sábado, 29 de novembro de 2014

Afiando formoes e plainas - VI (Como eu faco - 2)

Uma vez plana e polida a traseira da lamina, ou quando uma lamina afiada perde o fio, a atividade seguinte para amolar ou renovar o gume sera aplainar e polir o plano do bizel. Dependendo do estado da lamina, podera ser um processo algo demorado, ou um tapa.

Embora como ja disse eu estivesse plenamente satisfeito com a excelente qualidade do fio que conseguia obter em minhas plainas e formoes utilizando as pedras d'agua japonesas, permanecia o fato eu continuava muito insatisfeito com a afiacao que conseguia obter, utilizando motoesmeril, nos meus ferros de tornear. Eventualmente, consegui a colaboracao de um amigo que me trouxe desde o Velho Continente uma excelente maquina dedicada de afiacao: a Tormek T-7. Com a variedade de jigs que suporta, essa afiadora consegue afiar a lamina de praticamente qualquer ferramenta. Inclusive formoes e plainas.

Com a adicao da afiadora `as minhas pedras japonesas, a afiacao de meus formoes e plainas tornou-se ainda mais facil e precisa. Mas se dar a primeira amolada em uma lamina nova, ou usada em mau estado, havia-se tornado algo relativamente simples e com resultados previsiveis e excelentes, eu ainda permanecia adiando tanto quanto possivel re-afiar minhas laminas, preferindo utilizar um restinho de fio ainda aceitavel do que enfrentar o chatissimo e prolongado trabalho de 'montar o circo' da afiacao. Mergulhar as pedras; montar no lugar, ligar e fazer o setup basico da afiadora, preparar os jigs e entao seta-los para cada lamina, impermeabilizar o tampo da bancada, e tal e coisa, tudo isso consome muito, mas muito mais tempo do que o par de minutos que, uma vez armado o circo, a reafiacao propriamente consome — se e' que voces me entendem...

Entao — saltando os detalhes para resumir uma historia que ja vai ficando mais longa do que sesta de argentino — vim a ter contato com a tecnologia das pedras diamantadas, e com esse video do Paul Sellers:

Obviamente, minha insaciavel curiosidade acabou por me levar a adquirir quatro pedras diamantadas (grossa, media, fina e extrafina) e monta-las em uma pranchinha que pode ser rapida e facilmente levada `a area em que estiver trabalhando, dar umas borrifadas com limpa-vidro e... pronto!


Nao cheguei (ainda?) a dominar completamente a tecnica de amolar o bizel deixando o gume levemente abaulado mas atualmente so uso a guia de afiar em circunstancias especiais; no geral afio direto na mao. E a qualquer momento que acho o fio possa ficar melhor, e sempre que termino de utilizar um formao ou uma plaina, a prancha com as pedras diamantadas vai para cima da bancada e, tcha, tcha, tcha, meia duzia de passadas e a lamina corta ate pensamento, hehehe.


Embalado pelo sucesso do metodo, fiz um estropo com couro para sentar o fio com pasta verde, e consegui ainda tres 'pedras' de aco onde colocar pasta diamantada para o caso de afiacoes que realmente merecam aquele toque superextraespecial, tipo plainas de alisar — como pode ser visto na foto ahi acima: na frente as 'pedras' de aco com as seringas contendo a pasta diamantada sobre elas, da esquerda para a direita, 1, 3 e 6 microns; atras `a esquerda, a tampa que evita contaminacao das pedras com impurezas e, `a direita, o estropo com dois tijolos de pasta verde em cima.

Com isso passei a afiar meus ferros com muito maior frequencia, e nao apenas minhas ferramentas ficam permanentemente muito afiadas, meu treino aumentou consideravelmente, de tal forma que o processo ficou ainda mais facil e mais rapido. (E certamente mais preciso, me permitam a gabolice: eu ja me dei ao luxo de re-afiar uma lamina descartavel de bisturi cirurgico e, para o meu gosto, a coisa ficou cortando melhor do que quando nova, hehehe.)

Quanto a cuidados, a afiadora como toda maquina deve receber manutencao — e o fabricante aponta tudo o que deve ser feito, detalhadamente. As placas diamantadas, depois de usadas sao secas com papel toalha e antes de serem guardadas recebem uma borrifada de WD-40 para evitar a corrosao, e boa. O unico cuidado com as placas com pasta diamantada, afora guarda-las bem protegidas de poeira, e' limpar bem a lamina sendo afiada ao passar de uma pedra para a mais fina, para evitar contaminacao da pasta mais fina pela mais grossa.

Bom, e' assim que eu faco.
Como eu disse, cada um tem o seu jeito, e nao tenho a menor pretensao o meu seja melhor nem pior do que qualquer outro. O uso e os recursos disponiveis e' que irao em tempo, pelo treino, ditar qual a melhor e mais efetiva maneira sera a que corpo e habitos de cada afiador acabara adotando. Como tudo em hobby, o ceu e' o limite (sim, existem tecnicas de afiacao que utilizam lupas para mais perfeitamente poder aplicar fio, empregando laser como abrasivo; e, imagino, nem isso sera o teto, hehehe), mas cada um e' que ira determinar o quanto querera investir, ate onde querera chegar.

O importante, o fundamental, e' — do jeito que der, de qualquer jeito — ter os ferros bem afiados.

Nem que seja mandando afiar, hehehe...

-- ooOoo --


*Um dos tantos temas que nem sequer abordamos, mas e' crucial ao uso de ferramentas de fio como formoes e plainas, e' o angulo do bisel. Assunto demasiado amplo, e essa serie ja vai por demais extensa, talvez ja insuportavelmente chata.

Um outro capitulo, talvez, uma outra bathora?

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