quarta-feira, 29 de julho de 2015

Xarope

 Mais uma postagem morrinha, xarope, enfadonha, mas fazer o que? Embora o clima tenha melhorado e nao tenhamos tido mais chuvaradas como as das semanas passadas que inviabilizam totalmente qualquer lide na 'oficina', a umidade ainda permanece alta e no ceu tem praticamente sempre havido uma cobertura de nuvens por onde o sol so raramente espia. E sabidamente acabamentos e umidade sao coisas que nao dao boa mistura...

De todo modo consegui achar intervalos viaveis para ir aplicando meu acabamento 'padrao' na base do movel que estou construindo, mas o diabo e' que os tempos de secagem so podem ser alongados, nunca encurtados. E, obvio, enquanto estou envolvido com acabamentos nao posso fazer mais nada na oficina que produza poeiras — entao o desenvolvimento do, mm, segundo andar, a carcaca do movel, permaneceu estacionado.

Hoje finalmente, apesar das constantes escaramucas com o velho Pedro, consegui terminar um acabamento basico na base, incluindo o interior das gavetas, no meu entender suficiente para evitar que novos episodios diluvianos levem ao surgimento de fungos no movel. O acabamento nas areas visiveis da peca, depois do envenenamento ja narrado na chatissima postagem anterior, consistiu em tres demaos de oleo de tungue, aplicadas com pano as duas primeiras e com lixa G220 a terceira. Nova lixada leve quando o oleo secou, e ahi uma demao de goma-laca com pincel. Trocando o pincel por uma compressa de pano, o processo de leve lixar e aplicar laca foi repetido quatro vezes, ate a superficie dos lenhos apresentar-se aceitavelmente lisa e homogenea quando, embora ainda faltando bastante para o resultado final que pretendo, recobri tudo com uma demao de cera para proteger a laca.

O proximo passo e' retirar a base para dentro de casa e abrir espaco na 'oficina' para prosseguir com a construcao da carcaca.

Abaixo, duas imagens, para ilustrar o estado da coisa:






























Mais para encher linguica do que por qualquer outra razao mais seria, hehe, alguns detalhes (como sempre, clique nas imagens para ve-las em maior resolucao):

Nenhum cuidado para esconder as emendas

Pequenos defeitos foram deixados aparentes

A 'nicada' na gaveta poderia ser corrigida com um ferro eletrico, eu sei...

Essas manchas de cola cola branca nas bases dos pes
eu ate tentei remover com raspilha...
Nao consegui bom resultado
:-(
E no mais, vamos ver como progride essa 'marcenaria de inverno', hehehe...


sábado, 25 de julho de 2015

Patinando

Definitivamente, quando as coisas dao para engrisilhar... engrisilham!

Com a base do movel que estou desenvolvendo completamente montada, passei a preparar as pecas para a carcaca que devera ficar sobre a base. Foi quando o velho Pedro deu uma primeira abridinha nas torneiras...

A umidade que se desencadeou tornou inviavel progredir com a preparacao das pecas. Um dos problemas que surgiram, e que mencionei em outra postagem, foi o rapido e intenso desenvolvimento de mofo nos compensados. Uma vez limpos com solucao de cloro/bicarbonato, o problema ahi era que simplesmente nao secavam. Resignado, apliquei uns grampos nos paineis ja colados para evitar empenamentos e resolvi aguardar o retorno do sol para continuar. Com o que o velho Pedro, implicante como sempre, optou foi por outra abridinha nas torneiras...

O resultado mais marcante nos trabalhos, dessa segunda leva de chuvas, foi os fundos de compensado das gavetas e diversos locais das pecas em tauari tambem mofarem. Intervi com cloro e bicarbonato e, como a promessa era de mais agua com apenas um domingo prometendo sol, projetei para esse domingo a aplicacao de venenos — contra mofo e, aproveitando, contra cupins — e, tanto quanto fosse possivel, uma preparacao de acabamentos visando evitar os problemas que viriam com a prometida nova leva de umidade.

Nas imagens acima, a base e as gavetas ja devidamente limpas, envenenadas, e secando


O velho Pedro, aparentemente, ficou profundamente indignado. Durante as duas semanas seguintes ele resolveu abrir as torneiras mesmo. Quero dizer, ABRIR AS TORNEIRAS MESMO. Valores historicos, o maior volume de precipitacao registrado para o mes de julho na historia do Continente! Enchentes, calamidade por todos os lados, como fartamente documentado pela imprensa...

Ha tres dias as coisas melhoraram, a chuva amainou, o sol ate apareceu. Aproveitei para recobrir toda a base com duas demaos de oleo de tungue, nem tanto para iniciar o acabamento final, como para aumentar a protecao e poder enfim direcionar meus esforcos para a carcaca superior. Comeca a levar um certo jeito...



Comemorando a volta de tempo melhor e para usufruir do frio, fiz uma feijoada.

Nao devia!

