quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Fechando uma porta - I

Um longo hiato desde a ultima postagem. Varios motivos determinaram esse intervalo alargado, mas preponderantemente ponha a culpa no velho e implicante Pedro. O ultimo presente do Patrono do Rio Grande para os habitantes aqui da capital do Continente que lhe leva (ou levava) o nome foi e esta sendo uma onda de calor bagual, tao intensa a ponto de levar em varios dos ultimos dias o portinho a receber a duvidosa honra de ser apontada como "a capital mais quente do pais", e receber a alcunha nada carinhosa de "Forno Alegre".

Engracado? Uma ova!
Podem crer, calor de mais de 40°C com uma umidade relativa ao redor de 20-30% nao constitui uma ambiencia agradavel, mas da para tolerar bem — especialmente com mar por perto e liquidos gaseificados bem gelados disponiveis. Agora, calor de mais de 40°C com umidade relativa acima de 60% — nao raro bem, mas bem acima, la nos 90% — sem nem uma brisa, mesmo com o vivente parado, nao fazendo nada, litros e litros de suor derramando-se e simplesmente recusando-se a evaporar, mas tei...

Nah! E' indescritivel.

E voces — se e' que algum dos meus sete fieis leitores ainda restam por aqui — acham que bem no centro desse abrasador e umido circulo dos infernos eu ia-me animar a brincar de marcenaria?

Pior que sim.
Meu coracao mole (ou meu cerebro deteriorado?) acabou deixando-se convencer e acabei aceitando fazer algo que nunca fiz: construir uma porta. Mentira, claro. Nao, nao que eu estar fazendo uma porta externa de madeira macica seja mentira. Mentira e' que eu tenha tido de ser convencido. Na verdade fui eu quem tomou a iniciativa, movido pelo gosto de fazer uma coisa inedita em minha experiencia. So que, com essa meteorologia, a coisa esta indo devagar, bem devagarinho, que eu posso ser louco de ter decidido construir a porta, mas nao sou burro de me matar no processo, hehe.

--  oOo --

Considerei a principio desenvolver um modelo com paineis e almofadas por ser mais facil de lidar (e provavelmente mais divertido de construir) mas, por razoes de seguranca (vai ser a porta da rua de uma residencia) acabei por optar por um projeto o mais solido possivel: simplesmente tres taboas inteiras e espessas, solidamente emendadas. A madeira escolhida, numa relacao de resistencia/peso/estabilidade/disponibilidade acabou sendo cedro-mara (ou cedrorana, ou qualquer outro de seus tantos nomes).

Cortando as espigas soltas

As taboas, claro, foram cortadas algo mais longas e mais largas do que as medidas finais, e entao aparelhadas no ciclo habitual: uma face aplainada e retificada na desempenadeira onde a seguir um lado adjacente `a face foi plainado no esquadro, dai para a serra de mesa para cortar o outro lado paralelo e entao para o desengrosso para plainar a outra face.

Um retalho, dos cortados ao comprido das taboas, foi igualmente aparelhado para fornecer as espigas soltas a serem empregadas nas emendas.



Aparelhadas as taboas, os lados a serem emendados receberam, utilizando uma plaina manual, uma minima concavidade para obter-se o efeito spring-joint.

Talvez caiba lembrar, esses passos aparentemente simples e banais no entanto tem seus problemas, oriundos das dimensoes e peso das pecas e da necessidade de superficies adequadas nos lados, para uma boa emenda. As longas e pesadas pranchas apresentaram um consideravel desafio, tanto para minhas maquinas projetadas mais para servicos de marcenaria do que carpintaria, como para minha musculatura nao afeita a tao severas cargas. Quero dizer, entremeadas com palavroes, podem somar aos suadores varias, variadas dores em varios lugares da minha anatomia eu nem sabia existiam.

O passo seguinte, naturalmente, foi abrir as furas nos lados das tabuas a serem emendadas. Considerei primeiro empregar a tupia de mao para faze-las, mas duas consultas ao travesseiro acabaram por me convencer eu obteria resultados mais precisos e possivelmente, ao final, com menos trabalho e esforco, utilizando a tecnica manual ensinada por Mr. Paul Sellers empregando formoes. Alem do que, um bom treino...




Acima `a esquerda, tudo pronto para iniciar a marcacao e corte das furas e, `a direita, o inicio da abertura da segunda fura com a primeira, ja pronta, em primeiro plano.



Nas fotos acima, os primeiros lados com as furas abertas e as espigas soltas posicionadas, prontos para a colagem.

Antes de colar no entanto ha de abrir as furas nos lados que faltam e fazer a montagem seca da coisa toda para conferir ajustes e efetuar as correcoes dos desacertos que, inevitavelmente como reza o Murphy, haverao de aparecer.

Coisa para fevereiro...