A linha central da prancha marcada em ambas as faces serviu como referencia para fixar uma regua e, usando dois esquadros e um compasso nao foi dificil marcar e entao cortar entalhes esquadrejados onde encaixar e entao fixar com parafusos os pes da mesa `a prancha.
Utilizando grampos para fixar os pes nos seus lugares e niveis para acertar prumo e nivel, depois de aplicar cola PUR nos encaixes mandei ver os oito parafusos. Notei, quando alguns parafusos 'chamaram'— no aperto final, a parafusadeira estalando a embreagem — algum movimento houve nos pes. Uma conferencia rapida no entanto, e tudo estava em ordem, reto, alinhado, nivelado, no prumo.
Uau, aleluia! Toda gloria ao Santo Travesseiro! Olhando a coisa depois da remocao dos grampos... nada mau, hein?
Todavia, conhecendo bem as artimanhas do Murphy — e, sinceramente, sabendo que eu nao tenho essa bola toda, hehe — eu ja imaginava aquelas mexidinhas na hora do aperto final dos parafusos nao iam ficar de graca. Revisando minuciosamente o resultado sem o atravancamento dos grampos e com a cola seca, reparei os angulos fugiam do reto. Pouca coisa, par de graus aqui, um e meio ali mas, reto, reto nao, nao estavam.
Mas, convenhamos, ninguem vai analisar no dia a dia uma mesa com esquadros e niveis, nao e' mesmo? E, tudo bem, talvez ate haja alguem com olhos capazes de detetar desalinhamentos de um a dois graus. Mas, aos olhos do meu cliente a coisa ate que estava muito boa, hehehe.
So que sei bem, se os olhos se deixam enganar, a madeira nao. E eu tinha ainda de construir a moldura para o tampo, e aqueles poucos graus certamente iriam causar desencontros nas juncoes, frestas que ate um cegueta iria ver a dezenas de metros.
Minha ideia original era construir a moldura do topo separada da base e depois de pronta aparafusa-la no cimo das pernas. Com os desalinhamentos no entanto, esse metodo seria receita garantida de cacaca! Resolvi entao que iria construir a moldura no lugar, sobre as pernas, sem esquadro e tirando as medidas pelas proprias pecas, e tomara que os demonios todos tenham ido dormir.
Assim, aparelhei e dimensionei os lados longos da moldura em duas ripas de marfim-mara e, apoiando as ditas cujas sobre as pernas, marquei e entao cortei nelas um rebaixo raso nas areas de contato. Com isso, consegui um posicionamento estavel para as laterais e, variando profundidade e angulo dos rebaixos conforme a necessidade, pude garantir as pecas ficassem bem niveladas. Uma vez garantido o nivel, fixei as laterais `as pernas com parafusos. Hora de posicionar os lados curtos.
Sabendo que os lados curtos nao ficariam exatamente esquadrejados, uma serie de possiveis encaixes foram descartados a priori. O metodo que me pareceu mais eficaz para fazer emendas consistentes — e fora de esquadro — foi copiar a tecnica muito utilizada pelos irmaos Greene do encaixe de caixa com tres dentes, com o malhete macho nos lados curtos.
Fiz os cortes para os malhetes empregando a serra fita. Nas femeas, retirei o segmento do meio, com bedame. Nos machos, serrei fora os segmentos laterais com serra manual. Para marcar angulos e profundidades fiz uma primeira marcacao fixando as laterais longas com os parafusos e posicionando as laterais curtas no lugar que desejava e marquei as posicoes com lapis. Cortei os malhetes femeas por essas marcacoes, voltei a fixar as laterais longas nas pernas e tornei a conferir angulos e posicionamentos para as laterais curtas, marquei e entao cortei os machos por essas marcacoes.
Como talvez seja mais facil entender vendo as fotos abaixo...
Cortando o segmento central de uma lateral longa, com bedame |
O segmento central removido de uma lateral longa |
Uma lateral curta colocada sobre uma longa para conferir posicao e angulos, antes de cortar os segmentos laterais para formar a espiga da ensambladura |
A pequena diferenca de angulo; a linha mais escura o angulo desejado, a linha mais clara o angulo reto |
O encaixe feito. Note-se a pequena diferenca de angulo representaria uma indisfarcavel fresta |
Na porcao central da moldura foi posicionada uma trave fixada com um encaixe 'quase' a meia madeira, passante. (Por razoes esteticas eu originalmente tinha pensado em utilizar espiga e fura passante, mas estruturalmente a opcao final me pareceu mais apropriada.).
E com isso a estrutura toda da mesa foi completada e efetuei uma primeira montagem seca, o que ja da os ares do aspecto final do novo movel...
Bueno, agora partir para a montagem final, a colocacao do tampo na moldura, os aderecos, o refinamento fino do acabamento, incluindo correcao/tapeacao dos erros que ainda permaneceram visiveis, e tudo, e tal.
Qualquer bathora dessas...
Parabens Dr. Paulo, não só pela execução do trabalho, mas pela criatividade, inclusive de tapear os prováveis erros... rs.
ResponderExcluirObrigado pela forca, Adenilson.
ExcluirQuanto aos erros, sao inevitaveis quando se faz qualquer coisa `a mao. Logo, dar jeito neles faz parte da lide, hehehe.
Boa tarde,
ResponderExcluirÉ só para dizer que costumo seguir o seu blogue e que aprecio bastante os seus trabalhos.
Estão muito bem explicados.
Obrigado.
João Paulo
Se voce consegue tirar proveito do blog, Joao Paulo, ele cumpre seus objetivos.
ExcluirExcelente material, parabéns!
ResponderExcluirFico feliz tenhas gostado, Arthur.
Excluir