quinta-feira, 28 de junho de 2012

Abaixo e girando

Infelizmente, semana passada tive de por abaixo um jovem pezinho de capororoca. A capororoca merece todo o meu respeito, por ser uma arvore tipo pioneira — capaz de crescer isolada em terrenos pouco ferteis e ajudar a fertilizacao de tais terrenos —, por produzir frutos que os passaros adoram e por ser uma bela arvore, podendo atingir 15 metros de altura com troncos quase atingindo meio metro de diametro. Mas infelizmente esse pe escolheu nascer bem rente ao muro divisorio entre a minha propriedade e a do vizinho e com seu crescimento tronco e raizes iriam certamente por em risco nao apenas o muro, o que ate poderia ser contornado, mas a propria casa do vizinho, construida grudada ao muro. Entao, antes que a situacao se tornasse critica, oportunizando alguma encrenca, algo contrariado pus o pe abaixo.

Reparem como o tronco ainda no chao esta ensopado, porejando agua

Nunca vi madeira de capororoca utilizada para nada, na verdade nunca tinha visto madeira de capororoca, ponto. Mas resolvi guardar as toras da arvorezinha, para ver que jeitao tinha o lenho, e se poderia ser utilizado para alguma coisa. `A primeira inspecao, muito pesada (provavelmente porque repleta de agua) e deu para perceber que tinha veios muito compactos e — como esperado em arvores de crescimento lento — aneis estreitos, sugerindo uma madeira relativamente dura. Apesar de ~10 anos de desenvolvimento, evidentemente era ainda muito jovem, sem apresentar sequer cerne nitido — se e' que capororoca tem cerne. Deixei as finas toras ali no chao mesmo, para secarem...


Nao lembro de ter comentado aqui no blog, mas ja a algum tempo ando `a caca de um bom torno manual com no minimo 20cm de distancia dos pontos ao barramento. Sem sucesso, ate agora. No entanto, consegui o frete e veio um midi torno, moderno, com recursos atuais, ao inves dos fosseis com tecnologia da primeira metade do seculo passado que aparentemente e' so o que se disponibiliza aqui por pindorama...

O comet II, da Teknatool
Nada que justifique adquirir uma consideravel quota extra de cervejas, hehe, mas com 16,5 polegadas entre pontas e 12 polegadas de diametro maximo torneavel, tem tudo o fundamental, e alguns brindes: estavel, inteiramente em ferro fundido, pesando 30kg, correia poly-v, polia tripla e motor com velocidade variavel e rotacao reversivel, todas as setagens ajustaveis com excelente precisao e sem necessidade de ferramentas, eixo indexavel em doze intervalos de 30°, apoio de ferramentas com banjo. E, claro, os acessorios basicos: placa de face, ponta viva, contraponta rolamentada, os penduricalhos usuais e esperas para mais alguns que talvez ate possam ser uteis no futuro.

Dai que, para inaugurar e experimentar o brinquedo novo, resolvi por a girar alguns pedacos da capororoca verde.


Devo dizer que gostei.

Gostei do torninho novo, estavel, silencioso, preciso, bem mais facil de usar e ajustar, e gostei da aparencia, do tato e de tornear a capororoca verde. A caixinha, mais simples impossivel, ficou sem acabamento, claro; e' preciso aguardar uns meses ate secar bem para ver se nao vai rachar, ou 'entortar', nem precisar retoques. E acabamento nenhum funciona em madeira molhada, hehe.

Entao, tudo bem: vamos combinar que uma cerveja, pelo menos uma cerveja, valeu...

sábado, 23 de junho de 2012

Fruteira

Tendo colado os aneis da pretendida tigela era hora de, primeiro, colar os aneis sobrepostos e, entao, colar o fundo...

O correto, como alias mencionei na postagem anterior, teria sido cuidar rigorosamente com olhos de aguia as pecas ficassem muitissimo bem centradas. Cuidei, sem maiores exageros, mas esqueci que a cola pode muito bem funcionar como um lubrificante para deslocamentos laterais, e foi o que aconteceu, resultando um pequeno, quase imperceptivel deslocamento das pecas quando prensadas — o que so constatei quando tirei da prensa. O problema que isso ocasionou foi que a superficie de contato entre os aneis ficou estreita em uma area. O certo, constatado o problema, teria sido descolar e refazer, mas a preguica bateu (teste e' teste, oras, e tudo e' aprendizado...) e botei para girar como estava, hehe...


