Alem do uso como protetor para superficies metalicas com testes e observacoes ainda em curso, examinei tambem o emprego da cera microcristalina — que doravante vou chamar microcera — para acabamento em madeiras, na formulacao relatada nas postagens imediatamente anteriores a esta (3 partes de parafina microcristalina e 1 parte de cera de carnauba)...
O teste consistiu em, ao mesmo tempo em que as estava aplicando na barra de aco, aplica-las tambem em um pedaco que sobrara de um painel de cedro rosa e cedro gaucho; no segmento central de cedro rosa o produto importado, a Renaissance Wax (RW) e, em parte dos segmentos laterais de cedro gaucho, a microcera.
A imagem acima, tomada logo apos a aplicacao das ceras mostra bem as areas onde foi aplicada a microcera, pelo escurecimento provocado pelo solvente. Apos secar, tanto a microcera como a RW praticamente nao alteram em nada a coloracao das madeiras.
Note-se, tambem em madeira a aplicacao da RW e' muito mais simples: basta aplicar uma camada tao fina quanto possivel e, em seguida, remover o excesso com um pano limpo. A microcera necessita aguardar uns 15-20 minutos de secagem para remover o excesso, com pano ou, como foi o caso, com escova.
Como eu ja havia sido informado por minhas pesquisas sobre a RW, ela apresenta um serio inconveniente ao ser usada como acabamento em madeira, e que fica evidente na imagem `a esquerda (clique nas imagens para amplia-las):
A RW penetra bem e da bom preenchimento dos espacos dos veios mas, nas depressoes, permanece branca e opaca apos secar, com evidente prejuizo estetico do visual do lenho. Por isso, seu uso em moveis e demais objetos de madeira e' recomendado apenas em superficies ja acabadas, onde os veios ja estao preenchidos.
Ja a microcera, como mostra a imagem `a direita, apesar do 'inconveniente' da aplicacao um pouco mais trabalhosa e demorada, resulta totalmente translucida depois de seca, sem produzir quaisquer manchas.
Como mostram as imagens abaixo, ambas as ceras mostraram-se muito eficientes em impermeabilizar a madeira, com a microcera mostrando um acabamento nitidamente com maior brilho...
Com essas observacoes, minha conclusao e', em funcao do custo e dos problemas com manchas esbranquicadas, o emprego de RW em madeira deve ser reservado para casos excepcionalissimos.
Ja a microcera parece-me ter bastante promessa e, independente de seu uso em metais, certamente pretendo inclui-la em meu arsenal de acabamentos.
Ate para testar a eficiencia do emprego da microcera como acabamento exclusivo, peguei um naco de cedro rosa na sucata geral e em um lado lixei sua extremidade ate G220. Entao, empregando uma formulacao de microcera com um pouco mais de solvente de forma a deixa-la mais pastosa do que a empregada nos metais, apliquei-a com pano na area lixada. Aguardei 15-20 minutos e removi o excesso com escova de sapatos. Uma hora depois aproximadamente, dei um polimento inicial com uma flanela e entao com um bone de la girado por uma furadeira manual a bateria...
Esse ai acima entao, o resultado de uma unica demao aplicada diretamente sobre a madeira lixada e crua. Alem do brilho acetinado, o que mais me impressionou foi a textura sedosa do acabamento.
As duas marcas circulares apontadas pela seta amarela resultaram de eu tentar, com forca suficiente para 'machucar' o lenho, usar as unhas para remover e/ou arranhar o acabamento no dia seguinte `a aplicacao. Adesividade e resistencia muito boas, para o meu gosto.
Como disse, tem promessa...
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terça-feira, 9 de agosto de 2016
sábado, 30 de julho de 2016
Cera microcristalina - pesquisando
Tanto a cera petroquimica como a de polietileno sao ceras microcristalinas, duras, muito pouco soluveis e quimicamente estaveis. Pelo que pude entender a cera petroquimica e' a base, a cera de polietileno entra para aumentar um pouco a dureza e a adesividade do produto; o solvente evidentemente para dar `a emulsao consistencia compativel com aplicabilidade.
Como esperado, afora o solvente, facilmente disponivel, os demais componentes originais nao estao acessiveis em nosso mercado. Genericos? Por aqui ceras de polietileno de baixa densidade oxidado tanto quanto pude constatar so estao disponiveis para a industria e em quantidades industriais. Cera petroquimica microcristalina com ponto de fusao entre 70-90°C em quantidades para uso pessoal demanda um pouco de prospeccao na Rede, mas se encontra.
Bueno, dos tres ingredientes necessarios dois se consegue. Nao e' um mau principio, hehe. O problema, basicamente, e' substituir a cera LDPO. Uma cera ate mais dura do que as LDPOs, e com excelente adesividade, e' a cera de carnauba. O problema no seu uso como cera preservativa e' que com o tempo ela tende a oxidar-se e ao oxidar-se fica acida, e acidez e' tudo o que NAO se quer em uma pelicula protetora.
Esse entao e', em rapidas pinceladas, o quadro. Ja disponho de varios solventes adequados e de cera de carnauba. Semana que vem devo receber cera petroquimica microcristalina.
Ahi chegara a hora de brincar: preparar e testar algumas amostras para se ver o que sai.
domingo, 3 de julho de 2016
Madeiras vagabundas - revisitando
La bem no inicio das postagens deste blog eu comentava de como havia optado por trabalhar com algumas madeiras ditas vagabundas — pinus, eucalipto, cedrinho, etc. Passados ja varios anos, a experiencia demonstra essas tais madeiras vagabundas, tenham la as limitacoes que tem, estao longe de, como muitos apregoam, ser indesejaveis, inuteis no emprego da pratica de marcenaria, servindo apenas para uso temporario em carpintaria, e olhe la...
Afora varios dos moveis que construi ha tempos com tais madeiras e que hoje nada, absolutamente nada, mostram da passagem dos anos, constitui sem querer uma testemunha solida...
Esses restos mostrados ahi nas imagens ao lado (clique nelas para ve-las em maior resolucao) sao o que sobrou do prototipo da replica de uma cadeira de espaldar baixo do Sam Maloof, e cuja construcao foi relatada aqui mesmo, la por dezembro de 2011.
Quando encerrei a construcao do prototipo e parti para construir a versao final da cadeira, as pecas em pinus foram simplesmente deixadas de lado, sem qualquer acabamento ou cuidados de qualquer especie. Esses restos especificamente, o assento e os pes dianteiros, eu acabei utilizando para fazer uma plataforma onde subir, ja nao me lembro mais para que. Quando acabou sua utilidade, foram colocados ahi onde foram fotografados, inteiramente expostos `a intemperie, tomando sol, chuva, ventos, calor e frio, por mais de quatro anos.
