Cumprida a primeira etapa e — sejam novas, amoladas em empresa especializada ou em casa — dispondo de facas bem afiadas e' preciso entao coloca-las no cabecote da desempenadeira. E nisso chegamos `a primeira e mais frequente calibracao dessa plaina: todas as facas devem ficar exatamente paralelas `a mesa de saida, e todas exatamente na mesma altura, um nada mais alto que a mesa.
E ressalte-se, quando se diz exatamente, nao se tem muita tolerancia: demonstradamente e' necessario precisao melhor de 0,5mm para se obter uma calibragem funcionalmente correta.
No nosso mercado, em todos na verdade, existe uma grande variedade de modelos de cabecote para plainas desempenadeiras e, assim, uma grande variedade de maneiras com que as laminas sao presas e reguladas. Por conseguinte, ha um sem-numero de metodos, taticas e modos de se efetuar a colocacao e a regulagem das laminas. Possivelmente, um jeito para cada maquina, arrisco dizer. Quando (meio borrado, devo confessar) fui efetuar pela primeira vez uma troca de laminas na minha desempenadeira, fui pesquisar na Teia como costumo, e veio um certo desespero... Nao so a maquina nao veio com instrucoes de como efetuar-se a troca. O SAC da fabrica ate hoje nao respondeu meus emails e o que consegui obter do telefone da revenda ficou essencialmente em 'vamos ver'. E, na Teia, o problema era excesso de informacoes, uma avassaladora diversidade de jeitos, jeitinhos e truques, incluindo desde calculos envolvendo formulas complicadas ate apelo a divindades, receitas de rezas fortes!
Depois de muito suor frio e algumas gargalhadas altamente involuntarias, dei sorte e encontrei um jeito que — ate prova em contrario! — se aplica a uma e a todas as desempenadeiras que usem laminas retas. E ate um idiota desajeitado como eu consegui montar o jig e fazer a coisa funcionar de primeira.
Bueno, a coisa comeca meio chata. E' preciso determinar o exato ponto mais alto que a lamina atinge em relacao `a mesa de saida.
A maneira mais barata de fazer isso e' utilizando uma regua com um bordo bem reto e, depois de assegurar-se a maquina esta desconectada da corrente eletrica, com a lamina neutralizada (ou seja, girada para fora da fresta de corte) coloca-se a regua sobre a mesa de saida e ergue-se a mesa de entrada ate que tudo — a regua e as duas mesas — fique nivelado, na mesma linha. Ahi gira-se com a mao o cabecote ate que a lamina encoste na regua. Continuando a girar o cabecote a lamina ira erguer levemente a regua e carrega-la alguns milimetros para a frente ate perder o contato.
(Para visualizar esse processo, pode-se ir nessa pagina do site de Mr. Matthias Wandel e, um pouco abaixo da metade da pagina, clicar em Animate image.)
A ideia e' marcar na guia da desempenadeira, o mais precisamente possivel, primeiro o ponto de contato e depois o ponto de perda de contato da lamina com regua. (Por seguranca, ha de se repetir o processo varias vezes, e com todas as laminas, para ter-se consistencia na determinacao desses dois pontos.) Na metade da distancia entre esses pontos, e' onde a lamina atinge a maxima altura em relacao `a mesa de saida.
A maneira mais facil de conseguir-se a mesma coisa e' utilizar um relogio comparador e uma base magnetica fixa na mesa de saida e entao simplesmente medir onde a lamina fica mais alta e transferir esse ponto para a guia.
Entao, com um esquadro, traca-se uma linha marcando onde fica esse ponto na trajetoria da lamina. (Como esse ponto e' fixo, e como sempre sera necessario determina-lo para posicionar-se as laminas, eu acho que o ideal e' fazer essa marca na guia de uma forma definitiva, permanente, indelevel.)
Nas fotos acima pode-se ver a linha que demarca o ponto de maxima altura das facas marcada permanentemente na guia da desempenadeira e, complementarmente, por seguranca, marcada tambem no munhao do cabecote.
Uma vez marcado, por qualquer metodo, o ponto de maior altura da lamina, e' hora de construir-se o jig.
O jig consiste em uma placa de vidro com comprimento igual `a largura das mesas da desempenadeira, na qual fixa-se um agarrador (no meu caso um bloco de madeira, colado com fita adesiva de dupla face) e, nas extremidades de um dos lados longos, fixam-se imas de terras raras (no meu caso imas de neodimio colados com superbonder, cianoacrilato).
O vidro deve ser absolutamente plano, nem tao fino que fique quebradico, nem tao grosso que afaste muito os imas (o meu tem 5mm de espessura) e ter os bordos lixados para evitar acidentes. Os imas devem ser tao potentes quanto possivel; caso necessario mais imas podem ser colocados, ao longo do bordo do jig.
Entao, conforme o metodo empregado em cada desempenadeira, coloca-se uma faca no cabecote e gira-se o cabecote com a mao ate o gume da faca encontrar-se alinhado com o ponto de maior altura. Agora, coloca-se o jig apoiado sobre a mesa de saida e avanca-se o bordo com os imas ate que os imas se alinhem com o gume e atraiam a faca, como se ve ahi na foto `a esquerda. Na minha maquina, quando se aproxima os imas da faca solta no encaixe, da para se ouvir um "pling" da batida da lamina contra o vidro, fortemente atraida pelo imas.
Confirmado que a faca se encontra parelha contra o vidro em toda sua extensao e que o vidro esta bem firme contra a mesa de saida, inicia-se a fixar a faca em posicao, da forma que for empregada pelo cabecote. Nessa fase, e' bom cuidar de manter sempre o vidro fortemente pressionado contra a mesa quando se aperta os parafusos para contrariar a tendencia da faca subir um pouco quando pressionada pelas roscas.
Quando todos os parafusos estiverem devidamente apertados, e' bom conferir se a faca, na sua altura maxima, esta perfeitamente alinhada com o topo da mesa de saida. (Na minha experiencia, na minha maquina e em umas poucas mais onde pude aplicar o metodo, obtive sempre um perfeito alinhamento.) Se nao estiver, e' necessario corrigir ate que esteja. Entao, quando satisfeito a lamina esteja perfeitamente posicionada e firme, e' repetir o processo para as outras laminas, quanto sejam, no cabecote.
Ao final, como ja mencionado, a meta e' que todas as facas estejam exatamente paralelas `a mesa de saida, e todas exatamente na mesma altura, um nada acima da altura da mesa.
Na minha assumidamente limitada experiencia, o uso dessa tecnica com o jig resulta tornar o processo de ajuste das facas suficientemente preciso, bastante facil e bastante rapido.
No proximo posting, veremos a outra calibracao da desempenadeira: a coplanaridade das mesas.
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