Acho que da para ver (clicando as imagens, como sempre abre uma janela com maior definicao) ficou com duzias de defeitos. A maioria daria para corrigir e o resto daria bem para tapear, acho eu, mas preferi deixar assim.

Dessa vez nao por preguica.

Primeiro, para corrigir bem as excentricidades iria resultar uma peca fragil, com paredes muito finas; na verdade eu deveria ter feito os cortes um pouco mais grossos. Depois, a verdade e' que gostei do jeitao que ficou, meio rude, meio rustico, francamente utilitario. E gostei talvez porque, para os meus olhos pelo menos, no caso a beleza dessa peca nao estaria nunca no trabalho do artesao, mas sim no lenho, na propria madeira.
E, olhando para ela, fica facil eu lembrar o que evitar e/ou nao fazer na proxima...


E assim, uma aula permanente, rude, rustica, francamente utilitaria, a tigela foi ser util. Virou fruteira...


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Do plano ao cone

O modo classico de girar-se uma tigela, ou um pote, e' escavando-se um bloco de madeira. So que resolvi experimentar, tendo visto e lido o metodo na Teia, o que os Grandes Irmaos chamam "bowl & board", uma tecnica de segmentacao para obter-se uma tigela (bowl) a partir de uma prancha (board)...



Como uma consulta pelo tema ao titio Google revela, com seus mais de cem mil resultados, ha variados e diferentes modos e maneiras de fazer. Para aprender, resolvi comecar pelo simples, fundamentado principalmente pelo documento disponivel em
http://simcoewoodturnersguild.com/wp-content/uploads/2011/10/Bowl-From-A-Board.pdf






Tendo resolvido aproveitar a ponta da prancha de louro gaucho que ainda me resta, cortei em um quadrado. Dai, com as medidas de lado e espessura, com a ajuda de um programa de desenho no computador tracei o projeto. Obviamente isso pode ser feito `a mao, com regua e compasso, ou usando um papel quadriculado, ou...


A importancia maior de fazer-se um plano antes de por-se as maos `a obra e' determinar a largura e, principalmente, o angulo dos cortes.


Feito o plano, e' marcar os cortes e partir para a serra de fita.


Os cortes marcados na prancha

A divisao ao meio para permitir os cortes inclinados

As pecas cortadas

Do plano ao cone

A primeira montagem, remontar os aneis com cola, o estagio em que se encontra o projeto

Uma ideia de como ficara ao final da colagem

Uma vez concluidas as colagens — sao tres etapas; das metades remontar os aneis, colar entao os aneis (furados) sobrepostos utilizando uma prensa com barra roscada e entao colar o fundo — sera hora de partir para os giros. Em todo o processo, e' necessario cuidado minucioso para que tudo fique bem centrado.

O que, espero, veremos...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Testando adesivo - II

Dei por encerrados os testes estaticos com o adesivo estrutural epoxi bicomponente, Fusor® 380NS/383NS.
Nao se pode dizer as conclusoes tenham sido surprendentes mas, na minha sempre desconsideravel opiniao, foram, mm, conclusivas...


Para todos os efeitos a cola padrao para madeira e', branca ou amarela, a chamada cola de marceneiro, ou PVA (polivinilacrilato). Por uma solida razao: a adesividade da cola curada com as fibras da madeira e' maior do que a adesividade das fibras entre si. A cola PVA, tanto quanto eu saiba, foi a primeira a apresentar essa caracteristica e, por isso, virou o padrao; mas varios outros adesivos utilizados em marcenaria igualmente se ligam mais `a madeira do que a propria madeira consigo mesma, ou seja, e' preciso aplicar uma forca maior do que a necessaria para quebrar a madeira para romper uma (boa) colagem com esses adesivos.


