quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ferramentólatra

Ferramentolatra querendo dizer adorador de ferramentas. Sim, sou!

E' meu mais antigo amor. Afinal, literalmente nasci e me criei entre maquinas e ferramentas, e o passar dos anos em nada arrefeceu essa paixao de infancia. Pelo contrario, o tempo so a fez fermentar. Ha mesmo quem diga a principal razao de ser, dessa coisa de eu brincar de marceneiro, e' para poder acumular ferramentas...

Bueno, faz muito tempo eu desisti de tentar esmiucar, analisar os meus motivos. Muito mais simples e proveitoso tratar de desfrutar meus gostos do que tentar entende-los, hehe. Gosto, sempre gostei de mexer com madeiras, e se isso ainda tem o bonus de justificar a compra e o uso de ferramentas, boa — e pouco se me da uma coisa tenha ou nao a ver com a outra coisa.

Mas por muito ardor houvesse nessa paixao de ter, lidar, conservar ferramentas, sempre houve tambem criterio: Por diversas razoes (inclusive economica$, claro) nunca adquiri uma ferramenta para a qual nao tivesse uso. E se constato alguma maquina ou ferramenta minha por algum motivo esta jogada, criando po, sem uso, em geral trato de encontrar quem saiba, queira e possa usa-la. E' essa a regra.

Mas toda a regra tem excecoes. Em primeiro lugar ha ferramentas que ganhei — e presente, aceito, nao se da nem se vende. Mas, devo confessar, ha tambem algumas ferramentazinhas que adquiri por variados motivos mas tambem por boa dose de pura cobica e que na verdade usei algumas vezes para ver como funcionavam e, embora pouco ou nenhum uso tenha encontrado para elas no dia-a-dia, acabei me apegando. Exata meia duzia. Essas ahi abaixo:




Compasso para cartas maritmas, da Royal Navy,
replica Made in India
Pontas de cintel (em ingles, trammel); adaptam-se em uma regua
para formar um compasso de tracar largos circulos
Miniatura de guilherme de metal da Veritas

Posicionador de ponto de centro, com
precisao submilimetrica

Retificador para rebolos diamantado

Morsa manual para pecas minusculas


Falar em morsa de mao, desde onde a memoria alcanca nutro um amor muito especial pela Starrett 86, essa ahi abaixo:

Como tentacoes estao sempre esperando uma brecha para intrometer-se nas nossas vidas, amigo meu conhecedor dessa minha antiga paixao e ora perambulando la pelA Matriz ofereceu-se para me trazer uma dessas.

Pensei, pensei... 

Em primeiro lugar, a verdade e' que nao tenho qualquer necessidade dessa maravilha, e assim fica contrariada minha regra basica de aquisicao de ferramentas. Ainda por cima o brinquedinho custa, la, ao redor de 250 alfaces. E eu acho que tenho melhor uso para essa grana.

Alias, nao acho. Tenho certeza.
Tanta certeza mesmo que acabei foi encomendando uma s... Mas nao!

Voces, meus sete fieis leitores, vao ter que ter paciencia e esperar o brinquedinho chegar.

Ahi — esta feita a promessa — eu conto tudo para voces. Aqui nesse batcanal...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Fechando uma porta - IV

Fevereiro vai chegando ao fim e ao fim tambem vai chegando a minha lide com a tal porta...

Acabei fazendo tambem a esquadria — e acho que estou vacinado contra obras de carpintaria: o tamanho e o peso nao combinam, nem com o meu maquinario e ferramentas, nem com o meu gosto de trabalhar sozinho; mesmo quando o peso fica dentro dos limites que minhas costas impoem, o comprimento das pecas torna muito dificil manipula-las nas maquinas sem ajuda. E depois, e' puro trabalho, quase nada de aprendizado.

De qualquer modo, consegui uma auxiliar (por mera coincidencia a futura proprietaria da encrenca), aparelhei, dimensionei as pranchas para formar os caixilhos e entao cortei na serra de bancada os rebaixos para os batentes. Ahi foi so bolear o canto externo na tupia de mesa, lixar tudo (argh!@&4$) e aplicar acabamento com oleo de linhaca.




Para finalizar, um comentario rapido sobre a madeira utilizada, o cedro-mara. Uma curiosidade, digamos assim...

Alem de produzir uma serragem que parece pimenta, e das ardidas, obrigando inescapavelmente o uso de mascara protetora, esse lenho vem em duas variedades: uma mais clara, avermelhada, de veios retos, pouco densa, em tudo (exceto pelos efeitos no nariz e nas vias aereas) semelhante ao cedro-rosa; a outra bem mais densa, com veios tortuosos e nao raro invertidos, mais escura, lembrando bastante a itauba, como imagino se possa ver nessa imagem da porta ahi ao lado:



Da a nitida sensacao seriam duas essencias bem diferentes, embora a irritacao que a poeira de ambas produz seja identica. Mas, em um dos caixilhos da esquadria, pude constatar que ambas as variedades se misturam. A distincao das duas variedades e' muito mais gritante na madeira crua, mas eu esqueci de fotografar antes de aplicar o oleo de linhaca e as fotos que consegui obter nao mostram uma diferenca tao gritante como a que os olhos percebem. Mas talvez com um pouco de boa vontade seja possivel perceber na foto abaixo como o lenho da ripa do centro, na parte delimitada pelas linhas vermelhas, e' semelhante ao do da ripa `a direita (da variedade 'vermelha'), enquanto que o resto da ripa e' semelhante `a da esquerda (da variedade 'morena').



sábado, 8 de fevereiro de 2014

Fechando uma porta - III

Clicando as imagens, abrem-se versoes em maior tamanho.


