sábado, 29 de novembro de 2014

Afiando formoes e plainas - VI (Como eu faco - 2)

Uma vez plana e polida a traseira da lamina, ou quando uma lamina afiada perde o fio, a atividade seguinte para amolar ou renovar o gume sera aplainar e polir o plano do bizel. Dependendo do estado da lamina, podera ser um processo algo demorado, ou um tapa.

Embora como ja disse eu estivesse plenamente satisfeito com a excelente qualidade do fio que conseguia obter em minhas plainas e formoes utilizando as pedras d'agua japonesas, permanecia o fato eu continuava muito insatisfeito com a afiacao que conseguia obter, utilizando motoesmeril, nos meus ferros de tornear. Eventualmente, consegui a colaboracao de um amigo que me trouxe desde o Velho Continente uma excelente maquina dedicada de afiacao: a Tormek T-7. Com a variedade de jigs que suporta, essa afiadora consegue afiar a lamina de praticamente qualquer ferramenta. Inclusive formoes e plainas.

Com a adicao da afiadora `as minhas pedras japonesas, a afiacao de meus formoes e plainas tornou-se ainda mais facil e precisa. Mas se dar a primeira amolada em uma lamina nova, ou usada em mau estado, havia-se tornado algo relativamente simples e com resultados previsiveis e excelentes, eu ainda permanecia adiando tanto quanto possivel re-afiar minhas laminas, preferindo utilizar um restinho de fio ainda aceitavel do que enfrentar o chatissimo e prolongado trabalho de 'montar o circo' da afiacao. Mergulhar as pedras; montar no lugar, ligar e fazer o setup basico da afiadora, preparar os jigs e entao seta-los para cada lamina, impermeabilizar o tampo da bancada, e tal e coisa, tudo isso consome muito, mas muito mais tempo do que o par de minutos que, uma vez armado o circo, a reafiacao propriamente consome — se e' que voces me entendem...

Entao — saltando os detalhes para resumir uma historia que ja vai ficando mais longa do que sesta de argentino — vim a ter contato com a tecnologia das pedras diamantadas, e com esse video do Paul Sellers:

Obviamente, minha insaciavel curiosidade acabou por me levar a adquirir quatro pedras diamantadas (grossa, media, fina e extrafina) e monta-las em uma pranchinha que pode ser rapida e facilmente levada `a area em que estiver trabalhando, dar umas borrifadas com limpa-vidro e... pronto!


Nao cheguei (ainda?) a dominar completamente a tecnica de amolar o bizel deixando o gume levemente abaulado mas atualmente so uso a guia de afiar em circunstancias especiais; no geral afio direto na mao. E a qualquer momento que acho o fio possa ficar melhor, e sempre que termino de utilizar um formao ou uma plaina, a prancha com as pedras diamantadas vai para cima da bancada e, tcha, tcha, tcha, meia duzia de passadas e a lamina corta ate pensamento, hehehe.


Embalado pelo sucesso do metodo, fiz um estropo com couro para sentar o fio com pasta verde, e consegui ainda tres 'pedras' de aco onde colocar pasta diamantada para o caso de afiacoes que realmente merecam aquele toque superextraespecial, tipo plainas de alisar — como pode ser visto na foto ahi acima: na frente as 'pedras' de aco com as seringas contendo a pasta diamantada sobre elas, da esquerda para a direita, 1, 3 e 6 microns; atras `a esquerda, a tampa que evita contaminacao das pedras com impurezas e, `a direita, o estropo com dois tijolos de pasta verde em cima.

Com isso passei a afiar meus ferros com muito maior frequencia, e nao apenas minhas ferramentas ficam permanentemente muito afiadas, meu treino aumentou consideravelmente, de tal forma que o processo ficou ainda mais facil e mais rapido. (E certamente mais preciso, me permitam a gabolice: eu ja me dei ao luxo de re-afiar uma lamina descartavel de bisturi cirurgico e, para o meu gosto, a coisa ficou cortando melhor do que quando nova, hehehe.)

Quanto a cuidados, a afiadora como toda maquina deve receber manutencao — e o fabricante aponta tudo o que deve ser feito, detalhadamente. As placas diamantadas, depois de usadas sao secas com papel toalha e antes de serem guardadas recebem uma borrifada de WD-40 para evitar a corrosao, e boa. O unico cuidado com as placas com pasta diamantada, afora guarda-las bem protegidas de poeira, e' limpar bem a lamina sendo afiada ao passar de uma pedra para a mais fina, para evitar contaminacao da pasta mais fina pela mais grossa.

