quinta-feira, 30 de abril de 2015

Inicio do fim?

Penso estar iniciando o que sera o derradeiro movel para a cozinha: outro armario suspenso, e todos os espacos de armazenagem perdidos estarao recuperados. E, pela primeira vez desde que desmontei a 'torre', trabalhando agora absolutamente sem qualquer pressao para acelerar o processo por demandas utilitarias, hehe...

Entao, para inicio de conversa resolvi o movel teria enfase no uso de tauari. Pelo preco e pela leveza, claro, mas principalmente por sua semelhanca com carvalho — a ponto de os Grandes Irmaos chamarem essa essencia de brazilian oak, ou seja, carvalho brasileiro.

Raios medulares, em carvalho branco cortado quarteado
Tudo bem que tauari nao e' tao duro (editado: na verdade, descobri que o tauari e' um pouco mais duro do que o carvalho branco) e infelizmente nao apresenta os raios medulares que tanta fama dao ao carvalho branco, mas a cor e' algo semelhante e a disposicao dos veios, retos e regulares, e' bastante parecida. E, acima de tudo, eu nunca utilizei tauari exceto naqueles pes que fiz para a pia, e brincar com madeira nova e' sempre um bom divertimento e otimo aprendizado.

 Como eu usualmente compro minhas madeiras em bruto, o inicio dos trabalhos e' sempre aparelhar as taboas, ou seja, desempenar, desengrossar, esquadrejar e dimensionar. Isso sempre representa, alem de consideravel consumo de tempo, uma macica producao de maravalha, e dessa vez nao foi diferente, como a foto abaixo (mostrando so a saida do desempeno) imagino de testemunho...



Uma parte da pilha de maravalha esta molhada porque chegamos de fato ao outono aqui no Continente, aquela parte do ano em que o velho Pedro da uma enlouquecida: nao apenas chove e faz sol e volta a chover e a fazer sol no espaco de poucas horas como, vejam voces, anteontem a maxima foi 32°C e para o proximo domingo preve-se havera o primeiro dia com temperaturas em apenas um digito. Haja saude. E, principalmente, haja saco! Mas divago...


As primeiras pecas para o novo armario foram molduras para enquadrar compensado e formar o que serao os paineis laterais do movel e que podem ser vistos, ja montados e com cortes para encaixes, ahi na imagem `a direita.

Sim, dessa vez sem pressao alguma para terminar a obra de uma vez, optei desenvolver o projeto com o uso de emendas por encaixes, tanto considerando razoes estruturais, como tambem para nao perder a embocadura com serras e formoes, hehe.


Os pinos cortados na porcao posterior dos paineis laterais irao receber tres travessas com malhetes em caudas de andorinha que, alem de estruturar a carcaca, irao tambem servir para o apoio em faca previsto para fixar o movel `a parede. Essas travessas ja foram aparelhadas, tanto as que irao para a parte posterior e que igualmente ja estao com os malhetes cortados, como as que irao para a parte anterior.

Nas fotos dos lados as seis travessas estao reunidas em um feixe unido por grampinhos. O motivo disso sao justamente as louquices do velho Pedro alterando a toda hora temperatura e umidade; para evitar entortamentos as travessas ficam dando apoio uma para as outras e, espera-se, mantem-se retas. Clicando e ampliando as imagens imagino seja possivel ver nao apenas o tauari, tal como o carvalho, responde com excelente acabamento `as plainas, como igualmente quao retos e direitos os seus veios.


Alias, por falar em carvalho, eu havia esquecido uma outra propriedade desse lenho que o tauari compartilha, e da qual fui lembrado de forma deveras traumatica...

Em priscas eras, quando marcenaria era literalmente praticada a machado, na Europa o carvalho era muito utilizado justamente por sua caracteristica de ser facilmente rachado, e tais rachaduras seram praticamente retilineas, o que facilitava enormemente obter-se e desdobrar-se pranchas sem necessitar o uso de serras. Descobri o tauari tambem tem essa caracteristica quando fui desfazer uma das emendas que necessitou uma persuasao com o malho para encaixar-se. Na segunda batida do desencaixe... plac! Pino e semipino racharam fora do painel, absolutamente rente `a linha de base.


