quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Coisas do inverno


As ultimas quatro semanas foram praticamente todas dedicadas `a construcao dessas tres pecas ahi acima. "Ritmo para tartaruga nenhuma por defeito", pensara talvez algum de meus sete fieis leitores. Mas em verdade nao...

Em primeiro lugar, como ja mencionei em postagem anterior minhas maquinas mais pesadas, como todo ano em funcao do inverno, estao protegidas com oleo e cobertas com plastico incluindo as serras de mesa e de fita e a desempenadeira, e isso evidentemente e' justa causa para reduzir consideravelmente o ritmo. Mas se o frio, a chuva e o Minuano desestimulam lidar na 'oficina', dias ha em que mesmo no inverno do portinho o sol brilha e nao ha vento e ahi, claro, a vontade de fazer serragem ressurge com forca redobrada. E para esporear ainda mais essa vontade eu havia recebido umas encomendas — tres pranchas metalicas para afiacao com pasta diamantada e um dado set — que estavam, mm, meio jogadas, ainda nas caixas de viagem, digamos assim.

Essa conjuncao de fatos acabou por me inspirar um meio de unir o util ao saudavel e ao agradavel.


A primeira coisa que me ocorreu foi fazer uma caixa onde colocar todas as tres placas metalicas, de uma maneira que fosse facil de usa-las quando das afiacoes, e resolvi que iria utilizar na construcao da caixa as pranchinhas que havia obtido dos galhos podados da figueira.


As pranchinhas no entanto estavam em estado praticamente bruto e haviam empenado consideravelmente durante os meses de secagem. Necessario aparelha-las, claro; mas as maquinas estavam 'desativadas'. Decidi que iria fazer o aparelhamento 'na mao', utilizando plainas e serras manuais. Foi o que fiz — e nisso resolvi o problema do frio, que plainando e serrando pranchinhas mesmo com temperatura abaixo de 10°C da para suar, e bem, hehehe.



Com as laterais devidamente aparelhadas, inescapavelmente a construcao da caixa TINHA de seguir em frente: a madeira das pranchinhas veio de galhos, com veios tortuosos, convolutos, um lenho altamente reativo que se deixado por si certamente voltaria a empenar, ligeirinho. Para estabilizar a madeira, so na montagem. Entao, dimensionei as taboinhas e, como nao haveria maiores tensoes nos encaixes, colei os bordos de topo mesmo, reforcando as emendas com pinos F. A seguir, cortei um retalho de compensado de 18mm e encaixei o tampo da caixa, colando com PVA e igualmente reforcando com pinos F.


Na parte de baixo cortei meticulosamente outro retalho de compensado e, usando as proprias placas como gabaritos marquei a posicao dos rebaixos onde encaixa-las. Usando as marcas, cortei os rebaixos com tupia, esquadrejando os cantos com formao. Ficaram justos o bastante para necessitar umas porradinhas com o malho para as placas entrar.



Ahi foi aplicar o que considero acabamento padrao para moveis e utensilhos da 'oficina': duas demaos de Antimofo, lixar levemente, duas ou tres demaos de goma-laca com boneca, secar um dia, e duas demaos de cera.



Aplicada a pasta diamantada nas placas, fim da primeira parte.



A segunda parte foi fazer um suporte zero clearance para a serra de mesa, para utilizar com o dado set.


Outra vez com plainas e serras manuais aparelhei uma sobra de grapia e entao dimensionei utilizando o proprio buraco da serra para as medidas, de forma a nao haver qualquer folga. Na tupia de mesa cortei os rebaixos, para o encaixe e para acertar a altura da lamina de forma a ficar justa com a superficie da mesa.


Utilizando a placa original da serra como gabarito, abri o furo de fixacao e na furadeira de bancada, com uma broca Forstner, o furo para enfiar o dedo e puxar a lamina na hora da troca.



Acabamento apenas com cera nos dois lados, e o rasgo vai ser aberto pelo proprio dado set, quando chegar a hora de usa-lo.
























O dado set veio embalado em uma caixa de papelao e embora no seu interior as laminas fiquem bem protegidas com o emprego de discos de isopor, e' evidente que a embalagem propriamente nao vai resistir muito tempo, especialmente porque o conteudo e' pesado, bem pesado. Portanto, resolvi troca-la por uma de madeira, dessa vez utilizando encaixes em cauda-de-andorinha nas laterais para dar-lhe, em funcao do peso que vai suportar, mais resistencia.

























Dai que, entre os dias parados por frio, chuva e/ou vento, pelo tempo dispendido em aparelhar as pranchinhas, serrar as pecas e depois retifica-las no shooting board, aguardar a secagem das colagens e dos acabamentos, e afiar e reafiar laminas de formoes e plainas... foram-se tantas semanas para construir coisinhas tao simples.

Mas felizmente ha fortes indicios minha Prima favorita ja vem ahi...

Nenhum comentário:

Postar um comentário