quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eucalipto - o comeco

(Como sempre, clicar nas imagens abre versoes de maior resolucao.)

Muito se fala, e mal, do eucalipto: empena, entorta, curva, racha, apodrece... Ha como que um consenso e' madeira ruim, so presta para carpintaria, e olhe la! No entanto leio na Australia, de onde se origina o lenho, o eucalipto e' bastante usado e tem boa fama, nA Matriz os Grandes Irmaos (pelo menos os que vendem Lyptus, hehe) afirmam que se compara com mogno e cerejeira americana...

Ja ha algum tempo essas informacoes contrastantes tem-me deixado curioso: quem tera razao, ou a coisa estara mais para um meio termo? Uma prancha no meu estoque e uns retalhos de ripas que usei na reforma do telhado da casa, e resolvi testar, ver que tal eucalipto seco ao ar, sem tratamentos ou qualquer selecao, se comporta sendo usado para construir um movel.


A primeira coisa a fazer, claro, foi aparelhar a madeira. A prancha que eu tinha, eucalipto rosa de 25x240mm, estava bem seca, mas certamente tambem bem acanoada, como penso pode-se ver ahi na imagem `a esquerda. Cortei dois pedacos de um metro de comprimento cada, um da ponta da prancha, o outro um segmento totalmente sem nos. Na desempenadeira primeiro e entao no desengrosso e na serra de bancada aparelhei ambos para quatro lados retos, e reduzi a espessura para 18mm.

Clique na imagem para amplia-la

Examinando as taboas deu para reparar que a ponta, como e' comum, tinha fissuras fundas. Os nos sao certamente problematicos; na sua proximidade ha uma 'revolucao' nos veios nitidamente afetando a textura do lenho e os nos propriamente apresentam fissuras e afrouxamentos, inclusive  com perda do cerne do no nos de maior dimensao.

A implicacao obvia e' que para utilizar eucalipto em marcenaria sera muito importante selecionar bem as pranchas na madeireira, evitando sempre para uso estrutural as que tenham nos — embora sem esquecer os desenhos e texturas relacionados aos nos possam muito bem ter utilidade decorativa.

Visto isso, utilizando apenas a madeira da porcao sem nos, aparelhei com a precisao que pude (nada mau, alias, como se ve na imagem `a direita) quatro taboas para construir uma carcaca.

A comprovar a madeira aceita bem aparelhamento, as taboas ficaram esquadrejadas o bastante para que a carcaca se montasse no esquadro, sem cola e sem emendas, as taboas apenas apoiadas entre si, como se pode ver na foto abaixo.


Tanto por razoes estruturais como esteticas resolvi fixar a carcaca com emendas, ao inves de simples colagem de topo, ou utilizando pregos ou quaisquer outros fixadores mecanicos. Em um primeiro momento considerei utilizar rabos-de-andorinha mas, como o movel nao sofrera tensoes assimetricas, optei por utilizar malhetes de caixa, nem tanto por como demonstrado em testes serem mais resistentes, mas porque me pareceu dariam uma melhor solucao estetica para deixar `a mostra os veios curtos na carcaca.

Cortar os malhetes com tupia tambem serviu para demonstrar mais uma peculiaridade da essencia. O que ja tinha sido sugerido pelo resultado do corte na serra de bancada evidenciou-se gritantemente na tupia: em funcao das fibras retas, longas e resistentes, mas pouco densas, os bordos tem propensao a estilhacar na saida da lamina.

A imagem `a direita mostra as taboas como ficaram da tupia. Foi necessario usar cuidadosamente um formao para regularizar os bordos. Obviamente, a melhor solucao para evitar totalmente esse problema e' colocar uma ripa de sacrificio atras da taboa ao passar a tupia, mas embora alguns dos fragmentos do esfacelamento tenham ultrapassado o limite do bordo causando algumas irregularidades, o problema foi mais ou menos pontual, e imagino possa ser resolvido no acabamento.

De qualquer forma, a boa resistencia estrutural do eucalipto ficou bem evidenciada nos malhetes finos dos extremos, deixados propositadamente com pouquissima espessura exatamente para testar esse aspecto.

-- oOo --

Bueno, chegado nesse ponto decidi deixar a carcaca montada mas nao colada e aguardar um tempo. Primeiro, para ver se havera alguma alteracao na geometria, qualquer alteracao na forma. Depois para ir maquinando nas caraminholas como exatamente irei desenvolver o projeto a partir daqui.

O que veremos, e' o plano, uma outra bathora. Aqui nesse batcanal...


5 comentários:

  1. Prezado, inicialmente quero lhe dizer que tenho acompanhado suas postagens já há algum tempo e que admiro muito sua boa vontade em compartilhar o conhecimento conosco.
    Queria ter postado antes, mas por inépcia, apesar de não ser novato nesse negócio de internet, não vi o link para postagens (incrível).
    Bom, encerrando, peço-lhe para adicionar mais um a sua lista de seis leitores fieis.
    Boa noite.
    Eleandro.

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    1. Muito grato pelo apoio, Eleandro.

      E sim, fica devidamente registrado o aumento de 17% no rol de leitores fieis.

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  2. Parabéns! Sempre que posso leio seus posts buscando novas idéias e soluções. Me adicione a sua lista, por favor. E uma pergunta, o que vem a ser estes diagramas de malhetes na última foto?

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  3. Lista? Que lista?
    Adicionar quem?

    Nao sao diagramas de malhetes, sao os gabaritos para utilizar com o sistema LS da Incra.

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  4. Ola, ótima matéria meu amigo , fiz a compra de uma carga de eucalipto para a minha oficina e tive os mesmo desafios , mais , sim é possível trabalhar com ele na fabricação de moveis devemos respeitar a madeira e trabalhar com as técnicas certas para tal, qualquer novidade a respeito do assunto eu gostaria de receber gusantosnas.9@gmail.com att Gustavo Santos

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