Dado a lisura da separacao, optei por colar pino e semipino de volta. O resultado pode ser visto ahi na foto `a esquerda. O pino parece que nem sofreu nada. Reparando bem na imagem (clicada e) ampliada, como aponta a seta vermelha `a esquerda o semipino ficou com um ressalto milimetrico e, na outra seta, pode-se ver restos de cola.

Bueno, agora que sei dessa problematica, vou reforcar todos os pinos e semipinos. Usando, claro, milicavilhas (tambem chamadas... palitos de dente, hehe).


O que me lembra: Tenho de comprar uma nova broca de 2,5mm antes de continuar a funcao...

domingo, 26 de abril de 2015

A mesa do "nao se deve", pronta

Bem curadas as colas, retirei dos grampos o tampo de grapia para a mesa. Ocorreu o que eu esperava nao ocorresse: embora a linha de cola e o reforco tenham sustentado bem a emenda no centro do tampo, nas extremidades algum empeno retornou quando os grampos foram afrouxados; uma beira levemente concava, a no lado oposto levemente convexa...

Pensei um pouco e — levando em consideracao que essa mesa vai para a cozinha, e ja tinha recebido um monte de coisas que alegadamente nao se deve fazer, como usar madeira com medula, travessas aparentes pelo lado de fora das portas, pinus na estrutura, emendas so com fixadores mecanicos e, a cereja do bolo, usar pranchas empenadas para o tampo! — resolvi usar o tampo mesmo com os empenos e ver que bicho vai dar com o passar do tempo.

As linhas vermelhas marcam a posicao dos furos
O tampo foi colocado sobre a base e, claro, ficou um espaco no centro, na frente, e espacos nos lados, no fundo. Ja que a coisa vinha vindo mesmo na base do "nao se deve fazer", resolvi fazer a fixacao do tampo `a mesa tambem de um jeito que nao se deve.

Com o tampo colocado, marquei a posicao das pernas na sua parte inferior. No centro dessas marcacoes dos pes, abri furos passantes no tampo, um para cada pe. Coloquei o tampo de volta, e marquei a posicao dos furos no topo das pernas. Nessas marcas abri um furo fino, alargado no sentido frente-fundo, ou seja, na direcao que a madeira do tampo vai trabalhar com as variacoes de umidade.  Na parte de tras abri ainda mais dois furos para alcancar a saia posterior.



Prendi entao o tampo em posicao com quatro grampos e em cada lateral da mesa fiz um furo, levemente angulado para cima, que permitiu passar um parafuso longo para atingir a ripa de reforco sob a emenda. Como o parafuso esta angulado, ao aperta-lo a ripa, e por conseguinte o centro do tampo, foi puxada para baixo, contra a saia.

Isso feito, coloquei os quatro parafusos na parte de tras do tampo (dois nos pes, dois na lateral da saia traseira da mesa) e os dois nos pes da frente. E soltei os grampos.

Clique na imagem para ampliar
E o tampo ficou certinho no fundo e nos lados, apenas com uma pequena curvatura convexa na parte anterior, que abre nao mais de 3mm entre o tampo e a saia no centro da mesa. Tipo, mal se nota, hehe.



No furo dos parafusos eu havia feito um rebaixo de par de milimetros, e ahi foram colocados tampoes de grapia — a sempre popular "manobra do gato" (jogar areia em cima, hehe).

Prestando atencao, da para notar a leve curvatura do tampo na parte frontal da mesa

Como eu disse, esse nao e' o jeito certo, praticamente tudo isso nao se deve fazer. Por boas, solidas razoes. Mas e' aquela historia; uma experiencia aqui provoca uma experiencia ali para contrabalancar aquela consequencia e isso provoca ainda uma outra consequencia que... Enfim.

O tempo dira se as taticas empregadas para contornar os assumidos problemas serao duradouras, ou se o movel vai-se desconjuntar, rachar — talvez explodir?


O fato e' que por enquanto, para o meu gosto, a mesa ficou ate bem apresentavel e com todas as geometrias corretas dentro de margens que me parecem aceitaveis para as finalidades a que se propoe o movel. Inclusive, ja esta ocupando seu lugar designado na cozinha.














E ja que a mesa indo para o lugar determinou que a mesinha com tampo de veios de topo retornasse ao seu lugar ao lado da pia, aproveitei o embalo e instalei para ela uma iluminacaozinha com tiras de LED para ter-se melhor a visao dos cortes na hora de cortar os bifes, hehehe...