Meus testes evidentemente mostraram isso mas, mais do que confirmar o sabido, o que eu queria testar era a capacidade estrutural do adesivo ou, em outras palavras, sua capacidade de, alem de colar, preencher espacos sem enfraquecer a emenda (coisa para que, e' sabido, PVA nao presta). Tudo isso para, claro, saber se sera possivel utilizar, com seguranca, essa cola para preencher frestas entre segmentos e ainda assim poder tornear a peca depois. (Como se pode ver, estao certos os que dizem preguicoso trabalha dobrado. E mais, digo eu, ainda faz testes...)


Nao pretendo macar meus sete fieis leitores com detalhes e minucias. Apenas, para ilustrar minhas conclusoes, apresentar algumas imagens. E se alguem achar — como e' bem possivel, ate bem provavel — algum erro no(s) meu(s) raciocinio(s), ou tiver alguma duvida, desde ja agradeco muito se me fizer o favor de aponta-lo(s).


Afora essa ahi `a esquerda, nessa postagem nenhuma outra imagem tem cores naturais, reais. As cores foram algo editadas na intencao de aumentar a nitidez, o contraste entre a cola e os outros diferentes materiais.


E, como sempre, clicar uma imagem abre uma janela com maior resolucao.


O teste consistiu em preparar minimamente a superficie de pecas e cola-las com o adesivo Fusor®, deixando-as curar por 48 horas; entao quebrar as colagens e analisar os resultados.


Quebra por percussao lateral (martelada de cima para baixo, na imagem) do pino de ferro.
Ve-se o adesivo praticamente nao escorre: as linhas formadas quando o pino de ferro foi girado ao colar na madeira permaneceram praticamente inalteradas apesar das quase 3 horas que levou ate a cola ficar seca ao toque. Comprovando a adesividade maior do que a da propria madeira, ve-se fibras da madeira foram arrancadas na interface, permanecendo aderidas `a base do pino. Boa quantidade de bolhas de ar dentro da massa do adesivo (sempre, um problema com colas estruturais). Pouca penetracao do adesivo na madeira, e impressionante adesividade ao ferro.


Quebra por cisalhamento.
Um taco de madeira foi colocado sobre a ripa rente `a base da colagem do graveto e percutido com um malho. Ve-se arrancamento e lascadura das fibras, demonstrando maior penetracao do adesivo na ripa (foi bem espremido na colagem, e a area de pressao e' maior do que a base do pino de ferro).


Adesividade ao ferro.
Utilizando uma chave de fenda como talhadeira, tentei remover o adesivo remanescente na base do pino de ferro. Alem da consideravel adesividade da resina ao ferro, percebe-se a espessura de quase 1mm de adesivo entre a base do pino e as fibras que ficaram aderidas, demonstrando a boa capacidade estrutural do adesivo.


Imagino, sem quaisquer provas ou indicacoes, essa adesividade notavel ao ferro tenha algo a ver com o forte cheiro de amoniaco da resina crua. Mas e' so uma hipotese...


Fratura da resina.
Utilizando outra vez uma chave de fenda como talhadeira, o bloco de resina sobre o graveto foi percutido ate fraturar. A fratura estendeu-se coerentemente no substrato, demonstrando boa capacidade estrutural (se quebra um, quebra o outro) e adesividade (nao houve lascas ou descoladuras).


Fratura por tracao.
Separados por uns 2 cm, dois retalhos colados paralelos sobre a ripa, com uma camada de aproximadamente 2mm de adesivo, foram espremidos um contra o outro com uma morsa ate fraturar.
Ve-se  o retalho da esquerda sofreu um arrancamento no canto e o adesivo arrancou grossa camada da ripa. O retalho da direita quebrou na borda da emenda.


O retalho foi girado para revelar a extensao das fraturas. Veja-se a quebra do outro retalho, na borda da emenda.


Vista da quebra no retalho da direita.


Fratura por percussao.
O fragmento que permanecera colado no retalho da direita recebeu uma forte pancada com o malho. Fraturou com arrancamento de consideravel quantidade de fibras e esfacelamentos, mas ainda permaneceu colada uma fina lamina.
Veja-se na base da lamina a espessura da camada de adesivo (com inumeras bolhas de ar de consideravel tamanho), evidenciando excelente capacidade estrutural.


