quarta-feira, 8 de junho de 2011

A cruz dos veios

As modernas colas para madeira a base de PVA aderem mais às fibras da madeira do que as proprias fibras entre si, o que significa que em uma colagem bem feita o ponto de maior resistencia sera sempre a linha de cola. A proposito, como a aderencia da cola consigo mesmo e' menor do que sua aderencia `a madeira, uma colagem sera tao mais eficiente quanto menos espessa for a linha de cola, razao por que as duas superficies a serem coladas deverao estar bem lisas, justaporem-se o mais perfeitamente possivel e a colagem deve curar sob pressao.


Emenda lado a lado, veios paralelos
A colagem ideal entre madeiras ocorre quando se as une lado a lado, com veios paralelos. Por exemplo, para obter-se o tampo de uma bancada de trabalho, devido `a raridade de encontrar-se pranchoes de boa madeira ultimamente costuma-se formar um painel com ripas coladas lado a lado, com veios paralelos. Como em uma (bem feita) colagem com veios paralelos a linha de cola e' o ponto mais resistente, esse painel resultara de fato um monobloco ate mais resistente do que se fora uma peca unica de madeira. 
Emenda de topo

Ja colagens que envolvam o topo da madeira, os veios curtos, sao a pior hipotese — e por isso usualmente sao evitadas. E' dificil, ou impossivel, se obter um acabamento realmente liso nos topos, resultando em distanciamento entre varios pontos de colagem determinando uma linha de cola sempre mais espessa e, portanto, menos resistente. Mais, a madeira e' sempre muito mais absorvente nos topos, a cola e' 'chupada' pela madeira, o que inescapavelmente resultara em reducao do volume de cola disponivel na emenda, enfraquecendo ainda mais a colagem.

Emenda com veios cruzados
A meio caminho entre esses extremos fica colar madeiras face a face, mas com os veios cruzados. Nessas circunstancias e' possivel de se obter uma boa superficie de contato e portanto uma linha de cola pouco espessa e muitissimo aderente, mas o problema aqui nao e' com a cola. O problema e' que a madeira 'trabalha', se expande e se contrai na direcao transversal (da largura) dos veios conforme as variacoes de umidade e temperatura e, como os veios estao cruzados, essa expansao e contracao tera sempre valores diferentes de cada lado da linha de cola, em tempo levando inevitavelmente `a fadiga e entao ruptura da colagem.

Mas se emendas de topo e com veios cruzados nao sao as ideais para colagens, nem por isso deixam de ser frequentemente indispensaveis na lide de construir-se com madeiras. A solucao, claro, foi desenvolvida ja em tempos imemoriais, e consiste em reforcar tais emendas para que nao dependam exclusivamente da adesividade da cola — ate porque em tempos imemoriais sequer havia cola...

Ha inumeras razoes para se queira realizar tais emendas, como ha inumeras abordagens possiveis para efetuar-se tais reforcos e permitir-se emendas resistentes e persistentes, seja qual a for a orientacao dos veios, seja qual for a razao de faze-las. Em uma visao abrangente, visando facilitar como abordar cada circunstancia, pode-se contemplar duas grandes divisoes em como reforcar emendas. A primeira divisao seria usando ou nao usando elementos externos para reforco, a segunda se a emenda visa apenas alcancar uma determinada forma, ou se sera submetida a esforcos, sofrera carga.

Assim, por exemplo, uma emenda de topo pode receber um reforco com um elemento externo, como uma cantoneira, ou pode ser reforcada por uma ensambladura, um encaixe que lhe adicione resistencia. Uma emenda puramente decorativa, como a de uma moldura, tera pouca ou nenhuma consideracao estrutural, enquanto que uma emenda que sera sujeita a cargas, como a do pe de uma cadeira, necessariamente priorizara a estrutura sobre a forma. O tema e' central `a marcernaria, e por isso mesmo extremamente amplo, enormemente variado. Longe de mim portanto a pretensao de sequer supor a ideia de esgotar o assunto, nesta ou em quantas postagens seja; a ideia e' tao somente ir apresentando alguns comentarios sobre algumas das mais notaveis e costumeiras tecnicas de emendas.
Fura (mortise) e espiga (tenon)

Justamente uma das mais notaveis e certamente uma das mais costumeiras dessas tecnicas e' a ensambladura em fura e espiga (em ingles, para facilitar pesquisas na Rede, mortise and tenon joint).

Talvez a mais resistente das emendas, e' usualmente a primeira opcao quando se almeja uma uniao capaz de suportar grandes esforcos, torcoes ou peso. Pode ser modelada, desde manualmente, com formoes e serras manuais, ate utilizando maquinaria dedicada, como e' feito industrialmente. E nao so quanto ao tamanho, pode apresentar-se em inumeras formas e com variados modos de fixacao, alem de colagem.

Inobstante a forma de construi-la — e ha um assombroso acervo de discussoes sobre o tema disponivel na Rede, a comecar por se o melhor e' adaptar-se a espiga `a fura ou, ao contrario, primeiro cortar-se a espiga e entao adaptar-se a fura — e a forma de fixa-la — aberta, fechada, com cola, cunhas, pinos ou como seja — uma consideracao ha de, sempre, ser primordial: O encaixe tem de ser rigorosamente preciso!

Nao pode haver quaisquer folgas, nao pode haver pressao excessiva no encaixe. Isso e' o fundamental.
O resto sao conveniencias, circunstancias.
Detalhes...

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