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Mesa vira laboratorio



Com a colocacao da porta, uma prateleira, as gavetas e o banho de oleo, dei por concluida a base da mesa — pendente ainda, claro, umas demaos de goma-laca. Como optei por utilizar na confeccao da porta e na frente falsa das gavetas pinus contendo medula (ou miolo, ou pit se usarmos a lingua dos Grandes Irmaos) pelo seu aspecto estetico, obviamente houve consequencias.

A primeira consequencia, puramente casual, foi apenas estetica: aquele veio largo que a seta vermelha aponta na extremidade lateral da gaveta da direita na mesa e que se prolonga ate pouco alem do puxador... nao e' um veio. Por mera casualidade, como eu disse, ao desdobrar a ripa de pinus para fazer as frentes falsas das gavetas sucedeu de eu cortar a medula ao comprido, quase exatamente no seu meio. E, claro, nao resisti `a tentacao de deixa-la `a mostra. Pois e': aquele veio largo nao e' um veio. E' a medula — como fica bem evidente na visao lateral da gaveta, ahi abaixo.



Obviamente, os riscos de a presenca da medula causar rachaduras e canoamento por certo existem, mas o fato de a frente estar fixada `a gaveta com uma linha de cola e dois parafusos e' muito provavelmente suficiente para evitar empenamentos, e o fato de a medula estar exposta e embebida no oleo de linhaca do acabamento eu imagino ha de mante-la estabilizada e sem rachaduras. Certeza, claro que nao tenho; entao essa sera a primeira observacao, a primeira, mm, experiencia implementada na construcao dessa mesa/laboratorio...

A outra consequencia da madeira contendo medula ocorreu na porta. De um dia para o outro ela estava fortemente encanoada. O que era de se esperar, visto em torno `a medula estarem os veios mais fortemente arqueados da madeira e, portanto, mais propensos a canoamento. Resolvi contornar o problema aplicando umas travessas transversais para manter a porta mais ou menos retilinea.

Inicialmente, pensei em colocar as travessas pelo lado de dentro da porta mas, em funcao da forma como a preparei para receber as dobradicas, se colocasse as travessas por dentro uma consideravel parte da lateral da porta ficaria sem sustentacao, e justamente a parte contendo a medula, como pode ser visto na  imagem abaixo `a esquerda, onde as setas vermelhas apontam a medula.



Adicionalmente, pude utilizar a pequena saliencia de par de milimetros na ripa de cedrinho no centro da porta para forcar uma hipercorrecao do canoamento, como pode talvez ser visto na imagem da direita. As travessas estao fixas apenas pelos parafusos, nao ha nenhuma cola, de tal forma que posso, apertando mais ou menos os parafusos, corrigir a curvatura no grau que desejar.



E nisso configura-se a segunda experiencia da mesa/laboratorio: uma porta com controle de curvatura, hehehe...


Mas entao, concluida a montagem da base da mesa, hora de encarar o tal de tampo...


A retirada das pranchas de grapia dos grampos onde estavam sendo submetidas a uma hipercorrecao do empenamento revelou a manobra havia fracassado. Ou seja, o empenamento persistia, como pode ser visualizado na imagem abaixo: a prancha em cima da imagem, concava, a da parte de baixo, convexa.


Por um par de horas, as pranchas aparelhadas apenas no desengrosso e com a ajuda de uma pilha de grampos fiquei praticando uma serie de diferentes montagens secas buscando alguma maneira pratica de conseguir corrigir os empenamentos.

A solucao final a que cheguei foi a seguinte: coloquei as pranchas entre os grampos invertendo os empenamentos, exatamente o mostrado na imagem acima. Sobre aquela travessa no meio e embaixo das pranchas (grapia tambem, cortada de uma das pranchas ao dimensionar a largura), bem na linha da emenda, esta apoiado um pequeno fragmento de madeira dura (muracatiara). Com cola epoxi de secagem lenta (para nao ter de me preocupar com o relogio) aplicada nas faces da emenda, coloquei outra travessa (a retirada da outra prancha) e outro taquinho exatamente acima, e apliquei grampos nas travessas para espremer as pranchas e obter um perfeito alinhamento entre elas no centro. Isso feito, apliquei um grampo em uma das extremidades da linha de emenda (sim, justamente aquele prateado, ali) ate alinha-las. Entao apertei os grampos laterais (os vermelhos) daquele lado. Repeti o processo do outro lado, removi as travessas aquelas do centro, e entao coloquei, por cima, outros tres grampos nos intervalos dos grampos de baixo. Ficou assim:



E assim vai ficar, mais alguns dias. Como imagino se possa ver, o empeno praticamente desapareceu.

