sábado, 24 de setembro de 2016

Armario de fim de inverno — a carcaca

(Clique nas imagens para ve-las em maior resolucao.)

Uma vez seca a colagem dos paineis laterais, por descargo de consciencia e porque imagino o movel va receber alguns consideraveis maus tratos no seu futuro dia a dia, optei por reforcar as emendas aplicando-lhes um longo parafuso desde a lateral. E entao cobrindo com um tampao de cedro rosa a cabeca dos parafusos, imitando uma cavilha, porque na minha estranha religiao moveis que usam parafusos estruturais nao podem mostrar tais parafusos, hehe.

Formando a caixa

O passo seguinte foi cortar de uma prancha de pinho (araucaria) a base e a prateleira central. A base foi fixada `as laterais com doze parafusos, seis em cada lado, e a prateleira foi encaixada em um sulco aberto com dado blade nas laterais e entao fixada com quatro parafusos de cada lado, dois em cada coluna. Nenhuma cola, e as cabecas dos parafusos foram igualmente cobertas com tampao de cedro rosa.



Baseado no principio (religioso?) de testar fazer o que dizem nao se faz, optei por deixar o 'lado ruim' das laterais, onde as pranchas estao repletas de 'defeitos', virado para fora e o 'lado bom', com as laminas de cedro gaucho praticamente intactas, para o interior do movel. A ideia fundamental, claro, sendo que ao inves de tentar esconder, disfarcar as inumeras imperfeicoes dos lenhos colhidos da 'sucata', e' bem mais honesto deixar essas imperfeicoes absolutamente expostas, no 'estilo' que resolvi chamar de rustico rude — e ver com que jeito a coisa vai ficar. (Enquanto, evidentemente, a preocupacao basica e' que o armarinho seja absolutamente resistente, duravel e, se necessario, passivel de ser consertado, retocado, arrumado, etc., se e quando porventura surja tal necessidade.)

Neste momento no entanto e' muito possivel, provavel mesmo, algum de meus sete fieis leitores, mais miudeiro, com toda a propriedade esteja indagando: "Mas o que uma prancha de pinho de 30cm de largura esta fazendo na sucata?" Assim, o': O proprietario da madeireira que mais frequento —sabendo bem que estou longe de ser perito, mas tambem nao sou um total idiota quanto a conhecer madeiras, e que por alguma razao eu procuro selecionar taboas com nos, grana revessa, desenhos e tal ao inves das taboas bem regulares que a maioria de seus clientes prefere — me ofereceu essa prancha por um preco especial, com consideravel desconto. Por que razao? Porque a prancha inclui a medula, o que os Grandes Irmaos chamam pith, o centro de crescimento da tora; e nao apenas madeira com medula tende a trabalhar, empenar de tudo quanto e' jeito, como a medula e' um lenho esponjoso, fragil, e extremamente vulneravel a organismos xilofagos.

No centro da taboa, a medula

No entanto, apesar desses, mm, inconvenientes, a zona da medula apresenta usualmente uns desenhos e coloracoes interessantes e, sim, sob certas condicoes pode-se contornar seus piores problemas. Por isso — e pelo preco, claro — fiquei com a taboa, mas a deixei meio separada, na porta da sucata, digamos assim.

Os pedacos que cortei para fazer a base e a prateleira, como se ve nas imagens abaixo e como era de se esperar, apresentaram seus problemas. A parte que virou a prateleira (`a esquerda) apresentava uma boa area atacada por broca, o que resolvi com a medida geral de aplicar Jimo® Cupim em todo o movel e, no especifico, por entupir os furos com massa de serragem de pinho e cola. A parte que foi para a base (na direita), alem de uma certa descoloracao com fungos escuros, tinha alguma separacao em um veio (o mais escuro e avermelhado, no centro) e um par de rachaduras, o que tratei com cianoacrilato.




Ja as colunas dos paineis laterais, foram cortadas de um resto de louro freijo com defeitos: casca, brancal, manchas e algumas rachaduras nas extremidades. As rachaduras, como se ve na imagem `a direita, tambem foram tratadas com cianoacrilato; os demais defeitos... fazem parte do estilo rustico rude, hehe.



O proximo passo foi colocar o fundo.

Primeiramente coloquei na parte superior o conjunto para um encaixe em faca (ou encaixe frances), serrado de uma ripinha de freijo. Como no entanto o parafusamento necessitou ser feito muito na borda da coluna do painel lateral, resolvi reforcar colocando por cima, parafusado no topo das colunas, uma ripa de pinho. Colhida, claro, na sucata onde estava pelas razoes que me parecem obvias na imagem da direita.


O fundo propriamente foi feito com outro resto do compensado de cedro gaucho, umas taboas de louro freijo da 'sucata' (por curtas, manchadas e com brancal) e um resto de compensado naval todo manchado de fungos pretos. As pecas foram todas fixadas com parafusos; como na parte de tras do movel, contra a parede, os parafusos nao ficarao visiveis, nao foi preciso oculta-los (o estilo rustico rude e' rigido, mas condescendente, hehe). Aquela ripinha la em baixo, obviamente da sucata, serve para manter o armario no prumo quando for para a parede.



Um ultimo toque foi colar umas laminas finas de cedro rosa para cobrir os topos das laterais no alto do movel. Sim, vejam voces, o estilo rustico rude ate pode ser considerado feio. Mas nao pode ser guenzo, nao pode ser fragil e, principalmente, nao pode ser desleixado, oras...

Ahi, mais umas aplicacoes com as lixadeiras onde considerado necessario, sopracao e aplicacao de veneno, marron escuro no compartimento inferior, incolor no resto tudo.




E com isso, acho, a carcaca esta completada...


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