segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Cadeira Sligo/Tuam

Quando dia desses um profissional me apresentou um orcamento para pintar o exterior da minha casa cobrando mais por sua hora de trabalho do que eu cobro pela minha, parei, pensei... e conclui: Por esse preco, faco eu mesmo! De tal forma, arranjei um "bico" que me paga melhor do que minha profissao, hehe.

O servicinho extra representa menos horas disponiveis para a marcenaria, claro, mas como nao tinha nenhum projeto em andamento, na verdade nem sequer nada fermentando no separador de orelhas, foi facil chavear as ferramentas e sair a mineirar tralhas de pintura. Adquirida a maioria das tais tralhas, pensei comecar por uma boa lavada nas paredes com a lavajato. Batata! Ha alguns varios meses sem uso, a encrenca nao quis funcionar. Consegui superar a vontade de dar-lhe um tratamento rapido — com uma marreta de 5kg! — e, esbravejando comentarios indecentes contra o Principio da Implicancia Natural das Coisas, dei sorte e acabei encontrando aqui pertinho uma nova por preco de ocasiao.

Foi chegar com a lavajato nova, e o velho Pedro dar uma abrida nas torneiras. Disse-lhe umas boas, e me vinguei comecando a pintar com oleo de linhaca os barrotes e vigas do telhado expostos sob as telhas na varanda. RARRARRA! Para minha surpresa o velho aparentemente ficou magoado e, contrito, fechou as torneiras. Aproveitei o embalo e dois dias de sol para pintar as janelas e portas com o oleo...

Idiota que eu sou!

Cai como um patinho na armadilha do velho. Duas demaos de oleo aplicadas nas aberturas, e o vingativo implicante abriu as torneiras com toda a vontade. Furioso. Cataratas!

Fiquei totalmente desarmado, claro. Nao tem como pintar nada, nao tem como lidar na oficina. Diabos, nao tem nem como limpar o jardim! Fazer o que?

Passear na Teia, claro...

E ahi, passeando na Teia ouvindo a chuva lavar o meu oleo das janelas, de repente encontro outra vez uma referencia a uma cadeira que, ha um bom tempo, tinha chamado minha atencao. A tal cadeira Sligo. Ou Tuam.
Essa ahi do desenho ao lado.

Trata-se visivelmente de uma cadeira de tres pes, com um design bem simples, bem rustico e bem forte. E antiquissimo.



Tanto quanto revelaram minhas leituras na Teia, cadeiras com essa modelagem enfeitavam o interior de habitacoes rurais Celtas ja na Idade Media. E alguns, raros, exemplares sobreviveram oriundos dos seculos XVI e XVII e especialmente das localidades de Sligo e Tuam, no noroeste e centro-oeste da Irlanda — donde o nome com que sao conhecidas hoje em dia.



O engenhoso e atrativo design, como era de se esperar estimulou e estimula a imaginacao de inumeros 'cadeiristas' mundo afora, e o tio Google perguntado por "Sligo chair" e "Tuam chair" retorna incontaveis imagens de criacoes recentes. Pensando em talvez poupar trabalho a meus sete fieis leitores, tomei a liberdade de adicionar algumas dessas imagens ahi abaixo (como sempre, clique nelas para ver em maior definicao) para talvez ilustrar a amplitude do espectro criativo que o movel inspirou...



O fato e' vendo imagens dessa cadeira me surgiu a ideia de utilizar o, mm, jeitao dela para criar uma variante que me pareceu interessante. Fiz uns rabiscos para ter uma ideia do jeito que ficava — e me agradei. Tirei umas medidas e usando um programa de desenho no computador tracei uns moldes para cortar gabaritos...

Doce e' a vinganca!
O velho e implicante patrono aqui do Continente acabou foi me dando inspiracao para cortar madeiras, hehehe.

Nao, nao que eu va abandonar as pinturas, nao. Mas vou devagarinho, um dia aqui, outro ali. Para que pressa? Posso demorar o quanto queira; o fregues e' gente boa, tenho certeza que nao vai se queixar...


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