No entanto como, suponho, a maioria dos meus sete fieis leitores eu tambem acho que, quando afrouxar os grampos, vai haver um bocado de tensao, um consideravel stress nessa linha de cola..













Pensando aliviar essa  tensao, aparelhei no desempeno aquelas travessas que tinha usado para espremer o centro da peca no inicio da colagem, e colei-as de maneira identica `a aplicada no tampo para compensar o empeno que elas, vindas das mesmas pranchas, igualmente apresentavam.






Aproveitando no entanto o fato de aqui nessa colagem a espessura das madeiras permitir, com a colagem nos grampos fiz uns furos passantes da emenda e apliquei cavilhas entre as ripas para melhor estabilizar a emenda.

(Como garantia contra o stress, utilizei umas cavilhas especiais, metalicas, com sistema autocompressivo. Parafusos, hehe...)

Observando a (pessima) imagem  `a direita, tomada de cima e pelo lado da colagem, com alguma boa vontade pode-se ver que as tensoes se compensaram entre uma e outra ripa e o resultado final e' a colagem ficou retificada o bastante, como tentei demonstrar pela linha vermelha absolutamente reta justaposta, gerada pelo editor de imagens.

Tomei cuidado de anotar em cada ripa antes da colagem o sentido do seu empenamento e amanha vou aplica-la com cola e parafusos como reforco `a emenda do tampo, cuidando bem cada ripa tenha a curvatura oposta ao empenamento original das pranchas do tampo. Mais uns dias para total curagem das colas e, entao, afrouxar os grampos...



Vai funcionar? Dara certo?

Acho — espero! — que sim.

De qualquer modo, essa sera a terceira batexperiencia nessa mesa/laboratorio.





E ainda me perguntam por que eu tanto gosto de brincar com madeira sem planos nem projetos...


-- ooOoo --

Adicional:

O reforco da emenda, aplicado com cola epoxi e parafusos...


domingo, 19 de abril de 2015

Madeiras vagabundissimas vao pra mesa


A carcaca da mesa ganhou os trilhos laterais para as gavetas, e o armarinho. No armarinho, so de birra, resolvi contrariar a maxima de que em bons moveis se usa encaixes colados, nunca fixacoes mecanicas, e fiz toda a montagem so com fixacoes mecanicas, pinos e parafusos, sem cola. Afinal, esse nao e' um bom movel, mas e' daqueles feito com madeiras vagabundas, ne?


Falar em madeiras vagabundas, enquanto ia aplicando os aderecos e consolidando as emendas da mesa, ocorreu-me uma daquelas ideias de jerico. Sabidamente, como inclusive ja mencionei  anteriormente, madeira contendo a medula e' instavel, racha facil. Em compensacao, porque afinal toda moeda sempre tem dois lados, a madeira que cerca a medula costuma apresentar desenhos interessantes em funcao das convolucoes dos veios. Vai dai resolvi pegar o resto que tinha sobrado da prancha de onde eu tinha cortado os pes para a mesa, o qual  evidentemente continha medula, e desdobrar em ripas para ver o jeito que tinha...


Bueno, ja que ia cortar, pensei poderia aproveitar e cortar com medida que pudesse servir para fazer a porta para o movelzinho da mesa. E foi o que fiz: medi duas vezes como manda a velha regra, e taquei o ryoba. Aparelhei os segmentos nas plainas e desdobrei na serra de bancada...



Vejam ahi abaixo no que deu:







Diante desse resultado — e porque nao sou marceneiro, mas curioso — resolvi assumir o risco e usar as pranchas para fazer mesmo a porta com elas. (Obviamente considerando, se o troco degringolar, rachar, se os nos cairem, algum desastre dessa ordem, nada mais facil de substituir do que a porta, hehehe.) Fiz a colagem das pranchas, inserindo um segmento de cedrinho porque eu gosto de misturar madeiras e depois, por boa medida, pus mais um batente com uma tirinha de muracatiara. Ahi, sem lixar, como saiu da serra depois dos grampos, prendi no lugar para ver como ficava.