Nao sei com quem o velho Pedro se mancomunou mas o fato e' que todos os convivas da feijoada passam muito bem. Exceto eu. Um piti gastrico `as ganhas me deixou a agua e liquidos e olhe la, ate hoje, e sem qualquer disposicao ou capacidade para fazer qualquer coisa mais que ficar sentado dormitando. A agua e liquidos continuo, mas pelo menos ja da para encarar o computador, hehe.

A ideia e' amanha comecar com uns solidos levezinhos, talvez, e talvez ir furungar alguma coisa na 'oficina'.

Se Pedro quiser, claro.


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Um pouco sobre pinus (e pinho)

Com o clima aqui no portinho simplesmente vetando qualquer ideia de fazer algo fora de casa, pensei aproveitar para expandir um pouco a resposta a um leitor que me indagou
  • (...) li que na sua postagem você faz referência ao "pinus norte-americano de carpintaria" . Você saberia dizer qual as diferenças desse pinus em relação ao nosso? Imagino que devem existir algumas em relação ao tratamento mais adequado, secagem etc. Mas, em relação às características básicas, dureza, resistência... será que existem muitas?



Pinus elliotti, nA Matriz

Pinus taeda, nA Matriz
Bom, para inicio de conversa, na America do Norte e no norte da Europa existe um sem-numero de especies de pinus, enquanto que aqui dispomos comercialmente de duas especies, o Pinus elliotti e o Pinus taeda. O "pinus norte-americano de carpintaria" a que me referi e' o que e' utilizado por la para preparar as tantas variedades de tamanhos padronizados para a industria de construcao (2x2, 2x4, 2x8, etc.), o que eles chamam SPF lumber — um lenho relativamente barato e obtido a partir de variadas especies de coniferas: pinheiros, abetos, ciprestes, etc.

Dentre essas tantas especies, as duas que "importamos" e naturalizamos originam-se do sudeste dA Matriz e pertencem ao grupo que por la denominam de southern yellow pine (pinus amarelo do sul). Ao contrario do mais comum pinus branco, a variedade amarela la esta entre as mais duras e mais resistentes; e' amplamente empregada na construcao civil, incluindo as montanhas russas feitas de madeira e, com o uso de stains, e' por vezes travestida inclusive para passar-se por madeiras mais nobres, como carvalho.

Alias, se formos consultar tres parametros — peso seco medio, dureza Janka e modulo de ruptura — em The Wood Database, veremos os seguintes valores:

P. elliotti (slash pine)
peso seco medio: 655 kg/m³
dureza Janka: 3.380 N
modulo de ruptura: 112,4 MPa

P. taeda (loblolly pine)
peso seco medio: 570 kg/m³
dureza Janka: 3.070 N
modulo de ruptura: 88,3 MPa

Se formos comparar com nosso pinho nativo, o pinheiro do Parana, veremos

Pinheiro do Parana (Araucaria angustifolia)
peso seco medio: 545 kg/m³
dureza Janka: 3.610 N
modulo de ruptura: 92,3 MPa


O que se traduziria em o lenho desses pinus na origem e' mais pesado do que nosso pinho, regulando na resistencia e algo abaixo na dureza. A experiencia, a observacao demonstra no entanto, os lenhos de pinus que produzimos aqui sao bem mais leves, muito, muito mais moles e muitissimo menos resistentes do que pinho.


Obviamente, a madeira de la nao se trata do mesmo lenho que obtemos aqui dos nossos pinus — ou alguem aqui seria voluntario para dar uma volta em uma montanha russa feita toda com o nosso pinus?

Araucaria angustifolia, o nosso pinho



Mas entao por que razao ou razoes a mesma exata especie vegetal que cresce no sudeste dA Matriz apresenta tao diferentes caracteristicas quando cresce aqui no sul/sudeste de pindorama?


Sem querer — ate porque nao seria capaz, se quisesse — entrar em detalhamentos tecnocientificos (coisas como traqueideos, lenho juvenil, lenho adulto, meristema, etc.), acho que da para resumir a opera afirmando que por razoes relacionadas a clima e a solo fundamentalmente, resulta essas especies de pinus tem melhores condicoes de desenvolvimento aqui do que em sua terra de origem, e entao crescem aqui mais rapido e mais intensamente do que la. Porem esse crescimento mais facil e mais rapido resulta em um lenho que contem menor teor de lignina, a macromolecula que, associada `a celulose, e' responsavel pela resistencia e rigidez dos tecidos vegetais.

Ou seja, por aqui os pinus "importados" se reproduzem e se desenvolvem melhor, mais facil e mais rapidamente. Nao por acaso pindorama e' hoje um dos maiores, talvez o maior exportador mundial de compensado de pinus. A madeira que produzem, no entanto, tem menor dureza e resistencia do que a produzida por suas irmas na regiao nativa, por ter menos necessidade de produzir lignina para enrijecer-se em defesa a piores condicoes ambientais. Em compensacao produzem maior quantidade de celulose e resina, derivados com importante participacao no bolo economico.

Ainda, se a madeira de pinus nao e', como certamente nao e', de primeira, por outro lado e' sustentavel, farta e barata. E acaba ajudando a evitar ou reduzir o consumo de lenhos mais nobres, muito deles ate mesmo ameacados de extincao.

