sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fechando o circulo

Uma ideia nascida no final do outono vai desabrochando agora, no fim da primavera...





Como relatado aqui mesmo no blog, no final de maio passado eu concluia uma peca altamente experimental que meu amigo Rmon — com inacreditavel aptidao, como se vera — veio a batizar de Arte moderna um tanto abstrata. Esse objeto retratado ahi `a esquerda, como provavelmente ninguem mais lembra.

Ninguem lembrara tampouco, imagino, o proposito do objeto seria servir de 'porta-trecos'. E inclusive eu comentava, para melhor disponibiliza-lo para seu objetivo ele deveria ser colocado no pequeno vestibulo em frente `a porta de entrada da casa, sobre uma mesinha. Mesinha ainda a ser construida.


E nisso ficamos...



-- oOo --



Em setembro entao, indo `a madeireira comprar uma chapa de compensado naval aproveitei, como sempre, para dar uma passeada no patio para espiar o estoque de madeiras macicas. (Va que de repente surjam uns exemplares de jacaranda? A gente nunca sabe, hehehe...) Como de costume, nao resisti `a tentacao das cores e curvas despudoradamente expostas em bruta nudez por algumas tabuas e o pudico compensado acabou achando companhia para a viagem.

Em especial no pequeno lote, tinha-me chamado a atencao uma tabua de 400x25x4cm de cedro rosa. O Alemao, funcionario da madeireira que usualmente me ajuda nas prospeccoes de bater tabuas, a tinha desprezado de cara por cheia de defeitos. Muitas irregularidades, algum empenamento, varios nos, falhas, brancal, manchas, desfiamentos. Uma droga!


Cedro rosa e' caro, e o Alemao se honra de sempre me apontar o melhor quando me ajuda. Ficou me olhando com certa estranheza quando eu disse que queria aquela tabua mas, como o fregues sempre tem razao e da gorjeta...

Obviamente, eu imaginava por tras daquelas irregularidades todas estava um padrao de veios que chamaria os olhos, e fiquei imaginando poderia empregar bem aquela tabua, talvez fazendo um desdobramento em folha de livro ou coisa parecida, em algum lugar bem chamativo de uma peca. A primeira coisa que me ocorreu foi fazer uma nova versao de um dos primeiros projetos que construi, esse Philadelphia spice cabinet em itauba ahi `a direita. Alem da oportunidade de corrigir todas as tantas mancadas que cometi no primeiro, o peso e a qualidade do cedro-rosa da tabua permitiriam um movelzinho mais leve e, supostamente, bem menos sobrio, mais chamativo.

A ideia nao foi executada (ainda?) devido a dois fatores fundamentais: a complexidade e a (sejamos crus) enchecao de saco de construir um projeto seguindo planos rigorosos, e o fato de que nao teria onde colocar a nova versao quando concluida (sem falar que as tantas gavetinhas desse ahi ainda estao todas vazias, hehe).

E entao, por esses dias ocorreu-me eu poderia utilizar a tabua na construcao do tampo para a mesinha aquela onde colocar a Arte moderna um tanto abstrata...

Fui `a Teia e aos meus arquivos buscar inspiracao para modelos possiveis. Varios pareciam inicialmente promissores mas esbarravam logo em objecoes intransponiveis. O vestibulo e' uma area bem pequena, obviamente muito transitada, dando acesso à sala e ao banheiro social, e praticamente todos os tipos de mesinhas que vi, quando levava suas medidas para o vestibulo, ou viravam trambolhos obstrutivos, ou ficavam grosseira e/ou ridiculamente fora de proporcoes.

Foi quando assisti um velho video do Norm Abram mostrando a construcao do que ele denominou wall hung console. Essencialmente, uma prateleira!

Firmada a ideia da prateleira, o projeto do New Yankee Workshop foi deixado de lado. Quando serrei e fiz a aparelhagem grossa do que seria a prateleira, a madeira revelou-se ainda mais bonita do que eu esperava. E ahi, lembrando usualmente madeiras muito figuradas beneficiam-se de designs ultra simples, ao inves das tecnicas de Mr. Abram resolvi foi mesmo fazer do jeito mais simples possivel.

As pecas recortadas na serra fita, ja devidamente lixadas e sendo envenenadas com Jimo Cupim®
A parte inferior da prateleira ja montada, com uma demao de oleo de tungue

A parte de cima da prateleira com uma demao de oleo de tungue — bota madeira feia nisso!
Construida ontem sob uma temperatura que alcancou 39°C, hoje o acabamento teve de ser interrompido porque o velho Pedro resolveu continuar mandando chuva e, convenhamos, quando chove nao e' hora de se utilizar qualquer acabamento.

Quando clarear o horizonte eu volto `a lide.

E, claro, depois conto para voces...

2 comentários:

  1. Cara, achei seu blog nem lembro mais como, mas fiquei fascinado com suas explicações e trabalho. Vou começar a acompanhar o Xilofilos e ver o que você anda aprontando. Aproveitei e publiquei o link de seu artigo sobre ceras (carauba+abelha+parafina+solvene) nos foruns que participo (marceneiros e bricoleiros e Guia do Marceneiro)
    Abraços e parabéns pela didatica

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  2. Muito grato pelo apoio e pelo incentivo.

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