Ha claros, evidentes sinais da passagem do tempo. Na cor cinza, caracteristica de todas madeiras oxidadas, algumas fissuras, algum mofo — mas o lenho propriamente esta integro, e ficaria como novo se devidamente tratado. Enquanto isso, a cola epoxi bicomponente da Redelease falhou, um dos parafusos que fixava um braco corroeu-se.
Mas o vagabundissimo pinus, afora o mofo na parte em contato com o piso, ate agora nao foi tocado por nenhum organismo xilofago: nem podridao, nem cupins, nem brocas. Como disse, repito: o lenho sem qualquer protecao esta integro, perfeitamente recuperavel sob a superficie oxidada.
O mesmo nao pode ser dito de uma outra madeira da turma dos vagabundos. Dois tocos de eucalipto que utilizei inicialmente como picador e depois, quando deixei de cortar lenha a machado, como suporte para plantas, esses mostram-se muito, muito mais afetados pelo tempo e os elementos.
Como se ve nas imagens acima, o toco menor `a esquerda foi tao carcomido que acabou abrindo-se espontaneamente ao meio, tendo agora como unica serventia alimentar a lareira. Ja o outro toco `a direita, bem maior, com uns 50-60cm de diametro, ainda resiste mas mostra indisfacaveis sinais de ataque por diversos batalhoes de xilofagos prenunciando nao passarao muitos anos antes de a bromelia que sustenta necessitar outro suporte.
Nao tenho como precisar a idade desses tocos, ate porque quando os trouxe ja estavam bem secos e acinzentados.
De qualquer modo achei valia o registro de como essas essencias usualmente tao desprezadas estao longe de ser tao pereciveis como apregoado. E, sendo bem mais faceis de ser encontradas e entao custando bem menos do que suas parentes mais 'nobres', essas madeiras vagabundas sao muito boa materia prima, e nao apenas para aprendizado e testes, mas — pelo menos na minha sempre desconsideravel opiniao — capazes de oferecer substrato muito melhor estruturado e bem mais duravel do que as chapas sinteticas usualmente empregadas na construcao de moveis.
Afora varios dos moveis que construi ha tempos com tais madeiras e que hoje nada, absolutamente nada, mostram da passagem dos anos, constitui sem querer uma testemunha solida...
Esses restos mostrados ahi nas imagens ao lado (clique nelas para ve-las em maior resolucao) sao o que sobrou do prototipo da replica de uma cadeira de espaldar baixo do Sam Maloof, e cuja construcao foi relatada aqui mesmo, la por dezembro de 2011.
Quando encerrei a construcao do prototipo e parti para construir a versao final da cadeira, as pecas em pinus foram simplesmente deixadas de lado, sem qualquer acabamento ou cuidados de qualquer especie. Esses restos especificamente, o assento e os pes dianteiros, eu acabei utilizando para fazer uma plataforma onde subir, ja nao me lembro mais para que. Quando acabou sua utilidade, foram colocados ahi onde foram fotografados, inteiramente expostos `a intemperie, tomando sol, chuva, ventos, calor e frio, por mais de quatro anos.
Ha claros, evidentes sinais da passagem do tempo. Na cor cinza, caracteristica de todas madeiras oxidadas, algumas fissuras, algum mofo — mas o lenho propriamente esta integro, e ficaria como novo se devidamente tratado. Enquanto isso, a cola epoxi bicomponente da Redelease falhou, um dos parafusos que fixava um braco corroeu-se.
Mas o vagabundissimo pinus, afora o mofo na parte em contato com o piso, ate agora nao foi tocado por nenhum organismo xilofago: nem podridao, nem cupins, nem brocas. Como disse, repito: o lenho sem qualquer protecao esta integro, perfeitamente recuperavel sob a superficie oxidada.
O mesmo nao pode ser dito de uma outra madeira da turma dos vagabundos. Dois tocos de eucalipto que utilizei inicialmente como picador e depois, quando deixei de cortar lenha a machado, como suporte para plantas, esses mostram-se muito, muito mais afetados pelo tempo e os elementos.
Nao tenho como precisar a idade desses tocos, ate porque quando os trouxe ja estavam bem secos e acinzentados.
De qualquer modo achei valia o registro de como essas essencias usualmente tao desprezadas estao longe de ser tao pereciveis como apregoado. E, sendo bem mais faceis de ser encontradas e entao custando bem menos do que suas parentes mais 'nobres', essas madeiras vagabundas sao muito boa materia prima, e nao apenas para aprendizado e testes, mas — pelo menos na minha sempre desconsideravel opiniao — capazes de oferecer substrato muito melhor estruturado e bem mais duravel do que as chapas sinteticas usualmente empregadas na construcao de moveis.
quinta-feira, 2 de junho de 2016
Lumbago, e velha e nova dividas
A conclusao da mesinha feita para completar o ambiente do que passei a chamar de "antro das madeiras", cuja construcao relatei nas postagens imediatamente anteriores a esta, teve um efeito colateral deveras desagradavel...
Quando terminada, sem os vidros do tampo o movel ficou pesando ao redor de uns 30-35 quilos. Transportei-o sozinho, em bracos, desde a oficina ate o "antro" e, quando coloquei-lhe os vidros e fui dar uma ultima examinada nos detalhes antes de povoa-lo com as pecas que formam meu, mm, arquivo de aprendizado, reparei que o polimento da cera ainda deixava bastante a desejar. Com o que, voltei `a oficina e trouxe um par de furadeiras e boinas para bem acabar a obra.
O detalhe e' que aquela e' uma mesa baixa. Medi agorinha: 45cm de altura o tampo e 21cm a prateleira sob ele, esta ultima evidente que o principal alvo do polimento adicional. Polimento que me consumiu uma boa meia hora — porque se ha algo que praticamente obriga a gente a caprichar e' polimento, atencao aos minimos detalhes, agora mais um pouquinho, e tudo, e tal...
O problema foi que, absorvido e embalado pelo canto das furadeiras e o resultado das boinas, simplesmente esqueci dos anos sobre meus ombros. Lamentavel, muito lamentavelmente... os anos nao se esqueceram de nada. Quando levantei do polimento para pegar os vidros e as pecas que iriam completar a mesa ja notei um nitido desconforto la na base da coluna, uma certa dificuldade em ficar bem ereto.
Nao posso nem dizer que fiquei surpreso com o que se seguiu; nao e' exatamente incomum eu cometer a estupidez de esquecer que meus cinquenta comecaram em outro seculo. Mas dessa vez a coisa apertou. Para dormir naquela noite, e em varias que se seguiram, tive que apelar para analgesicos porrada. Nos dois dias seguintes, quando fosse inevitavel caminhar me socorri de um sarrafo como bengala, e a atividade fisica mais intensa que era capaz de exercer de forma indolor, alem de respirar, era acertar a regulagem da cadeira onde fui morar.