Bom, e' assim que eu faco.
Como eu disse, cada um tem o seu jeito, e nao tenho a menor pretensao o meu seja melhor nem pior do que qualquer outro. O uso e os recursos disponiveis e' que irao em tempo, pelo treino, ditar qual a melhor e mais efetiva maneira sera a que corpo e habitos de cada afiador acabara adotando. Como tudo em hobby, o ceu e' o limite (sim, existem tecnicas de afiacao que utilizam lupas para mais perfeitamente poder aplicar fio, empregando laser como abrasivo; e, imagino, nem isso sera o teto, hehehe), mas cada um e' que ira determinar o quanto querera investir, ate onde querera chegar.

O importante, o fundamental, e' — do jeito que der, de qualquer jeito — ter os ferros bem afiados.

Nem que seja mandando afiar, hehehe...

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*Um dos tantos temas que nem sequer abordamos, mas e' crucial ao uso de ferramentas de fio como formoes e plainas, e' o angulo do bisel. Assunto demasiado amplo, e essa serie ja vai por demais extensa, talvez ja insuportavelmente chata.

Um outro capitulo, talvez, uma outra bathora?

Afiando formoes e plainas - V (Como eu faco - 1)

Acho que embora o proposito a atingir seja o mesmo — obter um fio agucado na ferramenta pelo cruzamento de dois planos lisos e polidos — pode-se dizer sem medo de errar que cada afiador tem um jeito seu, pessoal, de atingir esse objetivo. Mas quando alguem pensa em se iniciar nessas artes, qual a melhor maneira de comecar? Qualquer uma, seria a minha resposta. So que, convenhamos, isso nao responde nada. Entao, como eu acho que qualquer jeito e' um bom jeito de comecar resolvi, primeiro, apresentar um link para uma serie de videos (em portugues!) disponibilizados por Helio Cabral Jr. no YouTube, e que me foi gentilmente apontado por um colega do forum Madeira!, o FernandoBorges:

https://www.youtube.com/watch?v=dJfVo0Upy6U&list=UUiAkREnTDMdYQMqR6pcXQoA

Ha ahi bastante por onde comecar, penso eu. As tecnicas apresentadas nesses videos sao mais centradas em afiar facas e canivetes, sim, mas ha muita riqueza em dados e informacoes extremamente uteis, e e' facil extrapolar isso para formoes e plainas,


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Quanto a como eu faco, inicio por corrigir, se houver, problemas na formatacao da lamina — irregularidades, deformidades, etc., como dentes por exemplo — ou por mudar o angulo do bizel, arredondar os cantos, etc., se por qualquer motivo desejar alterar a formatacao.

Isso e' usualmente feito empregando um motoesmeril. Os cuidados aqui sao

  • cuidar que os rebolos estejam sempre planos e esquadrejados (retificados), para tanto utilizando quando necessario corrigir-lhes a geometria retificadores ou bastoes dressadores...
retificadores
bastoes dressadores
  • ... e evitar utilizar os rebolos cinzas que usualmente acompanham os motoesmeris, trocando-os por rebolos brancos. Isso porque os rebolos brancos produzem menor calor na area de abrasao evitando, ou ao menos reduzindo consideravelmente, os efeitos indesejaveis da temperatura aumentada sobre a tempera das laminas. 

O proximo passo, em se tratando de lamina nova ou sendo afiada por mim pela primeira vez, sera aplainar e polir a parte de tras da lamina. E' um processo que pode ser mais ou menos demorado conforme o estado em que se encontrar a lamina, mas tem a vantagem de so necessitar ser feito uma vez.


