sábado, 31 de dezembro de 2011

De braco com a chuva

O velho Pedro, sempre implicante, resolveu premiar seu apadrinhados e, manhazita, despejou aqui no portinho cinza-chumbo, ventos e muita agua. Como nao sou feito de acucar, hehe, encarei os elementos e fui continuar as furungacoes no prototipo da cadeira estilo Sam Maloof...






A primeira coisa, claro, conformar a perna traseira. Com giz e lapis, baseado em imagens e algumas medidas que pude obter em minhas pesquisas, utilizando o dado ja cortado como referencia tracei os contornos da perna traseira direita na tabua. E entao para a serra de fita.


Ao ver a perna ja cortada reparei que, sem querer, havia obtido um excelente exemplo da vantagem — nao! da vantagem nao, da necessidade — de se utilizar padroes para cortar as pernas de cadeiras. Reparem que os veios, justamente na curvatura onde se exercera a maior forca, ficaram curtos, com um angulo francamente propenso a cisalhamento, resultando uma perna muito, muito fragil, propensa a quebrar-se ali por qualquer coisinha. Dispondo do padrao, no entanto, obviamente seria facil dispor a posicao do corte para obter-se veios longos na curvatura (e tambem, obviamente, evitar nos), como demonstrado pelas linhas que adicionei na imagem ahi abaixo.




A seguir, claro, tornei a encaixar a perna recem cortada de volta no assento, para ter uma visao da coisa.







Pude perceber que algumas modificacoes serao necessarias quando tracar o molde definitivo, como espessar mais um pouco a perna abaixo do assento e na porcao do encosto, alem de aprofundar mais a curva da transicao entre o assento e o braco. Mas, tendo as juncoes posicionadas, era hora de partir para o braco.

Como imagino possa-se notar claramente na foto acima, da perna traseira para a dianteira o braco sera composto de DUAS curvaturas, uma de baixo para cima, outra de dentro para fora. (Acho o metodo que vou apresentar de determinar essas curvaturas muito, muito maneiro, se nao genial. Mas nao fui eu que inventou, nao; os merecidissimos elogios devem ir mesmo para o genial Sam Maloof.)

Tendo aplicado uns parafusos nas emendas para firma-las bem nas suas posicoes, coloquei uma tabua apoiada na perna dianteira, levei-a ate encostar por fora na juncao na perna traseira e, clampeando tudo em posicao, risquei o exato angulo da juncao na tabua, como imagino possa ser visto na porcao salientada com o circulo vermelho na foto ao lado.

Na serra de mesa ripei a tabua para a altura e transferi esse angulo medido para o miter da mesa e cortei a tabua com aquela exata angulacao. Entao, com primeiro angulo do braco ja cortado, tornei a apoia-lo na perna dianteira e o atravessei para que fizesse contato com o suporte na perna traseira. Naturalmente, ficou uma fresta em cunha entre o braco e o suporte como imagino possa se ver na foto.



Risquei esse angulo da cunha no braco e o transferi para a inclinacao da lamina da serra de mesa.



Assim, com a serra inclinada e a peca angulada conforme a setagem do miter, em uma passada se obtem  o angulo composto necessario para a perfeita adaptacao do braco ao suporte da perna traseira enquanto apoiado no suporte da perna dianteira.


O braco em perfeito contato com o apoio na perna traseira,
e bem alinhado com a perna dianteira, em uma reta
Agora, para transformar essa linha reta do braco desde a perna traseira ate a dianteira em uma curva, a primeira etapa e' tracar essa curva na madeira do braco.




Ahi leva-se a peca para a serra de fita. O detalhe e' que a porcao removida e' levada para o outro lado da tabua e colada ali, o que produz nao apenas o espessamento do braco, mas compoe a primeira curva do braco, a curva de dentro para fora.

Na imagem ahi embaixo o braco nao esta ainda colado, apenas afixado com clamps para ilustrar. A cola, claro, precisa secar, logo, uma pausa se faz inescapavel.

Alem do que, `a noite, vai ter aquela enchecao de saco, foguetorio e barulheira que so serve para ouricar os caes. Tudo bem, na real nada contra, mas a verdade e' eu nunca gostei de comemorar datas, e ha decadas que nao comemoro mesmo.

Mas, para quem gosta, boas festas e votos de um ano repleto de saude — que tendo saude no resto a gente da jeito.

Ate 2012!