Dez dias depois, hoje e' o primeiro dia em que nao sou continuamente lembrado da minha besteira, (quase) tudo (praticamente) de volta `a normalidade.
Mas para alem das minhas lamentacoes, o que talvez possa interessar a algum de meus sete fieis leitores e', entre as inumeras atividades, mm, intelectuais a que me dediquei enquanto as fisicas estavam expressamente proibidas, uma delas foi deixar o separador de orelhas pesquisando o que eu poderia fazer quando a vinganca fosse possivel na oficina (ta bom, ta bom, depois de fazer a limpeza geral que ainda estou devendo desde que terminei a mesa).
Dai que lembrei: La bem quando havia iniciado minhas (re)investidas em brincar com madeira, para buscar inspiracao e ter no que treinar minhas nascentes habilidades pareceu-me uma boa ideia aproveitar uma oferta que entao a Rockler fez, um belo desconto no plano de montagem e kit de ferragens para construcao da sua replica de geladeira antiga; essa ahi da foto `a esquerda.
O entusiasmo todavia arrefeceu fortemente quando a encomenda chegou. Nao apenas pela complexidade dos planos ultradetalhados e incluindo uma errata disponivel na Rede, mas principalmente pela quantidade de boa madeira que seria necessaria e eu nao dispunha. E, devo confessar, tambem pela intimidadora qualidade das ferragens made in Taiwan. Nao sou avesso a tentar fazer coisa que considero um pouco alem do que imagino ser minha capacidade; afinal, e' assim que se aprende. Mas minha avaliacao ante a excelencia das pecas e o projeto supostamente para nivel intermediario de marcenaria foi... de que eu era um iniciante. Muita areia pra minha carrocinha, em outras palavras.
Dai, o projeto impresso nao lembro exatamente mas talvez, suponho, pode ser que em uma de minhas limpezas de papelada velha tenha considerado eu nunca iria fazer aquilo daquele jeito mesmo e... devo ter enviado o dito cujo para o Arquivo Morto mantido pela Limpeza Urbana.
Ja as ferragens do kit foram embrulhadas e guardadas num canto de armario, para nao juntar poeira. E foi com elas e com a ideia de cumprir o projeto nunca iniciado de uma replica de geladeira antiga que o separador optou por municiar-me para eu me vingar de minha imbecilidade. Ha pouco, fui ao armario, abri o pacote e coloquei os envelopes sobre a bancada. Estava tudo la, o que mostra a foto `a esquerda:
Os oito primeiros envelopes de baixo para cima (mais ampliados na imagem `a direita) contem, tudo em latao polido, uma etiqueta com a marca da geladeira, um abridor de garrafas, tres fechos de portas e tres pares de dobradicas. Os demais envelopes sao ferragens para fixar os prendedores de prateleiras, aquelas coisas compridas — e que nao pretendo incluir no projeto porque prefiro sempre que possivel prateleiras fixas.
E e' isso por enquanto. A madeira proposta no projeto impresso que 'perdi', lembro, era carvalho cortado radialmente. Mas nao pretendo seguir a memoria do projeto original, mas sim furungar as memorias da minha infancia quando tinhamos em casa uma dessas geladeiras que operavam com gelo, sem eletricidade. Hmmm... Lembro era de uma madeira escura e avermelhada, as ferragens prateadas...
Bueno, so que tenho ferragens douradas. Logo, posso usar a madeira (ou bem mais provavelmente aS madeiraS) que bem entender, hehehe.
Quando terminada, sem os vidros do tampo o movel ficou pesando ao redor de uns 30-35 quilos. Transportei-o sozinho, em bracos, desde a oficina ate o "antro" e, quando coloquei-lhe os vidros e fui dar uma ultima examinada nos detalhes antes de povoa-lo com as pecas que formam meu, mm, arquivo de aprendizado, reparei que o polimento da cera ainda deixava bastante a desejar. Com o que, voltei `a oficina e trouxe um par de furadeiras e boinas para bem acabar a obra.
O detalhe e' que aquela e' uma mesa baixa. Medi agorinha: 45cm de altura o tampo e 21cm a prateleira sob ele, esta ultima evidente que o principal alvo do polimento adicional. Polimento que me consumiu uma boa meia hora — porque se ha algo que praticamente obriga a gente a caprichar e' polimento, atencao aos minimos detalhes, agora mais um pouquinho, e tudo, e tal...
O problema foi que, absorvido e embalado pelo canto das furadeiras e o resultado das boinas, simplesmente esqueci dos anos sobre meus ombros. Lamentavel, muito lamentavelmente... os anos nao se esqueceram de nada. Quando levantei do polimento para pegar os vidros e as pecas que iriam completar a mesa ja notei um nitido desconforto la na base da coluna, uma certa dificuldade em ficar bem ereto.
Nao posso nem dizer que fiquei surpreso com o que se seguiu; nao e' exatamente incomum eu cometer a estupidez de esquecer que meus cinquenta comecaram em outro seculo. Mas dessa vez a coisa apertou. Para dormir naquela noite, e em varias que se seguiram, tive que apelar para analgesicos porrada. Nos dois dias seguintes, quando fosse inevitavel caminhar me socorri de um sarrafo como bengala, e a atividade fisica mais intensa que era capaz de exercer de forma indolor, alem de respirar, era acertar a regulagem da cadeira onde fui morar.
Dez dias depois, hoje e' o primeiro dia em que nao sou continuamente lembrado da minha besteira, (quase) tudo (praticamente) de volta `a normalidade.
Mas para alem das minhas lamentacoes, o que talvez possa interessar a algum de meus sete fieis leitores e', entre as inumeras atividades, mm, intelectuais a que me dediquei enquanto as fisicas estavam expressamente proibidas, uma delas foi deixar o separador de orelhas pesquisando o que eu poderia fazer quando a vinganca fosse possivel na oficina (ta bom, ta bom, depois de fazer a limpeza geral que ainda estou devendo desde que terminei a mesa).
Dai que lembrei: La bem quando havia iniciado minhas (re)investidas em brincar com madeira, para buscar inspiracao e ter no que treinar minhas nascentes habilidades pareceu-me uma boa ideia aproveitar uma oferta que entao a Rockler fez, um belo desconto no plano de montagem e kit de ferragens para construcao da sua replica de geladeira antiga; essa ahi da foto `a esquerda.
O entusiasmo todavia arrefeceu fortemente quando a encomenda chegou. Nao apenas pela complexidade dos planos ultradetalhados e incluindo uma errata disponivel na Rede, mas principalmente pela quantidade de boa madeira que seria necessaria e eu nao dispunha. E, devo confessar, tambem pela intimidadora qualidade das ferragens made in Taiwan. Nao sou avesso a tentar fazer coisa que considero um pouco alem do que imagino ser minha capacidade; afinal, e' assim que se aprende. Mas minha avaliacao ante a excelencia das pecas e o projeto supostamente para nivel intermediario de marcenaria foi... de que eu era um iniciante. Muita areia pra minha carrocinha, em outras palavras.