E para encerrar, uma curiosidade, caso o leitor mais desavisado ainda considere o pinus uma arvorezinha vagabunda: Talvez valha apontar o genoma, o conjunto de gens que formam a heranca genetica de uma especie, do Pinus taeda e' o maior de todos os genomas ate hoje conhecidos, mais de sete vezes maior do que o humano! E uma arvorezinha vagabunda dessas deixada por conta propria... vive em media 200 anos — quase tres vezes a espectativa de vida media de certos mamiferos que se presumem superiores, hehehe...

domingo, 12 de julho de 2015

Crimes do Clima

Mais um capitulo dos crimes do clima (o primeiro, contei la no forum Madeira!) patrocinados por nosso sempre implicantissimo Patrono em sua estacao predileta...

Uma das consequencias inevitaveis do caracteristico clima do portinho, e nao apenas no inverno, e' que compensado (sim, mesmo o naval) exposto sem protecao de algum acabamento invariavelmente mofa, e mofa muito. Como imagino a imagem abaixo testemunhe:



Nao e' novidade nenhuma, e' corriqueiro, habitual. E, claro, ocorre com maior intensidade no inverno.

Mas tem remedio: a aplicacao da magica combinacao de bicarbonato e cloro de piscina dissolvidos em agua e borrifada, pincelada ou aplicada com pano nas areas afetadas pelos fungos cura o problema (como acho ate que ja relatei alhures, mas estou com preguica de pesquisar):


Chapa bem mofada, uns 20 minutos apos a aplicacao de cloro e bicarbonato

Chapa igualmente bem mofada, uma noite apos a aplicacao

Ambas as chapas retratadas acima deverao ser utilizadas no movel que, a passos de minhoca manca, estou desenvolvendo. Ou, melhor, tentando desenvolver... O problema e' que o velho Pedro, assistindo minhas lutas contra o tempo, resolveu ajudar. Ao tempo, claro!

A umidade relativa por aqui que como tantas vezes ja mencionei vive ao redor de 80-90% o ano todo, nas ultimas semanas praticamente nunca baixa de 97%, e nao raro fica em 100%. Resultado? As chapas estao limpas de fungos, mas nao da para usa-las; ja foi uma semana, e nao secam.

E o coitadinho do movel, claro, precisa de intervalos longos de semanas para nao parecer que esta totalmente abandonado, hehe.


Eu ADORO esse veinho...

domingo, 5 de julho de 2015

A base, agora sim, toda montada

(Clique nas imagens, para ve-las em maior resolucao.)



Com a morosidade esperada pelo emprego do metodo NSBOQEF/MNDQJ (nao sei bem o que estou fazendo, muito menos de que jeito), dei finalmente por completa a montagem da base da 'comoda'.




A construcao das gavetas e' um belo exemplo dos solavancos inerentes ao 'metodo'. Inicialmente pensei em faze-las utilizando sob elas uma moldura de madeira onde deslizassem, e cheguei mesmo a construir alguns itens contemplando essa construcao. Entao, conversando com um amigo comentei que utilizar corredicas talvez fosse menos dispendioso. Ele respondeu que, como eu pretendia utilizar frente fixa nas gavetas com encaixes em cauda-de-andorinha, corredicas eram totalmente contraindicadas, coisa que absolutamente nao se faz. Pois e', falou o que nao devia... Porque ahi, era inevitavel: se nao se faz, eu tenho que tentar fazer, hehehe.





Deu um certo trabalho, e devo confessar que perfeito, perfeito nao ficou. Mas fiz. A maior causa de imperfeicoes foi o fato de as gavetas ja estarem cortadas quando resolvi utilizar corredicas, e eu tive de alterar alguns dos cortes para criar espaco onde inserir as corredicas de roldana dos lados. Mas ao final ficou tudo funcionado e as frentes ficaram certinhas...



Imagem rotada 180° do original


Com as gavetas montadas e funcionantes constatei deveria colocar um apoio a mais nos pes do movel para enrigece-los. (Eu deveria mesmo era ter utilizado, ou pes mais grossos, ou uma madeira mais rija do que tauari, mas... A verdade e' que eu sei que quando se quer criar um design novo o jeito correto e' criar um prototipo com madeira vagabunda para detetar e evitar os problemas quando construir-se a versao definitiva. Mas como e' que eu vou fazer um prototipo de um movel que eu nem sei que jeito vai ter? O negocio e' ir fazendo, e dando ou tentando dar os jeitos que der para dar, hehe.)

Demorei um par de dias para decidir utilizar um "X" com ripas chatas de caixeta (leve e rija), o que nao resolveu totalmente o problema de rigidez, mas o reduziu em 80%. Aceitavel, para meu gosto...

Com os pes aceitavelmente estabilizados, fiz a modelagem grossa com lixadeira e disco-flap, chegando nisso:


E dei a montagem da base como concluida.

Hora de comecar a pensar na construcao do gabinete... E aproveitar os intervalos para ir levando os acabamentos na base.