O braco formando uma curvatura entre a perna traseira e
a perna dianteira, e perfeitamente apoiado

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mostrando as pernas

Remendando a cacaca



Aproveitando a fresca da manha, removi o assento da prensagem e tratei de dar acabamento no remendo. Ate que nao ficou muito ruim...


Com o assento colado e todos os soquetes cortados, hora de fazer as pernas. Sendo as dianteiras bem mais simples, comecei por elas, cortando umas ripas com cinco lados quadrados e, utilizando sempre linhas de corte marcadas com faca e roda, marquei e salientei os cortes dos dados, tirando a medida com paquimetro diretamente da espessura das espigas dos soquetes.

Pernas dianteiras com cortes dos dados marcados e salientados
Mais uma vez, a maioria da literatura a que tive acesso recomenda cortar os dados utilizando kerfing. Nao tendo achado o processo nenhuma maravilha, antes pelo contrario, fiquei com a impressao que o pessoal que escreve sobre essas cadeiras e' da turma mais das antigas, partidarios de tecnicas mais tradicionais, donde a preferencia pela serra de bancada. De todo modo, eu ja estava mesmo inclinado a utilizar a tupia de mesa para os cortes e, depois de setar devidamente a ferramenta, mandei bala utilizando o miter para estabilizar o angulo do corte e um retalho clampeado atras para evitar esfacelamento dos veios curtos na saida da fresa.

Cortando os dados na tupia de mesa
Como eu esperava, os cortes sairam bem mais limpos, mais rapidos e absolutamente precisos, com exata correspondencia entre ambas as pernas. Nao e' por nada que eu adoro tupias, hehehe...

Os dados cortados, com exata correspondencia entre os lados
Ahi, foi colocar a fresa de arredondar, novinha, na tupia, setar para expor sem ressalto na base todo o arco de corte do bit, testar em um retalho, aplicar nos vertices internos das pernas e ir testar o encaixe nos soquetes. Do lado do remendo ficou uma folguinha e, tudo bem, o pinus e' uma madeira bem maleavel, tem boa tolerancia para mais e para menos, nao se discute. Mas se o resultado nao ficou absolutamente perfeito, como eu nao esperava ficasse, acho que nao da para se queixar, ainda mais sendo o primeiro contato pratico com a emenda.








Bueno, tendo as pernas da frente devidamente posicionadas, hora de pensar nas pernas de tras.




A intencao aqui nao e' obter uma cadeira acabada, vejam bem. Essas cadeiras modeladas — ou esculpidas como preferem alguns — seja quando foram construidas pelo proprio Sam Maloof ou por qualquer de seus inumeros imitadores/copiadores, sao sempre feitas utilizando moldes, gabaritos, templates como eles chamam, para cortar as pecas. So que eu nao tenho esses moldes e embora haja alguns disponiveis `a venda na Teia, o preco sera tudo menos convidativo.

Por supuesto, eu poderia usar no computador um programa de 3D, tipo SketchUp, ou mesmo um programa vetorial de desenho, tipo Corel Draw, para criar esses moldes. Nao e' dificil, mas da trabalho. So que trabalho por trabalho, dificuldade por dificuldade, ao inves de usar o computador eu prefiro usar a 'oficina'. Muito mais interessante, eu acho, ir construindo o prototipo com pecas informes e ir desenvolvendo as formas na pratica, maquinas e ferramentas de marcenaria no lugar do computador, giz e lapis ao inves de mouse, hehehe... Sem falar na vantagem de familiarizacao com tecnicas, metodos e equipamentos, melhoria da destreza, e toda essa especie de coisas.

Esse papo todo, so para que voces nao estranhem (ou nao estranhem muito, hehe) a perna traseira que fiz para a cadeira...



Pois e'...

E agora, enquanto voces vao digerindo essa perna que desafia adjetivos, eu vou pensando na proxima etapa. Certamente a mais complicada de todas: a construcao do braco.

Vamos ver, espero, no que vai dar...

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Enquanto ainda e' 2011

Aproveitando o clima, nas primeiras luzes me pus a marcar nas tabuas laterais do assento os recortes para os soquetes. Como fundamentalmente toda a cadeira vai depender desses encaixes, precisao e' preciso. Precisao nao so para dimensoes e angulos dos cortes, mas principalmente para que ambos os lados tenham exata correspondencia. Por isso, as marcacoes foram feitas todas com linhas de corte, utilizando uma faca ou uma roda e entao salientando as linhas com grafite. E, claro, estabanado como sou aproveitei para enfatizar com toda a nitidez o que iria ser cortado, porque na confusao nao e' incomum eu virar uma peca, me confundir e acabar cortando o lado errado, hehe.

