quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Recriando um bau — Final

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Quando completamente cortadas, a montagem das gavetas foi feita, lateralmente, com encaixes em cauda-de-andorinha cortados `a mao, a meia-madeira na frete e passante na parte de tras, e o fundo foi encaixado com linguetas em rasgos abertos nas laterais, rasgos e linguetas cortados na tupia de mesa.

Me indagaram por que faze-las desse jeito assim, mm, tao complicado...

Bueno, primeiro pelo aprendizado, claro, executar e treinar taticas e tecnicas, lidar com diferentes ferramentas. Depois porque, como ja mencionei, a ideia sempre foi construir o movel com um minimo de fixadores mecanicos e com o maximo de estabilidade nas emendas, independente do uso da cola, utilizada apenas como como complemento.

Todos os componentes do movel montados, foram marcados e feitos os furos para colocacao das ferragens. Tudo foi entao lixado ate G220 em preparacao para o acabamento.

O acabamento iniciou-se com aplicacao de duas demaos de cera no compartimento interior do bau e no seu fundo falso. O exterior e as partes aparentes das gavetas receberam entao duas demaos de oleo de tungue aplicadas fartamente com um pano limpo e, apos aproximadamente uns 15-20 minutos de tempo para bem embeber a madeira, o excesso foi removido com um pano limpo e seco.

Bem seco o oleo, as porcoes exteriores do movel e ambos os lados do tampo receberam entao varias demaos de goma-laca aplicada com boneca.

As ferragens foram colocadas, e o movel dado por pronto.




sábado, 9 de novembro de 2013

Recriando um bau — V - as gavetas 1

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A construcao das gavetas iniciou-se pela confeccao das frentes. As medidas foram determinadas no proprio movel e, da prancha de pau-marfim com 28cm de espessura, foram cortadas tres pecas. A seguir, utilizando o dado set, essas pecas receberam rebaixos em toda a volta de forma que o ressalto encaixasse justo nas aberturas do gabinete.

As setas apontam as marcas com lapis que determinaram
a dimensao das frentes das gavetas
As frentes ja dimensionadas e com os rebaixos cortados
As frentes, feitos os cortes grossos, posicionadas no movel
A marcacao para o recorte em "lapide" efetuada na
propria frente da gaveta

Igualmente utilizando as medidas do movel as ripinhas para os lados das gavetas foram dimensionadas, cortadas e entao ajustadas para um posicionamento sem folgas e marcados os seus respectivos lugares.

Numeros a lapis marcam os devidos lugares das laterais

Com frentes e laterais devidamente dimensionadas e adaptadas ao movel, a proxima etapa foi cortar na serra fita os recortes em "lapide" nas frentes, para a seguir arredondar os seus bordos e criar frisos na tupia de mesa, utilizando uma fresa round over.

Como por sua geometria a fresa da tupia nao consegue cortar cantos internos vivos, foi necessario avivar os cantos internos dos frisos das frentes, utilizando formoes. Isso feito, com as frentes posicionadas nos seus lugares o bau ja apresenta praticamente o seu desenho final.








A seguir cortei nas seis laterais simultaneamente as caudas-de-andorinha para encaixa-las nas frentes. Entao iniciei o processo muito mais tedioso e demorado de cortar, precisamente, os pinos nas frentes das gavetas para cada lateral, utilizando as caudas ja cortadas como referencia.

Que e' onde estamos...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Recriando um bau — IV

Dado por completo o 'recheio' do bau, o primeiro passo na construcao externa foi  cortar, utilizando tres fresas diferentes, um perfil na tupia de mesa para montar a 'saia' do movel. Com cortes em meia-esquadria, o perfil foi fixado em moldura, primeiramente na frente, com cola e pinos F, entao nas duas laterais e finalmente no fundo.












A seguir o tampo, construido com uma colagem de uma prancha de cedro-rosa com veios retorcidos ladeado por duas ripas de pau-marfim.











Enquanto a colagem secava nos grampos, aproveitei para incluir uma ripinha entre os apoios dianteiro e traseiro do fundo falso do topo do bau, para apoiar a gaveta do meio e impedir que 'caia' quando aberta. (As gavetas laterais terao suporte nos proprios apoios laterais do fundo falso.)

(Como salientado no inserto da imagem, a ripa foi colada exatamente justa com a parte inferior do apoio — a parte que fara contato com o fundo da gaveta — e ficou uma pequena folga na parte superior para impedir que o fundo falso pudesse se apoiar nela e possivelmente sobrecarregar a colagem.)









