Corrigidos basicamente com o uso de um estilete os defeitos mencionados na postagem anterior, nos cortes efetuados com a tupia, hora de efetuar a colagem da frente e da traseira do movel do relogio. Tratando-se obviamente de um projeto extremamente experimental, resolvi experimentar e efetuar as colagens das ripas utilizando... fita de dupla face VHB (very high bond) da 3M, que tem substrato de espuma de acrilico transparente.
Saber que essa fita de altissima adesividade tem sido usada mundo afora inclusive para colagem de vidros externos em arranha-ceus de centos andares e outros usos igualmente de alta exigencia, a conveniencia de uma colagem sem necessitar lambusos, grampos e espera por secar, tudo isso associado ao fato de a colagem final — em funcao das caracteristicas do substrato da fita — apresentar sempre uma certa flexibilidade, foram os determinantes da opcao. Barbadinha: colar a fita nos rasgos, remover o plastico verde, juntar as pecas e... pronto!
Traseira e frente montadas...
Facil demais, claro, e imaginei a Implicancia Natural das Coisas nao ia deixar tudo assim tao barato!
Por via das duvidas eu resolvi aplicar nos cantos dos dois quadros, frente e fundos do movel, uns parafusinhos. So por seguranca, voces sabem como e'. Testei tudo, tudo bem colado, apenas uma leve mobilidade como esperado quando forcando os quadros para os lados, para fora do esquadro.
Para evitar que em funcao das muitas manipulacoes necessarias no resto da montagem a madeira acabasse se sujando, resolvi dar uma lixada nas pecas e aplicar umas duas demaos de goma-laca como selador/protetor.
Batata!
Foi aplicar a laca e constatar que o alcool e' solvente do adesivo da fita VHB; os quadros que estavam bem firmezinhos, logo apos a aplicacao da goma-laca ficaram todos guenzos, parecia que estavam colados com gelatina. Droga! Que fazer? Desmontar tudo? Sabendo o quao dificil e' remover aquela fita, iria levar um tempao e muito provavelmente varias das ripinhas iam acabar se quebrando no processo; bem provavel que fosse levar menos tempo cortar todas as pecas de novo. De todo modo, quando a laca secou, o alcool evaporou, a cola pegou de novo. Nao tao firme, me pareceu, mas nao estava mais a coisa molenga que estava logo depois da pintura.
Ocorreu-me fixar as emendas, sem remover as fitas, aplicando parafusos em todas. Mas ia ficar horrivel, pensei. Eu nao tenho nada contra parafusos e nao raro ate os emprego como enfeites, mas aquelas ripinhas finas tapadas de parafusos ia ficar parecendo um troco saido de livro do Frankenstein. Mas...
Para ahi! Se nao parafusos, quem sabe cavilhas? Fiz um teste e... funcionou. Furinho de 2,5mm, bastante cola e, como cavilha... palito de dentes!
Resultou um belo metodo. Tao bom que acabei empregando a 'tecnica' em praticamente todas as inumeras juncoes que se seguiram — como imagino possa ser visto ahi na foto `a direita e, reparando bem, em todas as demais fotos desta postagem.
A partir dai fiz uma base onde apoiar a frente e a traseira do movel, fixadas no esquadro com grampos, e utilizei as ripinhas para uni-las, tudo fixado com cola PVA e, claro, palitos. No topo, uma colagem de um desdobro em 'livro aberto' do que sobrara da prancha de onde cortei as ripinhas. Adicionados uns restinhos de maracatiara para fazer um grau, e estava pronta a estrutura do movel.
Feitas e secas todas as colagens, lixa grossa, lixa media, lixa fina e aplicacao de goma-laca a pincel.
Obviamente goma-laca a pincel nao da o mesmo acabamento delicado que se consegue com boneca, mas vamos combinar que usar boneca nesse movel e' uma forma das mais crueis de tortura chinesa — embora eu fique imaginando que aplicar cera e tentar lustrar possivelmente fosse ainda pior, hehe.
De qualquer maneira, para o meu gosto pelo menos o resultado ficou ate bem aceitavel.
Pronto o movel, colar uns numeros no mostrador, aparafusar a maquina no lugar, colocar o pendulo e os ponteiros e...
Eis ahi o meu primeiro relogio!