Achei que voces tambem gostariam de ver...


Tomara que nao exploda!


Agora, vamos para as gavetas. E depois entao... o tal de tampo de grapia com seus empenos.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nova mesa da cozinha toma jeito

Confirmada a estabilidade dos pes de pinus cortados 'na postagem anterior', a primeira decisao foi escolher o tampo para a nova mesa para a cozinha.

Resolvi utilizar uma prancha de grapia, ha uns bons tres anos 'repousando' no meu anexo. Examinando a dita prancha, constatei apresentava consideravel empeno longitudinal em dois pontos, e daqueles que nao se consegue resolver com umas passadas na desempenadeira. Nao querendo desprezar boa madeira, resolvi tentar retificar cortando-a em dois segmentos, ensopando as regioes afetadas com agua e aplicando pressao com grampos forcando um, mm, antiempeno, uma curvatura no sentido contrario `a que ocorrera naturalmente. Vinte e quatro horas desse tratamento e a prancha pareceu responder satisfatoriamente.



Como alguma deformidade residual ainda persistiu, resolvi colocar as zonas mais encurvadas uma contra a outra e, aplicando umas pranchinhas de compensado 10mm para forcar a anticurvatura, apliquei grampos nos pontos onde mais acentuada a curva e — tal como se ve na imagem `a esquerda, as setas vermelhas apontando as pranchinhas de compensado — deixei ficar, bem espremido. E' como vai ficar ate a base da mesa estar pronta, e ahi... vamos ver.


Quanto `a base, aparelhei e dimensionei umas taboas de pinho para fazer as saias, cortei furas com formao e formei as espigas usando a serra de bancada e a de fita. Fiz a montagem seca para acertar os detalhes e iniciei a colagem pelas laterais, mais curtas.


Na foto abaixo, a base com as laterais ja coladas e com frente e fundo encaixados, mas ainda nao colados...


Estava contemplando justamente isso ahi, pensando se nao havia deixado algo melhor de ser feito antes de colar e tal, quando meu separador de orelhas, sempre um criador de casos, lancou a pulga: "Nao seria bom umas gavetas?"

Droga!

Certamente, por trinta e tres razoes e um terco seria bom umas gavetas! Mas por que esse maldito so foi me apontar isso nessa hora? Tivesse me tocado antes, e teria feito uma montagem com as devidas facilidades para colocar gavetas. Agora?...

Deixando de lado os detalhes sordidos, o resumo da opera e' que parei tudo e passei um dia e meio matutando sobre esse e aquele jeito, vantagens, desvantagens, qual a melhor maneira de colocar gavetas na mesa, preferivelmente sem perder material...

Acabei optando por fazer aberturas para as gavetas na saia da frente, com a ticotico manual, e aplicar um sistema de quatro trilhos laterais por onde as gavetas se apoiarao atraves de um rasgo em seus lados. Nas laterais, os trilhos serao fixados aos pes. No centro, na parte frontal se apoiarao em encaixes e, no fundo, em furos passantes, abertos com formoes. Para reforcar a saia frontal, enfraquecida pelos furos, uma barra de pinus na parte superior e uma fina tira de muracatiara na inferior, alinhada com ajuda de milicavilhas (sim: palitos de dente). Como, espero, pode ser visto nas imagens acima (que, como sempre, clicadas podem ser vistas em maior resolucao).

Ahi entao, foi finalmente hora de montar...



E nisso estamos...

-- ooOoo --

Adicional:

Tendo removido a peca dos grampos, serrei os excessos, coloquei os trilhos laterais e consolidei as emendas. Faltando apenas a colocacao das cantoneiras onde se apoiara o tampo, a montagem da base da mesa esta concluida...





















Falta ainda o armarinho que ficara incluido na mesa, as gavetas e entao o tampo...

sábado, 11 de abril de 2015

De volta `as madeiras vagabundas

Tenho eventualmente postado alguns comentarios sobre o uso das chamadas madeiras vagabundas, essencialmente pinus, cedrinho e eucalipto. Obviamente o conceito do que e' uma madeira vagabunda e o que e' madeira nobre e' vago, impreciso e ainda por cima variavel.

Portas em pinho de Riga


Apenas para salientar essa, mm, variabilidade, veja-se o chamado pinho de Riga.

