quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Cumprindo o programa


Bem como estava programado, construi a e fixei a divisoria, usando cavilhas, e montei, igualmente empregando cavilhas, as molduras das prateleiras para o balcao (cuja prancha de muiracatiara que sera o topo aguarda, em segundo plano `a direita na imagem acima).

So para mostrar que a largura das prateleiras esta correta, hehe...

Neste ponto, a carcaca e as prateleiras receberam um preacabamento: Stain nos compensados na area interior e no pinho das prateleiras e entao, no geral, preservativo/cupinicida seguido de uma demao de oleo de tungue. Quando o oleo secar, a ideia e' colocar os apoios para as prateleiras (fixadas com parafusos, hehe) e entao, provavelmente usando cavilhas, partir para a fixacao do tampo. Acho eu — mas ainda estou em duvida se antes de posicionar o tampo devo ou nao colocar o fundo...


Por que perder tempo com um preacabamento a essas alturas?

Bueno, na verdade o movel esta sendo construido absolutamente sem qualquer projeto, basicamente inspirado pelas madeiras que disponho. Como decidi fazer a carcaca com pinho freijo como madeira primaria, um lenho que nunca antes tinha utilizado, e ainda nao tenho a menor ideia de design para as portas, quis oferecer ao separador de orelhas uma ideia mais aproximada de como ficara o movel, nao apenas com tampo e fundo colocados, mas principalmente com uma visao mais precisa de como ficarao as cores, para tentar evitar ele me apronte alguma. Alem disso, com o preacabamento evita-se possiveis manchas dificeis de remover, tanto causadas por maos sujas, ou respingos, como por passarinhos que nao raro costumam fazer poleiro dos moveis na 'oficina'.

Nada garante o futuro nao me reserva desastres, claro, mas ate aqui os casamentos das diferentes essencias nao parecem conter maiores estremecimentos. Pelo menos como veem os meus olhos...





segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Delirio cavilhar

Tendo, como comentado na postagem anterior, efetuado a montagem das laterais na base do balcao utilizando cavilhas constatei a tecnica de construir, seguindo as orientacoes publicadas por James Krenov em seu The Fine Art of Cabinetmaking, um jig para posicionar as cavilhas e' efetivo, funciona. Mas da um trabalhao, toma um monte de tempo, e' irritantemente tedioso. Dai que, contemplando continuar utilizando cavilhas nas emendas, para evitar a enchecao (ou aproveitando o pretexto, hehe) de ter de construir e calibrar um jig para cada emenda, acabei adquirindo um jig comercial de posicionamento de cavilhas, o modelo # 08350 da JessEm (uma visao geral de seu emprego pode ser vista nesse video do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=A3tE61O0zzk).

O jig da JessEm
De posse do brinquedo novo, e' claro que 'tive' que fazer praticamente todas as emendas das pecas para formar a carcaca do movel utilizando cavilhas e, clarissimo, empregando a nova ferramenta a cada passo. O resultado certamente foi o mesmo, a mesma precisao e praticamente a mesma maleabilidade permitida pela tecnica ensinada por Mestre Krenov. Mas o desempenho... Que diferenca!

Uma curva de aprendizado muitissimo mais plana e uma agilidade incomparavel na setagem permite concluir a furacao das cavilhas nao apenas em um tempo muito menor do que empregando o jig feito em casa, mas inclusive em um tempo muito menor do que eu teria levado utilizando qualquer outro tipo de emenda — exceto, claro, parafusos. De repente, a tecnica menos confiavel e mais demorada que eu conhecia para fazer juncoes tornou-se confiavel e rapida, uma barbadinha.


Tao envolvido fiquei na brincadeira, esqueci completamente de fotografar os passos (o que em verdade nao e' perda nenhuma, pois o video linkado acima e' muito mais elucidativo do que qualquer imagem eu tomasse). Quando fui me dar conta, a colagem da carcaca ja estava nos grampos, hehe...


E removidos os grampos, pude constatar a montagem, mesmo ainda sem o fundo, ficou absolutamente solida, um monobloco...