Dai, o projeto impresso nao lembro exatamente mas talvez, suponho, pode ser que em uma de minhas limpezas de papelada velha tenha considerado eu nunca iria fazer aquilo daquele jeito mesmo e... devo ter enviado o dito cujo para o Arquivo Morto mantido pela Limpeza Urbana.
Ja as ferragens do kit foram embrulhadas e guardadas num canto de armario, para nao juntar poeira. E foi com elas e com a ideia de cumprir o projeto nunca iniciado de uma replica de geladeira antiga que o separador optou por municiar-me para eu me vingar de minha imbecilidade. Ha pouco, fui ao armario, abri o pacote e coloquei os envelopes sobre a bancada. Estava tudo la, o que mostra a foto `a esquerda:
Os oito primeiros envelopes de baixo para cima (mais ampliados na imagem `a direita) contem, tudo em latao polido, uma etiqueta com a marca da geladeira, um abridor de garrafas, tres fechos de portas e tres pares de dobradicas. Os demais envelopes sao ferragens para fixar os prendedores de prateleiras, aquelas coisas compridas — e que nao pretendo incluir no projeto porque prefiro sempre que possivel prateleiras fixas.
E e' isso por enquanto. A madeira proposta no projeto impresso que 'perdi', lembro, era carvalho cortado radialmente. Mas nao pretendo seguir a memoria do projeto original, mas sim furungar as memorias da minha infancia quando tinhamos em casa uma dessas geladeiras que operavam com gelo, sem eletricidade. Hmmm... Lembro era de uma madeira escura e avermelhada, as ferragens prateadas...
Bueno, so que tenho ferragens douradas. Logo, posso usar a madeira (ou bem mais provavelmente aS madeiraS) que bem entender, hehehe.
Mas, claro, antes de qualquer coisa tenho de consultar o travesseiro.
domingo, 22 de novembro de 2015
Corpo do terceiro armario, pronto
Faltando apenas construir e colocar-lhe as portas, o corpo do terceiro armario feito para substituir meu closet infestado esta pronto e acabado...
Nao havendo nada de mais especial ou chamativo no processo construtivo em si, sendo em essencia o movel nada mais que uma caixa com divisorias, resolvi aproveitar essa postagem para salientar dois aspectos mais gerais que, considerando algumas perguntas que andei recebendo, talvez possam interessar algum de meus sete fieis leitores.
Primeiro, uma caracteristica da madeira do cedro-rosa. Em funcao de fenomeno fisico ligado `a dispersao da luz refletida pelos veios ( que produz uma iridescencia cujo nome tecnico e' chatoyancy, em frances), conforme o angulo com que se observa esse lenho altera sua cor e sua 'luminosidade', resultando um efeito tridimensional altamente atraente. Que tentei ilustrar (sem muito sucesso, e' verdade) na serie de imagens abaixo, tomadas uma apos a outra enquanto me deslocava e com isso alterava o angulo do ponto de vista. (Como sempre, clique nas imagens para ve-las em maior resolucao).
Como e' obvio, quanto mais convolutos, revessos, revoltos forem os veios, mais chamativo, mais acentuadamente se manifestara tal efeito.
O outro ponto e' quanto `a aplicacao da goma-laca, um de meus acabamentos prediletos. E' bem sabido, do pincel `a pistola ha inumeras diferentes tecnicas de aplicar-se essa laca. A que por larga margem, para o meu gosto, oferece a melhor praticidade e muito bons resultados e' a aplicacao com um trapo que nao solte pelos. Bem molhado, quase escorrendo, nas primeiras demaos e progressivamente mais enxuto nas seguintes, aplicado com movimentos circulares, e' como eu faco. Tres ou quatro demaos com intervalos de 20-30 minutos entre elas, deixar secar por par de horas, aplicar bem levemente um lixa fina, grana 320 a 600 conforme desajado acabamento mais ou menos brilhante, deixar secar uma outra hora e repetir o processo tantas vezes quanto apetecer.
Nunca aplicar com tempo muito umido: a umidade 'branqueia' a goma-laca e ahi e' um PROBLEMAO!
Ha quem diga que se deve usar luvas para proteger as maos ao empregar-se essa tecnica. Eu nao vejo por que.
A goma-laca em si e' inerte, o que ha de inofensivo, tanto que e' utilizada para revestimento de medicamentos e alimentos (por exemlo, M&M®, mentos® e por ahi afora), e o solvente e' alcool etilico.
E nao me incomoda nada ficar com a mao coberta de laca. Nao sai com agua, e' verdade, mas no final do dia, antes do banho, um pano com alcool remove o grosso. O que fica, se ficar, sai com o tempo, hehe.
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segunda-feira, 13 de julho de 2015
Um pouco sobre pinus (e pinho)
Com o clima aqui no portinho simplesmente vetando qualquer ideia de fazer algo fora de casa, pensei aproveitar para expandir um pouco a resposta a um leitor que me indagou
Bom, para inicio de conversa, na America do Norte e no norte da Europa existe um sem-numero de especies de pinus, enquanto que aqui dispomos comercialmente de duas especies, o Pinus elliotti e o Pinus taeda. O "pinus norte-americano de carpintaria" a que me referi e' o que e' utilizado por la para preparar as tantas variedades de tamanhos padronizados para a industria de construcao (2x2, 2x4, 2x8, etc.), o que eles chamam SPF lumber — um lenho relativamente barato e obtido a partir de variadas especies de coniferas: pinheiros, abetos, ciprestes, etc.
Dentre essas tantas especies, as duas que "importamos" e naturalizamos originam-se do sudeste dA Matriz e pertencem ao grupo que por la denominam de southern yellow pine (pinus amarelo do sul). Ao contrario do mais comum pinus branco, a variedade amarela la esta entre as mais duras e mais resistentes; e' amplamente empregada na construcao civil, incluindo as montanhas russas feitas de madeira e, com o uso de stains, e' por vezes travestida inclusive para passar-se por madeiras mais nobres, como carvalho.
Alias, se formos consultar tres parametros — peso seco medio, dureza Janka e modulo de ruptura — em The Wood Database, veremos os seguintes valores:
P. elliotti (slash pine)
peso seco medio: 655 kg/m³
dureza Janka: 3.380 N
modulo de ruptura: 112,4 MPa
P. taeda (loblolly pine)
peso seco medio: 570 kg/m³
dureza Janka: 3.070 N
modulo de ruptura: 88,3 MPa
Se formos comparar com nosso pinho nativo, o pinheiro do Parana, veremos
Pinheiro do Parana (Araucaria angustifolia)
peso seco medio: 545 kg/m³
dureza Janka: 3.610 N
modulo de ruptura: 92,3 MPa
O que se traduziria em o lenho desses pinus na origem e' mais pesado do que nosso pinho, regulando na resistencia e algo abaixo na dureza. A experiencia, a observacao demonstra no entanto, os lenhos de pinus que produzimos aqui sao bem mais leves, muito, muito mais moles e muitissimo menos resistentes do que pinho.
