quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Cera microcristalina - primeiras conclusoes

(clique nas imagens para amplia-las)


O primeiro periodo de testes quanto a formular cera microcristalina como protetor contra oxidacao de aco/ferro — envolvendo as observacoes mais imediatas, possiveis de ser realizadas em relativamente curto espaco de tempo — esta concluido.


Bah!


Nao pretendo macar meus sete fieis leitores com detalhes tediosa e odiosamente minuciosos do que foi realizado ou deixado de fazer, ou entulhar esta postagem anexando uma pilha de imagens demonstrando isso ou aquilo.



Resumidamente entao, o que foi feito foi remover totalmente em alguns pontos a oxidacao de uma sucata de aco jogada ha anos (usada para meus treinamentos em solda eletrica); nesses pontos aplicar uma meia duzia de diferentes formulacoes da cera microcristalina e entao, primeiro, pulverizar agua na tal barra de aco e deixar ficar por 12-24 horas. Depois, registrar os resultados em fotos, tornar a preparar os pontos e aplicar neles vinagre e deixar ficar ate bem seca. Registrar os resultados, preparar novas formulacoes e repetir os testes. Adicionalmente, a cera foi usada em madeira, para tirar uma temperatura de sua aplicabilidade.



De todas as formulacoes que preparei a que mostrou melhor desempenho contra a ferrugem foi a preparada nessa dosagem:


cera microcristalina -120g
cera de carnauba - 40g
limoleno - 95ml

O resultado e' uma cera em pasta relativamente dura, firme e facil de aplicar com pano limpo.

A tecnica de aplicacao com melhores resultados foi passar a cera com pano, deixar secar por 10-15 minutos, remover o excesso com bombril, tornar a aplicar e repetir o processo ate completar tres demaos de cera.



Ahi `a esquerda, o resultado apos a aplicacao de agua — o que para mim equivale a varias semanas de exposicao ao ar bem umido. Alguma oxidacao ocorreu na area protegida, ainda que bem menor do que na regiao sem protecao, como aponta a seta verde. Passando bombril na area protegida boa parte da ferrugem saiu, mas especialmente onde havia depressoes foi necessario aplicar lixa para remove-la toda.

Abaixo, a aplicacao de vinagre — um ano de exposicao? Na foto `a esquerda as bolhas mostrando que o acido ultrapassou a protecao da cera e esta em contato e reagindo com o metal; na da direita o resultado depois de seco.


Fica claro que, nao surprendentemente, a oxidacao foi muitissimo mais intensa com o ataque acido do que so com a agua, Muitos e mais profundos residuos restaram apos a aplicacao de bombril necessitando lixamento bem mais intenso para conseguir clarear o metal.


Ao fim e ao cabo, pude avaliar essa formulacao de cera empregada ate apresenta um consideravel grau de protecao contra a oxidacao em comparacao ao metal desprotegido, e certamente bem maior protecao do que a obtida empregando oleos finos, mesmo associados a removedores de agua como o WD-40 (sim, eu ja realizei testes com tais materiais em outras oportunidades).


Alem disso ha de se levar em consideracao, em termos de praticidade, a cera nao precisa ser removida dos tampos e/ou ferramentas que esta protegendo antes de serem utilizados e pode ser reaplicada sem maiores preparos, enquanto os oleos devem ser limpos a cada uso para nao contaminar/sujar as madeiras. Adicionalmente, as superficies enceradas permitem um deslizamento com muito menor atrito com as madeiras do que o metal nu, o que se traduz em consideravel melhora ergonomica nos procedimentos.

Testes praticos cobrindo bem maiores intervalos de tempo serao necessarios, claro, e vou faze-los e eventualmente reportar aqui os resultados, mas a sensacao que fica e' a utilizacao dessa cera sendo reaplicada semanalmente ou a cada 10 dias permitira, mesmo nas estacoes chuvosas, manter uma boa conservacao de metal exposto.



Ahi ao lado a latinha de cera para automoveis, bem lavada com solvente para garantir a remocao de todo silicone, onde coloquei a cera obtida conforme a formulacao acima, a que ofereceu melhor protecao para metais ferrosos de acordo com meus testes. A utiliza-la na frequencia que como apontado acima me parece sera eficaz para evitar oxidacao dos tampos e/ou ferramentas, e' quantidade suficiente para mais de ano. O custo? Tudo somado, imagino que, a precos de hoje, menos do que tres carteiras de cigarro.

Um produto simples de preparar, se mantido bem fechado praticamente nao envelhece, relativamente eficiente e certamente barato. Parece-me uma solucao aceitavel para o problema da ferrugem.



Agora... Se ser barato nao e' tao importante, deixem que lhes diga: a Renaissance Wax® (RW), o produto importado que deu origem a essas ultimas postagens, esse sim e' a solucao definitiva.

Porque nao sou, ou pelo menos gosto de pensar que nao sou cretino, nunca imaginei poderia no fundo do meu quintal produzir algo que sequer se aproximasse da performance de um produto desenvolvido em centro de ponta, por pesquisadores de ponta do Primeiro Mundo com acesso a materiais de ponta...