Os proximos passos irao envolver o posicionamento da divisoria interna e das prateleiras do balcao.


As ripas para isso ate ja estao aparelhadas, com quatro lados retos.




E, claro, as cavilhas ja estao cortadas.

Ou algum de meus sete fieis leitores tinha alguma duvida?

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Nao escapei


Um loongo tempo para fazer duas molduras com um simples encaixe em meia madeira, nao e' mesmo?...

Bom, uma boa parte do tempo eu gastei tentando me esquivar da armadilha que eu mesmo me armei. Como fazer a colocacao das laterais do balcao me pareceu obvio desde que terminei a base, mas fiquei tentando imaginar um jeito pratico e eficiente de evitar o obvio. Alguns metodos ate surgiram, mas na comparacao sempre saiam perdendo. Eventualmente desisti, e resolvi encarar.

Em tese, nao tenho nada contra utilizar cavilhas para emendas. Na pratica, e' algo que procuro evitar. Cavilhas demandam muita precisao, deixam pouca ou nenhuma margem de erro, e isso e' so o comeco da historia. Invariavelmente o processo em si e' bastante trabalhoso, muito, muito repetitivo. E terei dito que nao da para errar? Nem um errinho? Mas o fato inescapavel foi, para o meu parco entender pelo menos, cavilhas ofereciam a melhor solucao construtiva, por larga margem.

Muito provavelmente, vejo agora, o fato de estar lendo os livros de James Krenov, e ter dado bastante atencao aos seus comentarios sobre o uso de cavilhas, acabou influenciando o chamado subconsciente de meu rebelde separador de orelhas a armar essa arapuca. Bueno, se nao da para refugar a danca, entremos no baile.

Para aquecer as maquinas, fazer as cavilhas, a tecnica de fazer um sarrafinho oitavado passar por um furo. Depois, seguindo as orientacoes do mestre, afilar as pontas com um formao e girar, espremendo, apertando bem, as cavilhas prontas sob uma grosa para dar-lhes uma aspereza para melhor reter a cola.







Ahi, o cuidadoso, meticuloso, moroso processo de desenvolver um jig — porque sem jig simplesmente nao da para usar cavilhas. E entao testar. E errar. E corrigir. E testar. E err... Mas so porque eu fiquei macado, nao vou macar meus sete fieis leitores com o relato de meu tedio.


Eventualmente chegou a hora de aplicar a coisa na base e nas molduras — cujos encaixes em meia madeira eu, so de besta, resolvi reforcar com... cavilhas! E, claro, deu errado. Mas felizmente houve jeito de corrigir sem necessitar refazer tudo e eis que, de repente, tudo encaixou, tudo certinho e no esquadro.


Vitoria?

Mmm... Pode ser.
Mas de quem?



Seja como for essa engronha esta encerrada, a montagem seca foi um sucesso. Hora de desfazer tudo, guardar as cavilhas e pensar a continuacao do projeto.

Nao sei bem por que, com a incomoda sensacao nao vou conseguir ir muito longe sem voltar a preparar uns sarrafinhos oitavados.

Porque, sim, depois que cavilhas entram na danca ...


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Um balcao progride

Enquanto o oleo de tungue no tampo vai secando, resolvi usar o outro pedaco de muiracatiara 'com casca' que havia conseguido para fazer a base do futuro balcao, cujo formato final ainda permanece um manancial de duvidas para mim...


 Depois de par de dias considerando diferentes abordagens possiveis para a construcao da base, acabei por optar por uma saia vertical, com as emendas laterais em esquadria. Fiz os cortes tomando cuidados para houvesse minima perda de material, para permitir uma continuidade fluida das cores e padroes na emenda. Usando dado set na serra de bancada fiz um rebaixo na borda interna do topo das  pranchas ja serradas e entao a colagem, utilizando um pequeno bloco de madeira preso por grampos ao lado interno da emenda e que ainda recebeu uma fixacao adicional com parafusos apos a secagem da cola. Adicionalmente, a linha de cola foi ainda reforcada por milicavilhas (palitos de dente) na transversal da emenda. Montada a 'saia', serrei, encaixei e colei nos rebaixos do topo uma prancha de compensado de 20mm, 'prensada' com alguns parafusos. Quando a cola secou, os parafusos foram removidos e os furos preenchidos por milicavilhas, cola e serragem.