Quando comecei meu aprendizado de apurar a afiacao de meus formoes para alem do que eu alcancava apenas com rebolos, eu empregava uma dessas pedras comuns
Minha primeira pedra de afiar
de afiar facas que se encontra em supermercados, e seguia a recomedacao de aplainar a parte de tras da lamina em uma extensao de mais ou menos uns 5 centimetros. Uma vez tao bem aplainada e polida eu conseguia deixar a traseira da lamina, empregando a mesma pedra combinada (as granas sao aproximadamente G100 no lado grosso e G300 no fino) eu atacava o bisel do formao, retificando as irregularidades e regularizando o bizel tanto quanto possivel. O resultado era ate aceitavel, mas certamente ainda ficava longe do que eu via nos videos e do que lembrava dos formoes que tinha manipulado (mas nunca afiado) em minha infancia/adolescencia. Minhas pesquisas na Rede entao me levaram a conhecer o metodo das lixas, o tal de scary sharp tratado na primeira postagem desta serie, e ao emprego de guias de afiacao. A pratica desse metodo resultou consideravel salto na qualidade da afiacao que eu conseguia obter em meus formoes, ja bem perto, se nao no par do que via e lembrava.

Mas, como nao me cansa lembrar, muito antes que artifice eu so mesmo e' curioso. E as leituras na Teia haviam certamente espicacado minha curiosidade e o desejo de empregar as tais pedras de afiar japonesas, tao decantadas quanto dificeis de encontrar...

Como quem insiste e tem amigos sempre acaba alcancando o que quer, acabei conseguindo obter tres pedras d'agua duplas japonesas, marca King, granas 800/4000, 1000/6000 e 1200/8000. Uma maravilha! Nao apenas atingindo um espectro de granas muito alem do que conseguia dispor com as lixas d'agua, estava livre das constantes trocas de lixas rasgadas ou gastas, das dificuldades de prender as lixas no vidro, e tudo, e tal. Finalmente consegui alcancar o tal brilho espelhado nas superficies amoladas e um fio capaz de cortar folhas de papel ao comprido como se fossem manteiga!

Minhas pedras d'agua, guia e taboas de polir

Minhas leituras haviam ainda me informado sobre tecnicas de 'sentar o fio' utilizando laminas de madeiras bem planas recobertas com pastas de polir, coisa que logo tratei de implementar. E, nisso, havia conseguido finalmente alcancar um padrao de afiacao superior. Tao bom como podia almejar, superior a qualquer lembranca ou desejo que jamais pudesse ter tido, na verdade — se me permitem a imodestia — tao bom como jamais vi.

Na foto ahi `a esquerda ve-se, dentro da bandeja em que ficam totalmente submersas em agua quando em uso, as tres pedras japonesas; `a sua direita apontada pela seta verde minha guia de afiacao e mais atras, apontadas pelas setas vermelhas, `a esquerda a madeira recoberta com pasta Jacare verde e a direita, as tres taboinhas recobertas com pasta diamantada, de 6, 3 e 1 micron de granatura.

Essas pedras e taboas sao ainda hoje o conjunto que utilizo para aplainar e polir a traseira das laminas, novas ou usadas pela primeira vez por mim. Por desnecessario, nao estendo mais o polimento por ~5cm como costumava, mas me limito a deixar plana e espelhada uma area de uns 2-2,5 cm, passando a traseira das laminas ate obter um padrao homogeneo progressivamente por todas as granas das pedras e entao pela taboa com pasta verde (uma grana aproximada de G15000). (As taboinhas com pasta diamantada nunca uso na traseira de laminas.)  Esse aplainamento e polimento e' definitivo, praticamente nunca necessitara ser refeito quando se re-afiar as laminas.

Os cuidados aqui, cada vez que usada uma pedra ela deve ser retificada, ou usando outra pedra, ou uma lixa sobre vidro, ou como seja, mas manter a superficie de afiacao sempre absolutamente plana e' indispensavel para uma boa afiacao. As pedras d'agua devem seguir a recomendacao do fabricante no que tange `a sua conservacao. No caso dessas King, devem ser mantidas submersas por 15 minutos no minimo antes de serem usadas, mantidas submersas enquanto em uso, e guardadas secas quando fora de uso por tempo mais prolongado. As taboas, devem ser carregadas com pasta antes de cada uso e protegidas contra po e impurezas quando guardadas.