As tabuas laterais do assento com as areas de corte para os soquetes nitidamente marcadas,
com o soquete traseiro do lado direito ja cortado
Como a maxima precisao possivel nos angulos e' importante, optei por fazer os cortes utilizando a serra de bancada empregando uma lamina de kerf grosso — e portanto bem rigida. Para os grandes cortes da parte de tras, utilizei um graminho com guia bem alta para os cortes longitudinais com a peca "em pe" e o mesmo graminho com guia normal para os cortes transversais, a peca "deitada". Para os cortes rasos da parte dianteira, utilizei um treno e fiz kerfing (sucessivos cortes lado a lado, na largura do kerf) — mas nao gostei muito, inclusive porque foi preciso "alisar" o fundo depois com uma plaina. (Provavelmente sera mais facil, mais preciso e mais bem acabado utilizando a tupia com um bit reto...)

Os dois lados cortados e, como se pode ver, perfeitamente correspondentes

Bueno, feitos os cortes, hora de cortar os soquetes usando a fresa de rabbet (novinha, hehehe) na tupia. Por parecer-me mais facil e mais preciso, optei por utilizar a tupia de mesa ao inves da de mao como, a julgar pela literatura a que tive acesso, e' a preferencia da maioria. Feitos uns cortes em umas sobras para "sentir" a fresa nova e para setar a altura do bit visando uma espiga mais ou menos igual `a metade da espessura da tabua, maos `a obra.

Os soquetes cortados, e o preco do aprendizado...

Obviamente no aprendizado de qualquer nova tecnica e' usual produzir-se erros. Como eu nao sou bruxo, nao escapei. Alem das inconveniencias inerentes a usar pinus, com as bordas do corte ficando ricas em felpas necessitando limpeza com um formao, pude ver que a aresta na saida da fresa tem imensa propensao a lascar ou quebrar-se — como foi o caso no pedaco salientado com o circulo vermelho na imagem acima. (E' de pensar se nao vale a pena clampear um retalho ali, para evitar o problema.) Em escala bem menor, e solucionavel com um pingo de cola, o mesmo problema pode ser visto na foto abaixo.

Esfacelamento, na saida da fresa, provavelmente evitavel com o uso
de um retalho clampeado
Bem mais feio, e bem mais grave, o problema de 'desgarro' ou, como chamei, o "problema do cafe". Tentando evitar se repetisse o problema acima, ao inves de colocar um retalho ali e prender com um clamp, o que provavelmente seria o jeito mais seguro de evitar o problema, quando fui cortar a tabua do outro lado resolvi inverter a direcao do corte. Ao inves de empurrar a madeira contra a direcao de giro da fresa como e' certo, fui tenteando despacito a favor do giro, o que e' errado mas `as vezes e' o jeito.

Estava nisso quando veio o grito da Escrava: "Patrao, o cafe ta pronto!"

A pequena distracao foi o que bastou para a fresa, com a forca de pouco mais de tres cavalos, por fracao de segundo "agarrar" a peca. O resultado da para ver la em cima na foto dos soquetes ja cortados, mas mostro outra vez, mais de perto para sublinhar a burrada:

A "distracaozinha"

Ainda bem que e' um prototipo de pinus, ou inescapavelmente teria de refazer a peca toda. Mas, depois de maldizer (pela undecima vez!) minha estupidez, resolvi foi conceder uma colher de cha para minha cronica preguica e optei por dar uma 'tapeada' e colocar um remendo ali:

Nao usando areia, e' verdade, mas a, mm, digamos, "manobra do gato"...
 
Deixei o remendo clampeado para secar a cola e fui fazer outras coisas. Mas enquanto fazia, ocorreu-me se fosse esperar para a cola secar suficientemente para poder recortar o remendo, iria perder o resto do dia.

Dai, ja que estava contaminado pela preguica mesmo, deixei secar a cola o suficiente para poder remover os clamps e — temerariamente, muito temerariamente, eu sei, e contrariando a maioria que prefere premoldar as tabuas soltas com a serra de fita mas eu, se for moldar o assento, vou ir mesmo e' de disco flap — resolvi partir para a colagem do assento e deixar para tratar do remendo amanha, no assento ja colado. (Vao para' cum essa rogacao de praga ahi?)