 Bota adesividade e capacidade estrutural nisso!
Pelas observacoes, e salvo melhor juizo, concluo o adesivo parece capaz de atender aos requisitos de, com toda a seguranca, colar e preencher frestas entre segmentos para montagem de um bloco para posteriores giros.

E' o que veremos, hora dessas.

sábado, 16 de junho de 2012

Testando adesivo - I

(Relembrando que como sempre as imagens, clicadas, abrem uma janela com maior resolucao.)

Como relatado na minha postagem imediatamente anterior, recentemente sofri um acidente potencialmente tragico ao tornear um bloco de segmentos...

O tempo tendo arrefecido os calores do meu separador de orelhas fui obrigado a concluir, para comeco de conversa, meu relato do problema de "falha da cola" foi injusto. Sim, a cola falhou — mas falhou porque foi empregada para muito alem de suas especificacoes. Ou seja, e' preciso que fique claro que, de fato, a falha originou-se nao da cola em si, mas de seu mau uso. Ou ainda, em outras palavras, que a culpa foi minha, sim!

Demonstradamente, em toda a literatura que ja consegui acessar, e em todos os inumeros documentos disponiveis na Rede que vi ou li, a recomendacao e' que a colagem dos segmentos para tornear seja feita com cola PVA, com rigoroso cuidado as juncoes sejam preparadas sem folgas, superficies absolutamente limpas e com perfeito acoplamento e, todas, sempre, montadas sob pressao.

Sucedeu-se que o preguicoso aqui, quando em algumas ocasioes deparou-se com juncoes com frestas em algumas de suas montagens, ao inves de corrigir as frestas com plaina, lixa, o que fosse, optou por preenche-las com adesivo, especificamente resina epoxi. Em todas as ocasioes que empreguei esse "metodo" — como exemplificado na foto ahi `a direita — o resultado foi muito bom; nao apenas no preenchimento de espaco, como na aderencia, mesmo quando sujeita a esforcos consideraveis. Por isso, ao deparar-me com algumas frestas na adaptacao das juncoes dos segmentos do bloco de itauba que eu havia cortado, ao inves de pacienciosamente tratar de corrigir os angulos e superficies para um acoplamento perfeito das pecas preferi, preguicosamente, utilizar epoxi nao apenas pelo periodo mais prolongado (~30 min) que oferece para ajustes, mas tambem por sua capacidade de preencher frestas mantendo boa adesao.

Infelizmente, como se viu, nao foi uma boa ideia. Nao foi uma boa ideia MESMO!

Mas se fico moralmente obrigado a corrigir minha injusta conclusao postada anteriormente
"Cola epoxi nao e' uma boa opcao para montar-se segmentados para o torno. Por mim, doravante nao deve ser usada nisso de jeito nenhum"
para uma redacao mais justa, como
Cola epoxi nao se presta para colagens com preenchimentos se houver intencao de tornear o objeto colado
a verdade e' que ainda estou tentando escapar de declarar terminantemente o corolario logico
"Nao se deve nunca tornear segmentados quando houver frestas nas colagens".


O fato e' que fiquei pensando se, ao inves de utilizar a resina epoxi sem cargas eu utilizasse resina estrutural, eu nao teria ahi um jeito de fugir da tediosa trabalheira de ter de ajustar as juncoes uma a uma ate um ajuste perfeito. Indo `a caca, na Teia, de um possivel candidato para testar, deparo-me com uma preparacao cujo vendedor afirma nao apenas ser indicada para madeira, como ter propriedades estruturais e, de quebra, ainda conter reagentes capazes de efetuar um 'bonding' quimico entre as superficies, atuando mais do que como um simples adesivo, mas como uma solda! Trata-se do Fusor® 390/383NS, anunciado pela Redelease, uma firma com que eu ja havia negociado algumas vezes:

Supondo poderia essa ser uma possivel solucao para a, mm, 'equacao da folga', hehe, encomendei o produto.


Todavia nao sou dado a acreditar em nada; fe com certeza nao e' um dos meus fortes. Ao contrario, sou cetico e, mesmo, desconfiado. Assim, enquanto aguardava o SEDEX com a cola chegar, fui pesquisar mais quanto ao produto.