Serrei os pes de um barrote de itaubao. Uma leve modelagem com uma plaina bock, e cada um deles, fixo por um grampo, teve uma face colada `a face interna da saia com cola de poliuretano. Adicionamente uns retalhos foram igualmente colados, fixos por pinos F, para estabilizar as bases dos pes, juntamente com um longo e grosso parafuso no centro, atraves do compensado.

Como os pes traseiros ficaram sem apoio atras, colei e parafusei uma cantoneira para reforco.



Com isso, a construcao tendo resultado solida o bastante para eu poder caminhar em cima, hora de dar uma lixada e aplicar as devidas protecoes contra mofo e cupins, e entao dar por concluida essa fase de construcao da base.



Com a base feita, fiquei olhando a obra, ao vivo e em fotografias, pensando em como evoluir o movel pois, como ja mencionei na abertura, ainda nao tenho qualquer certeza quanto ao design. Inumeras hipoteses fermentando, ainda matutando fui consultar o travesseiro, confiando naquela funcao que o separador de orelhas executa em um inconsciente segundo plano. Acordei com a solucao, obvia.

E', como eu nao canso de afirmar, um perigo dar redea solta ao separador de orelhas!

Junto com a solucao, constatei o desgracado morador do sotao havia trabalhado em surdina durante todo o processo de construcao da base de forma a me conduzir ou, melhor, me embretar a uma forma construtiva da qual procuro fugir sempre que possivel.

O que creio, com alguma trepidacao, vira a seguir. (Se eu nao conseguir achar um jeito de escapar...)



sábado, 9 de janeiro de 2016

O empurrao da prancha

 Enquanto deixo secar tabicadas algumas taboinhas das novas madeiras para, eventualmente, fazer naoseioque com elas, decidi fazer um conjunto de moveis para substituir um armario de sala de jantar em que os malditos cupins de madeira seca tambem inventaram de fazer ninho.

A intencao e' iniciar por um balcao, e o estimulo para construi-lo veio da prancha de muiracatiara que veio com o lote recente de madeiras que adquiri. A prancha veio com brancal e marcas da casca em ambas as laterais, e o primeiro passo foi reduzir-lhe a largura, nisso cortando fora uma dessas laterais. Como a prancha e' muito pesada para ser manipulada com facilidade e apresentava irregularidades, inviavel leva-la para a serra de bancada; a solucao foi fazer o corte com uma serra circular manual empregando uma guia para manter o corte reto.


O passo seguinte do aparelhamento da peca, aplainar-lhe as faces. Infelizmente, por seu peso e largura, algo inviavel de efetuar como usual com desempeno/desengrosso, o que me levou a encarar o processo com plainas manuais. Tao logo fiz o rebaixamento das areas mais salientes, deu para perceber em uma das extremidadas havia rachaduras consideraveis; com o que, antes de continuar a plainagem, resolvi aplicar umas caudas-de-andorinha, ou 'gravatinhas', nas areas afetadas, visando prevenir as rachaduras progredissem, o que fiz empregando uns restos de imbuia.


Quando, devidamente colados os reparos, a operacao com as plainas manuais removeu todas as 'montanhas' mais altas, e as faces resultaram aceitavelmente planas e paralelas, empreguei uma lixadeira de cinta manual com lixa 60G para regularizar bem as superficies e entao progredi com G80, G120 e G180 usando lixadeira  roto-orbital ate a hora do envenenamento...

A prancha ao final do aparelhamento
Imediatamente apos a aplicacao de cupinicida

Por que a pressa em aplicar o veneno? Porque todo aquele brancal na borda e' poderosissimo chamativo, uma bateria de imas de terras raras para atrair cupins e outros xilofagos. E e' verao...

Tao logo o cupinicida secou foram aplicadas duas demaos de oleo de tungue visando, tanto reduzir a evaporacao do veneno, como proteger o lenho de possiveis manchas e que tais, considerando as inumeras futuras manipulacoes a que inescapavelmente sera submetido.