A resina expoxi tendo curado tampando os buracos na superficie, a porta entao foi tratada em ambas as faces com lixa G60 na lixadeira de cinta, seguido por lixa G80 na lixadeira orbital. A imagem acima mostra o resultado na parte media de uma face da porta, a com maior numero de 'defeitos'.

A seguir, mais para satisfazer minha curiosidade do que por qualquer outra razao, borrifei agua em toda a face, para ter uma ideia de como poderia ficar apos um acabamento transparente...


Satisfeita minha curiosidade, hehe, foram marcadas com esquadro e serradas, com serra circular manual utilizando o auxilio de uma guia, as extremidades longas da porta, dimensionando-lhe o comprimento. Nova sessao de lixamento com a lixadeira orbital ate G180 em todas as faces, e a obra foi considerada concluida.


Ante a hipotese de aplicar frisos, relevos, rebaixos, quaisquer decoracoes, a futura dona da peca — sem saber que concordava comigo — optou por mante-la com esta, lisa e simples (e, nisso, provavelmente muito mais duravel, por nao haver frestas nem recessos por onde agua possa penetrar e/ou acumular-se).

Resta ainda, claro, a confeccao da esquadria para a porta, posicionar, acertar e fixar a encrenca toda em nivel e prumo na abertura, colocar as ferragens, escolher e fazer o acabamento. Disso, talvez eu va fazer a esquadria, pendendo ainda a futura proprietaria decidir se vai empregar dobradicas convencionais ou pivotantes. Colocar a porta nao esta nos meus planos: nao tenho experiencia nisso, e a casa e a propriedade dos outros nao me parecem lugar nem material adequados para aprendizados. Sem mencionar que a porta ultrapassou bem o limite de peso que minhas costas me impoem.

Pendendo os resultados, hehehe, talvez no futuro eu va tomar umas imagens de como a porta tera ficado, no lugar e funcionando. Veremos... Conforme for, compartilho com voces aqui, meus sete fieis leitores.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Fechando uma porta - II

Mantendo o ritmo extremamente lento imposto pelas escaldantes condicoes metereologicas com que o velho Pedro continua nos brindando aqui pelo portinho, uma vez feitas todas as furas e a montagem seca para corrigir quaisquer problemas remanescentes nos encaixes, fiz a colagem da porta em duas etapas.

Colando as primeiras duas folhas na primeira etapa





Utilizei cola epoxi de cura lenta por varias razoes: por permitir aproximadamente 30 minutos de tempo de trabalho, adequado para o ritmo imposto pela temperatura, hehe, e pelas naturais dificuldades de lidar com pranchas longas e pesadas, pela excelente adesividade da resina que, por permanecer mais tempo na fase liquida permite um mais profundo embebimento na madeira e, claro, por a resina curada resistir muito bem aos elementos, algo fundamental considerado tratar-se de uma porta externa.


Optei por fazer a colagem em duas etapas ao inves de colar tudo de uma vez nao apenas para reduzir os riscos de empenamentos e desalinhos na prensagem, mas tambem para facilitar o manuseio.


Na segunda e final etapa da colagem, embora usualmente trabalhando sozinho, acabei pedindo socorro e consegui uma auxiliar para efetuar a colagem e o posicionamento dos grampos em ambas as faces das madeiras.

A segunda etapa, as tres folhas colando
Como a porta e' mais larga do que a bancada, a participacao de uma auxiliar foi fundamental

Curada a cola (24 horas em cada etapa) e removidos os grampos, veio o penoso, cansativo, abafado processo de remover o excesso de cola e fazer com lixa grossa o primeiro passo do acabamento da porta. Nao tenho palavras para expressar quao agradavel e convidativo e', com temperatura beirando os 40°C, trabalhar com a cara tapada por mascara, oculos e fones... Santa desidratacao, Batman!

Mas, como dizem, nao ha mal que sempre dure, e eventualmente a lide de poeira profundamente irritante (quem ja lidou com cedrorana sabe bem do que estou falando) e barulho acima de 100 dB (com constantes preces a Sta. Edwirges do Profundo Silencio para que inventem uma lixadeira de cinta silenciosa de uma vez!) chegou ao fim.

A seguir, os pequenos defeitos de superficie (nos, furos, etc.) foram preenchidos com epoxi. Nos dois lados, com intervalo de 8 horas para virar a porta. E nisso estamos:








Amigo meu, nao familiarizado com a tecnica mencionada na postagem anterior (spring joint) de criar-se uma pequena concavidade nas superfices de colagem para evitar descolagens nas extremidades da emenda, comentou que ficou curioso de ver o resultado. Por isso, essa imagem ahi ao lado mostrando mais de perto, alem dos reparos com epoxi secando, as linhas de cola na parte central da porta.