, com um misto de temor e curiosidade, hehe...



Bueno, agora partir para a porta. E, logico, todo dia dar uma espiada nisso e aquilo da carcaca para ver se nada explode, hehe...

quinta-feira, 7 de abril de 2016

O "Exibidinho"

(Como sempre, clique nas imagens para ve-las em maior resolucao.) 


As pecas para a construcao da carcaca basica do segundo armario que ira fazer companhia ao balcao 'das cavilhas' ficaram prontas. Hoje cheguei inclusive a efetuar uma 'montagem seca' das laterais e os tampos superior e inferior...

Eu havia pensado em efetuar a montagem utilizando cavilhas, ate porque as molduras que formam as laterais e os tampos foram montadas utilizando cavilhas. So que para fazer a montagem da carcaca resolvi, ao inves de empregar um jig, utilizar parafusos — a ideia sendo que, feita a montagem, os furos dos parafusos poderiam ser devidamente alargados com sucessivas brocas ate alcancar 8mm, o diametro das cavilhas que preparei.

Assim, utilizando um grande esquadro de madeira fixo `a bancada, adaptei cuidadosamente os cantos, um a um marquei a posicao e fiz os furos guias para 'montar a caixa' e taquei os parafusos. Ahi, tracei com lapis uma linha entre os parafusos em cada lateral e a utilizei como referencia para marcar  os demais furos e posicionar parafusos intermediarios, totalizando tres na parte superior, cinco na inferior.

Os parafusos posicionados, tres em cima, cinco embaixo


So que ahi ocorreu o problema que, alias, eu esperava que ocorresse...

Vendo a carcaca montada ocorreu-me a duvida: por que nao montar o movel com parafusos?

Tudo bem, ja li incontaveis autores afirmando nao se deve, nao se pode montar moveis apenas com parafusos por incontaveis e serissimas razoes. Moveis montados com parafusos sao produtos de terceira, quarta linha, coisa de quem desconhece, ou nao sabe fazer montagens com malhetes ensamblados, e tudo, e tal, e coisa.

Mas como — e nao me canso de repetir — nao sou marceneiro, mas curioso, a verdade e' que fiquei pensando no contraponto. E' dizer, nas vantagens de fazer a montagem com parafusos.

Em primeirissimo lugar, o enorme ganho de tempo. Nao e' preciso cortar precisos malhetes, nao e' preciso aguardar a cola secar. Nao e' preciso bolar e aplicar trabalhosa e confusa estrategia para aplicar grampos para pressionar as colagens. Nao e' pre...

Enfim! Montagem com parafusos e' o que ha de rapido e facil. E mais, correndo por fora e avancando rapidamente, o inegavel fato eu nunca fiz um movel montado com parafusos!

Cantos redondos nos reabaixos
Consideracoes essas que, como eu disse, esperava que ocorressem. Tanto que, para evitar cair em tentacao e simplesmente continuar a montagem — e acreditem: deu vontade, sim! — eu propositadamente havia deixado os rebaixos que eu cortara nas laterais com a tupia e onde serao posicionados vidros, com os cantos redondos. Para de qualquer maneira me obrigar a desmontar a carcaca, posto que montada eu nao conseguiria esquadrejar os cantos de jeito nenhum, hehehe.

E nisso, convenhamos, mais uma vantagem de usar parafusos para a montagem. Nao apenas pode-se montar e desmontar o movel se e quando necessario, mas a qualquer momento pode-se transformar a montagem com parafusos em montagem com cavilhas simplesmente usando uma furadeira.


O fato e' que estou muito propenso a fazer mesmo o Exibidinho com parafusos. (O porque desse nome eu imagino voces entenderao mais adiante quando o movel ficar pronto ou, se nao, quando for para a parede e for ocupado.) Acho que sera interessante constatar se destoara entre outro moveis feitos com ensamblagens e cola, se sera ou nao assolado pelos tantos problemas que tantos autores juram sao inescapaveis.




Ha, claro, a "valvula de seguranca", hehe. As cavilhas estao prontas, como se ve `a esquerda, em numero suficiente e com material de reserva, para ser usadas quando quer surja necessidade, se surgir. E como eu ate posso ser louco, mas acho que nao sou burro, vou deixar a coisa em suspenso por um par de dias enquanto contemplo opcoes e, talvez, receba — aqui ou no forum Madeira! — opinioes e comentarios sobre a blasfemia que estou me propondo a cometer.


E a se concretizar o pior cenario — por qualquer razao o projeto degringolar total, irreversivel, incuravelmente — ha sempre a lareira, hehe.



E, de qualquer jeito, vai ser divertido. E isso e' o que importa.