(Essa era para ser a ultima postagem nessa serie sobre afiacao, mas como podem ver a coisa ficou muito comprida, entao achei melhor dividir em capitulos. Ou seja, a historia ainda continua, hehehe...)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Afiando formoes e plainas - IV (Pedras de amolar)


Como mencionado, o emprego da tecnica das lixas e placa de vidro e' perfeitamente capaz de produzir laminas tao bem afiadas quanto necessario ao bom uso de formoes e plainas. No entanto com a continuidade de seu uso, especialmente quando o volume de afiacoes por qualquer razao aumenta, os inconvenientes do metodo comecam a pesar. As lixas rasgam com facilidade e se desgastam rapidamente; uma meia-folha de lixa raramente ultrapassa a afiacao de quatro laminas, a reposicao das folhas demanda tempo, como tempo, e espaco, demanda montar toda a operacao de afiar.

Por essas e outras razoes e' comum quem se inicia pelo metodo das lixas acabar migrando para o uso de pedras, como e' comum um numero consideravel de praticantes das artes de afiacao ja se iniciar diretamente nas pedras...


PEDRAS DE AMOLAR

Pedras de amolar naturais
Pedras de amolar artificiais
 As pedras de amolar tem o mesmo uso das lixas — superficies abrasivas planas onde desgastar o fio das laminas. Ha uma imensa variedade de origem, formas, granas, possibilitando toda e qualquer operacao de afiacao, do desgaste grosso para regularizar um bizel, ate o polimento espelhado do fio. E as pedras duram anos a fio (se me perdoam o trocadilho infame), sao relativamente faceis de manter, e tem boa portabilidade, o que as tornam muito mais praticas de usar e transportar e, eventualmente, um metodo que resulta mais economico do que o scary sharp.

Ha pedras naturais, obtidas diretamente da natureza, e pedras sinteticas produzidas por um amplo espectro de tecnicas e empregando um vasto arsenal de materiais, cobrindo praticamente qualquer demanda, qualquer exigencia. Por tudo isso, as pedras de amolar sao por larga margem o metodo mais frequentemente empregado para afiacao apurada de laminas.

Nao cabe aqui uma analise mais profunda dos diversos tipos e usos das pedras de afiar; primeiro por muito limitados meus conhecimentos e entao pela imensidao do tema. Nao obstante, penso eu vale mencao nas ultimas decadas as pedras vem progressivamente encontrando competicao pelo aumento da popularidade (e diminuicao do custo, hehe) de uma concorrencia que so faz crescer...



PEDRAS DIAMANTADAS


As chamadas pedras diamantadas nao sao pedras, mas chapas sinteticas, usualmente  de aco, com uma face recoberta com uma camada abrasiva de po de diamantes.

Ha igualmente uma consideravel variedade de tecnicas construtivas e granas. Demandando um investimento inicial um pouco maior dos que as pedras de amolar, no entanto as pedras diamantadas duram muito mais, tem maior eficiencia abrasiva, sao ainda mais portateis, nao quebram, mantem sempre intacta sua geometria e praticamente nao necessitam qualquer manutencao, exceto prevenir oxidacao, ferrugem.


Ha ainda, para apuro final do fio ou, como muitos preferem chamar, para sentar o fio, o uso das pastas abrasivas em um superpolimento final....



ESTROPO


Muito utilizada ha varias decadas para sentar o fio de navalhas de barbear, a tecnica de empregar pasta de polimento para um apuro final na afiacao de laminas vem-se mais e mais popularizando entre marceneiros.

O metodo mais usual e' aplicar a pasta abrasiva sobre uma tira de sola, tira essa usualmente aderida a um bloco de madeira ou entao fixa por uma alca a um ponto fixo, como ilustrado nas imagens. Ha consideravel diversidade de substancias usualmente empregadas para a confeccao dessas pastas, o componente abrasivo variando de diferentes oxidos, mais comumente de cromo e de aluminio, ate graos de diamante, sempre com diametro medidos em poucos milhonesismos de milimetros.

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Bueno, isso e' pouco mais ou menos o que eu sei existe de variacoes quanto a metodos de afiacao para laminas de formoes e plainas. Obviamente, foi uma vista d'olhos tao ampla quanto superficial, ate porque como ja comentado faltam-me conhecimentos suficientes para tentar uma abordagem mais profunda.

O proposito aqui e' tentar reduzir, um pouco que seja, a imensa lacuna que existe sobre o tema em lingua portuguesa, e o intento foi prioritariamente informativo e nao instrutivo. Mas entao, por sugestao de um de meus sete fieis leitores, e pelo que valha, a proxima (e, suponho, final) postagem sobre o tema trara um vies mais instrutivo.