Embora a imensa maioria do que pude ler recomende utilizar Titebond III para colar o assento, pensando em evitar mais angustias resolvi colar mesmo com epoxi de cura lenta. Secagem em 24 horas e mais de 3 horas de tempo de manuseio, mais que suficiente para fazer tudo com toda a calma...

Como?

Se eu tenho Titebond III? Nao, nao tenho. Mas sao detalhes, hehe...

De todo modo, com umas adaptacoezinhas para nao compor o erro e arruinar o remendo na colagem, eis ahi o atual estado de coisas:


Claro, por hoje e' so.

Amanha vamos ver que jeito consigo dar no remendo, e... Pernas! Hora de comecar a pensar nas pernas.

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um erro... bom

Errei outra vez. E estou satisfeito.
Tinha previsto que o par de fresas de tupia que havia encomendado para cortar emendas Maloof iriam chegar no proximo ano; mas nao, chegaram hoje. Aleluia! Obviamente fiquei me cocando para testar os novos brinquedos. So que ahi pensei um pouco e, teste por teste, resolvi partir mesmo para algo um pouco mais pratico e util...

Obviamente, as emendas Maloof sao fundamentalmente encaixes entre assento e pernas de cadeiras e, claro, a ideia de aprender a faze-las e' preambulo para confeccionar uma cadeira ao estilo Maloof. Ja colecionei uma quantidade razoavel de informacoes sobre as tecnicas do Sam (sim, a ponto de sentir ja uma certa intimidade com o grande mestre, a ponto de chama-lo pelo primeiro nome, hehe) e, de fato, aproveitei as reformas que fiz nas cadeiras da minha mesa de jantar para ja ir testando algumas tecnicas; entao imaginei que, ja que ia testar as emendas, podia aproveitar para testar a coisa toda e partir para construir um prototipo. A ideia, fundamentalmente, e' para comeco de conversa construir alguma coisa baseada nessa obra prima:


Nesse momento, surgiu a questao: que madeira usar?
Pensei nessa, naquela, aquela outra talvez, mas convenhamos: madeira ta caro pra xuxu!, e eu nao tenho nenhuma certeza eu va conseguir fazer alguma coisa aproveitavel. Bueno, que tal fazer uma miniatura para tirar a temperatura? (Afinal, um dos assistentes do Sam ate hoje faz replicas em miniatura das cadeiras do mestre, e vende na faixa de U$5.000 cada uma. De repente, um bom negocio, ate?) Mas nah! Uma miniatura para criar um design ate valeria a pena, mas nao teria como testar tensoes, resistencias, comodidade, etc.

Acabei optando por fazer um prototipo em pinus. Meio complicado de trabalhar, ruim para o fio das ferramentas, e' verdade, mas e' bem baratinho e, se conseguir fazer em pinus, fazer em madeira boa depois periga ficar facil, hehe. Esperando, claro, que do prototipo possa obter os moldes para depois construir as pecas para uma cadeira definitiva, bem acabada e, espera-se, duravel.

Dai, consegui umas tabuas de ~5x30 e dei inicio `a experiencia.

A primeira parte, aprendi, de qualquer modelo de cadeira do Sam Maloof comeca pelo assento. Obviamente, comecei por ahi. Ao final do primeiro dia, consegui cortar o assento basico.


Como espero de para ver, as tabuas sao cortadas com angulos de 3° nas emendas, permitindo uma curvatura que muitos denominam "sorriso".


As emendas aqui foram salientadas com linhas vermelhas, pensando mostrar os angulos nas emendas das tabuas das extremidades e na tabua do centro. Na segunda e na quarta tabua, todos os angulos sao retos.


As marcacoes para cortar os encaixes para biscoitos. Os biscoitos ou equivalentes (cavilhas, tarugos, etc.) sao indispensaveis, nem tanto como reforco das emendas dado a qualidade das colas modernas, mas para garantir o alinhamento e firmeza das angulacoes na hora de colar.


Os cortes sao feitos bem na parte inferior das emendas, para deixar espaco para a posterior moldagem do assento.

E por hoje foi so.
Vem mais por ahi, hehe...

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Doi nos dentes! - Epilogo

Recebi hoje a roda de tracao enviada pela Tormek.
Incidentalmente, tambem uma amostra do humor sueco...