Historias que presume-se serao contadas. Aqui neste batcanal. Qualquer bathora dessas...


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Criei coragem

Ha mais de ano, como ate contei aqui, resolvi me presentear com uma kanna, uma plaina de acabamento japonesa. Nenhuma queixa quanto ao desempenho, desde o primeiro dia, mas...

Lendo sobre a utilizacao dessas plainas, em inumeros sites, blogs e foruns constatei uma constante declaracao: os dai — os corpos de madeira dessas plainas japonesas — necessitam ser 'afinados' pelo usuario regularmente. Isso porque madeira trabalha, se expande e dilata com as variacoes de umidade e temperatura, e isso pode se traduzir, como geralmente se traduz, em variacoes da geometria da sola. Como no entanto o desempenho da ferramenta estava perfeitamente dentro das minhas expectativas, e como sou adepto de que nao se mexe em time que esta ganhando, resolvi obviamente deixar a coisa quieta. Porem quando nessa semana que passou a minha plaina entrou no processo geral de afiacao de findiano — a proposito: FELIZ ANO NOVO! — e fui setar a lamina recem afiada, reparei uma nitida degradacao na performance da dita cuja.

-- oOo --

Eu sempre tive curiosidade em saber por que cargas d'agua os japoneses, com sua metalurgia milenarmente primorosa, utilizavam e utilizam praticamente apenas plainas de madeira, quando sabidamente madeira e' muito menos estavel do que metais.

A razao, pelo que li, e' bem simples. Os marceneiros e carpinteiros de la utilizam plainas continuadamente, para tudo no seu dia-a-dia, passam o dia todo na lide e carregando essas ferramentas de todos os tamanhos para la e para ca. E madeira e' bem, bem mais leve do que metais; plainas metalicas seriam fatigantes.

Adicionalmente, exatamente para reduzir o esforco de plainar, as solas dessas plainas sao condicionadas: faz-se um minimo rebaixo, uma infima concavidade na sola entre o nariz da plaina e a porcao imediatamente em frente ao gume, de tal forma que quando se esta utilizando a ferramenta apenas essas duas areas fazem contato, reduzindo assim consideravelmente o atrito no plainar. Ha inclusive plainas especialmente projetadas exatamente para produzir esse rebaixo, as tachi-kanna.
Tachi-kanna

Rebaixo esse que evidentemente eu nunca me atrevera a executar na minha.

-- oOo --

So que quando fui examinar a sola, depois de reparar na dificuldade de conseguir setar adequadamente a plaina para cortes muito rasos, aplicando uma regua pude constatar que a regiao entre o nariz e o gume, ao inves de estar levemente rebaixada apresentava era uma convexidade.

Fiquei, claro, sem escape e resolvi encarar a bronca. Nao dispondo de uma tachi-kanna — que, consta, se aplica na transversal dos veios da sola — resolvi executar o tal rebaixamento com raspilhas, na longitudinal.

Como sempre gosto de me preparar para o pior cenario, tive uma surpresa agradabilissima: Foi facil, facilimo de fazer. Em poucos minutos, uma barbada.



Imagino possa ter ficado evidente nas fotos acima o espaco que sofreu o rebaixo, demarcado pelas linhas verdes. Um quase nada, fracao de milimetro. Mas o resultado...



Utilizando um martelinho adequado calibrei a profundidade do corte para tao raso quanto minha pouca paciencia permitiu, e empreguei uma sobra de cedro-rosa para os testes.

Rapaiz!


A plaina deslizou macia, as fitas sairam lindonas, consistentes, cheias e finissimas. E a superficie do cedro... Mas nem bunda de nenem!

Muito, muito melhor do que jamais eu tinha experimentado, sem a menor duvida.



Nao tenho certeza, claro, nem tenho uma plaina ocidental de madeira para testar, mas fica a impressao esse simples rebaixo pode muito bem ser aplicado nelas. Talvez com resultados semelhantes?

Fica a sugestao, para alguem bravo o bastante experimentar e depois, espero, nos contar...