quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mesa com curva — deslanchando

Tendo finalmente conseguido obter a laminacao curva — a peca-chave para dimensionar o movel — foi relativamente rapido dimensionar as saias e cortar-lhes as espigas conforme as furas ja abertas nos pes.

 Com as pecas e encaixes ja devidamente dimensionados e cortados, hora da colagem...

Nunca antes tendo feito uma mesa tripe e sem tensor entre os pes, eu ignorava a serie de detalhes a reparar e cuidados necessarios no sentido de manter as geometrias  do movel quando submetido `as pressoes aplicadas durante a colagem. Felizmente ocorreu-me realizar uma serie de montagens secas — na verdade mais preocupado em ver de que forma eu poderia aplicar pressao efetiva nas emendas do que propriamente com a geometria da estrutura — e nisso pude verificar os inumeros problemas de torsoes e distorcoes que pressao excessiva ou insuficiente aplicada aqui ou ali pode causar.


















Entao, fundamentando com um nivel as medidas das linhas de base e conferindo tudo com esquadro, acabei armando esse negocio estranho que se pode ver na foto `a esquerda para finalmente executar a colagem.

Estranho, sem duvida. Mas funcionou, hehe. Quatro horas naquela camera de torturas, removi os grampos e retirei a base da mesinha. Estava pronta e certinha...


Enquanto a colagem da base curava naquele objeto ridiculo, fui-me ocupar com o tampo.

Ha algum tempo eu havia conseguido uma prancha de imbuia de 5x50x210cm, e pareceu-me seria uma boa escolha para fazer um tampo inteirico para a mesinha. Tirei as medidas e, de fato, com 80cm de comprimento a prancha serviu como uma luva para a finalidade. Como minhas plainas motorizadas admitem no maximo 30cm de largura e como a velha prancha apresentava praticamente todos os tipos de deformidades que o tempo costuma imprimir, surgiu a questao: como aparelhar a prancha? Simples: na mao!

Eu ja havia aparelhado algumas madeiras brutas com plainas manuais, mas nunca algo nessas dimensoes.

Mas... faz parte, nao faz? Entao, maos `a obra.

Deu um imenso suador a cada sessao de plainagem, nao tem duvidas. Mas convenhamos, sao muitas decadas. E pouca forma, tambem e' verdade. Cansativo, sim, algo demorado, mas nao exatamente dificil corrigir as distorcoes e obter superficies planas e paralelas. Nao. Lisas nao. Imbuia, com seus veios torcidos para todos os lados e nao raro invertidos, arrepia por qualquer coisinha, e' notoriamente um osso duro para se chegar a um acabamento liso com plainas. A ideia, ate por experiencias anteriores com essa essencia, era chegar a um aparelhamento suficientemente retilineo, dimensionar o tampo e so depois partir para o acabamento final. Com lixadeiras.

Montanhas de maravalha (como imagino possa se ver nas fotos que, como sempre, clicadas abrem-se em uma pagina com maior resolucao) e litros de suor depois, considerei a prancha suficientemente aparelhada para poder dimensiona-la. Utilizando a base ja seca como referencia, marquei com lapis os angulos na prancha e, usando o graminho da serra de mesa com a ajuda de par de grampos para estabilizar, serrei a coisa:




Bueno, montada a base e dimensionado o tampo, hora de iniciar os acabamentos. A base foi toda lixada com grana 240 e recebeu uma demao de oleo de tungue. Confesso fiquei surpreso, agradavelmente surpreso, quando constatei que apos o banho de oleo a cor da maracatiara e a do eucalipto-rosa casaram-se como se feitas uma para a outra.

Comecei a dar uma plainada mais fininha no tampo para facilitar o lixamento e... mais uma surpresa, agradavel: o padrao de cores e fibras da madeira surgiu extremamente chamativo. Vendo aquela beleza ocorreu-me utilizar — ao inves dos recortes e chanfros com a tupia e do acabamento que tinha imaginado, um polimento frances — uma tecnica que so conhecia de ter lido, e que costumava ser utilizada nos seculos XVI e XVII. Essencialmente, deixar o acabamento do tampo bem rustico, com nitidas e fundas marcas de plaina e sem reparar os arrepios. Por que? Acesso agudo de puro mau gosto? Medo panico das lixadeiras?

Tudo bem, detesto lixar, gosto e' gosto, e nao tenho pretensoes o meu seja qualquer tipo de padrao. Mas a ideia e' que o tampo assim, ao inves de chamar a atencao para o design, chama a atencao e' para a madeira. E ela merece...

(O brilho da prancha nas imagens abaixo e' por estar ensopada em oleo.)



Depois de removido o excesso e o oleo curando, optei por fixar o tampo `a base utilizando cavilhas, tarugos. Girei no torno os tarugos utilizando um resto de maracatiara, fiz os furos na base dos pes e colei. Utilizando os proprios tarugos como referencia ao colocar a base sobre o tampo invertido, marquei e fiz os furos no tampo.


Falta agora terminar o acabamento e montar a encrenca. A ver, qualquer bathora dessas.

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