Ao abrir o envelope alcochoado contendo a roda, notei tambem a presenca de uma carteirinha de plastico amarelo. Oba! Brinde...


No interior da carteira, para minha surpresa, uma cartela com 10 bandeids...


Mas que diabo?
Por que cargas d'agua me teriam mandado curativos?...

Ahi, fui olhar atras da carteira. La estava a explicacao:

(Cuide-se... Afiado com Tormek e' muito afiado!)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Doi nos dentes!

Nos outros, habitantes de pindorama e arredores, esses cafundos do terceiro mundo, acabamos nos acostumando com certas coisas, achando que e' o normal... Por exemplo, ha uns anos comprei pela Rede um microondas da Panasonic, pelas americanas.com. Quando fui ligar o forno, notei que faltava uma pecinha, o protetor da abertura do magnetron, para ser preciso. Reclama daqui, reclama dali, e a culpa era minha: ou eu tinha extraviado a peca, ou danificado e estava escondendo meu erro, ou coisa pior provavelmente. Mas a loja e a fabrica afirmavam que deles e' que nao era a culpa, a loja porque nao abriam as caixas, a fabrica porque o controle de qualidade nunca deixaria sair um produto com peca faltando. Resumindo a longa historia, tive de entrar na justica contra ambos, loja e fabrica, e apos quase um ano de litigios foi setenciado eu recebesse um forno novo, com garantia nova. Interessantemente, me informei na epoca do custo da tal peca que veio faltando, um retangulo de uns 6x10cm feito de uma substancia semelhante a papelao: R$16 !!

Pois e'... Agora, vejam voces o contraste com o Primeiro Mundo.
Meu afiador Tormek T-7 esses dias comecou a apresentar uns barulhos estranhos. Como a barulheira foi aumentando abri-lhe as entranhas e constatei a roda de tracao tinha rachado. Colei a coisa com superbonder e araldite e esta funcionando mas, e' claro, nao vai durar:




















A encrenca veio das Oropa e cheguei a pensar em mandar para ser consertada por la, na garantia. Mas pensei melhor e resolvi mandar um mail para a fabrica, na Suecia, relatando o problema e pedindo para comprar a peca — o que certamente envolveria muito menos complicacoes burocraticas e, portanto, acabaria sendo muito mais barato.

Nem 12 horas depois, recebo a resposta. Lastimam meu infortunio e estao me enviando a peca, a custo zero e com frete gratis.

Nenhuma pergunta.

Por um lado, fiquei felicissimo pelo inesperado presente de Natal.
Por outro, essa brutal dor nos dentes ao, outra vez, constatar inapelavelmente aqui somos mesmo cidadaos de terceira classe...

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011




Assim
como que
 do nada, um cara
 algo mais velho, algo
 mais barrigudo do que eu,
a cara coberta de alvas barbas, chegou
 aqui meio esbaforido, suando por todos os poros,
 as bochechas muito vermelhas, rindo de um jeito gozado...

 Reclamou que minha decoracao estava muito pobre, incompativel
 com a epoca do ano.  E notando talvez um desconforto de minha parte com
 a reprimenda, disse que tinha encontrado um enfeite que, com certeza, alegraria o ambiente.

 E, mais, alegraria a mim, por muito, muito tempo.


Vejam voces...



Grande velhinho!

Amanha mesmo vou afinar, digo, afiar os instrumentos...


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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Emenda Maloof — cortando `a mao

Nao surpreendentemente, as fresas de tupia que eu queria para cortar emendas Maloof constavam naquele vasto capitulo do catalogo das nossas firmas brasileiras.  O capitulo do "nao tem"!

Como isso se traduz em inevitavelmente havera uma consideravel demora ate eu poder dispor das tais fresas, ainda mais agora em epoca de festas de findiano, e como estava curioso em ver e avaliar a juncao que a emenda proporciona, resolvi cortar uma, `a mao...


