Inclusive naquela postagem mencionei que apesar de haver tentado uma dezena de vezes efetuar uma das mais simples emendas do vasto repertorio niponico — a sumi isuka tsugi, ou bico-de-passaro como chamam por aqui, ilustrada ahi ao lado — acabei assumindo minha falta de dotes para encarar a precisao e o detalhamento necessarios para trilhar, mesmo superficialmente, o caminho do sashimono.
Mas mesmo sem ousar praticar, o fascinio com a arte em nada arrefeceu e inclusive sempre que cabivel procurei integrar algo daquelas tecnicas milenares nas minhas lides com madeiras. E, quando acessiveis, adquiri algumas ferramentas japonesas — serras ryoba, dozuki, alguns formoes e, como relatei na postagem anterior a esta, acabei me presenteando com uma plaininha de acabamento para satisfazer minha curiosidade.
E vai dai, uma coisa puxa a outra e, depois de testar a plaina nova, ocorreu-me tentar ainda uma outra vez uma emenda em bico de passaro, como um termometro para avaliar o quanto par de anos de treino e familiaridade com o ferramental teriam produzido na minha tecnica...
Aproveitando o esplendido dia de primavera aproveitei para fazer um pouco de exercicio, suar um pouco, iniciando os trabalhos aparelhando uma ripa de eucalipto rosa com plaina manual (nao, nao com a plaina japonesa, mas com minha longa jointer plane canadense).
As ripas serradas nas pontas e os restos removidos |
Fazendo os cortes no meio da ripa, por mais tortos e desalinhados que fiquem ainda assim o encaixe resultara o mais perfeito possivel, visto que o erro de um lado estara 'automaticamente' compensado do outro. Com isso, qualquer defeito na emenda sera devido exclusivamente ao kerf da serra.
(Um efeito colateral interessante do corte e' que os restos que sao removidos das pontas separam-se, revelando no interior uma atrativa piramide.)
No segmento da parte superior da imagem,o encaixe feito com as partes cortadas no meio da ripa. Nao so o encaixe fica perfeito como igualmente perfeito fica o seguimento dos veios. Natural, ja que so o que foi removido foi o que a serra cortou.
Na parte inferior o melhor encaixe dos malhetes cortados nas pontas, evidenciando indisfarcavel desvio na emenda. Como a separacao resultou um par de milimetros, e pela geometria do encaixe os erros se somam, imagino a disparidade entre um lado e outro esteja proximo a 1mm. Ou seja, talvez passivel de correcao com formao e plaina. Certamente um progresso notavel em comparacao com minhas tentativas anteriores (que nao documentei, claro), mas ainda bem longe do minimo desejavel. Melhor, sim, mas ainda falta muito para ficar bom.
O branco nao e' tinta, e' o sol batendo |
De todo modo, a demonstrar a eficiencia dessa emenda vejam que, mesmo defeituosa e sem colagem, apenas com uma batidinha o encaixe firma o bastante para sustentar o peso da ripa sem problemas.
Daqui a pouco vou dar uma estudada e ver se consigo corrigir a emenda...
Conseguindo ou nao, o que me fica claro e' que apesar de certamente ter tido alguma melhora em minha tecnica, ainda nao tenho caminhao bastante para carregar a areia da marcenaria japonesa.
Lindo este tipo de encaixe Paulo, ainda não havia visto. E pelo que venho notando não vi muito mesmo hehe
ResponderExcluir[] do Jedi
Pois e', Jedi; os japoneses sabem muitas coisas em marcenaria que a gente nem imagina...
ResponderExcluirGrato pelo comentario.
Paulo boa tarde, onde posso conseguir um exemplar deste seu livro de encaixes japoneses que esta na foto ?
ResponderExcluirmeu email jcrmail10@gmail.com
Obrigado
http://www.amazon.com/Complete-Japanese-Joinery-Hideo-Sato/dp/0881791210/
Excluirhttp://www.barnesandnoble.com/w/complete-japanese-joinery-hideo-sato/1102225075