Aqui, claro, nesse batcanal...

domingo, 23 de novembro de 2014

Afiando formoes e plainas - III (Rodas de afiar)

Ha inumeros diferentes metodos e tecnicas para bem afiar laminas. Pensando sempre prioritariamente em formoes e plainas ocorreu-me tentar uma abordagem resumida de algumas, talvez as mais comumente empregadas, dessas tantas abordagens...

RODAS DE AFIAR

Exemplos de usos de discos de pedras, ou rebolos, para afiar ferramentas (e armas!) datam da mais remota antiguidade, sua construcao e ergonomia recebendo progressivas melhorias com o passar dos anos, rendendo melhores resultados e melhor desempenho. Uma manivela acoplada ao eixo para facilitar por a roda em movimento, a adicao de um cocho com agua para lubricar o processo e remover a escoria acumulada, sistemas de roldanas e/ou engrenagens para obter-se melhor ganho e melhor velocidade, e assim por diante culminando com a adicao de motores, como o motoesmeril e que tais.


Hoje, essas ferramentas contemporaneas que utilizam rebolos acionados por motores (usualmente eletricos) sao normalmente projetadas — em termos de formulacao do abrasivo e de rotacao do eixo — para obter-se o maior rendimento possivel em desgaste do material.


Do ponto de vista de seu uso para afiacao de laminas de formao ou plainas no entanto, essas maquinas apresentam severas restricoes. Exatamente porque removem muito material muito rapidamente, provocam alto aquecimento na peca e muito mais ainda, como e' obvio, na linha de abrasao, e essas altas temperaturas provocam alteracoes absolutamente indesejaveis na tempera das laminas. Por isso, no que concerne a afiacao de laminas de formoes e plainas, o uso de motoesmeril fundamentalmente e' reservado apenas para formatacao, operacoes grosseiras que envolvam relativamente grande remocao de material da lamina, como por exemplo alteracoes no angulo do bisel, correcao de danos grosseiros ao gume, etc., como nos exemplos mostrados nas fotos abaixo (clique nelas, para ve-las em maior resolucao).









Mesmo para essas correcoes mais grosseiras da lamina, quando quer se pense utilizar um motoesmeril no fio de laminas de corte e' muito recomendavel aquele rebolo de cor cinza que usualmente acompanha os motoesmeris deva ser trocado pelos rebolos de cor branca. Isso porque estes rebolos brancos sao projetados para produzirem bem menos aquecimento nos cortes e assim, usados cuidadosamente, nao produzem os indesejaveis efeitos na tempera das laminas, algo praticamente inescapavel quando se emprega os rebolos cinzas.




Evidente existe ainda no mercado mundial, alem dos motoesmeris, uma consideravel variedade de maquinas, manuais ou motorizadas, especificamente projetadas para, dedicadamente, afiar laminas, tanto para uso industrial, como para uso 'domestico', e que empregam rodas de afiar (incluindo algumas que utilizam lixas) — como pode ser facilmente verificado em uma busca por imagens no Google pela string "blade sharpening machine". Todavia raras sao as que se podem encontrar aqui no mercado de pindorama, e ahi o preco e' sempre assustador...


Mas nao e' apenas pelo custo e dificuldade de encontrar essas maquinas dedicadas que empregam rebolos que outros metodos de afiacao foram e sao muito mais frequentemente empregados.

Algo para abordarmos em uma proxima postagem...


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Afiando formoes e plainas - II (Guias de afiacao)

O metodo de afiacao scary sharp mencionado na postagem imediatamente anterior certamente funciona e pode muito bem ser suficiente para atender todas as demandas de um hobista, ou mesmo de profissionais que pouco empreguem ferramentas de corte manuais. Como tudo, no entanto, tem seus inconvenientes
  • tanto pela tendencia de nao raro rasgarem pelo uso, como por de qualquer modo, pelo desgaste do abrasivo, necessitarem ser substituidas com consideravel frequencia, as lixas precisam ser trocadas frequentemente e o processo tende a tornar-se onero$o se o volume de afiacoes aumenta;
  • e' necessario consideravel tempo para 'armar e desarmar o circo' e/ou e' preciso usualmente uma bancada dedicada onde executar as afiacoes, necessitando espaco e impermeabilizacao para evitar contaminacoes pela agua e quebra dos vidros;
  • obviamente nao e' um metodo que contemple portabilidade —
e limitacoes
  • o metodo nao se presta para afiar laminas curvas, como goivas, etc.;
  • lixas de grana fina, acima de G1200, sao dificeis de encontrar e, encontradas, costumam ser caras, limitando um maior apuro no amolar.