Catei umas sucatas de madeira para o teste, e iniciei marcando no "assento" o corte primario do soquete Maloof, dimensionado para a "perna".
E' um teste, mas e' fundamental procurar a maior precisao possivel para as medidas e angulos, ainda mais que essa foi uma emenda propositadamente cortada muito, muito rasa.
Depois do corte primario, com serra, plaina e formao, ainda baseado nas dimensoes da "perna" medi e marquei, usando uma faca, os cortes para os rebaixos (que podem ser muito mais facilmente cortados com uma fresa de rabbeting, na tupia). As linhas de corte foram acentuadas com grafite, para melhorar a visibilidade.
E entao eis pronto o soquete Maloof. Todos os angulos e dimensoes foram cuidadosamente revisados pois este sera o lado "certo" da emenda, e nao mais sera alterado; todos os ajustes que venham a ser necessarios realizar ocorrerao no outro lado da emenda, o lado "de acertar".
Tirando a medida com um paquimetro no soquete ja cortado, transferi e fiz o primeiro corte na "perna".
Os cortes laterais no encaixe da "perna", marcados com faca a partir das dimensoes medidas no soquete e, aqui, acentuados direto com formao.
Os dois lados da ensambladura, no "assento" e na "perna" cortados e ajustados com a devida reciprocidade para uma emenda sem folgas. Tao sem folgas que para ser encaixada necessita fortes marteladas, com um malho ou um martelo de borracha.

Reparar como a "perna" foi levemente afilada para encaixar-se no soquete, propositadamente cortado uns poucos milimetros muito estreito.












A emenda, encaixada.

Reparar que apesar da emenda ser muito, muito rasa, sem cola e sem parafusos, ainda assim o encaixe se sustenta com suficiente estabilidade.














Se algum de meus seis fieis leitores tambem tiver a curiosidade de ver como funciona e como pode ser modificada essa emenda basica, e resolver experimentar cortar uma dessas na mao, adianto algumas observacoes pensando ajudar:

Lembre-se que cortar emendas e' facil, corta-las exatas nao e'. Que inicialmente o resultado fique torto, com folgas, etc., e' o esperado. Ha de haver uma necessaria familiarizacao com ferramentas e metodos ate se conseguir precisao, e isso so se consegue pondo a mao na massa. Continuadamente.

Procure sempre lancar as medidas para que os encaixes fiquem apertados. E' sempre possivel relaxar um encaixe apertado demais, mas se tiver folga a unica solucao realmente efetiva sera cortar de novo.

Nao tenha pressa! Como diria o Norm Abram, meca duas vezes antes de cortar.

Tenha clareza! Marque as linhas com nitidez e sinalize os lados. E' muito facil "embaralhar as ideias" no meio dos cortes.

Publique/comente/discuta seus resultados, dificuldades, erros, acertos, manhas, dicas, no Forum Madeira! Nao e' raro o obvio de um ser o misterio de outro...


domingo, 4 de dezembro de 2011

Emenda Maloof — o basico

Toda emenda deve sempre ser cortada da maneira mais exata possivel, idealmente sem qualquer folga. Por dois motivos, fundamentalmente: Primeiro para que nao ocorram angulacoes indesejaveis secundarias a um mau encosto das faces do encaixe. E entao, ainda mais fundamental, para que haja o minimo de cola entre as faces — pois como as modernas colas tem maior adesividade com a madeira do que consigo mesmo, quanto menos cola em uma emenda, mais intensa a adesao (razao por que se usa prensas, grampos, nas colagens: justamente para espremer fora o mais possivel da cola dos espacos nos encaixes).

Se esses principios se aplicam a quaisquer encaixes, no caso das emendas Maloof sao de todo indispensaveis: e' absolutamente necessario que essas emendas sejam angular e dimensionalmente absolutamente exatas, sem nenhuma tortuosidade, nenhuma folga. Isso porque da forma como se empregam essas emendas nao apenas sao, literalmente, fulcrais no posicionamento das partes — e portanto pequenos erros angulares inevitavelmente se traduzirao em assimetrias e desnivelamentos — como serao submetidas pelo uso do movel onde estao inseridas a elevadas e constantes pressoes e tracoes, de tal forma que assimetrias e desnivelamentos se traduzirao nao apenas em 'arranhoes' esteticos como quase certamente em riscos estruturais inaceitaveis levando inicialmente a mobilidade e eventualmente a falhas nas emendas.


Como mencionei na minha postagem anterior, nao tenho ainda nenhuma experiencia pratica com emendas Maloof. Tudo o que segue e' de segunda mao, foi obtido de pesquisas na Teia; nao tenho qualquer pretensao se trate da verdade escrita em pedra mas apenas um apanhado basico para encaminhar/facilitar o aprendizado da tecnica e, eventualmente, seu emprego em um movel compativel.

