quarta-feira, 27 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre — 7) Acabado!

Aplicadas, com estopa, varias demaos de goma-laca e entao uma camada de cera para proteger o movel, pendente talvez uma ou outra sessao de polimentos dou por acabada minha adaptacao do design da mesa de cabeceira do mestre Sam Maloof para uma mesinha auxiliar da sala de jantar...

A gaveta no lugar, mostrando seu estranho perfil
A parte de tras do movel, com o batente para a gaveta

Vista quase frontal

O movel no seu lugar...

Para os meus olhos o movel manteve as linhas fluidas e, principalmente, a simplicidade eficiente, marca registrada dos projetos do grande mestre. E construi-lo foi nao apenas excelente aprendizado como agradavel divertimento.

(E, indiretamente, essa mesa serve para ilustrar o 'problema' que torna os moveis de madeira macica cada vez mais raros no nosso mercado: inobstante sua austera simplicidade, consumiu mais de semana de dias trabalhados na construcao e o cedro-rosa certamente custou mais, bem mais do que teriam custado laminados de 'madeira sintetica'.)



segunda-feira, 25 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre — 6) Tudo montado















Com fundo e frente da gaveta colados, cortei as laterais e com o vagar que cabe dei inicio `a montagem, utilizando outra vez minha morsa de dois parafusos.


Enquanto os encaixes secavam, aproveitei e fixei no fundo o batente para a gaveta.


Seguindo o estilo construtivo da carcaca, decidi montar a gaveta com encaixe em cauda-de-andorinha meio cego na frente e parafusos com tampoes no fundo. Feita a montagem e seca a cola, outra vez um concerto de ferramentas para efetuar a moldagem...










E, enquanto o oleo de tungue vai secando, ficamos assim antes de iniciar o acabamento final com goma-laca e cera:




sábado, 23 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre — 5) O fim do principio










A carcaca ja montada foi retirada dos grampos e, apos empregar praticamente todas minhas ferramentas de moldar em diferentes etapas e porcoes do projeto, a aparencia da obra ja comeca a se aproximar de como ira ficar.

Feita essa modelagem — o que alguns chamam de esculpir, e eu prefiro chamar de acabamento grosso — resolvi aproveitar algumas das taboinhas que haviam sobrado do cedro rosa para fazer fundo e frente para a gaveta que ira ali na parte superior.







Para unir o util e o agradavel fui treinar o uso das plainas manuais e retifiquei na mao as superficies de colagem, cortei os rasgos e apliquei alguns biscoitos para ajudar no alinhamento, cola bem espalhada com pincel e entao as pecas foram para os grampos.





Como nao conheco nenhuma maneira de apressar a secagem da cola, resolvi atacar a carcaca do movel com (argh!) lixas: Primeiro grana 80 na lixadeira roto-orbital para homogeneizar bem as curvas e alisar as ondulacoes. A seguir grana 120 na lixadeira orbital, depois 220 para deixar o cedro lisinho como bunda de nene. Agua para arrepiar, deixar secar e nova passagem (haja saco!) da orbital com grana 220. Limpei tudo com a sopradora e depois um pano seco e, para proteger a madeira de manchas e que tais, apliquei uma demao farta de oleo de tungue; deixei ficar por uma meia hora e retirei o excesso com um pano seco.

Por enquanto, ficamos assim:



quarta-feira, 20 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre — 4) Montagem

Com as caudas-de-andorinha cortadas, hora de cortar rasgos nas laterais e linguetas nas 'prateleiras' para encaixa-las, o que foi feito na tupia de mesa com fresa reta. E assim chegamos ao momento da primeira montagem seca, ja dando uma ideia do movel inteiro:


A montagem confirmou minha impressao os lados haviam ficado mais finos do que o desejavel, para o meu gosto dando uma impressao de fragilidade excessiva.















Para corrigir o problema, optei por colar nos bordos das faces externas das laterais umas ripas cortadas na serra de mesa, tanto para corrigir o aspecto estetico, como para adicionar estrutura `a peca.

Obviamente, a necessidade de deixar a cola secar consumiu o dia.





Com as laterais secas e reforcadas, hora de partir para a colagem. Embora eu imagine que com alguns auxiliares para dividir o servico teria sido possivel continuar utilizando cola PVA, o fato e' que trabalho sozinho e, para nao correr riscos nem depletar minha limitada reserva de adrenalina, resolvi utilizar cola epoxi 24 horas que, com seu periodo de trabalho de 30 minutos, permitiu trabalhar sem maiores correrias, angustias ou 'matacoes', hehe.



