Em marcenaria uma das primeiras manifestacao do sensual estilo emergente seria justamente a aplicacao de ricas curvas `as formas dos moveis. Em especial um modelo de gaveteiro baixo, denominado commode bombée, tornar-se-ia seminal ao novo estilo, espalhando-o pela Europa afora.
Inicialmente por compreensiveis razoes tecnicas mantendo uma maioria de linhas retas, introduzindo apenas poucas curvas e alguma decoracao com ferragens, como esse modelo `a direita, na medida que o estilo se popularizava a demanda aumentava, e os artifices iam progressivamente se familiarizando e dominando a intrincadissima geometria e as refinadas tecnicas necessarias, resultando as formas foram ganhando progressivamente mais e mais acentuadas curvas, e a decoracao passou a incorporar nao apenas ricas ferragens como a adicao de meticulosos entalhes, marmores e complexa marchetaria, culminando em joias como essa ahi abaixo:
Na Europa toda engolfada pelo estilo rococo a execucao dos grandes paineis curvos usados nos moveis de estilo era feita praticamente sempre por tecnicas de tanoaria: diversas ripas — previamente recurvadas, ou retas e entao escavadas — coladas entre si e entao recobertas por finas laminas de preciosos lenhos. (Esses elaboradissimos, riquissimos moveis daquele periodo fundamentam a afirmacao de muitos o apice da marcenaria foi atingido no sec. XVIII.)
NA Matriz no entanto, quando o estilo fez sua triunfante entrada via o porto de Boston, os marceneiros de la dispunham de grandes, grossas pranchas; inicialmente umas poucas de nogueira nativa e entao farta quantidade de mogno importado do nos..., mm..., da America do Sul, digamos. Sendo entao como agora os Grandes Irmaos adeptos da filosofia de que o maior e' o melhor, passaram a fazer (e fazem, ate hoje) os paineis com pranchas inteiricas, removendo a maior parte da madeira para formar as curvas:
Prancha de mogno sendo preparada para transformar-se em um painel curvo |
Hoje como no seculo XVIII, em funcao das curvaturas a tecnica de construir-se um desses moveis e' extremamente complexa, de tal forma que essas comodas bombe sao chamadas de "o Everest da marcenaria", o mais alto degrau da arte em moveis. Enquanto na epoca de Luis XV os moveis eram criados a partir de moldes obtidos de prototipos criados por inumeras tentativas e incontaveis erros, hoje obviamente utilizam-se computadores no projeto, especialmente programas de CAD. O que nao significa que as dificuldades sejam poucas, como se pode evidenciar nessa analise (em ingles, infelizmente) cujos links seguem abaixo:
http://www.finewoodworking.com/item/32225/bombe-chest-an-exercise-in-complex-geometry-pt-1
http://www.finewoodworking.com/item/32434/bombe-chest-an-exercise-in-complex-geometry-pt-2
Mas alem de projetos em computador, muitos se propoem ao real desafio de construir um desses moveis em madeira mesmo. Nao ha de ser facil... Um aluno de afamada escola de marcenaria em Boston relata que, utilizando moldes e instrucao de mestres versados no metier, trabalhando 80 horas por semana demorou 15 semanas para construir uma comoda bombe basica.
Tambem em Boston um mestre carpinteiro resolveu construir A comoda bombe. Um modelito sem marchetaria ou apliques exclusivos mas com, do ponto de vista de marcenaria, tudo em cima, incluindo entalhes:
O processo lhe consumiu dois anos!
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Postei esses comentarios porque, primeiro, me pareceram informacao que talvez possa enriquecer o interesse que alguem porventura possa ter em moveis bombe. Depois, para afirmar que minha ideia de construir uma pequena commode bombee nao tem a menor, mas nao tem a minima intencao de sequer se aproximar das dificilimas, muito complexas tecnicas construtivas desses moveis, sejam europeias, sejam americanas.
Pelo contrario, minha ideia e' trapacear.
Ver se de alguma maneira alguem com tao pouca pratica e tao pouca aptidao a metodos geometricos e/ou matematicos como eu e' capaz de fazer, sem planos, utilizando recursos bem basicos de marcenaria, um movel que de alguma forma lembre um desses classicos. Pelo metodo tabajara, que seja. Certamente utilizando menos, muitissimo menos de 80 horas por semana e com toda a certeza nem chegando perto de um, nem pensar em dois anos. E de preferencia sem muito suor, hehe...