Em funcao das dimensoes que projetei, acabei me deparando com um problema: a base e o topo da carcaca terao de ter 355mm de profundidade, ou seja, essa dimensao na largura da prancha. Nao se acha pinho nessa largura, claro, mas achei com 320mm. Facil: colar uma ripinha no fundo, na parte que ficara junto `a parede, e nem vai-se ver. Mas ha outro problema: minha desempenadeira e meu desengrosso aceitam no maximo 30cm de largura. Facil: corta-se a chapa para caber nas plainas e cola-se uma ripinha um pouco mais larga, oras. Confesso, normalmente seria isso que eu faria.
Mas aconteceu que no Forum Madeira! eu me envolvi em uma conversa relativamente ao uso de morsa na bancada de marceneiro ser essencial ou superfluo. E como eu mantenho o uso de morsa na bancada e' superfluo, uma das questoes que surgiu foi como, sem morsa, fixar uma prancha para plainar de face? Dai ocorreu-me eu poderia unir o util ao talvez instrutivo aqui no blog, e resolvi aparelhar a prancha que vou utilizar no movel, mais especificamente desempena-la e desengrossa-la, utilizando plainas manuais e meu modo preferido de fixa-la na bancada, com valetes (holdfasts) e dogs (aqueles pinos que se colocam em furos feitos no topo da bancada, e cujo nome em portugues infelizmente desconheco).
(Parece-me de bom alvitre esclarecer eu gosto de utilizar ferramentas manuais por uma serie de fatores. Mas nao sou fanatico e muito menos contrario ao uso de ferramentas motorizadas; prefiro sempre o caminho do melhor resultado, se possivel com menor esforco, digamos asssim. Especificamente desempenar e desengrossar sao atividades que praticamente sempre eu prefiro executar com plainas eletricas, e a razao talvez fique evidente olhando essas duas imagens ahi ao lado, mostrando o volume de maravalha produzido na desempenadeira e no desengrosso eletricos aparelhando as madeiras para as portas e as laterais do futuro movel. Deu para encher um saco e meio de lixo, de 100 litros. Na plaina manual, trabalho para uns bons pares de dias, puxados. Nas eletricas uma manha, com resultado tao bom ou melhor do que posso obter na mao.)
Feito o parenteses e explicado por que considero aparelhar uma taboa na mao algo de todo nao rotineiro, o fato e' que coloquei a prancha de 1400x320x25mm sobre a bancada e, fixando-a como veremos, iniciei a plainar uma das faces na transversal dos veios com uma plaina de desengrosso (scrub plane):
Na imagem acima a plainagem de desengrosso/desempeno iniciada. As setas vermelhas apontam os pontos de fixacao. Da esquerda para a direita, um dog na ponta da taboa, um parafuso de superficie empurando o compensado contra a lateral da taboa, um valete sujeitando um sarrafo contra a lateral da taboa, e outro dog mais 'abaixo' ainda. A seta verde aponta o valete no outro lado da taboa, o qual a prende e solta em segundos, conforme desejado. A imagem abaixo foi tomada pelo outro lado; o mesmo objeto, as mesmas setas vermelhas...
Aparelhar na mao e' um trabalho algo demorado, demanda um bom esforco e litros de suor, especialmente no verao, hehe, como imagino o acumulo de maravalhas ahi ao lado possa sugerir. Alem disso, ate por cortar na transversal dos veios ao inves de no sentido longitudinal, e' atividade que pesa na lamina da plaina, demandando o fio mais apurado possivel, o que nao raro significa a necessidade de apurar o fio durante o processo.
Quando se atinge perto, uns 3-5mm da espessura desejada, e' hora de conferir se nao restaram empenamentos e, caso os haja, corrigi-los. Isso e' feito, primeiro, usando-se uma barra reta para conferir se nao ha ondulacoes, e entao utilizando-se umas barrinhas — que podem ser de madeira, metal, qualquer coisa que se preste — para verificar nao haja torsao na superficie, como talvez seja mais facil entender simplesmente vendo as fotos abaixo.
Acertado nao haja empenamentos, a face e' entao regularizada empregando-se uma plaina desempenadeira (no.7 ou 8) e/ou uma plaina jack (no.6 ou 5), a taboa e' virada e o processo e' repetido na outra face ate chegar-se na espessura desejada, com o cuidado adicional de conferir, alem da ausencia de quaisquer empenamentos, que ambas as faces fiquem perfeitamente paralelas — o que nao e' dificil, mas por certo e' um pouco demorado.
Neste caso especifico, eu optei por deixar uma das faces (a que sera a externa) sem regularizar, por razoes esteticas. (Sempre ha o recurso, caso a coisa fique feia, de a qualquer momento antes da colagem aplicar a regularizacao.)
Ahi abaixo, entao, o resultado de uma manha de trabalho:
Cansa um pouco sim, e' verdade. Mas e' inacreditavel o que melhora o paladar da cerveja!
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