Obviamente, a madeira de la nao se trata do mesmo lenho que obtemos aqui dos nossos pinus — ou alguem aqui seria voluntario para dar uma volta em uma montanha russa feita toda com o nosso pinus?
Mas entao por que razao ou razoes a mesma exata especie vegetal que cresce no sudeste dA Matriz apresenta tao diferentes caracteristicas quando cresce aqui no sul/sudeste de pindorama?
Sem querer — ate porque nao seria capaz, se quisesse — entrar em detalhamentos tecnocientificos (coisas como traqueideos, lenho juvenil, lenho adulto, meristema, etc.), acho que da para resumir a opera afirmando que por razoes relacionadas a clima e a solo fundamentalmente, resulta essas especies de pinus tem melhores condicoes de desenvolvimento aqui do que em sua terra de origem, e entao crescem aqui mais rapido e mais intensamente do que la. Porem esse crescimento mais facil e mais rapido resulta em um lenho que contem menor teor de lignina, a macromolecula que, associada `a celulose, e' responsavel pela resistencia e rigidez dos tecidos vegetais.
Ou seja, por aqui os pinus "importados" se reproduzem e se desenvolvem melhor, mais facil e mais rapidamente. Nao por acaso pindorama e' hoje um dos maiores, talvez o maior exportador mundial de compensado de pinus. A madeira que produzem, no entanto, tem menor dureza e resistencia do que a produzida por suas irmas na regiao nativa, por ter menos necessidade de produzir lignina para enrijecer-se em defesa a piores condicoes ambientais. Em compensacao produzem maior quantidade de celulose e resina, derivados com importante participacao no bolo economico.
Ainda, se a madeira de pinus nao e', como certamente nao e', de primeira, por outro lado e' sustentavel, farta e barata. E acaba ajudando a evitar ou reduzir o consumo de lenhos mais nobres, muito deles ate mesmo ameacados de extincao.
E para encerrar, uma curiosidade, caso o leitor mais desavisado ainda considere o pinus uma arvorezinha vagabunda: Talvez valha apontar o genoma, o conjunto de gens que formam a heranca genetica de uma especie, do Pinus taeda e' o maior de todos os genomas ate hoje conhecidos, mais de sete vezes maior do que o humano! E uma arvorezinha vagabunda dessas deixada por conta propria... vive em media 200 anos — quase tres vezes a espectativa de vida media de certos mamiferos que se presumem superiores, hehehe...
- (...) li que na sua postagem você faz referência ao "pinus norte-americano de carpintaria" . Você saberia dizer qual as diferenças desse pinus em relação ao nosso? Imagino que devem existir algumas em relação ao tratamento mais adequado, secagem etc. Mas, em relação às características básicas, dureza, resistência... será que existem muitas?
![]() |
Pinus elliotti, nA Matriz |
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Pinus taeda, nA Matriz |
Dentre essas tantas especies, as duas que "importamos" e naturalizamos originam-se do sudeste dA Matriz e pertencem ao grupo que por la denominam de southern yellow pine (pinus amarelo do sul). Ao contrario do mais comum pinus branco, a variedade amarela la esta entre as mais duras e mais resistentes; e' amplamente empregada na construcao civil, incluindo as montanhas russas feitas de madeira e, com o uso de stains, e' por vezes travestida inclusive para passar-se por madeiras mais nobres, como carvalho.
Alias, se formos consultar tres parametros — peso seco medio, dureza Janka e modulo de ruptura — em The Wood Database, veremos os seguintes valores:
P. elliotti (slash pine)
peso seco medio: 655 kg/m³
dureza Janka: 3.380 N
modulo de ruptura: 112,4 MPa
P. taeda (loblolly pine)
peso seco medio: 570 kg/m³
dureza Janka: 3.070 N
modulo de ruptura: 88,3 MPa
Se formos comparar com nosso pinho nativo, o pinheiro do Parana, veremos
Pinheiro do Parana (Araucaria angustifolia)
peso seco medio: 545 kg/m³
dureza Janka: 3.610 N
modulo de ruptura: 92,3 MPa
O que se traduziria em o lenho desses pinus na origem e' mais pesado do que nosso pinho, regulando na resistencia e algo abaixo na dureza. A experiencia, a observacao demonstra no entanto, os lenhos de pinus que produzimos aqui sao bem mais leves, muito, muito mais moles e muitissimo menos resistentes do que pinho.
Obviamente, a madeira de la nao se trata do mesmo lenho que obtemos aqui dos nossos pinus — ou alguem aqui seria voluntario para dar uma volta em uma montanha russa feita toda com o nosso pinus?
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Araucaria angustifolia, o nosso pinho |
Mas entao por que razao ou razoes a mesma exata especie vegetal que cresce no sudeste dA Matriz apresenta tao diferentes caracteristicas quando cresce aqui no sul/sudeste de pindorama?
Sem querer — ate porque nao seria capaz, se quisesse — entrar em detalhamentos tecnocientificos (coisas como traqueideos, lenho juvenil, lenho adulto, meristema, etc.), acho que da para resumir a opera afirmando que por razoes relacionadas a clima e a solo fundamentalmente, resulta essas especies de pinus tem melhores condicoes de desenvolvimento aqui do que em sua terra de origem, e entao crescem aqui mais rapido e mais intensamente do que la. Porem esse crescimento mais facil e mais rapido resulta em um lenho que contem menor teor de lignina, a macromolecula que, associada `a celulose, e' responsavel pela resistencia e rigidez dos tecidos vegetais.
Ou seja, por aqui os pinus "importados" se reproduzem e se desenvolvem melhor, mais facil e mais rapidamente. Nao por acaso pindorama e' hoje um dos maiores, talvez o maior exportador mundial de compensado de pinus. A madeira que produzem, no entanto, tem menor dureza e resistencia do que a produzida por suas irmas na regiao nativa, por ter menos necessidade de produzir lignina para enrijecer-se em defesa a piores condicoes ambientais. Em compensacao produzem maior quantidade de celulose e resina, derivados com importante participacao no bolo economico.
Ainda, se a madeira de pinus nao e', como certamente nao e', de primeira, por outro lado e' sustentavel, farta e barata. E acaba ajudando a evitar ou reduzir o consumo de lenhos mais nobres, muito deles ate mesmo ameacados de extincao.
