Quando terminada, sem os vidros do tampo o movel ficou pesando ao redor de uns 30-35 quilos. Transportei-o sozinho, em bracos, desde a oficina ate o "antro" e, quando coloquei-lhe os vidros e fui dar uma ultima examinada nos detalhes antes de povoa-lo com as pecas que formam meu, mm, arquivo de aprendizado, reparei que o polimento da cera ainda deixava bastante a desejar. Com o que, voltei `a oficina e trouxe um par de furadeiras e boinas para bem acabar a obra.
O detalhe e' que aquela e' uma mesa baixa. Medi agorinha: 45cm de altura o tampo e 21cm a prateleira sob ele, esta ultima evidente que o principal alvo do polimento adicional. Polimento que me consumiu uma boa meia hora — porque se ha algo que praticamente obriga a gente a caprichar e' polimento, atencao aos minimos detalhes, agora mais um pouquinho, e tudo, e tal...
O problema foi que, absorvido e embalado pelo canto das furadeiras e o resultado das boinas, simplesmente esqueci dos anos sobre meus ombros. Lamentavel, muito lamentavelmente... os anos nao se esqueceram de nada. Quando levantei do polimento para pegar os vidros e as pecas que iriam completar a mesa ja notei um nitido desconforto la na base da coluna, uma certa dificuldade em ficar bem ereto.
Nao posso nem dizer que fiquei surpreso com o que se seguiu; nao e' exatamente incomum eu cometer a estupidez de esquecer que meus cinquenta comecaram em outro seculo. Mas dessa vez a coisa apertou. Para dormir naquela noite, e em varias que se seguiram, tive que apelar para analgesicos porrada. Nos dois dias seguintes, quando fosse inevitavel caminhar me socorri de um sarrafo como bengala, e a atividade fisica mais intensa que era capaz de exercer de forma indolor, alem de respirar, era acertar a regulagem da cadeira onde fui morar.
Dez dias depois, hoje e' o primeiro dia em que nao sou continuamente lembrado da minha besteira, (quase) tudo (praticamente) de volta `a normalidade.
Mas para alem das minhas lamentacoes, o que talvez possa interessar a algum de meus sete fieis leitores e', entre as inumeras atividades, mm, intelectuais a que me dediquei enquanto as fisicas estavam expressamente proibidas, uma delas foi deixar o separador de orelhas pesquisando o que eu poderia fazer quando a vinganca fosse possivel na oficina (ta bom, ta bom, depois de fazer a limpeza geral que ainda estou devendo desde que terminei a mesa).
Dai que lembrei: La bem quando havia iniciado minhas (re)investidas em brincar com madeira, para buscar inspiracao e ter no que treinar minhas nascentes habilidades pareceu-me uma boa ideia aproveitar uma oferta que entao a Rockler fez, um belo desconto no plano de montagem e kit de ferragens para construcao da sua replica de geladeira antiga; essa ahi da foto `a esquerda.
O entusiasmo todavia arrefeceu fortemente quando a encomenda chegou. Nao apenas pela complexidade dos planos ultradetalhados e incluindo uma errata disponivel na Rede, mas principalmente pela quantidade de boa madeira que seria necessaria e eu nao dispunha. E, devo confessar, tambem pela intimidadora qualidade das ferragens made in Taiwan. Nao sou avesso a tentar fazer coisa que considero um pouco alem do que imagino ser minha capacidade; afinal, e' assim que se aprende. Mas minha avaliacao ante a excelencia das pecas e o projeto supostamente para nivel intermediario de marcenaria foi... de que eu era um iniciante. Muita areia pra minha carrocinha, em outras palavras.
Dai, o projeto impresso nao lembro exatamente mas talvez, suponho, pode ser que em uma de minhas limpezas de papelada velha tenha considerado eu nunca iria fazer aquilo daquele jeito mesmo e... devo ter enviado o dito cujo para o Arquivo Morto mantido pela Limpeza Urbana.
Ja as ferragens do kit foram embrulhadas e guardadas num canto de armario, para nao juntar poeira. E foi com elas e com a ideia de cumprir o projeto nunca iniciado de uma replica de geladeira antiga que o separador optou por municiar-me para eu me vingar de minha imbecilidade. Ha pouco, fui ao armario, abri o pacote e coloquei os envelopes sobre a bancada. Estava tudo la, o que mostra a foto `a esquerda:
Os oito primeiros envelopes de baixo para cima (mais ampliados na imagem `a direita) contem, tudo em latao polido, uma etiqueta com a marca da geladeira, um abridor de garrafas, tres fechos de portas e tres pares de dobradicas. Os demais envelopes sao ferragens para fixar os prendedores de prateleiras, aquelas coisas compridas — e que nao pretendo incluir no projeto porque prefiro sempre que possivel prateleiras fixas.
E e' isso por enquanto. A madeira proposta no projeto impresso que 'perdi', lembro, era carvalho cortado radialmente. Mas nao pretendo seguir a memoria do projeto original, mas sim furungar as memorias da minha infancia quando tinhamos em casa uma dessas geladeiras que operavam com gelo, sem eletricidade. Hmmm... Lembro era de uma madeira escura e avermelhada, as ferragens prateadas...
Bueno, so que tenho ferragens douradas. Logo, posso usar a madeira (ou bem mais provavelmente aS madeiraS) que bem entender, hehehe.
Mas, claro, antes de qualquer coisa tenho de consultar o travesseiro.
Sr. Paulo,
ResponderExcluirEstimo melhoras para sua coluna...
Estou perto do cinquentenário e já sei bem o que é uma bela dor nas cadeiras !!!
Sempre acompanhando e, como sempre, curioso para ver o que vai sair da sua espetacular criatividade...
Sérgio Antonio.
Grato por sua gentileza, Sergio Antonio.
ExcluirSe voce esta curioso para ver o que vai sair, somos pelo menos dois, hehe.
Muito legal seus trabalhos. Esta geladeira que não demanda eletricidade é bem curiosa e ficou linda.
ResponderExcluirTrabalhamos com ferragens em geral, quando precisar de algo consulte-nos. Grato.
Che pela gravura da fabrica da STEIGLEDER, era na mesma fabrica que depois veio a ser a FIATECI..... voluntários da pátria, Ok? Tem mais material?
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