(Alias, falar em materiais de ponta, permitam-me um parentese:

  • Pesquisando sobre parafina microcristalina, entre outras coisas descobri que, por outros produtos sinteticos cumprirem melhor varias das funcoes em que esse derivado do petroleo era empregado, varias destilarias mundo afora cessaram sua manufatura. Isso tornou o produto escasso no mercado e quando, la por 2010, surgiram certas aplicacoes demandando seu uso, a demanda nao teve como ser atendida.
  • A Petrobras produzia e produz parafinas microcristalinas alegadamente consideradas de superior qualidade, das melhores do mundo, com teor de oleos inferior a 1%.
  • Quando surgiu a demanda la de fora, o que fez a Petrobras Distribuidora? Tratou de atende-la, e tanto, que parafina microcristalina desapareceu do mercado de pindorama. Nao consegui saber com certeza, mas parece que o mercado interno ainda continua desabastecido por nossa estatal do petroleo. E nossa demanda acaba sendo atendida por... material de qualidade inferior proveniente da China.
  • Como nao e' nada incomum, nem infrequente, exportamos o nosso bom, e importamos...
  • Bueno, a parafina microcristalina que comprei tinha ponto de ebulicao mais baixo do que a da Petrobras, e 1,6% de oleos.)


Mas voltando `a vaca fria, ou `a RW: Como disse em postagem anterior eu ja constatara sua excepcional capacidade de proteger metais. E, ja que estava com a mao na massa, naturalmente resolvi fazer os mesmos testes com ela. No teste com agua, nem o menor sinal de oxidacao nas areas protegidas. No teste com vinagre... Vejam as imagens:

Praticamente nenhuma borbulha no vinagre

Depois de seco, a cor do que ficou depositado e' um preto esverdeado, nada que lembre ferrugem
Aparentemente (veja abaixo) o acido reagiu com a cera, nao com o metal

A aplicacao de bombril removeu praticamente todo o deposito, o metal ficando intocado

O inconveniente da RW e' o de todo importado: o preco. Com frete, o pote de 200ml de RW acaba saindo ao redor de 30 alfaces. E mais o imposto.

Mas a quantidade a ser aplicada e' minima. No teste, apliquei com a ponta do dedo, um tiquinho. E, tao logo aplicado passa-se um paninho para remover o excesso. Imagino eu, para a maioria dos hobistas os 200ml de um potinho (ha os de 65ml, mais baratos) vao chegar para dois a quatro anos. Mas, inegavelmente, o investimento inicial nao e' banana...


E por enquanto e' isso.

Daqui a uns meses, quando tiver colhido dados apreciaveis, pretendo voltar aqui a este batcanal e apresentar os resultados que tiver obtido. Quanto ao uso de cera com microparafina em madeira... fica para uma proxima.


6 comentários:

  1. Um relato excelente, rico o suficiente para disseminar uma nova forma de se proteger as ferramentas. O passo daqui com a manutenção em óleo é ponto de gargalo. O verão não perdoa a ausência de uma manutenção diária: ponto. Estações mais amenas permitem 2-3 dias de relaxamento. Tudo se amplifica mas sessões majoritariamente desplugadas, em que o contato frequente das mãos com o metal é regado a mais suor do que em contexto plugado. Entre plugados e desplugados ninguém se salva, e a proteção é ritual necessário.

    Os testes são agressivos e impressionantes tanto do lado de pindorama quanto do norte. De fato, apesar do custo da RW há de se levar em conta a durabilidade da cera.

    Em tempo, a presença do óleo por aqui vai muito além de ergonomia. Uma sola de plaina grande com camada de WD-40 é bem resistente ao movimento. Riscar com cera é mais do que bem-vindo.

    Agradecimentos empolgados pela série. Irei provar o método.

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    1. Se as informacoes puderem ser uteis e algo dos metodos puder ser proveitoso, esse e' o objetivo.

      Grato pelo comentario estimulante, Cosme.

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  2. Bom dia, parabéns pelo trabalho!
    Se me permite uma sugestão, não sei se é possível, trocar o bombril por esponja de louça tipo scotchbrite ou algo assemelhado. É que no uso do bombril sempre ficam resíduos de aço impregnados e que são danados para enferrujar e iniciar o processo.
    No mais, grande abraço
    Marcos

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    1. Espumas abrasivas tipo scotchbrite tendem a, logo, logo, ficar 'embuchadas' com a cera, Marcos. Bombril tambem fica, mas a gente pode 'abrir', e ter uma nova superficie para continuar o processo. O risco dos residuos 'catalizarem' ferrugem certamente existe, mas imagino (ou espero) provavelmente, se nao a totalidade, sua imensa maioria ficara envolta pela cera e portanto isolada. Vamos ver o que mostrarao os testes...

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  3. Muito bom.
    Para mim é tudo novidade.
    Abraço
    JP

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    1. Tudo, um dia, e' novidade, JP.

      Espero tenha bom proveito do blog.

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