Resumindo, descobri que Fusor e' uma marca registrada de uma linha de adesivos fabricados por uma multinacional, a Lord Corporation. De acordo com a pagina da Lord em http://www.lord.com/products-and-solutions/adhesives/product.xml/130, LORD Fusor® 380NS/383NS e' um adesivo epoxi bicomponente de rapida cura usado para ligar plasticos reforcados com fibra de vidro (FRP) e compostos laminares moldados (SMC) com metais. Nada de madeira, nada de bonding, nada de solda; aparentemente seu maior uso nA Matriz e' mesmo em chapeacao de carrocerias, retoques com fibra de vidro em metal, etc... Putz!


Mas de todo modo o produto chegou, e ja que esta aqui resolvi testar para ver como se comporta com madeira.


- oOo -

A primeira coisa que notei foi o cheiro. Bem diferente das resinas epoxis que ja conhecia, essa cheira, forte, a amoniaco. Os dois componentes, um branco, outro preto, misturados geram uma pasta cinza escuro, bem maleavel e nao muito viscosa, consistencia semelhante a graxa-patente, digamos. Praticamente nao escorre.

Resolvi iniciar o teste pelo pior cenario:


Misturei os dois componentes da resina sobre uma ripa de pinus com a superficie algo mofada, sem nenhum tratamento. Sobre a resina, sem apertar muito de forma a deixar uma fresta consideravel, coloquei um pedaco de cedro aplainado e entao apliquei o pauzinho todo sujo de cera que havia utilizado para mexer a resina sobre o pedaco de cedro. A ideia aqui, fundamentalmente, testar se o produto seria mesmo capaz de 'atacar' a superficie do substrato.

Deixei curar 24 horas. Bueno, e' bom mencionar o site da Lord afirma que em 2 horas o produto esta curado o bastante para ser manipulado. No entanto, li comentarios da Redelease recomendando 48 horas de cura. Como queria testar o pior cenario, esperei 24 horas...

Segurando pela ponta livre do pauzinho pude erguer a colagem, embora o 'graveto' vergasse um pouco com o peso. Ahi, da altura da cintura, ao redor de 1 metro de altura, deixei cair no chao de lajotas.

Nao posso dizer que fiquei surprendido quando...Tudo se separou!

Sinceramente, se a cola tivesse funcionado nessas condicoes eu seria o primeiro a ficar muito, muito supreso. Mas o que deu para constatar foi que na ripa de pinus a camada superficial bruta, sem acabamento algum, foi arrancada; no pauzinho com cera praticamente nada aderiu e na face plainada do cedro onde a cola ficou foi possivel remove-la simplesmente com uma chave de fenda e pancadas com a mao. Ainda foi possivel constatar a resina curada permanece flexivel e plastica, como se ve pela deformacao no pedaco salientado pelo circulo vermelho.

Afora nao ter ocorrido escorrimento, nada diferente me parece do que se esperaria utilizando resina epoxi comum, sem cargas.

Passei entao para a fase seguinte, melhorando um pouco as condicoes de colagem:




Com todas as superficies bem lixadas e desengraxadas com alcool, misturei e esparramei espremendo bem a resina (supondo aumentar a penetracao) sobre um retalho de itaubao sobre o qual coloquei, primeiro, um retalho de louro prensando com um sargento e depois outro pedaco de louro bem recoberto de cola e bem espremido com a mao, mas deixando uma folga de aproxidamente um milimetro entre as madeiras, para verificar da capacidade de preenchimento com boa adesividade.

Em duas horas ja dava para levantar a 'peca' inteira pelo retalho de louro nao prensado.

Vou deixar completar 24 horas e vamos testar a resistencia da colagem...

Depois eu conto.
Claro, aqui nesse batcanal.

sábado, 9 de junho de 2012

Uma aula indesejavel

Apos deixar curando a colagem do fundo no bloco de itauba por 48 horas (o dobro do tempo recomendado pelo fabricante) em funcao das baixas temperaturas que tem assolado o portinho nos ultimos dias, tornei a parafusa-lo na placa de face e voltamos aos giros.