E para encerrar, uma curiosidade, caso o leitor mais desavisado ainda considere o pinus uma arvorezinha vagabunda: Talvez valha apontar o genoma, o conjunto de gens que formam a heranca genetica de uma especie, do Pinus taeda e' o maior de todos os genomas ate hoje conhecidos, mais de sete vezes maior do que o humano! E uma arvorezinha vagabunda dessas deixada por conta propria... vive em media 200 anos — quase tres vezes a espectativa de vida media de certos mamiferos que se presumem superiores, hehehe...
segunda-feira, 23 de março de 2015
Tapando o furo
A ideia de aplicar cola formol-ureia nas areas da superficie inferior do tampo da pia da cozinha que estavam-se esfarelando funcionou parcialmente. No entanto algumas areas nao ficaram suficientemente embebidas na cola, de forma que sobraram regioes ainda com superficie esfarelenta e a maioria das areas 'fofas' pelo embebimento com umidade permaneciam amolecidas...
Resolvi entao tentar uma outra tatica, e esta funcionou perfeitamente, tanto para amalgamar todos os farelinhos da superficie como para enrijecer os 'afofamentos': Apliquei duas generosas demaos, a primeira bem diluida para penetrar bem, de tinta epoxi. A lateral esquerda do tampo, muito menos afetada pela umidade, ficou recuperada quase cem porcento. A lateral direita necessitou inclusive reposicao de alguns segmentos do aglomerado que cairam durante a retirada do balcao — reposicao essa que devo confessar ficou longe, muito longe de algo realmente, mm, apresentavel...
(Clique nas imagens para ve-las em maior resolucao)
A parte reposta do aglomerado ficou nao apenas visualmente feia (algo totalmente secundario, ja que nunca sera visto quando a pia for recolocada) mas formando uma saliencia consideravel, o que certamente interferiria no apoio do tampo. Entre tantas possiveis, a solucao que optei foi afundar aquela parte a marteladas, visto o aglomerado ali estar bem menos denso e entao tornei a aplicar duas demaos de tinta epoxi para 'estabilizar' a coisa.
Como imagino a foto `a esquerda demonstra, continuou horrivel, hehe, mas definitivamente sem qualquer ressalto; pelo contrario um leve afundamento.
O passo seguinte foi, pensando em criar uma superficie relativamente homogenea onde o tampo vai-se apoiar, posicionar e fixar umas tiras de compensado de 4mm sob o tampo, nas areas onde ocorrera tal apoio. As tiras foram fixadas com cola expansiva de poliuretano e 'clampeadas' com parafusos, a maioria dos quais sera removida, e cortadas suficientemente largas para oferecer margem de manobra para as taboas de pinho que irao formar a base de apoio.
Resolvi entao tentar uma outra tatica, e esta funcionou perfeitamente, tanto para amalgamar todos os farelinhos da superficie como para enrijecer os 'afofamentos': Apliquei duas generosas demaos, a primeira bem diluida para penetrar bem, de tinta epoxi. A lateral esquerda do tampo, muito menos afetada pela umidade, ficou recuperada quase cem porcento. A lateral direita necessitou inclusive reposicao de alguns segmentos do aglomerado que cairam durante a retirada do balcao — reposicao essa que devo confessar ficou longe, muito longe de algo realmente, mm, apresentavel...
(Clique nas imagens para ve-las em maior resolucao)
![]() |
O tampo apos duas demaos de tinta epoxi |
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A porcao menos afetada pela umidade |
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O lado 'ruim'; no circulo vermelho a area do aglomerado que necessitou ser 'reposta' |
A parte reposta do aglomerado ficou nao apenas visualmente feia (algo totalmente secundario, ja que nunca sera visto quando a pia for recolocada) mas formando uma saliencia consideravel, o que certamente interferiria no apoio do tampo. Entre tantas possiveis, a solucao que optei foi afundar aquela parte a marteladas, visto o aglomerado ali estar bem menos denso e entao tornei a aplicar duas demaos de tinta epoxi para 'estabilizar' a coisa.
Como imagino a foto `a esquerda demonstra, continuou horrivel, hehe, mas definitivamente sem qualquer ressalto; pelo contrario um leve afundamento.
O passo seguinte foi, pensando em criar uma superficie relativamente homogenea onde o tampo vai-se apoiar, posicionar e fixar umas tiras de compensado de 4mm sob o tampo, nas areas onde ocorrera tal apoio. As tiras foram fixadas com cola expansiva de poliuretano e 'clampeadas' com parafusos, a maioria dos quais sera removida, e cortadas suficientemente largas para oferecer margem de manobra para as taboas de pinho que irao formar a base de apoio.
Com o que dei o tampo por 'ressucitado', hehe. Agora, iniciar a construcao da base...
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quarta-feira, 18 de junho de 2014
Relogio I - feito!
(Como sempre, clicar nas imagens abre-as em maior definicao.)
Corrigidos basicamente com o uso de um estilete os defeitos mencionados na postagem anterior, nos cortes efetuados com a tupia, hora de efetuar a colagem da frente e da traseira do movel do relogio. Tratando-se obviamente de um projeto extremamente experimental, resolvi experimentar e efetuar as colagens das ripas utilizando... fita de dupla face VHB (very high bond) da 3M, que tem substrato de espuma de acrilico transparente.
Saber que essa fita de altissima adesividade tem sido usada mundo afora inclusive para colagem de vidros externos em arranha-ceus de centos andares e outros usos igualmente de alta exigencia, a conveniencia de uma colagem sem necessitar lambusos, grampos e espera por secar, tudo isso associado ao fato de a colagem final — em funcao das caracteristicas do substrato da fita — apresentar sempre uma certa flexibilidade, foram os determinantes da opcao. Barbadinha: colar a fita nos rasgos, remover o plastico verde, juntar as pecas e... pronto!
Traseira e frente montadas...
Facil demais, claro, e imaginei a Implicancia Natural das Coisas nao ia deixar tudo assim tao barato!
Por via das duvidas eu resolvi aplicar nos cantos dos dois quadros, frente e fundos do movel, uns parafusinhos. So por seguranca, voces sabem como e'. Testei tudo, tudo bem colado, apenas uma leve mobilidade como esperado quando forcando os quadros para os lados, para fora do esquadro.
Para evitar que em funcao das muitas manipulacoes necessarias no resto da montagem a madeira acabasse se sujando, resolvi dar uma lixada nas pecas e aplicar umas duas demaos de goma-laca como selador/protetor.
Batata!
Foi aplicar a laca e constatar que o alcool e' solvente do adesivo da fita VHB; os quadros que estavam bem firmezinhos, logo apos a aplicacao da goma-laca ficaram todos guenzos, parecia que estavam colados com gelatina. Droga! Que fazer? Desmontar tudo? Sabendo o quao dificil e' remover aquela fita, iria levar um tempao e muito provavelmente varias das ripinhas iam acabar se quebrando no processo; bem provavel que fosse levar menos tempo cortar todas as pecas de novo. De todo modo, quando a laca secou, o alcool evaporou, a cola pegou de novo. Nao tao firme, me pareceu, mas nao estava mais a coisa molenga que estava logo depois da pintura.