Ha inumeros exemplos do uso dessa madeira considerada nobre na confeccao de, por exemplo, aberturas exteriores e moveis finos como exemplificado na imagem `a esquerda e na postagem do link abaixo:
http://acordacasa.com.br/2012/06/08/classe-e-estilo/

Mas se esse lenho (Pinus sylvestris) por aqui e' considerado nobre, na Europa de onde vem (Riga, a proposito, sendo a capital da Letonia, um dos portos principais por onde essa essencia era e e' exportada) e' madeira vagabunda. Tanto que e' muito utilizado para encaixotar mercadorias para viagem — como, lembro, as caixas onde na minha infancia vinham embalados os bacalhaus noruegueses e portugueses — e, na epoca dos navios a vela, essa madeira era muito utilizada como lastro, no fundo dos poroes, que era descartado nas praias quando os navios carregavam esses poroes com mercadorias. Ou seja, por la a consideram madeira tao vagabunda quanto por aqui consideramos o pinus.

Ja desse nosso vagabundissimo pinus no entanto (Pinus eliottii e P. taeda) na sua origem, nA Matriz onde atende por southern yellow pine, diz-se por exemplo que "e' conhecido como uma das mais fortes, mais resistentes especies de madeira (e) e' uma escolha ideal, tanto para profissionais da construcao civil, como para praticantes de bricolagem" .


De igual forma, nosso eucalipto tao desprezado e condenado como instavel, intratavel, e' exportado como Lyptus® e anunciado como um excelente substituto para o mogno!


Tudo isso aparentemente como confirmacao de que a grama do vizinho e' sempre mais verde do que a nossa ou, mais provavelmente, porque o que e' mais barato, por mais abundante e acessivel, e' usualmente desprezado...



De qualquer maneira, pensando em construir ainda mais uma mesinha para minha cozinha resolvi mais uma vez empregar pinus na construcao, nao so pela leveza e preco, mas para demonstrar sua aplicabilidade e principalmente por, para meu gosto, sua beleza.

Uma madeireira aqui perto da qual sou fregues habitual disponibiliza pranchas brutas bem secas de pinus de 5x30x270cm — prioritariamente para a construcao civil, e' claro. Essas pranchas, muito provavelmente por serem secas sem qualquer cuidado (afinal, trata-se de madeira o que ha de vagabunda), vem usualmente com praticamente todos os tipos de empeno. E com varias rachaduras, muito provavelmente porque por razoes economicas a serraria as envia contendo a medula (o que os Grandes Irmaos chamam pit), o anel mais central do tronco cuja presenca, por razoes que agora nao vem ao caso, invariavelmente tende a produzir rachaduras radiais. Por brutas, empenadas e rachadas, essas pranchas custam barato, bem baratinho, consideradas as dimensoes.

Nas imagens ao lado as setas vermelhas apontam a medula nas tres pranchas de pinus e, se clicadas para ve-las em maior resolucao, nao e' dificil ver, nem a nitida rachadura na prancha mais inferior, nem as rachaduras menores que se irradiam das medulas. Estao tambem marcados varios quadrilateros em verde. O que esses quadrilateros delimitam grosseiramente sao seccoes onde os segmentos dos aneis como que cortam perpendicularmente as pranchas, indicando os veios correm paralelamente `a superficie das tabuas.

Isso e' o que os Grandes Irmaos chamam quarter sawn, e taboas com veios nessa configuracao 'trabalham' pouco, quase nada se movem com variacoes de umidade, atingem maxima estabilidade.


Vai dai que cortei justamente dessa area de uma dessas pranchas quatro ripas para fazer os pes da futura mesa e as aparelhei nas plainas em largura e espessura. Essas ahi na imagem abaixo, na frente do saco contendo as maravalhas resultantes das plainagens, e atras das taboinhas que resultaram de ajuste das dimensoes desejadas na serra de bancada.


Agora, aguardar um dia para confirmar se ficarao mesmo estaveis, e partir para a construcao da nova mesa...


quinta-feira, 9 de abril de 2015

A pia ficou pronta

A pia cuja montagem foi o tema da postagem anterior ganhou portas para o 'armario', um 'corrimao' de tauari para resolver a irregularidade na extremidade direita, e um acabamento em pinho para cobrir a falha que restara na parede...


