segunda-feira, 7 de março de 2016

Um jeito de desdobrar

(Clique nas imagens para ve-las em maior resolucao.)

Com a conclusao do balcao (das cavilhas), hora de dar inicio aos trabalhos dos, mm, moveis de companhia. Como usual, nao tenho uma exata ideia do que vai sair, o que vai ser feito. Esses projetos recebem consideravel contribuicao das madeiras; o jeitao delas vai sugerindo formas, modos, jeitos e a coisa vai tomando forma meio que por conta propria, hehe.

A primeira coisa que fiquei sabendo quanto ao novo movel foram as dimensoes: aproximadamente 70x45x25cm. A segunda foi a madeira da carcaca: imbuia, a ser aparelhada a partir de uns restos de pranchas. Isso posto, a primeira constatacao foi seria necessario desdobrar as pranchas de 5cm de espessura. Para tanto resolvi empregar um jeito que, na minha assumidamente limitadissima experiencia, e' o que gera menores perdas ate obter-se as pranchas desdobradas e aparelhadas. E resolvi documentar o metodo...

Inicialmente as pranchas sao deixadas com quatro lados retos, empregando desempeno, serra circular de bancada e desengrosso.

Cortando as laterais
Corte dos topos
Uma vez as pranchas aparelhadas, as laterais sao cortadas na serra de bancada utilizando um disco de kerf fino elevado `a maxima altura possivel. Sempre mantendo a mesma face em contato com a guia, a seguir cortam-se os topos, com o disco agora elevado apenas par de centimetros.

Se a largura da prancha for maior do que a permitida pela serra de fita, a fase seguinte e' feita com um serrote ryoba, cortando sempre ao redor da peca usando os kerfs ja cortados como guias. Se, como foi o caso, a peca cabe na serra de fita, a conclusao do corte e' feita la, `a mao livre, utilizando os kerfs abertos como guias.

Concluido o desdobre na serra fita




Uma vez as pranchas desdobradas, como imagino se possa ver na imagem `a direita as superficies cortadas ficam algo irregulares, como e' o padrao da serra fita. A regularizacao e' entao feita empregando o desengrosso com pequenos incrementos, procurando perder-se o menos possivel da madeira no processo.

A ideia — principalmente em se tratando de imbuia, uma essencia notoriamente problematica para ser planeada —  nao e' obter-se uma superficie pronta para acabamento mas simplesmente nivelar todas as irregularidades, ignorando eventuais "arrepios" derivados da gra revessa.

Assim mesmo, procurando perder-se o minimo possivel de madeira nos processos de aparelhamento, a perda em desdobres e' sempre consideravel. Como pode ser visto na imagem abaixo, no exemplo em pauta a perda, assinalada pela seta vermelha mostrando a diferenca em relacao a espessura das taboas originais nao desdobradas, ficou ao redor de 25%.


Existem certamente outras tecnicas de desdobrar pranchas possivelmente capazes de causar menores perdas. Ja tentei algumas — cortar apenas na serra fita e cortar apenas com serrote ryoba — mas embora certamente a perda para a lamina seja consideravelmente menor do que quando se utiliza a serra circular de bancada, nas minhas maos a superficie resultante ao final do corte apresenta tantas irregularidades que o desengrosso necessario para nivela-las acaba consumindo mais material do que este metodo com a serra de bancada. Mais treino e refino nos outros metodos talvez eventualmente possa trazer melhores resultados mas, pelo menos por enquanto, ao utilizar madeiras mais nobres eu prefiro fazer como relatei.

Afinando o angulo reto no shooting board
As pranchas desdobradas e prontas
Uma vez feito o desdobre das pranchas, seu comprimento e' ajustado pelo corte em esquadro dos topos e entao afinado com o emprego de um shooting board.



As pranchas assim obtidas sao consideras como prontas para o proximo passo: as emendas. O acabamento final, com lixas, sera aplicado antes de efetuar-se as colagens das ensambladuras.

...

Como?

O que aconteceu com os 25% de material que acabou perdido?

Imagino as imagens ahi abaixo possam ser suficiente explicacao...

























Confesso da uma certa dor ao jogar isso tudo fora. Certamente, o lixo mais perfumado que eu conheco...

Mas, ate que alguem invente um processo de reciclagem para madeiras nobres, fazer o que?

4 comentários:

  1. Eu não consegui entender a fotografia que ilustra a diferença entre a espessura original e a soma das peças desdobradas. A peça original no fundo está no mesmo nível de quatro peças desdobradas?! Pelo o que entendi do que foi feito deveria ser somente com relação a duas.

    Quanto aos 25%, na verdade eu acho que é relativo ao resultado do quão paralela é a face interna desdobrada com relação a face externa. Neste caso, com base nas fotografias, não parece haver muito movimento(empeno) durante o desdobro, mas essa conclusão não faz muito sentido com o percentual acima... Mesmo considerando-se um disco circular, o kerf não deveria ser tão absurdo assim. O corte na fita parece muito bom. Hum, fiquei perdido com o que ocorreu de fato, hehe.

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    1. Na foto, atras das taboas desdobradas estao, uma sobre a outra, duas tiras que foram serradas das pranchas originais, brutas.

      Por conseguinte, as perdas somam nao apenas as ocorridas no kerf da serra e na posterior regularizacao das superficies serradas, mas tambem as que ocorreram com o aparelhamento inicial antes dos cortes. Resultando que de duas pranchas de ~5cm de espessura resultaram quatro taboas com pouco menos de 2cm.

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  2. Hum, acredito que uma comparação mais justa é considerar a diferença entre a espessura da peça *aparelhada* antes do desdobro com a soma das espessuras das peças resultantes do desdobro após aparelhamento.

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    1. Para um certo conceito de justica, sim.
      De todo modo, para ter um parametro teria de desengrossar as tiras para a mesma espessura das pranchas aparelhadas antes do desdobro. O que significaria mais perda, desnecessaria, de boa madeira.

      Ou entao, claro, poderia medir. Mas a mera ideia me nauseia... 8-b

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