O fundo foi torneado para encaixar na placa de castanhas e entao, ja presa com castanhas e com a placa de face removida a peca foi, invertida, montada para tornear a parte de dentro, o oco do bowl. A 'escavacao' do oco ocorria normalmente, nenhum incidente de nota no processo, apenas a usual, esperada e agradabilissimamente perfumada chuva de itauba. Eu iniciava o aprofundamento do corte interno para formar uma 'gola' no vaso quando, sem aviso ou motivo aparente... BAM!
Girando entre 600 a 800 rpm o bloco rompeu-se em tres partes. Uma, o fundo, continuou girando devidamente presa `a placa de castanhas; metade do corpo foi arremessada a uns bons 10 metros de distancia e a outra metade percutiu com forca o barramento do torno, com um estampido que trouxe os caes correndo para investigar, e caiu no chao.
Tao logo, par de segundos, me recuperei da surpresa, a primeira coisa que reparei foi que, dentro do azar, tive sorte. Muita sorte.
Para terem uma ideia, olhando a foto ahi ao lado imaginem que uma daquelas metades que estao sobre o barramento do torno, de itauba, dura e pesando pouco mais de 1kg, foi arremessada ate a linha que aponta a flecha vermelha, o dobro da distancia para a esquerda desde o toco. Ou seja, passou exatamente por onde mais usualmente eu estaria torneando, se nao tivesse tido a sorte de estar escavando o oco e portanto bem para o lado, quase na altura do saco de lixo azul que protege o copiador. Estivesse na posicao mais usual, ali bem na frente da trajetoria do projetil, e teria tido de 'matar no peito' a peca ou, pior, na mascara facial — e em qualquer das hipoteses nao imagino tivesse saido incolume.
Depois, simultaneamente assustado e aliviado, fui olhar o que diabos havia acontecido para a peca ter 'explodido'.
Por saber a maioria das falhas operacionais usualmente se devem a erro do operador, nao so estou sempre disposto a aceitar qualquer falha ou problema deva-se a culpa minha, como esta hipotese — minha culpa — e' sempre a primeira. Mas nao estava realizando nenhum procedimento novo, nada que nao tivesse feito antes e varias vezes, e certamente nao tinha sentido qualquer 'tranco' por ocasiao do evento, apenas o sobressalto ao ouvir o estampido.
Examinando as pecas, ficou evidente todos os rompimentos haviam ocorrido em linhas de cola.
Ou seja, a cola havia falhado!
A minha primeira hipotese foi teria falhado a colagem do fundo, mais recente: apesar de ter deixado o dobro do tempo curando, o frio teria impedido que o reacao tivesse de fato se completado.
Mas o exame das pecas mostra que nao, nao foi o fundo o ponto de falha, mas a colagem entre os segmentos.
Pode-se ver que fragmentos do fundo foram arrancados, ainda colados. Um maior, bem nitido, em uma das metades, o outro uma pequena lasca em meia-lua na outra. Pelo tipo da quebra fica evidente: os segmentos separaram-se e entao, forcados para fora pela forca centrifuga, produziram a quebra na peca do fundo ao serem arrojados.
Ou seja, nao se pode atribuir a falha da cola a um processo de cura incompleto. E como se pode ver que ambas as faces que se separaram nao so estavam curadas a varias semanas, como tambem estavam totalmente cobertas por cola, inescapavel concluir o problema tampouco pode ser atribuido a uma tecnica incorreta de colagem. Conclusao final, a cola epoxi falhou porque falhou, nao resistiu ao continuado esforco da soma da forca centrifuga com a tracao dos cortes, as vibracoes e os 'solavancos' do processo, e cedeu.
-- oOo --
Tudo bem, confesso que realmente teria preferido nao ter tido essa aula!
Mas ja que tive, fique registrado o aprendizado; conhecimento para compartilhar:
- Realmente, alem de oculos de protecao e' indispensavel utilizar-se mascara facial — e das boas! — para operar-se o torno.
- Se pecas pesadas devem ser giradas sempre com muita atencao, muito cuidado, medidas extras de seguranca devem ser consideradas ao lidar-se com segmentados, especialmente para evitar descolagens subitas.
Cola epoxi nao e' uma boa opcao para montar-se segmentados para o torno. Por mim, doravante nao deve ser usada nisso de jeito nenhum.Por favor, veja a proxima postagem para as devidas correcoes.- Sem duvidas, utilizar-se um avental de couro faz muito sentido ao usar-se o torno. Eventualmente, pode representar a diferenca entre um dolorimento com talvez um roxao e um talho feio.
Como?
O que vou fazer com os restos do desastre quase tragico?
Nao sei ainda.
Estou na duvida entre guarda-los como um aviso permanente dos riscos envolvidos nas operacoes do hobby, ou... curtir um calorzinho — se voces me entendem.
Prezado Paulo, ainda bem que a perda foi apenas material. Além dos equipamentos mencionados, seria bom também usar uma armadura... abraços.
ResponderExcluirEleandro.
Marcenaria e' uma pratica que SEMPRE envolve riscos, Eleandro. Logo, consideracoes de seguranca sao sempre muito importantes.
ResponderExcluirE coincidentemente, sim, em certas operacoes (industriais) de tornearia utiliza-se vestes reforcadas, equivalentes a armaduras. Nao e' o caso para hobistas, certamente, mas quanto mais protecao melhor.