Ocorreu-me fixar as emendas, sem remover as fitas, aplicando parafusos em todas. Mas ia ficar horrivel, pensei. Eu nao tenho nada contra parafusos e nao raro ate os emprego como enfeites, mas aquelas ripinhas finas tapadas de parafusos ia ficar parecendo um troco saido de livro do Frankenstein. Mas...
Para ahi! Se nao parafusos, quem sabe cavilhas? Fiz um teste e... funcionou. Furinho de 2,5mm, bastante cola e, como cavilha... palito de dentes!
Resultou um belo metodo. Tao bom que acabei empregando a 'tecnica' em praticamente todas as inumeras juncoes que se seguiram — como imagino possa ser visto ahi na foto `a direita e, reparando bem, em todas as demais fotos desta postagem.
A partir dai fiz uma base onde apoiar a frente e a traseira do movel, fixadas no esquadro com grampos, e utilizei as ripinhas para uni-las, tudo fixado com cola PVA e, claro, palitos. No topo, uma colagem de um desdobro em 'livro aberto' do que sobrara da prancha de onde cortei as ripinhas. Adicionados uns restinhos de maracatiara para fazer um grau, e estava pronta a estrutura do movel.
Feitas e secas todas as colagens, lixa grossa, lixa media, lixa fina e aplicacao de goma-laca a pincel.
Obviamente goma-laca a pincel nao da o mesmo acabamento delicado que se consegue com boneca, mas vamos combinar que usar boneca nesse movel e' uma forma das mais crueis de tortura chinesa — embora eu fique imaginando que aplicar cera e tentar lustrar possivelmente fosse ainda pior, hehe.
De qualquer maneira, para o meu gosto pelo menos o resultado ficou ate bem aceitavel.
Pronto o movel, colar uns numeros no mostrador, aparafusar a maquina no lugar, colocar o pendulo e os ponteiros e...
Corrigidos basicamente com o uso de um estilete os defeitos mencionados na postagem anterior, nos cortes efetuados com a tupia, hora de efetuar a colagem da frente e da traseira do movel do relogio. Tratando-se obviamente de um projeto extremamente experimental, resolvi experimentar e efetuar as colagens das ripas utilizando... fita de dupla face VHB (very high bond) da 3M, que tem substrato de espuma de acrilico transparente.
Saber que essa fita de altissima adesividade tem sido usada mundo afora inclusive para colagem de vidros externos em arranha-ceus de centos andares e outros usos igualmente de alta exigencia, a conveniencia de uma colagem sem necessitar lambusos, grampos e espera por secar, tudo isso associado ao fato de a colagem final — em funcao das caracteristicas do substrato da fita — apresentar sempre uma certa flexibilidade, foram os determinantes da opcao. Barbadinha: colar a fita nos rasgos, remover o plastico verde, juntar as pecas e... pronto!
Traseira e frente montadas...

Facil demais, claro, e imaginei a Implicancia Natural das Coisas nao ia deixar tudo assim tao barato!
Por via das duvidas eu resolvi aplicar nos cantos dos dois quadros, frente e fundos do movel, uns parafusinhos. So por seguranca, voces sabem como e'. Testei tudo, tudo bem colado, apenas uma leve mobilidade como esperado quando forcando os quadros para os lados, para fora do esquadro.
Para evitar que em funcao das muitas manipulacoes necessarias no resto da montagem a madeira acabasse se sujando, resolvi dar uma lixada nas pecas e aplicar umas duas demaos de goma-laca como selador/protetor.
Batata!
Foi aplicar a laca e constatar que o alcool e' solvente do adesivo da fita VHB; os quadros que estavam bem firmezinhos, logo apos a aplicacao da goma-laca ficaram todos guenzos, parecia que estavam colados com gelatina. Droga! Que fazer? Desmontar tudo? Sabendo o quao dificil e' remover aquela fita, iria levar um tempao e muito provavelmente varias das ripinhas iam acabar se quebrando no processo; bem provavel que fosse levar menos tempo cortar todas as pecas de novo. De todo modo, quando a laca secou, o alcool evaporou, a cola pegou de novo. Nao tao firme, me pareceu, mas nao estava mais a coisa molenga que estava logo depois da pintura.
Ocorreu-me fixar as emendas, sem remover as fitas, aplicando parafusos em todas. Mas ia ficar horrivel, pensei. Eu nao tenho nada contra parafusos e nao raro ate os emprego como enfeites, mas aquelas ripinhas finas tapadas de parafusos ia ficar parecendo um troco saido de livro do Frankenstein. Mas...
Para ahi! Se nao parafusos, quem sabe cavilhas? Fiz um teste e... funcionou. Furinho de 2,5mm, bastante cola e, como cavilha... palito de dentes!
Resultou um belo metodo. Tao bom que acabei empregando a 'tecnica' em praticamente todas as inumeras juncoes que se seguiram — como imagino possa ser visto ahi na foto `a direita e, reparando bem, em todas as demais fotos desta postagem.
A partir dai fiz uma base onde apoiar a frente e a traseira do movel, fixadas no esquadro com grampos, e utilizei as ripinhas para uni-las, tudo fixado com cola PVA e, claro, palitos. No topo, uma colagem de um desdobro em 'livro aberto' do que sobrara da prancha de onde cortei as ripinhas. Adicionados uns restinhos de maracatiara para fazer um grau, e estava pronta a estrutura do movel.
Feitas e secas todas as colagens, lixa grossa, lixa media, lixa fina e aplicacao de goma-laca a pincel.
Obviamente goma-laca a pincel nao da o mesmo acabamento delicado que se consegue com boneca, mas vamos combinar que usar boneca nesse movel e' uma forma das mais crueis de tortura chinesa — embora eu fique imaginando que aplicar cera e tentar lustrar possivelmente fosse ainda pior, hehe.
De qualquer maneira, para o meu gosto pelo menos o resultado ficou ate bem aceitavel.
Pronto o movel, colar uns numeros no mostrador, aparafusar a maquina no lugar, colocar o pendulo e os ponteiros e...
Eis ahi o meu primeiro relogio!
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sábado, 14 de junho de 2014
Relogio I - engatinhando
Como mencionei na minha postagem anterior aqui neste batcanal, fiquei considerando eventualmente construir de um novo gabinete para meu recem chegado relogio de chao. No sentido de acumular conhecimentos pertinentes a tal projeto pensei em comecar por uma tentativa de executar algo ultra simples nesse veio, para ir tirando a temperatura das pedras e espinhos do caminho...
Obviamente, iniciei por adquirir uma maquina a quartzo — barata, bem simplesinha mas com pendulo, hehe — para balizar os tamanhos. O engenho veio com ponteiros e um pendulo (ridiculo, mas um pendulo), e mais nada. Por obvio, o primeiro passo era construiur um dial, um mostrador para o futuro relogio.