Tudo devidamente colado, grampeado, esquadro conferido,


 agora e' deixar a cola curar para entao dar inicio `a fase mais trabalhosa da construcao, e o que torna unico cada movel no estilo Maloof: o acabamento 'grosso' ou modelagem.

Paciencia! ...

segunda-feira, 18 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre — 3) As caudas-de-andorinha

Comemorando a explicita chegada do outono ao portinho, resolvi tocar em frente a nova imitacao cortando as caudas-de-andorinha da emenda do topo com os lados do movel...



Para isso aproveitei para utilizar minha nova morsa de dois parafusos fixa na bancada com sargentos e, dessa vez, resolvi optar por um espacamento regular entre pinos e caudas. Estupidamente, ao inves de iniciar do jeito mais facil, cortando primeiro as caudas no lados, meio sem pensar iniciei cortando os pinos no tampo.

Feita a besteira — e' bem mais dificil marcar as caudas com precisao a partir dos pinos do que marcar os pinos a partir das caudas — o jeito foi tocar em frente torcendo para que no final as coisas se ajustassem.

Nao tenho duvidas levei muito mais tempo (e gastei mais adrenalina, hehe) desse jeito, mas de qualquer maneira valeu como aprendizado, porque algum santo bondoso resolveu dar uma maozinha e os encaixes no final acabaram dando razoavelmente certo sem necessidade de maiores ajustes. Especialmente consegui evitar o que eu mais temia: a vexaminosa opcao de reiniciar tudo por erros irrecuperaveis...





Por vias das duvidas, quando constatei as emendas ficaram efetivas optei por dar uma parada e iniciar a funcao da tupia quando estiver menos avoado.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre — 2) Montando os paineis

Com a umidade um pouco mais baixa, iniciei a aparelhagem das ripas passando-as pelas plainas, desempeno e desengrosso. E ja surgiu um problema...
  • Muito ja se salientou, mais se aprende pelos erros do que pelos acertos — entao pretendo sempre que cabivel apontar meus erros mais salientes no projeto (apontar todos seria nao apenas imensamente tedioso, como interminavel!).
O problema foi eu havia calculado que acabaria obtendo ao redor de 18mm de espessura nas ripas depois de aparelhadas, mas com minha tecnica de desdobre deixando muuito a desejar e causando acunhamentos frequentes, como mencionei na postagem anterior, resultou a media das pranchas ja plainadas ficou ao redor de 16mm, ou seja, perigosamente perto de "fino demais". De todo modo, ate porque a unica maneira de realmente resolver o problema seria comprar mais madeira e recomecar do zero, resolvi tocar em frente para ver como ficaria.

A intencao original era deixar as pranchas ja aparelhadas paradas por uns dias para ver se 'trabalhariam' e corrigir os eventuais empenos antes de partir para a colagem. Mas como esse processo geraria com certeza taboas ainda mais finas, resolvi fazer logo a colagem utilizando biscoitos para garantir alinhamento e contando que a colagem 'desestimularia' a empenagem.

Ahi ao lado entao ve-se a montagem seca dos dois paineis verticais, com os biscoitos ja colocados (reparem as marcas a lapis usadas para posicionar os biscoitos). A seguir entao foi aplicar cola e grampear.




A seguir preparei com a plaina manual, da mesma forma que ja havia feito nos paineis verticais, os lados a ser colados dos tres paineis horizontais (esse conjunto de taboas ahi `a esquerda), alisando e removendo as marcas da desempenadeira, e fazendo uma minima concavidade no centro, na tecnica de spring joint. (Quem nao conhece essa tecnica pode dar uma espiada aqui, onde o Tommy Mac tem um roteiro demonstrativo, infelizmente em ingles.)

Ao final, quando parti para a colagem dos paineis horizontais, achei interessante que pela primeira vez havia mais tiras de plaina na maravalha do que po...


Os paineis 'dormiram' nos grampos e, na manha seguinte os removi e coloquei sobre a bancada para examinar se tinham ou nao se comportado bem, hehe...



