domingo, 22 de abril de 2012

Aprendendo na marra

A menos tao abonado que possa 'terceirizar' tudo, inescapavelmente quem tem uma oficina — ou mesmo, como eu, um arremedo de oficina — acaba tendo de se envolver com o conserto de suas maquinas. Sabendo disso, eu ate sempre procuro me informar tanto quanto possivel sobre as peculiaridades das entranhas dos equipamentos que utilizo, ja que ter de meter a mao em tais entranhas e' simples questao de tempo. E, sei tambem, por forca do Principio da Implicancia Natural das Coisas, o mais das vezes essa lide acaba sendo um troco complicado, uma encrenca usualmente bem maior do que a encomenda.

Essa semana que passou foi exemplar. Estando envolvido com a serra de fita e o torno, fazendo colheres de pau com eucalipto, constatei ambas as maquinas tinham problema. No torno, o controle de velocidade de rotacao comecou a funcionar mal, a rosca do parafuso que aprisiona o acionador do controle havia espanado. Na serra, sumira um pedaco do pneu de uma das rodas. Os remedios para os dois problemas, obvio e simples: trocar o pneu da serra e refazer a rosca para o parafuso aprisionador.

Das tantas ferramentas que nao tenho, uma e' macho para roscas. Bueno, boa oportunidade para, justificadamente, comprar um jogo, nao e' mesmo? Enquanto isso, pneu novo para a serra eu tinha (eu disse que procuro estar preparado para essas eventualidades, nao disse?). Entao, vamos comecar por trocar os pneus e depois vou comprar os machos...

Os pneus velhos, rebentados, pretos, e os penus novos de uretano "Ultra Blue"
Era o que o Murphy estava esperando, o desgracado!

Para trocar os pneus, claro, tem de retirar-se as rodas da serra. E, claro tambem, depois de colocar os pneus novos tem-se de recolocar as rodas. So que, recolocadas as rodas, ao testar o funcionamento com os pneus novos a fita da serra escapava das rodas. Sempre. Problema dos pneus, e' o mais provavel.

Os pneus velhos `a direita, e a camara de scooter cortada
Resolvi testar a hipotese: Copiando a ideia de Mr. Matthias Wandel utilizei a borracha recortada de uma camara de ar de scooter como pneu para as rodas. Picas! Neres de pitibiriba; a serra continuou escapando.

Nao, nao vou macar voces com todos os detalhes, as minucias do tedio, da azia, dos suadores, quao baixo o calao dos improperios!

Deletada da triste historia toda a parte sordida o resumo e', ja que ia ter de acertar os pneus e regular as rodas, resolvi fazer o que vinha sempre adiando: uma regulagem geral na serra fita e, no processo, resolvi inclusive alterar a geometria de certas pecas, incluindo as proprias rodas. Coisa que so um torneiro mecanico poderia fazer, claro.

E, ja que ia ter de levar as rodas da serra para o torneiro, entao por que nao levar o cabecote do torno e aproveitar para fazer a rosca nova e umas outras modificacoezinhas para prevenir novos problemas, nao e' mesmo?...

E' notorio, tao notorio quanto a Lei de Murphy, que quando se comeca a empregar o "Metodo Jaquet" (ja que vou trocar a telha, aproveito e mudo o ponto do telhado, ja que vou ter de rebentar a parede para arrumar o vazamento, aproveito e faco uma janela, etc., etc...) e' bom comprar quantidades industriais de remedio para dor de cabeca. Batata!

Remover o cabecote do torno era questao so de soltar os quatro parafusos que o fixavam ao barramento. Quatro simples farapusos allen. Barbada!

Seria barbada — se Murphy, Jaquet, e todos os criadores de caso do universo nao tivessem combinado de posicionar os malditos rapufasos em posicoes tais que afrouxa-los transformou-se em nada menos do que uma prova olimpica.

Ahi na foto e' que nem quando eu olhei: facim, facim. Mas naquele espaco mal cabe a mao, e a mao ali tapa qualquer visao do parafuso, e as dobras das chapas mal e mal permitem se consiga colocar uma chave allen ali dentro, `as cegas e exigindo posicoes de contorcionista para conseguir girar a chave (um quarto de volta!) quando, por milagre, se consegue encaixa-la no rapasufo. Brincadeira sem graca nenhuma: levei 40 minutos para conseguir afrouxar os quatro malditos pruasafos! De brinde, varias escoriacoes nas maos, muita serragem nos olhos e quase mato um cachorro quando, numa das contorsoes da prova, mm, perdi o pe!

Mas tudo bem, tudo bem, calma, calma que tudo esta bem quando acaba bem, hehehe.

Em tempo, o torneiro acertou as rodas, depois de longos testes, algum desespero e varios ajustes consegui remontar a serra sem sobrar pecas (que eu tenha notado!) e aprendi muito bem como regular a serra para a fita ficar sempre bem centrada.



 Alem disso, o torneiro tambem fez as roscas e afilou os parafusos (era um, eu coloquei mais dois para evitar a rosca voltasse a espanar) para o regulador de velocidade do torno e, pelo menos por ora a paz voltou `a minha 'oficina'.

A seta aponta onde estava o parafuso original unico, trocado por um mais grosso.
Os outros dois foram colocados para evitar o problema voltasse a ocorrer.
Ficou faltando so varrer o po.

Que po?

Bom, eu falei que estava fazendo colheres de pau com eucalipto, nao falei? Pois e': esse po.

Entao, para encerrar essa longa ladainha eis ahi as colheres com um acabamento, para mim, inedito: oleo de soja, aplicada uma demao por dia durante uma semana:



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4 comentários:

  1. This article helps me a lot. Nice work!

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  2. Glad it could help, dan.
    Thanks for commenting.

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  3. Olá! Belo Artigo. Parabéns!
    Tenho uma serra fita idêntica a sua e preciso substituir o revestimento do volante.
    Poderia me indicar onde comprou o "ultra blue urethane"?

    Grato.

    Rubens Bernardi

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    1. Legal tenhas gostado da postagem, Rubens.

      Eu faz tempo nao tenho mais essa serra, vendi-a para um amigo. Os pneus azuis vieram dA Matriz.

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