sábado, 9 de junho de 2012

Uma aula indesejavel

Apos deixar curando a colagem do fundo no bloco de itauba por 48 horas (o dobro do tempo recomendado pelo fabricante) em funcao das baixas temperaturas que tem assolado o portinho nos ultimos dias, tornei a parafusa-lo na placa de face e voltamos aos giros.

O fundo foi torneado para encaixar na placa de castanhas e entao, ja presa com castanhas e com a placa de face removida a peca foi, invertida, montada para tornear a parte de dentro, o oco do bowl. A 'escavacao' do oco ocorria normalmente, nenhum incidente de nota no processo, apenas a usual, esperada e agradabilissimamente perfumada chuva de itauba. Eu iniciava o aprofundamento do corte interno para formar uma 'gola' no vaso quando, sem aviso ou motivo aparente... BAM!

Girando entre 600 a 800 rpm o bloco rompeu-se em tres partes. Uma, o fundo, continuou girando devidamente presa `a placa de castanhas; metade do corpo foi arremessada a uns bons 10 metros de distancia e a outra metade percutiu com forca o barramento do torno, com um estampido que trouxe os caes correndo para investigar, e caiu no chao.


Tao logo, par de segundos, me recuperei da surpresa, a primeira coisa que reparei foi que, dentro do azar, tive sorte. Muita sorte.

Para terem uma ideia, olhando a foto ahi ao lado imaginem que uma daquelas metades que estao sobre o barramento do torno, de itauba, dura e pesando pouco mais de 1kg, foi arremessada ate a linha que aponta a flecha vermelha, o dobro da distancia para a esquerda desde o toco. Ou seja, passou exatamente por onde mais usualmente eu estaria torneando, se nao tivesse tido a sorte de estar escavando o oco e portanto bem para o lado, quase na altura do saco de lixo azul que protege o copiador. Estivesse na posicao mais usual, ali bem na frente da trajetoria do projetil, e teria tido de 'matar no peito' a peca ou, pior, na mascara facial — e em qualquer das hipoteses nao imagino tivesse saido incolume.


Depois, simultaneamente assustado e aliviado, fui olhar o que diabos havia acontecido para a peca ter 'explodido'.

Por saber a maioria das falhas operacionais usualmente se devem a erro do operador, nao so estou sempre disposto a aceitar qualquer falha ou problema deva-se a culpa minha, como esta hipotese — minha culpa — e' sempre a primeira. Mas nao estava realizando nenhum procedimento novo, nada que nao tivesse feito antes e varias vezes, e certamente nao tinha sentido qualquer 'tranco' por ocasiao do evento, apenas o sobressalto ao ouvir o estampido.

Examinando as pecas, ficou evidente todos os rompimentos haviam ocorrido em linhas de cola.
















Ou seja, a cola havia falhado!

A minha primeira hipotese foi teria falhado a colagem do fundo, mais recente: apesar de ter deixado o dobro do tempo curando, o frio teria impedido que o reacao tivesse de fato se completado.

Mas o exame das pecas mostra que nao, nao foi o fundo o ponto de falha, mas a colagem entre os segmentos.
Pode-se ver que fragmentos do fundo foram arrancados, ainda colados. Um maior, bem nitido, em uma das metades, o outro uma pequena lasca em meia-lua na outra. Pelo tipo da quebra fica evidente: os segmentos separaram-se e entao, forcados para fora pela forca centrifuga, produziram a quebra na peca do fundo ao serem arrojados.

Ou seja, nao se pode atribuir a falha da cola a um processo de cura incompleto. E como se pode ver que ambas as faces que se separaram nao so estavam curadas a varias semanas, como tambem estavam totalmente cobertas por cola, inescapavel concluir o problema tampouco pode ser atribuido a uma tecnica incorreta de colagem. Conclusao final, a cola epoxi falhou porque falhou, nao resistiu ao continuado esforco da soma da forca centrifuga com a tracao dos cortes, as vibracoes e os 'solavancos' do processo, e cedeu.

-- oOo --

Tudo bem, confesso que realmente teria preferido nao ter tido essa aula!

Mas ja que tive, fique registrado o aprendizado; conhecimento para compartilhar:

  • Realmente, alem de oculos de protecao e' indispensavel utilizar-se mascara facial — e das boas! — para operar-se o torno.
  • Se pecas pesadas devem ser giradas sempre com muita atencao, muito cuidado, medidas extras de seguranca devem ser consideradas ao lidar-se com segmentados, especialmente para evitar descolagens subitas.
  • Cola epoxi nao e' uma boa opcao para montar-se segmentados para o torno. Por mim, doravante nao deve ser usada nisso de jeito nenhum. Por favor, veja a proxima postagem para as devidas correcoes.
  • Sem duvidas, utilizar-se um avental de couro faz muito sentido ao usar-se o torno. Eventualmente, pode representar a diferenca entre um dolorimento com talvez um roxao e um talho feio.
Como?
O que vou fazer com os restos do desastre quase tragico?
Nao sei ainda.

Estou na duvida entre guarda-los como um aviso permanente dos riscos envolvidos nas operacoes do hobby, ou... curtir um calorzinho — se voces me entendem.

2 comentários:

  1. Prezado Paulo, ainda bem que a perda foi apenas material. Além dos equipamentos mencionados, seria bom também usar uma armadura... abraços.
    Eleandro.

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  2. Marcenaria e' uma pratica que SEMPRE envolve riscos, Eleandro. Logo, consideracoes de seguranca sao sempre muito importantes.

    E coincidentemente, sim, em certas operacoes (industriais) de tornearia utiliza-se vestes reforcadas, equivalentes a armaduras. Nao e' o caso para hobistas, certamente, mas quanto mais protecao melhor.

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