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Antes de darmos uma espiada em alguns outros metodos de afiacao pensei em comentar um pouco sobre o uso das guias de afiacao.



 Essencialmente, as guias sao jigs que prendem a lamina a ser afiada em um angulo constante relativamente `a superficie de afiacao (lixas, pedras, etc.), angulo este determinado pela distancia (marcada pela letra A na imagem `a esquerda) que a lamina se projeta: quanto mais a lamina sai para alem da guia, menor, mais agudo o angulo sera no bizel.

Existe uma imensa variedade de guias de afiacao, tanto fabricadas artesanalmente, como industrializadas (a foto `a direita e' apenas um pequeno mostruario), mas fundamentalmente todas fazem a mesma coisa, com maior ou menor facilidade, com maior ou menor precisao e, claro, com maior ou menor preco. (Infelizmente, como e' habitual nosso mercado e' extremamente limitado, quando nao inexistente no que toca a ofertas desses acessorios...)

Na minha sempre desconsideravel opiniao, o uso de uma guia e' extremamente util. Talvez indispensavel a quem se inicie na lide de afiar laminas, visto a necessidade de um angulo sempre constante no corte e polimento do bizel ser fundamental para obter-se uma superficie tao plana e lisa quanto possivel, ou seja, o proprio proposito da afiacao. Ha quem recomende sempre se usar uma guia, para garantir repetibilidade dos angulos e consequente precisao. Mas tambem ha quem diga que as guias de afiacao sao como a modestia e a virgindade: algo interessante de que a gente deve procurar se livrar tao logo seja possivel, hehehe.

Afora consideracoes mecanicas e ergonomicas que afligem diferentemente o uso de diferentes modelos e tipos de guias (obstrucao visual, pegada ruim, etc.), quem recomenda seu uso apenas no aprendizado — como as 'rodinhas' auxiliares nas bicicletas — aponta sempre o mesmo problema: a tendencia, especialmente nos iniciantes da arte, de aplicar durante a afiacao mais pressao no apoio da guia do que na ponta da lamina. Com isso, como a pressao na ponta da lamina varia e isso somado `a natural flexibilidade da lamina tende a causar variacoes, leves usualmente, mas variacoes do angulo, ha o risco de arredondar o fio. Para evitar-se esse problema manda a boa tecnica a pressao seja aplicada toda na ponta da lamina, com o apoio da guia (roda, rolamento, o que seja) mal e mal tocando ou, preferivelmente, nem tocando a lixa ou pedra.

Mas se o ideal e' a guia nem tocar na pedra... Entao para que usar a guia? — argumentam os que consideram seu uso superfluo.

O fato e' que afiacao, como toda atividade mecanica e' coisa que so se aprende com treino. E, como em qualquer atividade mecanica, quando com o treino se cumpre a curva de aprendizado, cada um acaba criando o seu jeito particular de como melhor praticar a arte. Cada um tem um jeito, o seu jeito, para dirigir um carro, para escrever, para serrar uma taboa, para... E, obviamente, tera seu jeito particular para afiar laminas. Uns usando, outros nao usando guias de afiacao.

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Bueno, tendo abordado uso, vantagens e desvantagens do scary sharp, ou o metodo das lixas, e o uso ou nao-uso de guias de afiacao, penso temos suficiente informacao para por maos `a obra e afiar laminas de formoes e plainas com aceitavel funcionabilidade.

Mas... Espere!
Tem mais!

Hora dessas. Por aqui...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Afiando formoes e plainas - I (Afiando com lixas)

Afiar e' preciso.

So para dar uma ideia de quanto e' preciso, tirar uma temperatura digamos, vejam que aprendizes do sashimono — a milenar arte japonesa de marcenaria fina — antes de sequer tocar em madeiras sao iniciados no longo curso de ensino (que dura um minimo de seis anos) por seis meses de dedicacao unica e exclusiva `as tecnicas de afiacao.

