sábado, 12 de dezembro de 2015

James Krenov

Como ja disse inumeras vezes, nao sou marceneiro. Sou curioso, muito mais atraido pelo processo — a lide e seus detalhes, suas minucias e variadas quinquilharias, os brinquedos — do que por resultados. Sob esse enfoque, tenho desenvolvido minha progressiva familiaridade com as taticas e estrategias do trabalho com madeiras sem um metodo especifico, mas simplesmente ao sabor do que o momento instiga.



Nos ultimos meses o momento primeiro instigou e entao exigiu a construcao de moveis — armarios, grandes caixas essencialmente — para minha cozinha e para meu quarto. Algo que relatei aqui neste batcanal talvez com uma quantidade indigesta de detalhes, como suponho meus sete fieis leitores possam ter notado, hehe. Uma atividade repetitiva, os mesmos processos recorrendo inescapavelmente; e apesar de tentar introduzir variedade e desafios para aliviar a carga, a verdade e' que ja pela metade do caminho me sentia algo cansado, o hobby nem tao sutilmente se metamorfoseando em trabalho. Tanto que em determinado momento cheguei a pensar em cont...
Mas passou!

Conclui o frenesi de construir objetos mais para cumprir uma finalidade do que para satisfazer um deleite efetuando uma limpeza geral na 'oficina', e alguns reparos e manutencao nas maquinas que necessitavam tais reparos e manutencao. Isso, quase que simultaneamente com o inicio das ferias da minha outra lide, a oficial, aquela para a qual fui formalmente treinado — e que gera aquele papelzinho magico que nos sustenta.

Curtindo ferias entao, sem qualquer apelo real ou imaginario de qualquer coisa utilitaria, posso dedicar meu tempo e esforcos a desfrutar da folga. Evidente, uma parte disso, do desfrute da folga, envolve marcenaria...


Esse longo preambulo para contar que ando, inclusive, dedicando um tempo para ler e ver coisas do e sobre James Krenov. Que, no meu altar de idolos marceneiros, esta la no topo, um nadinha abaixo do pincaro que Sam Maloof ocupa.

 Famosissimo, um icone da marcenaria no sec. XX, em uma entrevista em agosto de 2004, la pelas tantas o entrevistador indaga:

"Que conselho lhes daria? Quando aconselhando seus estudantes quanto a como ganhar a vida com isso, o que o senhor lhes diria? Como vender? Como eles iriam vender seus moveis?"

Do alto de seus entao 84 anos de vida, o velho mestre retorquiu:

"Bem, minha formula padrao e', quanto melhor o trabalho voce faca, melhores suas chances de passar fome."

Certamente sabia bem do que falava ate porque, quando comecou a construir de acordo com seus padroes, o sustento vinha era do trabalho... da esposa.

Mas o que fez, ninguem antes fez parecido. E depois, hoje, ha uma multidao querendo imita-lo.


Eu mesmo ja andei dando minhas imitadazinhas, hehe. Na verdade, imitando um imitador mas, enfim...  Agora, como disse ando lendo, vendo, pesquisando e pensando. Pensando em talvez me aprofundar um pouco no metodo de "aprender imitando", utilizando Krenov como emulo.

E nao, nao me refiro apenas a imitar os moveis. A intencao e' ver da possibilidade de imitar... os padroes.

Veremos...
Ou nao.


Enquanto isso, para quem nao se importa com o ingles, um video dando uma geral sobre a vida do grande mestre:


4 comentários:

  1. Bacana Paulo, eu particularmente gosto muito do trabalho dele, minha mulher por outro lado, não parece muito simpatizante.

    Rótulos... Marceneiro, gari, engenheiro, professor e etc. Na época do vovô era bem simples: você é o que você faz para ganhar dinheiro. Qualidade? Bom, qualidade é de profissional. Bem, hoje em dia a coisa não é tão simples, ao menos, para os meus olhos.

    Faz uns 15 dias que aparelhei três peças para formar o corpo de uma primeira plaina estilo Krenov. Tenho uma demanda específica por aqui e tem uma esperança de solução com uma plaina de madeira. A madeira segue em descanso enquanto aguardo o papai noel com a lâmina para dar continuidade ao projeto.

    Abração,
    Cosme

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    1. Se um dia por algum motivo suficientemente avassalador eu jamais contemplasse a ideia de fazer uma plaina de madeira, eu provavelmente ontemplaria o padrao classico japones. Tenho uma smooth japonesa — comercial, nao feita `a mao — e mesmo sendo de quarta linha seu desempenho e' unico. Funcao do design da sola, imagino.

      Os grandes marceneiros, como eu vejo, desenvolvem um design e ou um estilo e entao o repetem, e o apuram, refinando e afinando o processo sempre mais a cada vez, buscando a perfeicao. Sam Mallof e' um arquetipo. Ja eu, tenho horror de repetir qualquer peca, hehe.

      O Krenov, quer me parecer, tinha mais de curioso do que de marceneiro...


      Grato pela visita, tche, e pelo papo estimulante.

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  2. Parabéns pelo blog, Paulo. Suas informações são muito precisas e úteis! Estou curtindo.. abraços!

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