sábado, 29 de novembro de 2014

Afiando formoes e plainas - V (Como eu faco - 1)

Acho que embora o proposito a atingir seja o mesmo — obter um fio agucado na ferramenta pelo cruzamento de dois planos lisos e polidos — pode-se dizer sem medo de errar que cada afiador tem um jeito seu, pessoal, de atingir esse objetivo. Mas quando alguem pensa em se iniciar nessas artes, qual a melhor maneira de comecar? Qualquer uma, seria a minha resposta. So que, convenhamos, isso nao responde nada. Entao, como eu acho que qualquer jeito e' um bom jeito de comecar resolvi, primeiro, apresentar um link para uma serie de videos (em portugues!) disponibilizados por Helio Cabral Jr. no YouTube, e que me foi gentilmente apontado por um colega do forum Madeira!, o FernandoBorges:

https://www.youtube.com/watch?v=dJfVo0Upy6U&list=UUiAkREnTDMdYQMqR6pcXQoA

Ha ahi bastante por onde comecar, penso eu. As tecnicas apresentadas nesses videos sao mais centradas em afiar facas e canivetes, sim, mas ha muita riqueza em dados e informacoes extremamente uteis, e e' facil extrapolar isso para formoes e plainas,


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Quanto a como eu faco, inicio por corrigir, se houver, problemas na formatacao da lamina — irregularidades, deformidades, etc., como dentes por exemplo — ou por mudar o angulo do bizel, arredondar os cantos, etc., se por qualquer motivo desejar alterar a formatacao.

Isso e' usualmente feito empregando um motoesmeril. Os cuidados aqui sao

  • cuidar que os rebolos estejam sempre planos e esquadrejados (retificados), para tanto utilizando quando necessario corrigir-lhes a geometria retificadores ou bastoes dressadores...
retificadores
bastoes dressadores
  • ... e evitar utilizar os rebolos cinzas que usualmente acompanham os motoesmeris, trocando-os por rebolos brancos. Isso porque os rebolos brancos produzem menor calor na area de abrasao evitando, ou ao menos reduzindo consideravelmente, os efeitos indesejaveis da temperatura aumentada sobre a tempera das laminas. 

O proximo passo, em se tratando de lamina nova ou sendo afiada por mim pela primeira vez, sera aplainar e polir a parte de tras da lamina. E' um processo que pode ser mais ou menos demorado conforme o estado em que se encontrar a lamina, mas tem a vantagem de so necessitar ser feito uma vez.


Quando comecei meu aprendizado de apurar a afiacao de meus formoes para alem do que eu alcancava apenas com rebolos, eu empregava uma dessas pedras comuns
Minha primeira pedra de afiar
de afiar facas que se encontra em supermercados, e seguia a recomedacao de aplainar a parte de tras da lamina em uma extensao de mais ou menos uns 5 centimetros. Uma vez tao bem aplainada e polida eu conseguia deixar a traseira da lamina, empregando a mesma pedra combinada (as granas sao aproximadamente G100 no lado grosso e G300 no fino) eu atacava o bisel do formao, retificando as irregularidades e regularizando o bizel tanto quanto possivel. O resultado era ate aceitavel, mas certamente ainda ficava longe do que eu via nos videos e do que lembrava dos formoes que tinha manipulado (mas nunca afiado) em minha infancia/adolescencia. Minhas pesquisas na Rede entao me levaram a conhecer o metodo das lixas, o tal de scary sharp tratado na primeira postagem desta serie, e ao emprego de guias de afiacao. A pratica desse metodo resultou consideravel salto na qualidade da afiacao que eu conseguia obter em meus formoes, ja bem perto, se nao no par do que via e lembrava.

Mas, como nao me cansa lembrar, muito antes que artifice eu so mesmo e' curioso. E as leituras na Teia haviam certamente espicacado minha curiosidade e o desejo de empregar as tais pedras de afiar japonesas, tao decantadas quanto dificeis de encontrar...

Como quem insiste e tem amigos sempre acaba alcancando o que quer, acabei conseguindo obter tres pedras d'agua duplas japonesas, marca King, granas 800/4000, 1000/6000 e 1200/8000. Uma maravilha! Nao apenas atingindo um espectro de granas muito alem do que conseguia dispor com as lixas d'agua, estava livre das constantes trocas de lixas rasgadas ou gastas, das dificuldades de prender as lixas no vidro, e tudo, e tal. Finalmente consegui alcancar o tal brilho espelhado nas superficies amoladas e um fio capaz de cortar folhas de papel ao comprido como se fossem manteiga!

Minhas pedras d'agua, guia e taboas de polir

Minhas leituras haviam ainda me informado sobre tecnicas de 'sentar o fio' utilizando laminas de madeiras bem planas recobertas com pastas de polir, coisa que logo tratei de implementar. E, nisso, havia conseguido finalmente alcancar um padrao de afiacao superior. Tao bom como podia almejar, superior a qualquer lembranca ou desejo que jamais pudesse ter tido, na verdade — se me permitem a imodestia — tao bom como jamais vi.

Na foto ahi `a esquerda ve-se, dentro da bandeja em que ficam totalmente submersas em agua quando em uso, as tres pedras japonesas; `a sua direita apontada pela seta verde minha guia de afiacao e mais atras, apontadas pelas setas vermelhas, `a esquerda a madeira recoberta com pasta Jacare verde e a direita, as tres taboinhas recobertas com pasta diamantada, de 6, 3 e 1 micron de granatura.

Essas pedras e taboas sao ainda hoje o conjunto que utilizo para aplainar e polir a traseira das laminas, novas ou usadas pela primeira vez por mim. Por desnecessario, nao estendo mais o polimento por ~5cm como costumava, mas me limito a deixar plana e espelhada uma area de uns 2-2,5 cm, passando a traseira das laminas ate obter um padrao homogeneo progressivamente por todas as granas das pedras e entao pela taboa com pasta verde (uma grana aproximada de G15000). (As taboinhas com pasta diamantada nunca uso na traseira de laminas.)  Esse aplainamento e polimento e' definitivo, praticamente nunca necessitara ser refeito quando se re-afiar as laminas.

Os cuidados aqui, cada vez que usada uma pedra ela deve ser retificada, ou usando outra pedra, ou uma lixa sobre vidro, ou como seja, mas manter a superficie de afiacao sempre absolutamente plana e' indispensavel para uma boa afiacao. As pedras d'agua devem seguir a recomendacao do fabricante no que tange `a sua conservacao. No caso dessas King, devem ser mantidas submersas por 15 minutos no minimo antes de serem usadas, mantidas submersas enquanto em uso, e guardadas secas quando fora de uso por tempo mais prolongado. As taboas, devem ser carregadas com pasta antes de cada uso e protegidas contra po e impurezas quando guardadas.

(Essa era para ser a ultima postagem nessa serie sobre afiacao, mas como podem ver a coisa ficou muito comprida, entao achei melhor dividir em capitulos. Ou seja, a historia ainda continua, hehehe...)

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