A opcao foi pelo design mostrado ahi na foto `a esquerda, um circulo e uma coroa concentricos. O circulo marquei com um compasso seco e serrei na ticotico de bancada em compensado de 5mm; a coroa igualmente, mas em um resto de cedrinho de ~1,5cm de espessura. O circulo, dei acabamento com lixadeira; a coroa, resolvi dar acabamento no torno. O cedrinho, muito pouco denso, nao resistiu e quebrou nos veios curtos, o ponto de menor resistencia:
Primeira licao aprendida, hehehe...
Acabei refazendo a coroa, dessa vez diretamente no torno e utilizando louro-gaucho. (O que, incidentalmente, acabou determinando a opcao por qual madeira utilizar no resto do projeto.)
O mostrador montado, suas medidas determinadas pelo comprimento dos ponteiros da maquina, hora de usa-lo para balizar um design para o relogio.
Utilizei um resto de prancha de louro-gaucho para cortar na serra de mesa uns sarrafinhos de secao quadrada, para a montagem de uma especie de 'gaiola'.
A vantagem dos sarrafos soltos foi possibilitar inumeras variedades de posicionamento, angulos, etc. A desvantagem, se isso for desvantagem, foi o consideravel consumo de tempo no avaliar as inumeras possibilidades.
Eventualmente, acabei me agradando de uma configuracao e ahi foi partir para dimensionar. Direto no projeto, claro, sem medidas, que medir diminui a precisao, hehehe...
A imagem ahi na esquerda mostra o que devera ser a frente do relogio, vista por tras, com os sarrafinhos ja todos cortados nas devidas medidas e configurados no formato que acabei decidindo empregar. (As tabuas de cedrinho `a esquerda e no topo da imagem, fixas `a bancada com grampos, formam um esquadro que emprego para justamente ajudar no esquadrejar pecas para montagens e colagens.)
Tendo entao estabelecido as posicoes das pecas, a proxima etapa foi abrir rasgos nas ripinhas transversais onde encaixar as longitudinais, o que resolvi fazer utilizando a tupia de mesa, pela facilidade e precisao para os cortes repetitivos.
Nao foi uma boa opcao!
Os cortes, de topo, resultaram em consideravel incidencia de esfacelamentos, fraturas e arrancamentos...
A serra de mesa com uma lamina adequada teria oferecido praticamente a mesma precisao e por certo resultados de muito melhor qualidade. Mas a preguica de refazer todo o setup em outra maquina acabou vencendo, e o servico foi feito mesmo na tupia. (As 'matacoes' naturalmente terao de ser corrigidas com lixas, e lixar e' algo que eu gritantemente detesto — o que so vem confirmar, licao que nunca se aprende, preguicoso acaba sempre trabalhando dobrado, hehe.)
De qualquer maneira, mesmo sem a correcao dos defeitos foi possivel fazer uma montagem seca da peca e ja ter-se uma ideia de como ficara a frente do relogio, como pode ser visto ahi na imagem `a direita.
Que e' onde estamos...
Obviamente, o que me tomou uma semana fazer poderia facilmente ser feito em meio dia. Mas muito mais do que fazer, esse tipo de lide consome tempo mesmo e' em pensar, na decisao do que fazer.
Obviamente, iniciei por adquirir uma maquina a quartzo — barata, bem simplesinha mas com pendulo, hehe — para balizar os tamanhos. O engenho veio com ponteiros e um pendulo (ridiculo, mas um pendulo), e mais nada. Por obvio, o primeiro passo era construiur um dial, um mostrador para o futuro relogio.
A opcao foi pelo design mostrado ahi na foto `a esquerda, um circulo e uma coroa concentricos. O circulo marquei com um compasso seco e serrei na ticotico de bancada em compensado de 5mm; a coroa igualmente, mas em um resto de cedrinho de ~1,5cm de espessura. O circulo, dei acabamento com lixadeira; a coroa, resolvi dar acabamento no torno. O cedrinho, muito pouco denso, nao resistiu e quebrou nos veios curtos, o ponto de menor resistencia:

Primeira licao aprendida, hehehe...
Acabei refazendo a coroa, dessa vez diretamente no torno e utilizando louro-gaucho. (O que, incidentalmente, acabou determinando a opcao por qual madeira utilizar no resto do projeto.)
O mostrador montado, suas medidas determinadas pelo comprimento dos ponteiros da maquina, hora de usa-lo para balizar um design para o relogio.
Utilizei um resto de prancha de louro-gaucho para cortar na serra de mesa uns sarrafinhos de secao quadrada, para a montagem de uma especie de 'gaiola'.
A vantagem dos sarrafos soltos foi possibilitar inumeras variedades de posicionamento, angulos, etc. A desvantagem, se isso for desvantagem, foi o consideravel consumo de tempo no avaliar as inumeras possibilidades.
Eventualmente, acabei me agradando de uma configuracao e ahi foi partir para dimensionar. Direto no projeto, claro, sem medidas, que medir diminui a precisao, hehehe...
A imagem ahi na esquerda mostra o que devera ser a frente do relogio, vista por tras, com os sarrafinhos ja todos cortados nas devidas medidas e configurados no formato que acabei decidindo empregar. (As tabuas de cedrinho `a esquerda e no topo da imagem, fixas `a bancada com grampos, formam um esquadro que emprego para justamente ajudar no esquadrejar pecas para montagens e colagens.)
Tendo entao estabelecido as posicoes das pecas, a proxima etapa foi abrir rasgos nas ripinhas transversais onde encaixar as longitudinais, o que resolvi fazer utilizando a tupia de mesa, pela facilidade e precisao para os cortes repetitivos.

Nao foi uma boa opcao!
Os cortes, de topo, resultaram em consideravel incidencia de esfacelamentos, fraturas e arrancamentos...
A serra de mesa com uma lamina adequada teria oferecido praticamente a mesma precisao e por certo resultados de muito melhor qualidade. Mas a preguica de refazer todo o setup em outra maquina acabou vencendo, e o servico foi feito mesmo na tupia. (As 'matacoes' naturalmente terao de ser corrigidas com lixas, e lixar e' algo que eu gritantemente detesto — o que so vem confirmar, licao que nunca se aprende, preguicoso acaba sempre trabalhando dobrado, hehe.)


De qualquer maneira, mesmo sem a correcao dos defeitos foi possivel fazer uma montagem seca da peca e ja ter-se uma ideia de como ficara a frente do relogio, como pode ser visto ahi na imagem `a direita.
Que e' onde estamos...
Obviamente, o que me tomou uma semana fazer poderia facilmente ser feito em meio dia. Mas muito mais do que fazer, esse tipo de lide consome tempo mesmo e' em pensar, na decisao do que fazer.
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