A preocupacao era se a madeira havia trabalhado, e quanto. Infelizmente, como se ve nas fotos abaixo, a grande variacao de umidade caracteristica do inicio do outono aqui pelo portinho ajudada pela pressao dos grampos produziu tensoes que lamentavelmente acabaram produzindo deslinhamentos com desniveis de par de milimetros em varias alturas das emendas:

Como mencionei, a espessura dos paineis ja esta mais fina do que eu gostaria. A solucao 'correta' aqui seria naturalmente aplainar os paineis ate os desniveis sumirem, mas isso deixaria os paineis ainda mais finos; com o que decidi aplicar uma, mm, plainagem 'seletiva', localizada apenas nos pontos de desnivel. (Tudo bem, reconheco que e' uma "matacao", algo que Mestre Maloof jamais sequer pensaria, mas a esperanca e' que passe desapercebida — porque o que os olhos nao veem...)





A imagem`a direita mostra como um dos paineis horizontais ficou apos o, mm, ajuste.

As marcas e asperezas foram entao 'emparelhadas' utilizando primeiro a lixadeira roto-orbital com grana 60 e entao lixadeira orbital com grana 120.

Como se ve pelas fotos abaixo, o resultado nao ficou muito desgracado, hehe. (As fotos, a proposito, foram processadas para acentuar artificialmente os detalhes dos veios, por isso o aspecto nao e' muito natural e as cores sao irreiais.)


Agora, e' deixar os paineis descansar por uns dias para ver se ficarao estaveis. E ahi... veremos.


terça-feira, 12 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre — 1) Iniciando

Tendo decidido o 'feitio' e em se tratando de um movel 'sob medida', o primeiro e inescapavel passo e' dimensionar o projeto. Minha opcao como usual foi utilizar um programa de desenho no computador, tanto para estabelecer um layout mais claro, como para determinar as medidas para cortar as madeiras.

Ahi, claro, e' a hora de escolher qual madeira(s) usar. No caso, uma opcao facilima dado os demais moveis da sala de jantar foram todos construidos em cedro. E alem disso eu tinha duas taboas de cedro-rosa disponiveis.


O velho Pedro, mal-humorado saiba-se la por que razao decidiu presentear o portinho com um dia cinzento, pesado, umido, abafado e com uma constante garoa. Azar. Peguei as duas taboas de cedro-rosa e, suando em bicas, fui tratar de fazer o que os Grandes Irmaos chamam de rough cut, o corte grosso para tornar as partes mais faceis de manipular e, em tempo, aparelhar. Marquei os cortes nas taboas com lapis e esquadro e cortei no traves com a serra tico-tico — para o meu gosto bem mais simples de operar do que a serra circular para essa finalidade.

Como as taboas eram relativamente grossas, quase 4cm de espessura, o proximo passo seria desdobrar as pecas cortadas. Aproveitei entao para construir um jig para facilitar desdobres na serra fita, algo que estava nos planos ha meses e sempre adiado.



Na construcao do jig, utilizei um resto de pinus com o topo curvo para fazer a guia acessoria para desdobre porque, afrouxando a borboleta que fixa essa guia auxiliar `a guia original da serra, posso move-la para frente e para tras `a vontade e, assim, adequar a altura da guia `a madeira que esta sendo cortada, sem interferir com a altura da guia de corte da serra.

Funcionou tri-bem!
(Embora, claro, por forca da inexperiencia do operador, varios dos cortes a certa altura ficaram acunhados, ao inves de paralelos. Enfim, e' assim que vai-se aprendendo...)

Com o jig de desdobre pronto na serra de fita, ripei as pecas na serra circular de mesa (importante que todas as ripas tivessem largura menor do que 17cm, a maxima altura de corte permissivel na minha serra fita) e a seguir as desdobrei na serra fita, chegando ao resultado que se ve ahi abaixo:



Como eu tinha previsto, sobrou dos cortes uma quantidade consideravel de madeira. Mas, pelo menos para meu separador de orelhas que abomina numeros, era inevitavel, e os pedacos que sobraram certamente serao uteis eventualmente.