Uma ferramenta sem fio ou, pior, mal afiada inescapavelmente vai-se desempenhar mal na sua funcao. E e' um risco para a seguranca do usuario: por exemplo, contam as estatisticas dos paises que as mantem, mais de 90% dos acidentes com faca de cozinha que necessitam assistencia medica ocorrem por a faca estar mal afiada.

A primeira vez que senti necessidade de caprichar no afiar uma ferramenta foi com um formao velho, herdado em uma mudanca. Como e' tao comum, optei por afia-lo em um motoesmeril, daqueles com rebolos cinza. Ficou, claro, uma porcaria. Cortar ate cortava mas — relativamente ao que via em videos na Rede e `as lembrancas que tinha da minha infancia de um marceneiro profissional trabalhando — muito, muito aquem do esperado. Obviamente insatisfeito com os resultados, fui procurar na cornucopia da Teia informacoes sobre como afiar direito um formao.

Praticamente nada em portugues, mas em ingles havia uma verdadeira montanha de dados disponivel, inumeras tecnicas empregando um variado arsenal de maquinas, pedras, abordagens, um escambal. Contemplando as limitacoes de ofertas no mercado de pindorama e o consideravel custo dos implementos, acabei optando por empregar uma tecnica que havia sido desenvolvida a partir da Metalografia.

Para em seus estudos bem poder observar a superficie de metais, os metalografos empregam lixas progressivamente mais finas para alisar essas superficies ate atingir um polimento perfeito, sem riscos ou arranhoes que possam produzir artefatos ou de qualquer maneira interferir em suas imagens. Como afiacao consiste essencialmente em obter-se em uma reta o encontro de dois planos tao lisos quanto possivel, alguem teve a ideia de empregar essa tecnica de lixas progressivamente mais finas para amolar laminas, o que eventualmente evoluiu para um metodo chamado em ingles scary sharp ou, em portugues, assustadoramente afiado.

Tudo (e mais um pouco d)o que e' preciso

Os principais fatores que me levaram a escolher esse metodo foram o baixo custo inicial e a simplicidade de seu uso e manutencao. Afinal, o que e' preciso sao
  • lixas de diversas granas (eu iniciei com o que tinha: 180, 320, 400 e 600);
  • uma guia de afiacao (que encomendei dA Matriz por U$10, pelo correio);
  • uma chapa de vidro grosso (eu usei 8mm);
  • agua para lubrificar as lixas.

O vidro garante uma superficie bem plana e lisa, as lixas (novas) um abrasivo uniforme, a guia um angulo consistente e facil de setar.


Com o pequeno circo finalmente armado foi questao de colocar a placa de vidro sobre o tampo coberto com plastico (para impermeabilizar) de uma bancada, colocar as quatro folhas de lixas (cortadas ao meio) lado a lado, e molhar tudo com bastante agua (a ideia sendo que a propria agua 'cola' as lixas no vidro). Montei o formao na guia ajustando o angulo a olho: com o formao na guia e o conjunto colocado sobre o vidro, fui exteriorizando mais e mais a frente da lamina ate o bizel do formao ficar certinho paralelo ao vidro. Apertei bem o parafuso da guia com uma chave de fenda, virei o bizel para cima e comecei a lixar a parte traseira da lamina pela lixa mais grossa. Quando, ja na lixa 600, achei que estava suficientemente polida a traseira, virei o formao e, usando a guia como garantia de manter sempre constante o angulo da afiacao, iniciei a amolar o bizel, lixando em cada folha ate sentir se formar um rebordo em toda a extensao do gume. Formado o rebordo, uma ou duas passadas da parte de tras na lixa 600, e de volta ao bizel na lixa imediatamente mais fina.

Esse video de 5 minutos ahi abaixo, espero ajude a entender o que meu texto possa ter deixado confuso:

(Se ainda continuar confuso, e' so pesquisar por scary sharp no YouTube, e se fartar, hehehe...)

O fio que resultou me deixou, em comparacao ao fio que tinha obtido com o rebolo, boquiaberto!

Cacilda, o troco realmente funciona, pensei. Problemas de afiacao resolvidos, imaginei.

Tsc, tsc, tsc... Mal sabia eu, uma longa caminhada recem havia comecado.
Os proximos passos virao, uma bathora qualquer, aqui nesse batcanal.