Seca a cola o tampo foi removido dos grampos e, com o dado set,  foram feitos rebaixos nos quatro lados, de forma que o ressalto formado se encaixasse perfeitamente no interior do tampo do gabinete. Isso feito, duas ripas laterais de pau-marfim foram fixadas, para cobrir os veios curtos.





Uma chapa de compensado foi cortada para fazer o fundo falso, colocado solto sobre os apoios do gabinete, alguns recortes e decoracoes foram aplicados ao tampo, e a estrutura do gabinete foi dada como pronta — faltando ainda alem da (argh!) lixagem, colocacao de ferragens e acabamentos, decidir se vou ou nao aplicar algum complemento decorativo `a frente do movel.


Mas a proxima etapa serao as gavetas...



domingo, 3 de novembro de 2013

Recriando um bau — III

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O passo seguinte na recriacao do bau foi tornear os pes. Utilizando uma sobra de uma prancha de cedro gaucho de 6cm de espessura, foi utilizado um recorte simples e os quatro pes foram girados simultaneameante,

e entao lixados, e separados com serra. Um dos pes, em funcao de a sobra do cedro ser da extremidade da prancha e portanto a parte mais sujeita `as intemperies, lascou um pouco — mas a parte lascada para todos os efeitos permanecera invisivel no movel pronto.
















O passo seguinte foi confeccionar o fundo do gabinete, onde fixar os pes. Constatei ahi minha prancha de pau-marfim era mais estreita do que a profundidade do gabinete. Inicialmente pensei em fazer uma colagem, mas pensei melhor e resolvi transformar limao em limonada: ripei a prancha ao meio, dividindo o fundo em duas partes, deixando um espaco aberto no meio. Esse espaco aberto ficara invisivel no movel pronto, e de quebra nao terei de me preocupar com o problema da expansao e contracao da construcao com veios cruzados, pois o espaco funcionara como uma 'junta de dilatacao'. (E estruturalmente, as guias das gavetas  fixas ao fundo na transversal da fresta como se vera mais abaixo fornecerao toda a rigidez necessaria `a estrutura.)

Nesse fundo em duas partes foram cortados rebaixos nas laterais com o dado set para um encaixe bem justo e  entao marcados e abertos os furos onde encaixar os pes. Conferidos os encaixes, com a lamina da serra foi feito uma fenda diametral nas espigas de encaixe dos pes para receber uma cunha. Aplicada cola nas espigas e nos furos, os pes foram posicionados, cuidando os veios das pecas dos pes ficassem transversais aos veios da madeira do fundo, e entao fixados com as cunhas.




(O uso das cunhas para fixacao dos pes origina-se do fato de as tecnicas construtivas mais antigas contemplarem sempre colas apenas como auxiliares na fixacao de uma emenda, nunca o agente principal como e' tao comum hoje. E' verdade que as colas sinteticas atuais sao imensamente superiores `a cola de gelatina animal aplicada a quente, tradicional da marcenaria. Mas tambem e' verdade que, em suficiente tempo, toda cola vai falhar. Os bons marceneiros da antiguidade construiam pecas procurando contornar todas as falhas, para que literalmente durassem seculos, como o original inspirador desse bau da testemunho. Por parecer-me adequado, e para aprender, optei por construir essa peca utilizando aqueles metodos.)



Com os pes ja colados, as pecas do fundo foram entao fixadas ao  movel com um pouco de cola e pinos F — estes aplicados, claro, com um pinador pneumatico, que eu gosto de tecnicas tradicionais mas mais ainda do menor esforco, hehe.



A seguir foram cortados e posicionados os trilhos, guias, batentes e apoios para as gavetas e para o fundo falso da parte superior do bau.










A fixacao ao fundo e `as laterais foi outra vez efetuada com um pouco de cola e entao pinos F.







A madeira secundaria empregada no fundo e nas demais pecas do 'recheio' foi pinho-do-parana de reflorestamento.











Os sarrafinhos que servirao de suporte ao fundo falso da parte superior, em funcao do peso que eventualmente poderao ter de suportar, receberam ainda reforco da fixacao com aplicacao de parafusos.

Com isso, exceto pela peca do fundo falso que sera uma chapa de compensado, ficou completo o 'recheio' do movel.


Hora de comecar o tratamento do exterior...