O fundo foi torneado para encaixar na placa de castanhas e entao, ja presa com castanhas e com a placa de face removida a peca foi, invertida, montada para tornear a parte de dentro, o oco do bowl. A 'escavacao' do oco ocorria normalmente, nenhum incidente de nota no processo, apenas a usual, esperada e agradabilissimamente perfumada chuva de itauba. Eu iniciava o aprofundamento do corte interno para formar uma 'gola' no vaso quando, sem aviso ou motivo aparente... BAM!

Girando entre 600 a 800 rpm o bloco rompeu-se em tres partes. Uma, o fundo, continuou girando devidamente presa `a placa de castanhas; metade do corpo foi arremessada a uns bons 10 metros de distancia e a outra metade percutiu com forca o barramento do torno, com um estampido que trouxe os caes correndo para investigar, e caiu no chao.


Tao logo, par de segundos, me recuperei da surpresa, a primeira coisa que reparei foi que, dentro do azar, tive sorte. Muita sorte.

Para terem uma ideia, olhando a foto ahi ao lado imaginem que uma daquelas metades que estao sobre o barramento do torno, de itauba, dura e pesando pouco mais de 1kg, foi arremessada ate a linha que aponta a flecha vermelha, o dobro da distancia para a esquerda desde o toco. Ou seja, passou exatamente por onde mais usualmente eu estaria torneando, se nao tivesse tido a sorte de estar escavando o oco e portanto bem para o lado, quase na altura do saco de lixo azul que protege o copiador. Estivesse na posicao mais usual, ali bem na frente da trajetoria do projetil, e teria tido de 'matar no peito' a peca ou, pior, na mascara facial — e em qualquer das hipoteses nao imagino tivesse saido incolume.


Depois, simultaneamente assustado e aliviado, fui olhar o que diabos havia acontecido para a peca ter 'explodido'.

Por saber a maioria das falhas operacionais usualmente se devem a erro do operador, nao so estou sempre disposto a aceitar qualquer falha ou problema deva-se a culpa minha, como esta hipotese — minha culpa — e' sempre a primeira. Mas nao estava realizando nenhum procedimento novo, nada que nao tivesse feito antes e varias vezes, e certamente nao tinha sentido qualquer 'tranco' por ocasiao do evento, apenas o sobressalto ao ouvir o estampido.

Examinando as pecas, ficou evidente todos os rompimentos haviam ocorrido em linhas de cola.
















Ou seja, a cola havia falhado!

A minha primeira hipotese foi teria falhado a colagem do fundo, mais recente: apesar de ter deixado o dobro do tempo curando, o frio teria impedido que o reacao tivesse de fato se completado.

Mas o exame das pecas mostra que nao, nao foi o fundo o ponto de falha, mas a colagem entre os segmentos.
Pode-se ver que fragmentos do fundo foram arrancados, ainda colados. Um maior, bem nitido, em uma das metades, o outro uma pequena lasca em meia-lua na outra. Pelo tipo da quebra fica evidente: os segmentos separaram-se e entao, forcados para fora pela forca centrifuga, produziram a quebra na peca do fundo ao serem arrojados.

Ou seja, nao se pode atribuir a falha da cola a um processo de cura incompleto. E como se pode ver que ambas as faces que se separaram nao so estavam curadas a varias semanas, como tambem estavam totalmente cobertas por cola, inescapavel concluir o problema tampouco pode ser atribuido a uma tecnica incorreta de colagem. Conclusao final, a cola epoxi falhou porque falhou, nao resistiu ao continuado esforco da soma da forca centrifuga com a tracao dos cortes, as vibracoes e os 'solavancos' do processo, e cedeu.

-- oOo --

Tudo bem, confesso que realmente teria preferido nao ter tido essa aula!