O 'armario' sob as cubas ganhou portas
Um 'corrimao' para cobrir as irregularidades que ficaram no tampo
O buraco que ficara na parede foi recoberto com uma tabua de pinho

-- ooOoo --

Com a conclusao das obras na pia, finalmente hora de dar uma limpada na 'oficina'. Isso porque, com a relativa pressa de ter a cozinha de volta `a sua funcionalidade, eu havia abandonado a pratica usual de guardar todas as ferramentas e limpar a sujeira ao final de cada dia e, para ganhar tempo, havia deixado tudo como estava de um dia para o outro, ou seja, ferramentas espalhadas e poeira, serragem e maravalha esparramadas por tudo.



So para dar uma ideia de como a coisa estava, a foto `a esquerda mostra os quatro sacos que resultaram da varrecao (os azuis mais claros sao de cem litros, o mais escuro de cinquenta). Os tres sacos agrupados mais `a direita estao cheios com serragem, poeira e maravalha, o isolado mais `a esquerda contendo cavacos, papelao, embalagens vazias, o resto do lixo acumulado em pouco mais de duas semanas brincando de marceneiro...



Tudo bem, nem tudo foi produzido pelas marcineiragens. Um pouco foi esse rapazinho ahi:


Esse criador de casos com pouco mais de dois meses de existencia nunca cansa de aprontar e, claro, gerar lixo sob inumeras formas...

Alias, a expressao meio constrita deve-se ao fato de ele haver conseguido escapar durante a noite e ter ido atacar os pratos da comida dos adultos. E, claro, ter pago o preco: uma bela diarreia.


... Eu `as vezes fico meio admirado da quantidade de coisas que a gente arranja para se incomodar, hehehe.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Funcionando!

(Clique nas imagens para ve-las em maior resolucao.)

A nova pia ficou pronta e esta funcionando, e deixem que lhes conte: que diferenca faz essa disponibilidade, hehehe...

Embora na postagem imediatamente anterior eu tenha afirmado todas as pecas da base da pia estavam prontas, na verdade ainda tive de cortar umas cantoneiras e duas travessas para os pes. No corte dessas travessas com pouco mais de dois metros de comprimento, aproveitei para registrar a utilidade das duas 'terceiras maos', apontadas com setas verdes na imagem `a esquerda...

Com enfim todas as pecas realmente disponiveis, levei o tampo de volta para a cozinha para a montagem, ja que havia medido e determinado nao seria possivel entrar na cozinha com a pia montada.

As duas saias foram fixas ao tampo, espremendo o 'armario' entre elas



Entao, foram colocados as pernas e pes, as cantoneiras e as travessas

As saias foram fixas no tampo com 'pocket screws', as cantoneiras e as pernas apoiadas em rebaixos e fixados com cola e parafusos nas saias e no 'armario', e por fim as travessas foram igualmente coladas e parafusadas `as pernas.

Com a base montada, apliquei duas fartas demaos de oleo de linhaca nas partes inferiores da base e consegui dois amigos para girar a pesada obra, coloca-la sobre os proprios pes.

A encrenca, com varios escorrimentos do oleo, finalmente de pe
Minhas preocupacoes naquelas alturas eram as dimensoes, se a pia iria se encaixar na parede onde devido e as irregularidades dos obreiros originais: um desnivel de 1cm entre os lados e ondulacoes no piso. Um pouco para minha surpresa (nao confio muito em medidas com trena) e para minha imensa satisfacao e, por que nao dizer, orgulho, a coisa se encaixou como uma luva. Verdade que pelas ondulacoes do piso foi inevitavel: sob tres dos pes foi preciso colocar calcos, fixados com cola. Finalmente, para fixar rigidamente a peca no lugar coloquei duas cantoneiras metalicas, uma sob o tampo `a direita, outra atras do pe esquerdo. Ficou uma rocha! Nao se move um milimetro e, comprovei, da para subir em cima.

As madeiras da parte de tras, contra a parede, foram todas pintadas com tinta epoxi; apliquei oleo de linhaca, duas demaos, e meia duzia de goma-laca no resto. Coloquei as tubulacoes de drenagem e a coisa esta funcionando nos conformes. Faltam os acabamentos, claro, portas para o 'armario' e os regalitos que, afinal, serao puro divertimento, hehe.

Mas a luta propriamente acabou, e adivinhem quem venceu?

As setas verdes apontam os calcos, as vermelhas as cantoneiras