sábado, 16 de junho de 2012

Testando adesivo - I

(Relembrando que como sempre as imagens, clicadas, abrem uma janela com maior resolucao.)

Como relatado na minha postagem imediatamente anterior, recentemente sofri um acidente potencialmente tragico ao tornear um bloco de segmentos...

O tempo tendo arrefecido os calores do meu separador de orelhas fui obrigado a concluir, para comeco de conversa, meu relato do problema de "falha da cola" foi injusto. Sim, a cola falhou — mas falhou porque foi empregada para muito alem de suas especificacoes. Ou seja, e' preciso que fique claro que, de fato, a falha originou-se nao da cola em si, mas de seu mau uso. Ou ainda, em outras palavras, que a culpa foi minha, sim!

Demonstradamente, em toda a literatura que ja consegui acessar, e em todos os inumeros documentos disponiveis na Rede que vi ou li, a recomendacao e' que a colagem dos segmentos para tornear seja feita com cola PVA, com rigoroso cuidado as juncoes sejam preparadas sem folgas, superficies absolutamente limpas e com perfeito acoplamento e, todas, sempre, montadas sob pressao.

Sucedeu-se que o preguicoso aqui, quando em algumas ocasioes deparou-se com juncoes com frestas em algumas de suas montagens, ao inves de corrigir as frestas com plaina, lixa, o que fosse, optou por preenche-las com adesivo, especificamente resina epoxi. Em todas as ocasioes que empreguei esse "metodo" — como exemplificado na foto ahi `a direita — o resultado foi muito bom; nao apenas no preenchimento de espaco, como na aderencia, mesmo quando sujeita a esforcos consideraveis. Por isso, ao deparar-me com algumas frestas na adaptacao das juncoes dos segmentos do bloco de itauba que eu havia cortado, ao inves de pacienciosamente tratar de corrigir os angulos e superficies para um acoplamento perfeito das pecas preferi, preguicosamente, utilizar epoxi nao apenas pelo periodo mais prolongado (~30 min) que oferece para ajustes, mas tambem por sua capacidade de preencher frestas mantendo boa adesao.

Infelizmente, como se viu, nao foi uma boa ideia. Nao foi uma boa ideia MESMO!

Mas se fico moralmente obrigado a corrigir minha injusta conclusao postada anteriormente
"Cola epoxi nao e' uma boa opcao para montar-se segmentados para o torno. Por mim, doravante nao deve ser usada nisso de jeito nenhum"
para uma redacao mais justa, como
Cola epoxi nao se presta para colagens com preenchimentos se houver intencao de tornear o objeto colado
a verdade e' que ainda estou tentando escapar de declarar terminantemente o corolario logico
"Nao se deve nunca tornear segmentados quando houver frestas nas colagens".


O fato e' que fiquei pensando se, ao inves de utilizar a resina epoxi sem cargas eu utilizasse resina estrutural, eu nao teria ahi um jeito de fugir da tediosa trabalheira de ter de ajustar as juncoes uma a uma ate um ajuste perfeito. Indo `a caca, na Teia, de um possivel candidato para testar, deparo-me com uma preparacao cujo vendedor afirma nao apenas ser indicada para madeira, como ter propriedades estruturais e, de quebra, ainda conter reagentes capazes de efetuar um 'bonding' quimico entre as superficies, atuando mais do que como um simples adesivo, mas como uma solda! Trata-se do Fusor® 390/383NS, anunciado pela Redelease, uma firma com que eu ja havia negociado algumas vezes:

Supondo poderia essa ser uma possivel solucao para a, mm, 'equacao da folga', hehe, encomendei o produto.


Todavia nao sou dado a acreditar em nada; fe com certeza nao e' um dos meus fortes. Ao contrario, sou cetico e, mesmo, desconfiado. Assim, enquanto aguardava o SEDEX com a cola chegar, fui pesquisar mais quanto ao produto.


Resumindo, descobri que Fusor e' uma marca registrada de uma linha de adesivos fabricados por uma multinacional, a Lord Corporation. De acordo com a pagina da Lord em http://www.lord.com/products-and-solutions/adhesives/product.xml/130, LORD Fusor® 380NS/383NS e' um adesivo epoxi bicomponente de rapida cura usado para ligar plasticos reforcados com fibra de vidro (FRP) e compostos laminares moldados (SMC) com metais. Nada de madeira, nada de bonding, nada de solda; aparentemente seu maior uso nA Matriz e' mesmo em chapeacao de carrocerias, retoques com fibra de vidro em metal, etc... Putz!


Mas de todo modo o produto chegou, e ja que esta aqui resolvi testar para ver como se comporta com madeira.


- oOo -

A primeira coisa que notei foi o cheiro. Bem diferente das resinas epoxis que ja conhecia, essa cheira, forte, a amoniaco. Os dois componentes, um branco, outro preto, misturados geram uma pasta cinza escuro, bem maleavel e nao muito viscosa, consistencia semelhante a graxa-patente, digamos. Praticamente nao escorre.

Resolvi iniciar o teste pelo pior cenario:


Misturei os dois componentes da resina sobre uma ripa de pinus com a superficie algo mofada, sem nenhum tratamento. Sobre a resina, sem apertar muito de forma a deixar uma fresta consideravel, coloquei um pedaco de cedro aplainado e entao apliquei o pauzinho todo sujo de cera que havia utilizado para mexer a resina sobre o pedaco de cedro. A ideia aqui, fundamentalmente, testar se o produto seria mesmo capaz de 'atacar' a superficie do substrato.

Deixei curar 24 horas. Bueno, e' bom mencionar o site da Lord afirma que em 2 horas o produto esta curado o bastante para ser manipulado. No entanto, li comentarios da Redelease recomendando 48 horas de cura. Como queria testar o pior cenario, esperei 24 horas...

Segurando pela ponta livre do pauzinho pude erguer a colagem, embora o 'graveto' vergasse um pouco com o peso. Ahi, da altura da cintura, ao redor de 1 metro de altura, deixei cair no chao de lajotas.

Nao posso dizer que fiquei surprendido quando...Tudo se separou!

Sinceramente, se a cola tivesse funcionado nessas condicoes eu seria o primeiro a ficar muito, muito supreso. Mas o que deu para constatar foi que na ripa de pinus a camada superficial bruta, sem acabamento algum, foi arrancada; no pauzinho com cera praticamente nada aderiu e na face plainada do cedro onde a cola ficou foi possivel remove-la simplesmente com uma chave de fenda e pancadas com a mao. Ainda foi possivel constatar a resina curada permanece flexivel e plastica, como se ve pela deformacao no pedaco salientado pelo circulo vermelho.

Afora nao ter ocorrido escorrimento, nada diferente me parece do que se esperaria utilizando resina epoxi comum, sem cargas.

Passei entao para a fase seguinte, melhorando um pouco as condicoes de colagem:




Com todas as superficies bem lixadas e desengraxadas com alcool, misturei e esparramei espremendo bem a resina (supondo aumentar a penetracao) sobre um retalho de itaubao sobre o qual coloquei, primeiro, um retalho de louro prensando com um sargento e depois outro pedaco de louro bem recoberto de cola e bem espremido com a mao, mas deixando uma folga de aproxidamente um milimetro entre as madeiras, para verificar da capacidade de preenchimento com boa adesividade.

Em duas horas ja dava para levantar a 'peca' inteira pelo retalho de louro nao prensado.

Vou deixar completar 24 horas e vamos testar a resistencia da colagem...

Depois eu conto.
Claro, aqui nesse batcanal.

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