Mas ja que tive, fique registrado o aprendizado; conhecimento para compartilhar:

  • Realmente, alem de oculos de protecao e' indispensavel utilizar-se mascara facial — e das boas! — para operar-se o torno.
  • Se pecas pesadas devem ser giradas sempre com muita atencao, muito cuidado, medidas extras de seguranca devem ser consideradas ao lidar-se com segmentados, especialmente para evitar descolagens subitas.
  • Cola epoxi nao e' uma boa opcao para montar-se segmentados para o torno. Por mim, doravante nao deve ser usada nisso de jeito nenhum. Por favor, veja a proxima postagem para as devidas correcoes.
  • Sem duvidas, utilizar-se um avental de couro faz muito sentido ao usar-se o torno. Eventualmente, pode representar a diferenca entre um dolorimento com talvez um roxao e um talho feio.
Como?
O que vou fazer com os restos do desastre quase tragico?
Nao sei ainda.

Estou na duvida entre guarda-los como um aviso permanente dos riscos envolvidos nas operacoes do hobby, ou... curtir um calorzinho — se voces me entendem.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cade minha juventude?

Se alguem nao sabe, fique sabendo o inverno chegou com forca aqui pelo portinho. Com forca, eu disse...

Ocupado com umas coisas que nao vem ao caso, ontem afinal achei tempo para revisitar a 'oficina' e decidi voltar a atacar o bloco de segmentos de itauba que, como relatei em postagem anterior, eu havia sepultado com as aranhas.

Naquela ocasiao, quando tinha tentado tornea-lo tive problemas com a velocidade do meu torno: Se utilizasse o sistema de regulagem de velocidade para girar o bloco de quase cinco quilos em baixa rotacao, ficava sem torque suficiente para os formoes conseguirem corta-lo. Rotacao mais alta com um bloco tao pesado e desbalanceado iniciava trepidacoes ameacadoras.

Obviamente o sistema de controle de velocidade do torno, baseado em polias com diametros variaveis, necessitava ser ajustado para operar em baixa rotacao com torque mas, ocupado com o projeto que se tornaria a Arte moderna um tanto abstrata, resolvi deixar para outra oportunidade. A oportunidade chegou ontem e, com frio e tudo, acabei por obter um ajuste aceitavel na relacao velocidade/torque.

Acordei hoje cedito cheio de vontade e, o sol clareando a leste mas ainda escondido, parafusei o bloco de itauba outra vez na placa de face, engatei no torno e comecei os giros...

Falei que o inverno chegou, forte?

Falei que esta fazendo frio, muito frio, especialmente de manha cedinho, temperatura abaixo de 5°C? Nao, nao falei. E naquela hora tao entusiasmado estava com a coisa afinal funcionando, mergulhado na chuva e no cheiro maravilhoso dos estilhacos de itauba que nem me importava o frio.

Quer dizer... Nao me importava conscientemente, mas o corpo velho de muitas decadas se importava sim. E muito! Voces sabem que a minha 'oficina' so tem duas paredes e imagino voces sabem que um troco daquele tamanho girando a 700-800 rpm faz um ventinho. O ventinho toca o ar — a menos de 5°C — direto na mao que esta ali atras do suporte de ferramenta segurando o formao. Daqui a pouco os dedos comecaram a ficar meio insensiveis, meio anestesiados... Nao tem importancia, oras! A peca esta tomando forma, ta tudo funcionando tao bem, tudo esta tao bom... So que daqui a pouco os dedos, de insensiveis, anestesiados, comecaram a doer! Nao uma dorzinha de agulhadas, nao. Uma dor de alicate, apertando.

Resolvi dar uma paradinha, para esquentar as maos. Nada! A dor aumentando. Resumindo, fui esquentar as maos com um secador de cabelos, mas tambem nao resolveu; a dor deu uma amainada mas continuava. Acabei, ve se pode, tendo de fazer um escalda-maos com agua morna e deixar as maos de molho por uns bons minutos ate a coisa aliviar. Eu que, guri, adorava quebrar geada com os pes descalcos...

Mas fazer o que? Conformar-se, claro. Tomei um chicrao de cafe bem quente com uma colher de sopa de chocolate. O sol ja brilhava bem quando voltei para tornear. De luvas, tsc, tsc, tsc.

Mas afinal consegui fazer a moldagem basica externa do bloco e endireitar bem a base para colar o fundo.

Esta nos grampos. Com esse frio, vou deixar a resina epoxi colar por 48 horas antes de retorna-lo aos giros. Mas sabado... Sabado tem mais, hehehe...