O proximo passo sera iniciar a aparelhagem das pecas para montagem dos paineis. Mas com a altissima umidade do dia e as pecas recem-desdobradas (e' certo que cedro e' um lenho relativamente bem estavel, mas qualquer madeira costuma trabalhar quando se expoe uma nova face), melhor esperar um pouco antes de iniciar as plainagens...


segunda-feira, 11 de março de 2013

Copiando, outra vez, o mestre

Tendo colocado na minha sala de jantar uma mesa acompanhada de cadeiras, tudo copiado totalmente ou no minimo inspirado nas criacoes do inigualavel Sam Maloof, hoje no almoco reparei ha lugar para mais um...

Nao sera, com certeza, uma reproducao mas uma adaptacao do design para outra funcao. A inspiracao, o movel original, e' esta mesa de cabeceira abaixo:

A marca do mestre esta nitida na selecao de essencias nobres, na fluidez das linhas, na simplicidade enxuta da forma e na riqueza de detalhes sutis. Para a funcao que se destinara o movel que estou imaginando, as dimensoes e as proporcoes serao outras, e tao certa quanto infelizmente eu nao disponho de jacaranda-da-Bahia nem ebano para construir minha 'versao'. Mas... vamos ver.

terça-feira, 5 de março de 2013

Movel pronto



Devidamente estruturado e acabado, faltando apenas colocar os puxadores, o armario de ferramentas esta pronto. Escureceu um pouco porque eu tinha um Jimo Cupim marron-escuro que me pareceu apropriado usar como preservativo, especialmente porque o compensado naval de virolinha e' tao claro que suja so de olhar. Aplicar um cupinicida, a proposito, pareceu-me indispensavel, dado o uso de cedrinho com brancal, um magneto para cupins.

O resultado certamente nao ficou nenhuma maravilha mas nao me pareceu nem um pouco feio e parece-me combinar com o uso para que o movel foi construido.


Abaixo, a vista traseira mostrando os tirantes para a sustentacao por engate frances, ou "em faca", e o armario ja fixo na parede:



Agora vem o longo, tedioso processo de ir enchendo o movel com as ferramentas, um processo de inumeras tentativas e erros e, de uma certa maneira, em constante evolucao. Obviamente nao tenho intencao de macar meus sete fieis leitores com tais chatices mas — se nao ficar uma monstruosa empilhacao! — talvez faca sentido mostrar a, mm, "configuracao final".

Vamos ver, talvez... Uma bat-hora dessas, aqui nesse batcanal...

segunda-feira, 4 de março de 2013

Reforcando

So para contrariar, como e' seu habito, o velho Pedro resolveu dar uma afrouxada no forno; veio uma chuvinha molhadeira, a temperatura caiu para niveis mais humanos e aproveitei para continuar a montagem do armario para ferramentas.

As ferramentas certamente representarao um peso consideravel, tanto no fundo como mais criticamente ainda nas portas, criando a necessidade de uma estrutura o mais solida possivel para suportar esse peso sem sofrer 'desbeicamentos', especialmente por nao se usar cola nas emendas. Assim, iniciei por colocar quatro dobradicas grandes em cada porta. Na verdade a primeira opcao que considerei tinha sido dobradicas tipo piano, mas essa construcao com dobradicas fortes nao so e' mais resistente estruturalmente, como permite a remocao dos pinos, facilitando remover as portas para adaptar o movel `as ferramentas que ira conter.

Os pinos moveis nas dobradicas facilitarao a remocao das portas quando necessario
Adicionalmente, reforcei as emendas aumentando o numero de parafusos e coloquei reforcos com cantoneiras nos vertices:


Alem de utilizar nos quatros vertices internos das portas um fecho com ima atraindo parafuso para manter as portas fechadas, na parte superior utilizei ainda um apoio com tarugos para, reduzindo a tensao nas dobradicas, ajudar a manter as portas no esquadro.

Tarugo-ima-ima-tarugo no batente superior do fundo
Encaixe para o tarugo, e parafuso para contatar o ima
no vertice superior das portas
Abaixo, uma visao de como ficaram estruturadas as portas quando fechadas, vistas pelo lado de dentro com o fundo do armario removido:


Com o fundo fartamente aparafusado no lugar e com o reforco de duas barras para a fixacao 'em faca' do movel `a parede, considerei a estrutura do armario como pronta.

Agora,  depois de posicionar e fixar na parede as duas barras 'femeas' de fixacao, e' coloca-lo no seu lugar, adicionar-lhe puxadores e possivelmente um fecho, aplicar preservativo e fazer o acabamento basico. Para entao comecar a arranjar as ferramentas no seu interior...