Com a colocacao da porta, uma prateleira, as gavetas e o banho de oleo, dei por concluida a base da mesa — pendente ainda, claro, umas demaos de goma-laca. Como optei por utilizar na confeccao da porta e na frente falsa das gavetas pinus contendo medula (ou miolo, ou pit se usarmos a lingua dos Grandes Irmaos) pelo seu aspecto estetico, obviamente houve consequencias.
A primeira consequencia, puramente casual, foi apenas estetica: aquele veio largo que a seta vermelha aponta na extremidade lateral da gaveta da direita na mesa e que se prolonga ate pouco alem do puxador... nao e' um veio. Por mera casualidade, como eu disse, ao desdobrar a ripa de pinus para fazer as frentes falsas das gavetas sucedeu de eu cortar a medula ao comprido, quase exatamente no seu meio. E, claro, nao resisti `a tentacao de deixa-la `a mostra. Pois e': aquele veio largo nao e' um veio. E' a medula — como fica bem evidente na visao lateral da gaveta, ahi abaixo.
Obviamente, os riscos de a presenca da medula causar rachaduras e canoamento por certo existem, mas o fato de a frente estar fixada `a gaveta com uma linha de cola e dois parafusos e' muito provavelmente suficiente para evitar empenamentos, e o fato de a medula estar exposta e embebida no oleo de linhaca do acabamento eu imagino ha de mante-la estabilizada e sem rachaduras. Certeza, claro que nao tenho; entao essa sera a primeira observacao, a primeira, mm, experiencia implementada na construcao dessa mesa/laboratorio...
A outra consequencia da madeira contendo medula ocorreu na porta. De um dia para o outro ela estava fortemente encanoada. O que era de se esperar, visto em torno `a medula estarem os veios mais fortemente arqueados da madeira e, portanto, mais propensos a canoamento. Resolvi contornar o problema aplicando umas travessas transversais para manter a porta mais ou menos retilinea.
Inicialmente, pensei em colocar as travessas pelo lado de dentro da porta mas, em funcao da forma como a preparei para receber as dobradicas, se colocasse as travessas por dentro uma consideravel parte da lateral da porta ficaria sem sustentacao, e justamente a parte contendo a medula, como pode ser visto na imagem abaixo `a esquerda, onde as setas vermelhas apontam a medula.
Adicionalmente, pude utilizar a pequena saliencia de par de milimetros na ripa de cedrinho no centro da porta para forcar uma hipercorrecao do canoamento, como pode talvez ser visto na imagem da direita. As travessas estao fixas apenas pelos parafusos, nao ha nenhuma cola, de tal forma que posso, apertando mais ou menos os parafusos, corrigir a curvatura no grau que desejar.
E nisso configura-se a segunda experiencia da mesa/laboratorio: uma porta com controle de curvatura, hehehe...
Mas entao, concluida a montagem da base da mesa, hora de encarar o tal de tampo...
A retirada das pranchas de grapia dos grampos onde estavam sendo submetidas a uma hipercorrecao do empenamento revelou a manobra havia fracassado. Ou seja, o empenamento persistia, como pode ser visualizado na imagem abaixo: a prancha em cima da imagem, concava, a da parte de baixo, convexa.
Por um par de horas, as pranchas aparelhadas apenas no desengrosso e com a ajuda de uma pilha de grampos fiquei praticando uma serie de diferentes montagens secas buscando alguma maneira pratica de conseguir corrigir os empenamentos.
A solucao final a que cheguei foi a seguinte: coloquei as pranchas entre os grampos invertendo os empenamentos, exatamente o mostrado na imagem acima. Sobre aquela travessa no meio e embaixo das pranchas (grapia tambem, cortada de uma das pranchas ao dimensionar a largura), bem na linha da emenda, esta apoiado um pequeno fragmento de madeira dura (muracatiara). Com cola epoxi de secagem lenta (para nao ter de me preocupar com o relogio) aplicada nas faces da emenda, coloquei outra travessa (a retirada da outra prancha) e outro taquinho exatamente acima, e apliquei grampos nas travessas para espremer as pranchas e obter um perfeito alinhamento entre elas no centro. Isso feito, apliquei um grampo em uma das extremidades da linha de emenda (sim, justamente aquele prateado, ali) ate alinha-las. Entao apertei os grampos laterais (os vermelhos) daquele lado. Repeti o processo do outro lado, removi as travessas aquelas do centro, e entao coloquei, por cima, outros tres grampos nos intervalos dos grampos de baixo. Ficou assim:
E assim vai ficar, mais alguns dias. Como imagino se possa ver, o empeno praticamente desapareceu.
No entanto como, suponho, a maioria dos meus sete fieis leitores eu tambem acho que, quando afrouxar os grampos, vai haver um bocado de tensao, um consideravel stress nessa linha de cola..
Pensando aliviar essa tensao, aparelhei no desempeno aquelas travessas que tinha usado para espremer o centro da peca no inicio da colagem, e colei-as de maneira identica `a aplicada no tampo para compensar o empeno que elas, vindas das mesmas pranchas, igualmente apresentavam.
Aproveitando no entanto o fato de aqui nessa colagem a espessura das madeiras permitir, com a colagem nos grampos fiz uns furos passantes da emenda e apliquei cavilhas entre as ripas para melhor estabilizar a emenda.
(Como garantia contra o stress, utilizei umas cavilhas especiais, metalicas, com sistema autocompressivo. Parafusos, hehe...)
Observando a (pessima) imagem `a direita, tomada de cima e pelo lado da colagem, com alguma boa vontade pode-se ver que as tensoes se compensaram entre uma e outra ripa e o resultado final e' a colagem ficou retificada o bastante, como tentei demonstrar pela linha vermelha absolutamente reta justaposta, gerada pelo editor de imagens.
Tomei cuidado de anotar em cada ripa antes da colagem o sentido do seu empenamento e amanha vou aplica-la com cola e parafusos como reforco `a emenda do tampo, cuidando bem cada ripa tenha a curvatura oposta ao empenamento original das pranchas do tampo. Mais uns dias para total curagem das colas e, entao, afrouxar os grampos...
Vai funcionar? Dara certo?
Acho — espero! — que sim.
De qualquer modo, essa sera a terceira batexperiencia nessa mesa/laboratorio.
E ainda me perguntam por que eu tanto gosto de brincar com madeira sem planos nem projetos...
-- ooOoo --
Adicional:
O reforco da emenda, aplicado com cola epoxi e parafusos...
Paulo, que belo laboratório para estudo de alivio de tensões...eheheheh...espetáculo!!
ResponderExcluirRmon
Grato pelo comentario, Rmon, e contente estejas gostando.
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