Pelo que se pode ver, e como seria de esperar, um bom numero de marceneiros dA Matriz copia, emula, imita o estilo de moveis de Sam Maloof, no que eles chamam de Maloof inspired furniture, ou, mobiliario inspirado em Maloof. Inescapavelmente emendas Maloof participam notavelmente na maioria desse mobiliario e, tambem inescapavelmente, ha variantes supostamente mais faceis de efetuar, mais efetivas, mais bonitas, etc., etc. (Ha inclusive quem venda kits para confeccao de variantes, como e' o caso de Scott Morrison, um dos mais afamados desses emuladores, que disponibiliza em seu site (por "miseros" U$159, mais frete) um kit para confeccao do que ele denominou Emenda Borboleta (Butterfly Joint™).)

Na verdade, como praticamente tudo que o mestre criou, a emenda Maloof (uma modificacao/adaptacao da emenda em espiga e fura) e' altamente eficiente e fundamentalmente simples.
E' perfeitamente possivel, sim, corta-la na mao, com ferramentas manuais, serras, plainas e formoes. Como no entanto e' um processo necessariamente repetitivo (havera no minimo 4 dessas emendas em uma cadeira, por exemplo, provavelmente mais, conforme a modelagem), e' um metodo que se beneficia de automatizacao, do uso de maquinas.


Vale comentar ainda que essas emendas podem ser modificadas, visando certos especificos resultados.
Por ora, para nao complicar pareceu-me mais apropriado iniciar o aprendizado pelo mais simples: uma ensambladura reta. Das diversas versoes que o titio Google me ofereceu, essas ilustracoes "emprestadas" do site Cedroswoodworking me pareceram adequadas para mostrar como fazer:



 O primeiro passo e' fazer o recorte para a porcao horizontal (assento) do encaixe.
 Cortar o Soquete Maloof usando uma fresa de rabbet em ambos os lados, superior e inferior, do recorte, formando uma espiga central.

Cortar o elemento vertical (perna) da emenda nas exatas dimensoes do soquete. Utilizar uma fresa de roundover com o mesmo raio de corte do bit de rabbet para arredondar os bordos ate um encaixe perfeito entre o topo do soquete e o topo da perna, como mostrado na imagem acima.
 Utilizar o Soquete Maloof ja cortado para medir e setar as alturas, superior e inferior, da fresa de rabbeting, para efetuar o corte no elemento vertical (perna).
Usando as alturas determinadas acima, cortar o elemento vertical da emenda com a fresa de rabbeting, iniciando sempre pela porcao inferior do corte.
Quanto menores as folgas, quanto mais justo o encaixe, melhor.














Alguns comentarios que talvez ajudem quem se dispor a tentar reproduzir essa emenda:
  • Como em qualquer procedimento de precisao deve-se escolher um lado para ser o certo, o outro para acertar (demonstradamente, tentar fazer ajustes nos dois lados e' receita certa para desandar a maionese). Na maioria dos casos, na pratica, sera melhor escolher como certo — o lado que uma vez cortado nao sera mais mexido — o lado horizontal, ou seja, o soquete no assento da cadeira, deixando o lado vertical, ou seja, a perna da cadeira, para receber todos os ajustes necessarios para um encaixe perfeito. Por isso, quando iniciar o procedimento cortando o encaixe no lado horizontal, e' bom assegurar-se meticulosamente os angulos estejam absolutamente retos, as superficies absolutamente planas. 
  • Para determinar sejam iguais os raios de corte da fresa de rabbeting e da fresa de roundover, o jeito mais facil e' ver suas especificacoes no catalogo/site do fabricante. Outro jeito e' na pratica: fazer os cortes em um retalho e ver se os raios coincidem.
  • E' melhor inicialmente dimensionar a peca vertical (perna) um tiquitinho maior que o encaixe recortado na horizontal (assento), para haver margem para correcoes, garantia de que nao havera folgas.
  • Teoricamente e' possivel fazer os cortes de tupia empregando uma tupia manual, sem utilizar mesa. Mas dado a necessidade de maxima precisao no encaixe, e' muitissimo recomendavel usar mesmo uma mesa, e onde possivel com guia.


Bueno, com ja tinha mencionando anteriormente, propus como desafio no Forum Madeira! a execucao desses encaixes. Quem quiser participar, mostrando seus resultados, discutindo modos e meios, facilitacoes, dificuldades, dicas, o que for, e' so postar (tem de estar inscrito no forum) no topico Tutorial, ou desafio... - Emendas Maloof.

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