quinta-feira, 30 de abril de 2015

Inicio do fim?

Penso estar iniciando o que sera o derradeiro movel para a cozinha: outro armario suspenso, e todos os espacos de armazenagem perdidos estarao recuperados. E, pela primeira vez desde que desmontei a 'torre', trabalhando agora absolutamente sem qualquer pressao para acelerar o processo por demandas utilitarias, hehe...

Entao, para inicio de conversa resolvi o movel teria enfase no uso de tauari. Pelo preco e pela leveza, claro, mas principalmente por sua semelhanca com carvalho — a ponto de os Grandes Irmaos chamarem essa essencia de brazilian oak, ou seja, carvalho brasileiro.

Raios medulares, em carvalho branco cortado quarteado
Tudo bem que tauari nao e' tao duro (editado: na verdade, descobri que o tauari e' um pouco mais duro do que o carvalho branco) e infelizmente nao apresenta os raios medulares que tanta fama dao ao carvalho branco, mas a cor e' algo semelhante e a disposicao dos veios, retos e regulares, e' bastante parecida. E, acima de tudo, eu nunca utilizei tauari exceto naqueles pes que fiz para a pia, e brincar com madeira nova e' sempre um bom divertimento e otimo aprendizado.

 Como eu usualmente compro minhas madeiras em bruto, o inicio dos trabalhos e' sempre aparelhar as taboas, ou seja, desempenar, desengrossar, esquadrejar e dimensionar. Isso sempre representa, alem de consideravel consumo de tempo, uma macica producao de maravalha, e dessa vez nao foi diferente, como a foto abaixo (mostrando so a saida do desempeno) imagino de testemunho...



Uma parte da pilha de maravalha esta molhada porque chegamos de fato ao outono aqui no Continente, aquela parte do ano em que o velho Pedro da uma enlouquecida: nao apenas chove e faz sol e volta a chover e a fazer sol no espaco de poucas horas como, vejam voces, anteontem a maxima foi 32°C e para o proximo domingo preve-se havera o primeiro dia com temperaturas em apenas um digito. Haja saude. E, principalmente, haja saco! Mas divago...


As primeiras pecas para o novo armario foram molduras para enquadrar compensado e formar o que serao os paineis laterais do movel e que podem ser vistos, ja montados e com cortes para encaixes, ahi na imagem `a direita.

Sim, dessa vez sem pressao alguma para terminar a obra de uma vez, optei desenvolver o projeto com o uso de emendas por encaixes, tanto considerando razoes estruturais, como tambem para nao perder a embocadura com serras e formoes, hehe.


Os pinos cortados na porcao posterior dos paineis laterais irao receber tres travessas com malhetes em caudas de andorinha que, alem de estruturar a carcaca, irao tambem servir para o apoio em faca previsto para fixar o movel `a parede. Essas travessas ja foram aparelhadas, tanto as que irao para a parte posterior e que igualmente ja estao com os malhetes cortados, como as que irao para a parte anterior.

Nas fotos dos lados as seis travessas estao reunidas em um feixe unido por grampinhos. O motivo disso sao justamente as louquices do velho Pedro alterando a toda hora temperatura e umidade; para evitar entortamentos as travessas ficam dando apoio uma para as outras e, espera-se, mantem-se retas. Clicando e ampliando as imagens imagino seja possivel ver nao apenas o tauari, tal como o carvalho, responde com excelente acabamento `as plainas, como igualmente quao retos e direitos os seus veios.


Alias, por falar em carvalho, eu havia esquecido uma outra propriedade desse lenho que o tauari compartilha, e da qual fui lembrado de forma deveras traumatica...

Em priscas eras, quando marcenaria era literalmente praticada a machado, na Europa o carvalho era muito utilizado justamente por sua caracteristica de ser facilmente rachado, e tais rachaduras seram praticamente retilineas, o que facilitava enormemente obter-se e desdobrar-se pranchas sem necessitar o uso de serras. Descobri o tauari tambem tem essa caracteristica quando fui desfazer uma das emendas que necessitou uma persuasao com o malho para encaixar-se. Na segunda batida do desencaixe... plac! Pino e semipino racharam fora do painel, absolutamente rente `a linha de base.


Dado a lisura da separacao, optei por colar pino e semipino de volta. O resultado pode ser visto ahi na foto `a esquerda. O pino parece que nem sofreu nada. Reparando bem na imagem (clicada e) ampliada, como aponta a seta vermelha `a esquerda o semipino ficou com um ressalto milimetrico e, na outra seta, pode-se ver restos de cola.

Bueno, agora que sei dessa problematica, vou reforcar todos os pinos e semipinos. Usando, claro, milicavilhas (tambem chamadas... palitos de dente, hehe).


O que me lembra: Tenho de comprar uma nova broca de 2,5mm antes de continuar a funcao...

2 comentários:

  1. A primeira foto de um tampo em Carvalho chamou a minha atenção, uma belezura!
    Sim, dá para ver na foto da direita, em que se mostra a testa, o quão regular é o veio da peça. Por aqui deste nível só me apareceu uma peça grande em Jequitibá.

    Vou ler os posts mais recentes e buscar mais relatos sobre o Tauari. Fiquei curioso. Em parte com relação a dureza. Mais macio que o Ipê?

    Um abraço,
    Cosme

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois e'; infelizmente os raios medulares no tauari so podem ser vistos com lente, Cosme.
      As duas pranchas que adquiri, ambas com veios extremamente direitos — obviamente, excelentes para plainar.

      Tanto quanto eu saiba, fora lignum vitae, nenhuma madeira e' tao ou mais dura que ipe. E, como apontei, pude constatar por dados colhidos na Teia tauari e' um pouco mais duro que carvalho. Se experimentares acho que, como eu, vais gostar da trabalhabilidade da essencia.

      Excluir